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Santa Maria, RS, Brazil

Ruas que falam…

“Pra mim a filosofia dessa arte é a revolta contra o sistema”, afirma a publicitária Gabriella Cargnelutti.

Transitar pela cidade e não notar os grafismos urbanos é impossível. Eles estão presentes em muros, prédios, placas de trânsito, viadutos e monumentos, às vezes em grande quantidade e em outras nem tanto. A sociedade sempre vivenciou períodos de rompimento de paradigmas, de substituição de valores, de criação de novos conceitos e do surgimento de novas formas de expressão dos indivíduos, consequências estas das mudanças sociais e tecnológicas, que passam a estar presentes nos produtos da cultura de massa. Essa arte tem incomodado muito os cidadãos santa-marienses, que reclamam e criticam essa prática em busca de uma cidade mais limpa, livre de pichações.

Pichação na igreja localizada na Rua Silva Jardim. Foto: Rubi Renck Pires
Pichação na Igreja do Rosário, localizada na Rua Silva Jardim (Foto: Rubi Renck Pires)

O graffiti e o ‘pixo‘ tem a mesma ideologia e são uma forma legítima de expressão humana e transgressão no espaço urbano. Só no Brasil que tem diferença entre um e outro, onde o graffiti é considerado como esteticamente bonito e legal perante a lei, e a ‘pixação’ é considerada como vandalismo e crime ambiental. Pra mim, a diferença que existe é apenas estética. O ‘pixo’ é bem característico do Brasil, com letras mais retas, escaladas, o ápice da adrenalina. Já o graffiti pode ser com uma maior variedade de cores, uso de luz e sombra, etc. Mas tanto no graffiti quanto no ‘pixo’, requer estudo pra criar letras ou desenhos originais, que se destaquem dentro de tantos símbolos e signos que estão nas ruas”, escreve Gabriella a respeito da diferença entre pichação e graffiti

A maioria dos pichadores pratica isso como forma de fugir dos seus problemas, para sentir a adrenalina, para criticar o governo e a sociedade. Geralmente não saem para pichar sozinhos, saem acompanhados de dois ou três pichadores. Pichação também é uma expressão de revolta, tudo depende da pessoa que tá pichando, do momento, de cada um.  A pichação é tipo um vício, a pessoa se envolve, e quando percebe já virou rotina e não consegue mais parar, não quer mais parar. “Comecei em 2012, um dia antes da Operação Cidade Limpa. Daqui uns 3 meses vão completar 3 anos.”, completa Gabriella.

Mas a grande questão é: pichação deveria ser considerado um crime?

Grafite localizado na mesma igreja que as pichações (Foto: Sarah Vianna)

“Já foi noticiado e falado, mas não teve intervenção da polícia, mas o meu antecessor processou e alguns meses depois, como castigo, o rapaz que pichou limpou o local . Não chamamos a polícia porque não adianta mesmo. Nós vamos colocar uma grade aqui na frente e pintar os estragos. Olha, desde que eu entrei na paróquia, estas pichações aqui do lado da igreja ocorreram ano passado. Mais pelo final do ano ainda fizeram aquele outro desenho, grafite, sem nossa autorização. Não sei se algum dia isso vai ter fim. Enquanto tiver gente apoiando, enquanto tiver corrupção, isso não vai acabar. Porque isso existe até em cidades pequenas, tanto quanto nas grande e médias. Como castigo, no mínimo, eles deveriam deixar de fazer, deveriam limpar e não fazer mais, ou, pelo menos, pedirem autorização antes de fazer”, manifesta-se o padre Artêmio Luiz Santi, da Igreja do Rosário.

Pichação é considerada crime ambiental. Mas antes de punir a tinta na parede, deveria haver punição pela derrubada de árvores pra construir prédios e casas. Sou contra a repressão ao ‘pixo’ que vem acontecendo aqui em SM, porque existem problemas maiores como a violência contra a mulher, a morte dos negros nas periferias, assaltos no centro da cidade e nada é feito. A pichação é tão pequena perto de tudo isso. Acho um absurdo tamanha repressão. Nessas operações da Polícia Civil contra o ‘pixo’, é um absurdo a forma como eles chegam nas casas abordando os pichadores, como se a tinta fosse uma arma. Também tem a página no Face ‘Santa Maria sem pichações‘, onde as pessoas alimentam o discurso de ódio, querendo fazer justiça com as próprias mãos. Os monstros são eles, eles são os sujos. Antes sujo de tinta do que de sangue”, conclui Gabriella Cargnelutti.

 

Reportagem feita com o auxílio de Rubi Renck Pires.

 

 

 

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“Pra mim a filosofia dessa arte é a revolta contra o sistema”, afirma a publicitária Gabriella Cargnelutti.

Transitar pela cidade e não notar os grafismos urbanos é impossível. Eles estão presentes em muros, prédios, placas de trânsito, viadutos e monumentos, às vezes em grande quantidade e em outras nem tanto. A sociedade sempre vivenciou períodos de rompimento de paradigmas, de substituição de valores, de criação de novos conceitos e do surgimento de novas formas de expressão dos indivíduos, consequências estas das mudanças sociais e tecnológicas, que passam a estar presentes nos produtos da cultura de massa. Essa arte tem incomodado muito os cidadãos santa-marienses, que reclamam e criticam essa prática em busca de uma cidade mais limpa, livre de pichações.

Pichação na igreja localizada na Rua Silva Jardim. Foto: Rubi Renck Pires
Pichação na Igreja do Rosário, localizada na Rua Silva Jardim (Foto: Rubi Renck Pires)

O graffiti e o ‘pixo‘ tem a mesma ideologia e são uma forma legítima de expressão humana e transgressão no espaço urbano. Só no Brasil que tem diferença entre um e outro, onde o graffiti é considerado como esteticamente bonito e legal perante a lei, e a ‘pixação’ é considerada como vandalismo e crime ambiental. Pra mim, a diferença que existe é apenas estética. O ‘pixo’ é bem característico do Brasil, com letras mais retas, escaladas, o ápice da adrenalina. Já o graffiti pode ser com uma maior variedade de cores, uso de luz e sombra, etc. Mas tanto no graffiti quanto no ‘pixo’, requer estudo pra criar letras ou desenhos originais, que se destaquem dentro de tantos símbolos e signos que estão nas ruas”, escreve Gabriella a respeito da diferença entre pichação e graffiti

A maioria dos pichadores pratica isso como forma de fugir dos seus problemas, para sentir a adrenalina, para criticar o governo e a sociedade. Geralmente não saem para pichar sozinhos, saem acompanhados de dois ou três pichadores. Pichação também é uma expressão de revolta, tudo depende da pessoa que tá pichando, do momento, de cada um.  A pichação é tipo um vício, a pessoa se envolve, e quando percebe já virou rotina e não consegue mais parar, não quer mais parar. “Comecei em 2012, um dia antes da Operação Cidade Limpa. Daqui uns 3 meses vão completar 3 anos.”, completa Gabriella.

Mas a grande questão é: pichação deveria ser considerado um crime?

Grafite localizado na mesma igreja que as pichações (Foto: Sarah Vianna)

“Já foi noticiado e falado, mas não teve intervenção da polícia, mas o meu antecessor processou e alguns meses depois, como castigo, o rapaz que pichou limpou o local . Não chamamos a polícia porque não adianta mesmo. Nós vamos colocar uma grade aqui na frente e pintar os estragos. Olha, desde que eu entrei na paróquia, estas pichações aqui do lado da igreja ocorreram ano passado. Mais pelo final do ano ainda fizeram aquele outro desenho, grafite, sem nossa autorização. Não sei se algum dia isso vai ter fim. Enquanto tiver gente apoiando, enquanto tiver corrupção, isso não vai acabar. Porque isso existe até em cidades pequenas, tanto quanto nas grande e médias. Como castigo, no mínimo, eles deveriam deixar de fazer, deveriam limpar e não fazer mais, ou, pelo menos, pedirem autorização antes de fazer”, manifesta-se o padre Artêmio Luiz Santi, da Igreja do Rosário.

Pichação é considerada crime ambiental. Mas antes de punir a tinta na parede, deveria haver punição pela derrubada de árvores pra construir prédios e casas. Sou contra a repressão ao ‘pixo’ que vem acontecendo aqui em SM, porque existem problemas maiores como a violência contra a mulher, a morte dos negros nas periferias, assaltos no centro da cidade e nada é feito. A pichação é tão pequena perto de tudo isso. Acho um absurdo tamanha repressão. Nessas operações da Polícia Civil contra o ‘pixo’, é um absurdo a forma como eles chegam nas casas abordando os pichadores, como se a tinta fosse uma arma. Também tem a página no Face ‘Santa Maria sem pichações‘, onde as pessoas alimentam o discurso de ódio, querendo fazer justiça com as próprias mãos. Os monstros são eles, eles são os sujos. Antes sujo de tinta do que de sangue”, conclui Gabriella Cargnelutti.

 

Reportagem feita com o auxílio de Rubi Renck Pires.