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Eu me chamo poesia

“Por um tempo achei que meu personagem fosse apenas esse par de olhos fechados. Sem tronco, sem braços, sem mãos, sem pernas, sem pés, sem corpo ou coração. Minto. Sempre houve coração. Um coração vazado: um abismo no peito. Mas aos poucos a necessidade acabou desenhando mais alto. Rabisquei um tronco para ele poder se curvar diante do amor com mais facilidade; e inventei braços e mãos para ele agarrar o mundo com mais coragem; e implantei pernas e pés para ele também poder fugir quando se sentisse acuado. E, para ele não morrer de frio ou não viver da frieza da sua amada, eu o vesti com um casaco listrado. Inútil: o buraco no peito continua. Antônio nasceu do inconsciente”. Assim o autor de Eu me chamo Antônio — convidado do Livro Livre da segunda-feira, 2 de maio, na Feira do Livro de Santa Maria — descreve o seu álter ego: O Antônio sou eu com mais coragem.

Pedro Gabriel, filho de mãe brasileira e pai suíço, nasceu na África e foi alfabetizado em francês. Hoje, aos 32 anos, encara a segunda língua com muito apreço. “Valorizei cada palavra que aprendi pelo fato de não serem óbvias para mim, comecei a prestar mais atenção na grafia e na sonoridade das palavras, a brincar com elas, a tentar entendê-las. ”, afirma ele.

Mas a verdade é que tudo nasceu do acaso. Durante muito tempo na vida, Pedro carregou consigo um caderno de bolso para anotar seus pensamentos. Mas justamente no dia em que a poesia de seu pseudônimo foi criada, em um momento de inspiração em que as palavras precisavam sair do mundo das ideias e ganhar vida em um papel, esse caderno havia sido esquecido. Pedro, então, desceu rapidamente do ônibus e sentou-se à mesa de um bar. Com uma caneta em um guardanapo, a inspiração finalmente tomou forma.

Pedro Gabriel: “O Antônio sou eu com mais coragem”  Laboratório de Fotografia e Memória/Vanessa Alves.
Pedro Gabriel: “O Antônio sou eu com mais coragem” (Foto: Laboratório de Fotografia e Memória/Vanessa Alves)

Ao ser questionado sobre a origem da sua criatividade, o autor faz uma reflexão sobre originalidade: “Basta olharmos para a palavra “originalidade” e perceber que ela tem a ver com a nossa origem. Toda vez que olhamos para dentro da nossa própria história, essa realidade será única. ” Ele acredita que tudo o que ouvimos, lemos e interagimos faz parte da nossa bagagem de referências culturais. “Ninguém pode plagiar a sua vida, os amores que você viveu, as conversas que você teve ou as coisas que você pensou”.

Eu me chamo Antônio traz não apenas o amor entre um homem e uma mulher, mas uma pluralidade de sentimentos que surgem a partir da interatividade do ser humano com o universo. Como um espelho, o guardanapo depende muito do seu estado emocional, representando o seu mundo: “Tudo o que eu escrevo nos guardanapos são verdades, vividas diretamente ou não”, afirma. O autor ainda conta o quanto pode ser difícil desenhar e escrever em uma folha tão fina: “Dependendo da tinta e da ponta da caneta, o papel pode rasgar e não se pode apagar com uma borracha. Seja como for, nunca repito um mesmo guardanapo. As vezes uma letra pode estar faltando, a superfície fica borrada e, esporadicamente, uso o desenho para esconder essas imperfeições. Talvez esse seja o diferencial”, finaliza ele.

Para Pedro, a poesia é como se fosse uma árvore e o poema, um galho. Suas palavras — espelho das verdades de sua alma — surgem naturalmente. Quem o admira, compreende e identifica-se com ele traduz a verdade que carrega um guardanapo para a sua própria realidade. “As mensagens que recebo das pessoas que percebem a singularidade da minha obra demonstram que a simplicidade ainda tem o seu lugar no mundo.” — finaliza.

 Laís Giacomelli e Luiza Chamis, para a disciplina de Jornalismo Especializado I

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“Por um tempo achei que meu personagem fosse apenas esse par de olhos fechados. Sem tronco, sem braços, sem mãos, sem pernas, sem pés, sem corpo ou coração. Minto. Sempre houve coração. Um coração vazado: um abismo no peito. Mas aos poucos a necessidade acabou desenhando mais alto. Rabisquei um tronco para ele poder se curvar diante do amor com mais facilidade; e inventei braços e mãos para ele agarrar o mundo com mais coragem; e implantei pernas e pés para ele também poder fugir quando se sentisse acuado. E, para ele não morrer de frio ou não viver da frieza da sua amada, eu o vesti com um casaco listrado. Inútil: o buraco no peito continua. Antônio nasceu do inconsciente”. Assim o autor de Eu me chamo Antônio — convidado do Livro Livre da segunda-feira, 2 de maio, na Feira do Livro de Santa Maria — descreve o seu álter ego: O Antônio sou eu com mais coragem.

Pedro Gabriel, filho de mãe brasileira e pai suíço, nasceu na África e foi alfabetizado em francês. Hoje, aos 32 anos, encara a segunda língua com muito apreço. “Valorizei cada palavra que aprendi pelo fato de não serem óbvias para mim, comecei a prestar mais atenção na grafia e na sonoridade das palavras, a brincar com elas, a tentar entendê-las. ”, afirma ele.

Mas a verdade é que tudo nasceu do acaso. Durante muito tempo na vida, Pedro carregou consigo um caderno de bolso para anotar seus pensamentos. Mas justamente no dia em que a poesia de seu pseudônimo foi criada, em um momento de inspiração em que as palavras precisavam sair do mundo das ideias e ganhar vida em um papel, esse caderno havia sido esquecido. Pedro, então, desceu rapidamente do ônibus e sentou-se à mesa de um bar. Com uma caneta em um guardanapo, a inspiração finalmente tomou forma.

Pedro Gabriel: “O Antônio sou eu com mais coragem”  Laboratório de Fotografia e Memória/Vanessa Alves.
Pedro Gabriel: “O Antônio sou eu com mais coragem” (Foto: Laboratório de Fotografia e Memória/Vanessa Alves)

Ao ser questionado sobre a origem da sua criatividade, o autor faz uma reflexão sobre originalidade: “Basta olharmos para a palavra “originalidade” e perceber que ela tem a ver com a nossa origem. Toda vez que olhamos para dentro da nossa própria história, essa realidade será única. ” Ele acredita que tudo o que ouvimos, lemos e interagimos faz parte da nossa bagagem de referências culturais. “Ninguém pode plagiar a sua vida, os amores que você viveu, as conversas que você teve ou as coisas que você pensou”.

Eu me chamo Antônio traz não apenas o amor entre um homem e uma mulher, mas uma pluralidade de sentimentos que surgem a partir da interatividade do ser humano com o universo. Como um espelho, o guardanapo depende muito do seu estado emocional, representando o seu mundo: “Tudo o que eu escrevo nos guardanapos são verdades, vividas diretamente ou não”, afirma. O autor ainda conta o quanto pode ser difícil desenhar e escrever em uma folha tão fina: “Dependendo da tinta e da ponta da caneta, o papel pode rasgar e não se pode apagar com uma borracha. Seja como for, nunca repito um mesmo guardanapo. As vezes uma letra pode estar faltando, a superfície fica borrada e, esporadicamente, uso o desenho para esconder essas imperfeições. Talvez esse seja o diferencial”, finaliza ele.

Para Pedro, a poesia é como se fosse uma árvore e o poema, um galho. Suas palavras — espelho das verdades de sua alma — surgem naturalmente. Quem o admira, compreende e identifica-se com ele traduz a verdade que carrega um guardanapo para a sua própria realidade. “As mensagens que recebo das pessoas que percebem a singularidade da minha obra demonstram que a simplicidade ainda tem o seu lugar no mundo.” — finaliza.

 Laís Giacomelli e Luiza Chamis, para a disciplina de Jornalismo Especializado I