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Jornalismo, ciência e sociedade

No apagar das luzes do século XIX e início do século XX observou-se uma mudança fundamental nos mecanismos midiáticos e a sua relação com a ciência e tecnologia. Esse fenômeno se intensificou a ponto das previsões feitas pelos futurólogos da época serem superadas em relação ao avanço científico.

Convém lembrar que apenas entre os anos 1900-2000 produziram-se mais avanços técnicos e em maior quantidade que em relação aos séculos anteriores. A quê ou a quem isto serviu?

Sabe-se (ou supõe-se) que a ciência tem o propósito de melhorar a qualidade da vida humana, porém, ela, assim como todos nós, não subsiste por si própria e a comunicação social se tornou a plataforma primordial para uma pesquisa ou inovação com vistas a obter respaldo da comunidade científica, bem como do público.

Havia a projeção de que no início deste século os grandes problemas do mundo seriam solucionados, e a ciência seria o carro-chefe dessa mudança. Muitos, inúmeros avanços foram realizados, é verdade. No entanto, a hierarquização da vida em sociedade (política, ética, economia, religião, cultura, etc.) faz parte desse contexto e a ciência se tornou parte do argumento que valida e endossa práticas políticas, seja de saúde pública (saneamento básico e prevenção de doenças, por exemplo), seja para os mais vis crimes contra a humanidade (a eugenia – o determinismo e a superioridade racial alicerçaram a ideologia que arquitetou e executou o holocausto).

A partir deste ponto, torna-se importante pensar sobre a relevância de como se produz ciência, como se interpreta seus resultados, a quem e a quais objetivos ela se dirige. Ora, se pesquisas são utilizadas para endossar premissas de qualquer ordem, sejam essas válidas ou não pela lógica e pela ética, convém ao jornalista e aos veículos de mídia a adoção de práticas rigorosas de verificação da notícia. Não se exige uma inserção profunda (a menos que isso seja crucial perante o dever de informar com qualidade) nos detalhes de um trabalho ou pesquisa ou a necessidade de um título acadêmico específico para escrever sobre tal tema, o que se exige é consciência crítica.

Não é de hoje que existe o alerta de que a mídia e os jornalistas parecem ir ao sabor dos acontecimentos, dos modismos, das tendências e, assim por diante. Porém, falar sobre temas de interesse público não exime o jornalista de verificar fontes, checar fatos, dados e documentos, além de não se ater ao que está no release de imprensa ou no conforto das fontes oficiais. Talvez devessemos perguntar o porquê da capa de uma revista estampar que viveremos além dos 150 anos. Existe a necessidade de vivermos todo esse tempo? Quais seriam os objetivos, benefícios ou possíveis consequências negativas, e o mais importante: a quem isso serviria? A promessa da eterna juventude é plausível, ou melhor, é desejável e válida, por exemplo?

Todos sabem as razões (ou sonhos) que acalentam o imaginário dos homens, portanto, é necessário pensar sobre esses temas e compreender quais seriam as possíveis intencionalidades por trás de uma pesquisa científica. Não se trata de analisar a semiótica ou conceitos subjetivos, mas a relação de causa e efeito para a sociedade. É exatamente por isso que há de se ter rigor e usar todas as ferramentas à disposição a fim de produzir um material informativo de ciência e tecnologia de qualidade.

A ciência não pode ser um fim em si mesma. É parte do sistema de ideias que norteia a sociedade. Tampouco pode ser vista como a Vênus intocável e infalível, afinal, é feita por homens e mulheres, sabidamente propensos a cometer erros. Entender isto é compreender a importância de que o jornalismo científico é antes de tudo serviço de utilidade pública de primeira ordem.

Por isso, precisa de tanto rigor na apuração quanto a própria pesquisa-alvo da notícia em si necessita para ser publicada dentro das instituições científicas.

Por João A. M. Filho, acadêmico do curso de Jornalismo da Unifra. Artigo produzido na disciplina de Jornalismo   Especializado II.

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No apagar das luzes do século XIX e início do século XX observou-se uma mudança fundamental nos mecanismos midiáticos e a sua relação com a ciência e tecnologia. Esse fenômeno se intensificou a ponto das previsões feitas pelos futurólogos da época serem superadas em relação ao avanço científico.

Convém lembrar que apenas entre os anos 1900-2000 produziram-se mais avanços técnicos e em maior quantidade que em relação aos séculos anteriores. A quê ou a quem isto serviu?

Sabe-se (ou supõe-se) que a ciência tem o propósito de melhorar a qualidade da vida humana, porém, ela, assim como todos nós, não subsiste por si própria e a comunicação social se tornou a plataforma primordial para uma pesquisa ou inovação com vistas a obter respaldo da comunidade científica, bem como do público.

Havia a projeção de que no início deste século os grandes problemas do mundo seriam solucionados, e a ciência seria o carro-chefe dessa mudança. Muitos, inúmeros avanços foram realizados, é verdade. No entanto, a hierarquização da vida em sociedade (política, ética, economia, religião, cultura, etc.) faz parte desse contexto e a ciência se tornou parte do argumento que valida e endossa práticas políticas, seja de saúde pública (saneamento básico e prevenção de doenças, por exemplo), seja para os mais vis crimes contra a humanidade (a eugenia – o determinismo e a superioridade racial alicerçaram a ideologia que arquitetou e executou o holocausto).

A partir deste ponto, torna-se importante pensar sobre a relevância de como se produz ciência, como se interpreta seus resultados, a quem e a quais objetivos ela se dirige. Ora, se pesquisas são utilizadas para endossar premissas de qualquer ordem, sejam essas válidas ou não pela lógica e pela ética, convém ao jornalista e aos veículos de mídia a adoção de práticas rigorosas de verificação da notícia. Não se exige uma inserção profunda (a menos que isso seja crucial perante o dever de informar com qualidade) nos detalhes de um trabalho ou pesquisa ou a necessidade de um título acadêmico específico para escrever sobre tal tema, o que se exige é consciência crítica.

Não é de hoje que existe o alerta de que a mídia e os jornalistas parecem ir ao sabor dos acontecimentos, dos modismos, das tendências e, assim por diante. Porém, falar sobre temas de interesse público não exime o jornalista de verificar fontes, checar fatos, dados e documentos, além de não se ater ao que está no release de imprensa ou no conforto das fontes oficiais. Talvez devessemos perguntar o porquê da capa de uma revista estampar que viveremos além dos 150 anos. Existe a necessidade de vivermos todo esse tempo? Quais seriam os objetivos, benefícios ou possíveis consequências negativas, e o mais importante: a quem isso serviria? A promessa da eterna juventude é plausível, ou melhor, é desejável e válida, por exemplo?

Todos sabem as razões (ou sonhos) que acalentam o imaginário dos homens, portanto, é necessário pensar sobre esses temas e compreender quais seriam as possíveis intencionalidades por trás de uma pesquisa científica. Não se trata de analisar a semiótica ou conceitos subjetivos, mas a relação de causa e efeito para a sociedade. É exatamente por isso que há de se ter rigor e usar todas as ferramentas à disposição a fim de produzir um material informativo de ciência e tecnologia de qualidade.

A ciência não pode ser um fim em si mesma. É parte do sistema de ideias que norteia a sociedade. Tampouco pode ser vista como a Vênus intocável e infalível, afinal, é feita por homens e mulheres, sabidamente propensos a cometer erros. Entender isto é compreender a importância de que o jornalismo científico é antes de tudo serviço de utilidade pública de primeira ordem.

Por isso, precisa de tanto rigor na apuração quanto a própria pesquisa-alvo da notícia em si necessita para ser publicada dentro das instituições científicas.

Por João A. M. Filho, acadêmico do curso de Jornalismo da Unifra. Artigo produzido na disciplina de Jornalismo   Especializado II.