Santa Maria, RS (ver mais >>)

Santa Maria, RS, Brazil

As Faces da Prostituição

“Universitárias de programa”, um mundo secreto por trás dos estudos.

Joana tem 24 anos de idade, corpo perfeito, rosto de menina, veste-se com grifes da moda e o corte de cabelo é moderno. É um exemplo de menina de classe média, em outros termos, uma “Patricinha”. Ela veio de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul para cursar Administração em uma universidade de Santa Maria e divide o apartamento com outras três amigas, que conheceu na cidade.

Joana (de costas), profissional do sexo.

Mas por trás de tudo isso, Joana esconde um detalhe que a diferencia das demais “Patys” que convivem em seu círculo de amizades na universidade. Ela é uma garota de programa. Com toda a sua elegância, sentada no sofá de seu apartamento, ela fala sem pudores da sua “opção”.

Diz que chegou a Santa Maria há 3 anos e acabou entrando nessa vida por influência de uma colega de curso. Sim, ela não é uma exceção. Apesar da postura segura, Joana deixa transparecer no olhar e nos gestos certo desconforto com a situação: “Não costumo conversar sobre isso com ninguém. Foi uma opção que eu fiz e vou trabalhar nisso por mais dois anos, depois eu paro”, garante.

Joana culpa a “sociedade” pelo tipo de vida a qual está inserida: “Não foi uma opção minha. Divido o apartamento com amigas que conheci aqui na cidade e todas elas têm condições financeiras melhores. Preciso pagar parte da faculdade, comer, me vestir, pagar transporte e viver, como qualquer outra pessoa. Não tenho condições de fazer isso tudo com um emprego normal. A situação do País é que me jogou nessa”, lamenta.

O comércio do sexo pode ser bastante lucrativo. O preço do prazer com uma “universitária de programa” varia de acordo com o mercado. Um programa de uma hora de duração pode custar de R$ 150 a R$ 350, dependendo da cara do cliente, do que ele quer fazer a da situação financeira em que a garota se encontra no momento, explica Joana. Elas avaliam o valor do programa levando em conta, principalmente, o aparente poder aquisitivo do cliente: “Já tive um cliente que estava passando alguns dias na cidade, casado, que me pagava R$ 500 por uma hora”.

A garota garante que ganha de R$ 800 a R$4.000 por mês, um valor atraente quando se leva em consideração os baixos salários pagos hoje no mercado de trabalho formal. “No carnaval do ano passado fui para o litoral catarinense com uma amiga que também trabalha no ramo. Ganhei R$ 4 mil em dez dias. Onde eu ganharia dinheiro assim?”.

Apesar das justificativas, a possibilidade de ascensão social rápida é, também, um dos fatores que mais atraiu a jovem garota para a profissão. Joana tem a consciência de que se prostitui não apenas por uma questão de sobrevivência, mas para poder consumir também.

Para finalizar, a garota afirma que deseja largar essa vida em 2 anos, quando se formar e for embora de Santa Maria. Ela diz que quando já tiver o seu diploma de administradora, pretende exercer a sua profissão e deixar pra trás tudo o que passou e construir uma vida nova em outra cidade, e se for possível ter uma família, e enfim, levar uma vida normal.

Confira o áudio da entrevista:

 

Sexo por Necessidade Financeira

Nossa segunda história relata a vida de Jorge (nome fictício), um rapaz que “vendeu” seu próprio corpo por dinheiro, para pagar o aluguel atrasado do apartamento onde morava com a namorada, em Porto Alegre. Jorge trabalhava em um bingo e sua namorada perdeu a bolsa de estudos por cinco meses. Ambos passaram por necessidades financeiras, o que segundo Jorge, fez com que ele se torna-se – mesmo que temporariamente – um profissional do sexo.

O envolvimento 

Jorge se envolveu com uma mulher de 45 anos, que frequentava o bingo. Ela notou que Jorge andava meio triste e perguntou-lhe o que estava acontecendo. Um dia ele abriu o jogo, e contou a ela que estava com dívidas.
Nossa fonte relatou que a mulher o perseguia no local de trabalho. A dívida de Jorge girava em torno de R$ 1,8 mil, o equivalente a cinco meses de aluguel atrasado.  Passou alguns dias, conversa vai, conversa vem, chegou o final de um de seus expedientes e ela fez a proposta: “Se você sair para jantar comigo, sua conta amanhã será paga”. A primeira investida foi recusada, mas passado duas semanas, o dono do imóvel foi cobrá-lo, sob ameaça de despejo. Jorge não pensou duas vezes e foi atrás da mulher que conheceu no bingo (ouvir entrevista).

Jorge conseguiu o dinheiro e mais uns presentes. Até que um dia essa mulher lhe apresentou uma amiga. Ele começou a sair com as duas, durante cinco meses.

Confira o link dessa entrevista:

 

O flagrante da namorada 

A namorada de Jorge começou a notar que algo estranho estava acontecendo. Não entendia como o namorado – que ganhava muito pouco -, queria pagar o aluguel sozinho, bancar jantares em restaurantes e dar-lhe presentes caros. Ela começou a seguí-lo até que tirou a prova de sua desconfiança ( ouça entrevista).

Confira o link dessa entrevista:

 

Ele decidiu parar

– A gente quando entra no meio disso, tem que ter muita força de vontade, foi o que eu fiz – afirma Jorge.

Ele conta que parou para pensar e decidiu que não queria esse estilo de vida. A decisão veio antes que, como ele mesmo revela, se acostumasse com a rotina do dinheiro fácil.

– Pensei: vou parar de trabalhar, porque o que estou fazendo está me dando muito mais do que me matar trabalhando doze horas num bingo, para ganhar um salário- conta.

Confira o link dessa entrevista:

 

Eu, Garoto de programa?

Jorge nos contou ainda que não se considera um garoto de programa. “Sinceramente eu não me considero. Mas é que nem aquela velha história. É que nem uma mulher, quando ela faz sexo pela primeira vez por dinheiro, é vagabunda é prostituta, não adianta. No mesmo caso serve para o homem”, comenta Jorge.

Confira o link dessa entrevista:

 

Os riscos da prostituição

O sexo por dinheiro sempre esteve presente na história das civilizações. Porém, com o aumento das doenças sexualmente transmissíveis, os cuidados, atualmente, devem ser redobrados. Além disso, quem escolhe esse estilo de vida está sujeito ainda a agressões, estupros e calúnias.

Para evitar doenças como HIV, sífilis, gonorréia etc, o trabalho de orientação, desenvolvido pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde é fundamental.

Através do trabalho em parceria com as Secretarias de Saúde, agentes de saúde e a Casa 13 de Maio, disponibilizam material gráfico e preservativos , assim como orientação psicológica para estas profissionais.

A Casa 13 de Maio entra em um processo fundamental para a diminuição destes indices de doenças sexualmente transmissíveis e fatores psicossociais que envolvem a profissão. Com o apoio do Governo do Estado, propõe estratégias de saúde como a de redução de danos ( processo de concientização e distribuição de camisinhas a grupos de risco), onde as profissionais do sexo, como grupo de risco, procuram o estabelecimento para aconselhamento e testes de HIV e Hepatite.

Conforme comenta Larissa – profissional do sexo:

 

É necessário perceber que a prostituição é um agravante da violência e que põem muitas mulheres, todos os dias, em situação de risco, configurando, assim, numa permanente violência dos corpos femininos e transexuados expostos a atos constantes de violência. Gilda Maria Ravanello Mariosi,  Coordenadora Regional da Politica de  DST/AIDS, explica: “hoje elas conseguiram o status de profissão, mas ainda sofrem violência por parte dos clientes e a disputa por territórios”, assim também como a violência que mediante vantagem econômica, propõe o sexo sem camisinha. A respeito da politica municipal, Mariosi ressalta o que é esse trabalho que os órgãos saúde vem desenvolvendo a respeito destas profissionais do sexo.

Áudio de Gilda:

Outra aliada no combate a violência é a Polícia Civil. Em Santa Maria há uma delegacia especializada para mulheres. Segundo a delegada Débora Dias, “desde que a lei Maria da Penha foi instituída, em 2006, aumentou e vem se mantendo o número de ocorrências. Com o registro de 4000 ocorrências\ano, o número de violências tem aumentado, mas graças as estratégias de divulgação, os números de denúncias também, identificando  casos recorrentes na questão da violência, mas ainda existe o “medo”das partes denunciantes.

Diante das situações de violência física e psicológica a orientação a estes profissionais do sexo é procurar a polícia , neste caso a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) ou a Delegacia da Mulher. A delgada responsável pela DM, Del. Débora Aparecida Dias comenta a respeito das ocorrências, medidas a serem tomadas, e a atual  situação de Santa Maria neste caso, ressaltando que ” quem não fala, não acaba se defendendo…”, além das penas que quem pratica estas ações, é punido.

A Delegacia da Mulher tem uma sala separada de depoimentos , onde a denunciante terá a maior privacidade possível. Junto com acadêmicos de psicologia da Ulbra , a profissional do sexo é ouvida , encaminhada e amparada conforme a situação.

Áudio de Débora:

 

Para denunciar casos de violência,
Delegacia da Mulher Rua Dq de Caxias, 1169 Santa Maria
55 3219-3994
Policia Civil – 190

1º de Dezembro Dia Mundial da Luta contra a AIDS, uma caderneta direcionada a estes profissionais do sexo, com o objetivo de sensibilizar e informar  estes profissionais é disponibilizada pelo Ministério da Saúde. Acesse: http://www.aids.gov.br/ .

Por que pagar por sexo? Um psicólogo e uma socióloga tentam explicar os motivos que levam a busca por garotas e garotos de programa

Em uma sociedade onde tudo é liberado, para alguns, fica difícil entender o que instiga muitas pessoas a pagarem para ter uma relação sexual, quando há quem a faça de graça. Com base no depoimento dos profissionais do sexo ouvidos para essa reportagem, ficou a pergunta: por que pagar por sexo? Nossa equipe foi atrás da resposta e entrevista um psicólogo e uma socióloga.

Para a cientista social e socióloga Rebeca Seixas, “A necessidade é construída culturalmente”. Filhos, cujos pais frequentavam a “zona”, têm mais chance de reproduzir esse comportamento. Antigamente, para os meninos, fazia parte do “ritual” de passagem da adolescência para a vida adulta, perder a virgindade no meretrício.

– Vem da maneira como a pessoa que paga foi sexualizada – afirma.

De outro lado, Rebeca afirma que as pessoas que se prostituem também sofrem influência fdos pais ou pessoas próximas. Quem se prostitui, em muitas vezes, segue os passos de alguém da família que faz ou já fez “programas”.

– Uns se prostituem, pois é uma carreira familiar. Outros, por falta de alternativa econômica ou porque gostam” – relata Rebeca.

Para o psicólogo e professor do curso de Psicologia da UNIFRA, Felipe Schroeder de Oliveira, um dos fatores que leva as pessoas a pagarem por sexo é a baixa auto-estima. Segundo o professor, as pessoas recorrem à prostituição porque têm vergonha do próprio corpo. Algumas se acham gordas, outras, muito magras ou até mesmo tímidas demais e, por isso, acreditam que ninguém se interessaria por elas.

Outro fator seria “um comportamento impulsivo sexualmente”. Ou seja, alguns têm uma necessidade de praticar sexo acima da média e, diante a recusa do parceiro, paga por sexo “extra”.

Porém, o psicólogo afirma que é preciso ter muita cautela ao afirmar as razões que levam ao pagamento por relações sexuais. Não há como rotular. É preciso analisar cada caso, em particular.

De outro lado, a sociedade – apesar de constatar a freqüência dessa prática – ainda vê com desdém os profissionais do sexo. Muitas se referem a eles com termos pejorativos e xingamentos, como “vagabunda, veado, boiola, puta…”.

– A prostituição é uma atividade exercida por muitas pessoas e, é através dela, que muitas famílias garantem seu sustento. Porém, a sociedade tende a cair na questão moralista, de dizer que as pessoas que se prostituem são horríveis – afirma o psicólogo.

Para finalizar, o psicólogo fala que as pessoas devem ter a consciência de suas escolhas. Também não há como ignorar a legislação. Ou seja, agenciar pessoas – menores ou maiores de 18 anos- com objetivo de obter lucro, dá cadeia.

– A exploração sexual é considerada crime e deve ser combatida –  enfatiza.

A pena varia entre 2 e 10 anos de prisão. Se for comprovado que há exploração visando lucro para terceiros, ainda haverá o pagamento de multa. O valor é definido na Justiça.

 

A origem da prática do sexo em troca de dinheiro e favores

Para Rebeca, a afirmação de que a prostituição é uma das profissões mais antigas da sociedade “não tem qualquer fundamento histórico”.  Para a socióloga, é difícil datar com exatidão o início dessa prática – que troca dinheiro ou favores por sexo. Segundo ela, desde o Egito antigo, são relatados comportamento semelhante ao das profissionais de hoje.

– A diferença é que, naquela época, essas mulheres eram tratadas como sagradas, recebiam oferendas em troca do prazer. Hoje, elas são descriminadas – explica.

No Brasil, de acordo com a socióloga, a profissão tem seus primeiros relatos com a chegada dos Portugueses colonizadores. Hoje, é regulamentada por lei (ver box ao lado). É permitido à pessoa fazer uso do seu corpo em benefício próprio.

Confira o link com o áudio da entrevista da Socióloga e Psicólogo:

 

Legalidade da Profissão

Constituição Federal No Brasil não existe legislação referente à compra e venda de serviços sexuais, portanto, não existe lei que defina como crime a atuação do profissional do sexo.A Constituição Federal define em seu artigo 5º, inciso XXXIX que não há crime sem uma lei anterior que o defina, nem pena sem punição legal.No entanto, é crime somente a exploração, o incentivo à prostituição e o ato de explorar a prostituição é punível com prisão.
Código Penal Brasileiro Art. 228. Será incriminado aquele que atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.Art. 229 incrimina a conduta de manter por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fins de exploração sexual, tendo ou não objetivo.
Ministério do Trabalho Desde 2002 os profissionais do sexo receberam classificação CBO (Código Brasileiro de Ocupação), regulamentou-se a função que recebeu o código 5198-05 e denominação.Garota de programa, meretriz, messalina, trabalhador do sexo, são alguns dos termos usados pelo Ministério do Trabalho para os profissionais do sexo.
Previdência Social Os profissionais ainda podem contribuir para a Previdência Social e assim ter direito a aposentadoria e pensão.O recolhimento mensal pode ser feito através de carnê GPS (Guia da Previdência Social) como contribuinte individual pelo código 1007.
 Congresso Nacional O projeto de lei do Deputado Fernando Gabeira que permanece em discussão no congresso defende os direitos da profissão.  Dentre os artigos do projeto, destacam-se:Art. 1° É exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual.Art. 5° Para o exercício da profissão de trabalhador da sexualidade é obrigatório registro profissional expedido pela Delegacia Regional do Trabalho.

Fonte: Ministério do Trabalho

Produção e Reportagem:

Bruno Garrido, Diego Araújo, Fernando Custodio, Felipe Martins, Paulo Cadore.

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“Universitárias de programa”, um mundo secreto por trás dos estudos.

Joana tem 24 anos de idade, corpo perfeito, rosto de menina, veste-se com grifes da moda e o corte de cabelo é moderno. É um exemplo de menina de classe média, em outros termos, uma “Patricinha”. Ela veio de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul para cursar Administração em uma universidade de Santa Maria e divide o apartamento com outras três amigas, que conheceu na cidade.

Joana (de costas), profissional do sexo.

Mas por trás de tudo isso, Joana esconde um detalhe que a diferencia das demais “Patys” que convivem em seu círculo de amizades na universidade. Ela é uma garota de programa. Com toda a sua elegância, sentada no sofá de seu apartamento, ela fala sem pudores da sua “opção”.

Diz que chegou a Santa Maria há 3 anos e acabou entrando nessa vida por influência de uma colega de curso. Sim, ela não é uma exceção. Apesar da postura segura, Joana deixa transparecer no olhar e nos gestos certo desconforto com a situação: “Não costumo conversar sobre isso com ninguém. Foi uma opção que eu fiz e vou trabalhar nisso por mais dois anos, depois eu paro”, garante.

Joana culpa a “sociedade” pelo tipo de vida a qual está inserida: “Não foi uma opção minha. Divido o apartamento com amigas que conheci aqui na cidade e todas elas têm condições financeiras melhores. Preciso pagar parte da faculdade, comer, me vestir, pagar transporte e viver, como qualquer outra pessoa. Não tenho condições de fazer isso tudo com um emprego normal. A situação do País é que me jogou nessa”, lamenta.

O comércio do sexo pode ser bastante lucrativo. O preço do prazer com uma “universitária de programa” varia de acordo com o mercado. Um programa de uma hora de duração pode custar de R$ 150 a R$ 350, dependendo da cara do cliente, do que ele quer fazer a da situação financeira em que a garota se encontra no momento, explica Joana. Elas avaliam o valor do programa levando em conta, principalmente, o aparente poder aquisitivo do cliente: “Já tive um cliente que estava passando alguns dias na cidade, casado, que me pagava R$ 500 por uma hora”.

A garota garante que ganha de R$ 800 a R$4.000 por mês, um valor atraente quando se leva em consideração os baixos salários pagos hoje no mercado de trabalho formal. “No carnaval do ano passado fui para o litoral catarinense com uma amiga que também trabalha no ramo. Ganhei R$ 4 mil em dez dias. Onde eu ganharia dinheiro assim?”.

Apesar das justificativas, a possibilidade de ascensão social rápida é, também, um dos fatores que mais atraiu a jovem garota para a profissão. Joana tem a consciência de que se prostitui não apenas por uma questão de sobrevivência, mas para poder consumir também.

Para finalizar, a garota afirma que deseja largar essa vida em 2 anos, quando se formar e for embora de Santa Maria. Ela diz que quando já tiver o seu diploma de administradora, pretende exercer a sua profissão e deixar pra trás tudo o que passou e construir uma vida nova em outra cidade, e se for possível ter uma família, e enfim, levar uma vida normal.

Confira o áudio da entrevista:

 

Sexo por Necessidade Financeira

Nossa segunda história relata a vida de Jorge (nome fictício), um rapaz que “vendeu” seu próprio corpo por dinheiro, para pagar o aluguel atrasado do apartamento onde morava com a namorada, em Porto Alegre. Jorge trabalhava em um bingo e sua namorada perdeu a bolsa de estudos por cinco meses. Ambos passaram por necessidades financeiras, o que segundo Jorge, fez com que ele se torna-se – mesmo que temporariamente – um profissional do sexo.

O envolvimento 

Jorge se envolveu com uma mulher de 45 anos, que frequentava o bingo. Ela notou que Jorge andava meio triste e perguntou-lhe o que estava acontecendo. Um dia ele abriu o jogo, e contou a ela que estava com dívidas.
Nossa fonte relatou que a mulher o perseguia no local de trabalho. A dívida de Jorge girava em torno de R$ 1,8 mil, o equivalente a cinco meses de aluguel atrasado.  Passou alguns dias, conversa vai, conversa vem, chegou o final de um de seus expedientes e ela fez a proposta: “Se você sair para jantar comigo, sua conta amanhã será paga”. A primeira investida foi recusada, mas passado duas semanas, o dono do imóvel foi cobrá-lo, sob ameaça de despejo. Jorge não pensou duas vezes e foi atrás da mulher que conheceu no bingo (ouvir entrevista).

Jorge conseguiu o dinheiro e mais uns presentes. Até que um dia essa mulher lhe apresentou uma amiga. Ele começou a sair com as duas, durante cinco meses.

Confira o link dessa entrevista:

 

O flagrante da namorada 

A namorada de Jorge começou a notar que algo estranho estava acontecendo. Não entendia como o namorado – que ganhava muito pouco -, queria pagar o aluguel sozinho, bancar jantares em restaurantes e dar-lhe presentes caros. Ela começou a seguí-lo até que tirou a prova de sua desconfiança ( ouça entrevista).

Confira o link dessa entrevista:

 

Ele decidiu parar

– A gente quando entra no meio disso, tem que ter muita força de vontade, foi o que eu fiz – afirma Jorge.

Ele conta que parou para pensar e decidiu que não queria esse estilo de vida. A decisão veio antes que, como ele mesmo revela, se acostumasse com a rotina do dinheiro fácil.

– Pensei: vou parar de trabalhar, porque o que estou fazendo está me dando muito mais do que me matar trabalhando doze horas num bingo, para ganhar um salário- conta.

Confira o link dessa entrevista:

 

Eu, Garoto de programa?

Jorge nos contou ainda que não se considera um garoto de programa. “Sinceramente eu não me considero. Mas é que nem aquela velha história. É que nem uma mulher, quando ela faz sexo pela primeira vez por dinheiro, é vagabunda é prostituta, não adianta. No mesmo caso serve para o homem”, comenta Jorge.

Confira o link dessa entrevista:

 

Os riscos da prostituição

O sexo por dinheiro sempre esteve presente na história das civilizações. Porém, com o aumento das doenças sexualmente transmissíveis, os cuidados, atualmente, devem ser redobrados. Além disso, quem escolhe esse estilo de vida está sujeito ainda a agressões, estupros e calúnias.

Para evitar doenças como HIV, sífilis, gonorréia etc, o trabalho de orientação, desenvolvido pela 4ª Coordenadoria Regional de Saúde é fundamental.

Através do trabalho em parceria com as Secretarias de Saúde, agentes de saúde e a Casa 13 de Maio, disponibilizam material gráfico e preservativos , assim como orientação psicológica para estas profissionais.

A Casa 13 de Maio entra em um processo fundamental para a diminuição destes indices de doenças sexualmente transmissíveis e fatores psicossociais que envolvem a profissão. Com o apoio do Governo do Estado, propõe estratégias de saúde como a de redução de danos ( processo de concientização e distribuição de camisinhas a grupos de risco), onde as profissionais do sexo, como grupo de risco, procuram o estabelecimento para aconselhamento e testes de HIV e Hepatite.

Conforme comenta Larissa – profissional do sexo:

 

É necessário perceber que a prostituição é um agravante da violência e que põem muitas mulheres, todos os dias, em situação de risco, configurando, assim, numa permanente violência dos corpos femininos e transexuados expostos a atos constantes de violência. Gilda Maria Ravanello Mariosi,  Coordenadora Regional da Politica de  DST/AIDS, explica: “hoje elas conseguiram o status de profissão, mas ainda sofrem violência por parte dos clientes e a disputa por territórios”, assim também como a violência que mediante vantagem econômica, propõe o sexo sem camisinha. A respeito da politica municipal, Mariosi ressalta o que é esse trabalho que os órgãos saúde vem desenvolvendo a respeito destas profissionais do sexo.

Áudio de Gilda:

Outra aliada no combate a violência é a Polícia Civil. Em Santa Maria há uma delegacia especializada para mulheres. Segundo a delegada Débora Dias, “desde que a lei Maria da Penha foi instituída, em 2006, aumentou e vem se mantendo o número de ocorrências. Com o registro de 4000 ocorrências\ano, o número de violências tem aumentado, mas graças as estratégias de divulgação, os números de denúncias também, identificando  casos recorrentes na questão da violência, mas ainda existe o “medo”das partes denunciantes.

Diante das situações de violência física e psicológica a orientação a estes profissionais do sexo é procurar a polícia , neste caso a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) ou a Delegacia da Mulher. A delgada responsável pela DM, Del. Débora Aparecida Dias comenta a respeito das ocorrências, medidas a serem tomadas, e a atual  situação de Santa Maria neste caso, ressaltando que ” quem não fala, não acaba se defendendo…”, além das penas que quem pratica estas ações, é punido.

A Delegacia da Mulher tem uma sala separada de depoimentos , onde a denunciante terá a maior privacidade possível. Junto com acadêmicos de psicologia da Ulbra , a profissional do sexo é ouvida , encaminhada e amparada conforme a situação.

Áudio de Débora:

 

Para denunciar casos de violência,
Delegacia da Mulher Rua Dq de Caxias, 1169 Santa Maria
55 3219-3994
Policia Civil – 190

1º de Dezembro Dia Mundial da Luta contra a AIDS, uma caderneta direcionada a estes profissionais do sexo, com o objetivo de sensibilizar e informar  estes profissionais é disponibilizada pelo Ministério da Saúde. Acesse: http://www.aids.gov.br/ .

Por que pagar por sexo? Um psicólogo e uma socióloga tentam explicar os motivos que levam a busca por garotas e garotos de programa

Em uma sociedade onde tudo é liberado, para alguns, fica difícil entender o que instiga muitas pessoas a pagarem para ter uma relação sexual, quando há quem a faça de graça. Com base no depoimento dos profissionais do sexo ouvidos para essa reportagem, ficou a pergunta: por que pagar por sexo? Nossa equipe foi atrás da resposta e entrevista um psicólogo e uma socióloga.

Para a cientista social e socióloga Rebeca Seixas, “A necessidade é construída culturalmente”. Filhos, cujos pais frequentavam a “zona”, têm mais chance de reproduzir esse comportamento. Antigamente, para os meninos, fazia parte do “ritual” de passagem da adolescência para a vida adulta, perder a virgindade no meretrício.

– Vem da maneira como a pessoa que paga foi sexualizada – afirma.

De outro lado, Rebeca afirma que as pessoas que se prostituem também sofrem influência fdos pais ou pessoas próximas. Quem se prostitui, em muitas vezes, segue os passos de alguém da família que faz ou já fez “programas”.

– Uns se prostituem, pois é uma carreira familiar. Outros, por falta de alternativa econômica ou porque gostam” – relata Rebeca.

Para o psicólogo e professor do curso de Psicologia da UNIFRA, Felipe Schroeder de Oliveira, um dos fatores que leva as pessoas a pagarem por sexo é a baixa auto-estima. Segundo o professor, as pessoas recorrem à prostituição porque têm vergonha do próprio corpo. Algumas se acham gordas, outras, muito magras ou até mesmo tímidas demais e, por isso, acreditam que ninguém se interessaria por elas.

Outro fator seria “um comportamento impulsivo sexualmente”. Ou seja, alguns têm uma necessidade de praticar sexo acima da média e, diante a recusa do parceiro, paga por sexo “extra”.

Porém, o psicólogo afirma que é preciso ter muita cautela ao afirmar as razões que levam ao pagamento por relações sexuais. Não há como rotular. É preciso analisar cada caso, em particular.

De outro lado, a sociedade – apesar de constatar a freqüência dessa prática – ainda vê com desdém os profissionais do sexo. Muitas se referem a eles com termos pejorativos e xingamentos, como “vagabunda, veado, boiola, puta…”.

– A prostituição é uma atividade exercida por muitas pessoas e, é através dela, que muitas famílias garantem seu sustento. Porém, a sociedade tende a cair na questão moralista, de dizer que as pessoas que se prostituem são horríveis – afirma o psicólogo.

Para finalizar, o psicólogo fala que as pessoas devem ter a consciência de suas escolhas. Também não há como ignorar a legislação. Ou seja, agenciar pessoas – menores ou maiores de 18 anos- com objetivo de obter lucro, dá cadeia.

– A exploração sexual é considerada crime e deve ser combatida –  enfatiza.

A pena varia entre 2 e 10 anos de prisão. Se for comprovado que há exploração visando lucro para terceiros, ainda haverá o pagamento de multa. O valor é definido na Justiça.

 

A origem da prática do sexo em troca de dinheiro e favores

Para Rebeca, a afirmação de que a prostituição é uma das profissões mais antigas da sociedade “não tem qualquer fundamento histórico”.  Para a socióloga, é difícil datar com exatidão o início dessa prática – que troca dinheiro ou favores por sexo. Segundo ela, desde o Egito antigo, são relatados comportamento semelhante ao das profissionais de hoje.

– A diferença é que, naquela época, essas mulheres eram tratadas como sagradas, recebiam oferendas em troca do prazer. Hoje, elas são descriminadas – explica.

No Brasil, de acordo com a socióloga, a profissão tem seus primeiros relatos com a chegada dos Portugueses colonizadores. Hoje, é regulamentada por lei (ver box ao lado). É permitido à pessoa fazer uso do seu corpo em benefício próprio.

Confira o link com o áudio da entrevista da Socióloga e Psicólogo:

 

Legalidade da Profissão

Constituição Federal No Brasil não existe legislação referente à compra e venda de serviços sexuais, portanto, não existe lei que defina como crime a atuação do profissional do sexo.A Constituição Federal define em seu artigo 5º, inciso XXXIX que não há crime sem uma lei anterior que o defina, nem pena sem punição legal.No entanto, é crime somente a exploração, o incentivo à prostituição e o ato de explorar a prostituição é punível com prisão.
Código Penal Brasileiro Art. 228. Será incriminado aquele que atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.Art. 229 incrimina a conduta de manter por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fins de exploração sexual, tendo ou não objetivo.
Ministério do Trabalho Desde 2002 os profissionais do sexo receberam classificação CBO (Código Brasileiro de Ocupação), regulamentou-se a função que recebeu o código 5198-05 e denominação.Garota de programa, meretriz, messalina, trabalhador do sexo, são alguns dos termos usados pelo Ministério do Trabalho para os profissionais do sexo.
Previdência Social Os profissionais ainda podem contribuir para a Previdência Social e assim ter direito a aposentadoria e pensão.O recolhimento mensal pode ser feito através de carnê GPS (Guia da Previdência Social) como contribuinte individual pelo código 1007.
 Congresso Nacional O projeto de lei do Deputado Fernando Gabeira que permanece em discussão no congresso defende os direitos da profissão.  Dentre os artigos do projeto, destacam-se:Art. 1° É exigível o pagamento pela prestação de serviços de natureza sexual.Art. 5° Para o exercício da profissão de trabalhador da sexualidade é obrigatório registro profissional expedido pela Delegacia Regional do Trabalho.

Fonte: Ministério do Trabalho

Produção e Reportagem:

Bruno Garrido, Diego Araújo, Fernando Custodio, Felipe Martins, Paulo Cadore.