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Usina do Colégio Politécnico transforma bebidas apreendidas em combustível e álcool gel

Bebidas apreendidas pela Polícia Federal são encaminhadas à UFSM.
Bebidas apreendidas pela Polícia Federal são encaminhadas à UFSM. Fotos: Francine Antunes

Ideias inovadoras podem ajudar a produção de energias limpas, isto é, aquelas que fazem uso dos recursos naturais. Para além das alternativas tradicionais como os processos com energia solar e eólica, consideradas de alto custo, há hoje em Santa Maria uma nova possibilidade: as bebidas apreendidas pela Receita Federal de Santa Maria e que antes tinham um destino que se tornou inviável ecologicamente, agora conta com a cooperação da Usina Piloto do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Para entender é preciso lembrar que o descarte, antes  realizado na estação de tratamento de esgoto da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), teve de ser alterado devido à Lei nº12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Nela é apresentada uma nova visão sobre o destino do lixo urbano, tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população.

E transformadas em combustível.
E transformadas em combustível.

Para além das questões envolvendo a forma do descarte dos resíduos líquidos, existia a preocupação em encontrar um destino ecologicamente sustentável e útil. Uma das possibilidades encontradas por estas instituições foi a destinação dos resíduos líquidos como matéria-prima dos projetos a serem desenvolvidos na Usina Piloto. Entre eles, destacou-se a produção do etanol a partir das bebidas alcoólicas e perfumes apreendidos.

O professor e coordenador da Usina Piloto de Etanol e do Laboratório de Energias Alternativas, Cícero Urbanetto Nogueira, conta que a ideia surgiu em uma conversa entre ele e o então delegado da Receita Federal em Santa Maria, Alexandre Rampelotto, durante o intervalo de uma aula de pós-graduação na UFSM. Segundo Nogueira, “o grande problema para movimentar a usina era a falta de matéria-prima para realização de testes”. A aproximação tornou possível o início das experimentações. Também para além das questões envolvendo a forma do descarte dos resíduos líquidos, já existia a preocupação em encontrar um destino ecologicamente sustentável e útil.

No próximo dia 6 de junho o projeto completará cinco anos de atividades e conta, hoje, com a colaboração de professores, funcionários, alunos, estagiários e bolsistas do laboratório. De acordo com o atual delegado da Receita Federal em Santa Maria, Araquém Ferreira Brum está em andamento a renovação do contrato entre as instituições, onde o prazo será estendido por mais cinco anos.

O processo e a utilização

destinação ambientalmente adequada de resíduos provenientes da destruição de bebidas alcoolicas (2)
O material chega em conteiners.

O professor explica que o material, resíduo líquido, chega até a usina em um contêiner. O restante como embalagens, rótulos e caixas, são destinadas para as cooperativas de coletores de material reciclável do município. O transporte desse material é realizado pela Receita. A partir de um processo de destilação, chega-se ao álcool com graduação aproximada de 95°GL (quantidade em mililitros de álcool absoluto contida em mililitros de mistura hidroalcoólica), que será destinado ao abastecimento da frota de veículos oficiais ou reduzido à graduação de 70°GL, líquido e gel, para utilização em limpeza e/ou higienização. O resíduo resultante da produção de álcool alcança uma mistura composta de água, açúcar e outros elementos, e pode ser utilizado para fertilização das lavouras na área de produção do Colégio Politécnico.

Produção é utilizada na UFSM e na Receita Federal.
Produção é utilizada na UFSM e na Receita Federal.

Com o procedimento concluído é possível comprovar que 100% do resíduo da destruição de bebidas é  aproveitado. Além do álcool combustível produzido, há também outras alternativas como o álcool gel ou líquido, que é utilizado para limpeza ou assepsia na UFSM e nas unidades da Receita Federal. De acordo com o delegado, os interesses entre as instituições se conciliaram muito bem, já que o descarte das bebidas era um problema, devido ao grande volume apreendido nos últimos anos: “essas bebidas são frutos do descaminho, entram irregularmente em território nacional, e também fazem parte de apreensões em destilarias que produzem de maneira irregular, sem fiscalização ou segurança em nível de saúde pública”, explica.
O processo de produção de etanol abriu espaço para o surgimento de novas pesquisas e experiências, como o processamento de álcool a partir de resíduos de arroz, mandioca, batata, batata doce, entre outros.

Controle e avaliação do processo

O monitoramento da iniciativa ocorre a partir de registros efetuados nas duas instituições. Na Receita Federal todo o procedimento, desde a apreensão das mercadorias até o destino final, é acompanhado por processos administrativos e registros em sistemas de controle. Quando aplicada a pena de perdimento, sendo o caso de destruição, a mercadoria é incluída em proposta que integrará um processo específico. As práticas que envolvem a destruição e destinação dos resíduos são documentados e registrados em uma ata que integrará o processo.
No âmbito da UFSM é efetuado o controle da quantidade de resíduos recebidos e a produção resultante, assim como a destinação do álcool obtido no processo. Os registros são repassados para a Delegacia da Receita Federal em Santa Maria através do Relatório de recebimento e consumo da usina piloto de etanol do Colégio Politécnico da UFSM. Deve-se destacar que a UFSM instalou um posto exclusivo para controle do abastecimento de veículos com o etanol.

Posto da UFSM abastece carros oficiais com combustível da Usina Piloto do Colégio Politécnico.
Posto da UFSM abastece carros oficiais com combustível da Usina Piloto do Colégio Politécnico.

Uma outra atividade na qual o projeto entre Receita Federal e o colégio Politécnico da UFSM está inserido é o Concurso Inovação na Gestão Pública Federal. O concurso está na sua vigésima edição e tem por objetivo valorizar os servidores públicos que através de pequenas ou grandes inovações, contribuem no aumento da qualidade dos serviços prestados à população e tornam mais eficientes as respostas do Estado diante das demandas da sociedade. A ideia de descarte adequado e todo o trabalho que envolve ambas instituições, são alguns dos motivos para que o projeto tenha se destacado e esteja entre os finalistas do concurso este ano. Para o delegado “isto é motivo de orgulho (…), uma iniciativa reconhecida em benefício da sociedade”, finaliza.

Por Eveline Grunspan e Francine Antunes. Reportagem desenvolvida na disciplina de Jornalismo Especializado II.

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Bebidas apreendidas pela Polícia Federal são encaminhadas à UFSM.
Bebidas apreendidas pela Polícia Federal são encaminhadas à UFSM. Fotos: Francine Antunes

Ideias inovadoras podem ajudar a produção de energias limpas, isto é, aquelas que fazem uso dos recursos naturais. Para além das alternativas tradicionais como os processos com energia solar e eólica, consideradas de alto custo, há hoje em Santa Maria uma nova possibilidade: as bebidas apreendidas pela Receita Federal de Santa Maria e que antes tinham um destino que se tornou inviável ecologicamente, agora conta com a cooperação da Usina Piloto do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Para entender é preciso lembrar que o descarte, antes  realizado na estação de tratamento de esgoto da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), teve de ser alterado devido à Lei nº12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Nela é apresentada uma nova visão sobre o destino do lixo urbano, tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população.

E transformadas em combustível.
E transformadas em combustível.

Para além das questões envolvendo a forma do descarte dos resíduos líquidos, existia a preocupação em encontrar um destino ecologicamente sustentável e útil. Uma das possibilidades encontradas por estas instituições foi a destinação dos resíduos líquidos como matéria-prima dos projetos a serem desenvolvidos na Usina Piloto. Entre eles, destacou-se a produção do etanol a partir das bebidas alcoólicas e perfumes apreendidos.

O professor e coordenador da Usina Piloto de Etanol e do Laboratório de Energias Alternativas, Cícero Urbanetto Nogueira, conta que a ideia surgiu em uma conversa entre ele e o então delegado da Receita Federal em Santa Maria, Alexandre Rampelotto, durante o intervalo de uma aula de pós-graduação na UFSM. Segundo Nogueira, “o grande problema para movimentar a usina era a falta de matéria-prima para realização de testes”. A aproximação tornou possível o início das experimentações. Também para além das questões envolvendo a forma do descarte dos resíduos líquidos, já existia a preocupação em encontrar um destino ecologicamente sustentável e útil.

No próximo dia 6 de junho o projeto completará cinco anos de atividades e conta, hoje, com a colaboração de professores, funcionários, alunos, estagiários e bolsistas do laboratório. De acordo com o atual delegado da Receita Federal em Santa Maria, Araquém Ferreira Brum está em andamento a renovação do contrato entre as instituições, onde o prazo será estendido por mais cinco anos.

O processo e a utilização

destinação ambientalmente adequada de resíduos provenientes da destruição de bebidas alcoolicas (2)
O material chega em conteiners.

O professor explica que o material, resíduo líquido, chega até a usina em um contêiner. O restante como embalagens, rótulos e caixas, são destinadas para as cooperativas de coletores de material reciclável do município. O transporte desse material é realizado pela Receita. A partir de um processo de destilação, chega-se ao álcool com graduação aproximada de 95°GL (quantidade em mililitros de álcool absoluto contida em mililitros de mistura hidroalcoólica), que será destinado ao abastecimento da frota de veículos oficiais ou reduzido à graduação de 70°GL, líquido e gel, para utilização em limpeza e/ou higienização. O resíduo resultante da produção de álcool alcança uma mistura composta de água, açúcar e outros elementos, e pode ser utilizado para fertilização das lavouras na área de produção do Colégio Politécnico.

Produção é utilizada na UFSM e na Receita Federal.
Produção é utilizada na UFSM e na Receita Federal.

Com o procedimento concluído é possível comprovar que 100% do resíduo da destruição de bebidas é  aproveitado. Além do álcool combustível produzido, há também outras alternativas como o álcool gel ou líquido, que é utilizado para limpeza ou assepsia na UFSM e nas unidades da Receita Federal. De acordo com o delegado, os interesses entre as instituições se conciliaram muito bem, já que o descarte das bebidas era um problema, devido ao grande volume apreendido nos últimos anos: “essas bebidas são frutos do descaminho, entram irregularmente em território nacional, e também fazem parte de apreensões em destilarias que produzem de maneira irregular, sem fiscalização ou segurança em nível de saúde pública”, explica.
O processo de produção de etanol abriu espaço para o surgimento de novas pesquisas e experiências, como o processamento de álcool a partir de resíduos de arroz, mandioca, batata, batata doce, entre outros.

Controle e avaliação do processo

O monitoramento da iniciativa ocorre a partir de registros efetuados nas duas instituições. Na Receita Federal todo o procedimento, desde a apreensão das mercadorias até o destino final, é acompanhado por processos administrativos e registros em sistemas de controle. Quando aplicada a pena de perdimento, sendo o caso de destruição, a mercadoria é incluída em proposta que integrará um processo específico. As práticas que envolvem a destruição e destinação dos resíduos são documentados e registrados em uma ata que integrará o processo.
No âmbito da UFSM é efetuado o controle da quantidade de resíduos recebidos e a produção resultante, assim como a destinação do álcool obtido no processo. Os registros são repassados para a Delegacia da Receita Federal em Santa Maria através do Relatório de recebimento e consumo da usina piloto de etanol do Colégio Politécnico da UFSM. Deve-se destacar que a UFSM instalou um posto exclusivo para controle do abastecimento de veículos com o etanol.

Posto da UFSM abastece carros oficiais com combustível da Usina Piloto do Colégio Politécnico.
Posto da UFSM abastece carros oficiais com combustível da Usina Piloto do Colégio Politécnico.

Uma outra atividade na qual o projeto entre Receita Federal e o colégio Politécnico da UFSM está inserido é o Concurso Inovação na Gestão Pública Federal. O concurso está na sua vigésima edição e tem por objetivo valorizar os servidores públicos que através de pequenas ou grandes inovações, contribuem no aumento da qualidade dos serviços prestados à população e tornam mais eficientes as respostas do Estado diante das demandas da sociedade. A ideia de descarte adequado e todo o trabalho que envolve ambas instituições, são alguns dos motivos para que o projeto tenha se destacado e esteja entre os finalistas do concurso este ano. Para o delegado “isto é motivo de orgulho (…), uma iniciativa reconhecida em benefício da sociedade”, finaliza.

Por Eveline Grunspan e Francine Antunes. Reportagem desenvolvida na disciplina de Jornalismo Especializado II.