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Santa Maria, RS, Brazil

E se minha filha fosse minha mãe?

A vida me deu uma resposta enquanto eu completava 20, 30, 33 anos e minha mãe envelhecia. Inúmeros poderiam ser os argumentos, as definições ou medos, pensava eu, ao ver os dias passar em sua companhia. Deixava de ser o frágil Daniel, o menino da casa e, ela, de ser minha super-heroína. Um telefonema, um abraço de “bom dia”, cama arrumada e seu cheiro que ficava esperando eu voltar. Estava indo para o mundo, para as minhas conquistas e, ela? Bem, ela ficava triste ao me ver ir, me acompanhando da janela, buscando explicação do tempo que teimava em querer passar.

Aliás, como não recordar da janela, com grades inacabadas e sem pintura por não ser prioridade. Nunca foi. Seu sonho era de um médico, um doutor na família. Ajudar o próximo era seu maior sonho, um legado a ser seguido. Ficou no sonho. Sorvete era sua maior tentação, a minha também. E por ser pai e mãe, virou a exceção dos dois.  E eu comia quantos quisesse (pudesse). Dona Helena era a regra quando precisava, mas a bagunça quando podia. Que saudades.

Saudade é um sentimento ao contrário. Contraditório, compulsivo e voraz. É algo que não se sente direito por completo. É algo que precisa ser dito com o tempo, a tempo e com tempo.

Precisava ter dito que a amava cada vez que me ensinou a ver a vida sob um novo prisma. Talvez ela nunca teve dúvidas. Mas sabe quando o muito é nada? Precisava. Preciso contar que seu pequeno sempre teve gênio indomável e não iria seguir algo que ela queria. Afinal, era livre para voar. Ele voou. Mas quem disse que não pode ajudar o próximo mesmo não sendo seu doutor? Podia. Poderá. Pode. Será.

Quando ela adoeceu, diga-se, pela primeira e última vez, estive ali. Porém, o tempo, aquele mesmo que era teimoso, mais uma vez teimou. Passou e foi tão rápido quanto seu olhar ao me ver sair daquele quarto de CTI em nosso último encontro.

Dias antes, o último presente. Uma camiseta do Grêmio. Colorada doente, ainda brincou: “vê se deixa minha neta ser vermelha”. Desculpa mãe, não deu. Bola de cristal, previsão ou adivinha… não sei. Sua neta é linda. A cara do seu bebê. Apenas a Lívia é gremista.

Seu primeiro presente, não poderia ser outro, uma camisa gremista. Como você ao dar, sabia? É… foi e ficou linda. Acho que até você viraria gremista. Sabe o gênio forte? É igual? Ela te convenceria.

Se minha mãe fosse minha filha, talvez buscasse repetir tudo que ela me ensinou. Como não posso, deixo ela ocupar o seu lugar. E os amores… hoje ela é quem me ensina, que me guia e mostra para onde seguir. Esse sentimento vem de berço, de casa, de algum lugar, de ti. Obrigado por estar sempre aqui.

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A vida me deu uma resposta enquanto eu completava 20, 30, 33 anos e minha mãe envelhecia. Inúmeros poderiam ser os argumentos, as definições ou medos, pensava eu, ao ver os dias passar em sua companhia. Deixava de ser o frágil Daniel, o menino da casa e, ela, de ser minha super-heroína. Um telefonema, um abraço de “bom dia”, cama arrumada e seu cheiro que ficava esperando eu voltar. Estava indo para o mundo, para as minhas conquistas e, ela? Bem, ela ficava triste ao me ver ir, me acompanhando da janela, buscando explicação do tempo que teimava em querer passar.

Aliás, como não recordar da janela, com grades inacabadas e sem pintura por não ser prioridade. Nunca foi. Seu sonho era de um médico, um doutor na família. Ajudar o próximo era seu maior sonho, um legado a ser seguido. Ficou no sonho. Sorvete era sua maior tentação, a minha também. E por ser pai e mãe, virou a exceção dos dois.  E eu comia quantos quisesse (pudesse). Dona Helena era a regra quando precisava, mas a bagunça quando podia. Que saudades.

Saudade é um sentimento ao contrário. Contraditório, compulsivo e voraz. É algo que não se sente direito por completo. É algo que precisa ser dito com o tempo, a tempo e com tempo.

Precisava ter dito que a amava cada vez que me ensinou a ver a vida sob um novo prisma. Talvez ela nunca teve dúvidas. Mas sabe quando o muito é nada? Precisava. Preciso contar que seu pequeno sempre teve gênio indomável e não iria seguir algo que ela queria. Afinal, era livre para voar. Ele voou. Mas quem disse que não pode ajudar o próximo mesmo não sendo seu doutor? Podia. Poderá. Pode. Será.

Quando ela adoeceu, diga-se, pela primeira e última vez, estive ali. Porém, o tempo, aquele mesmo que era teimoso, mais uma vez teimou. Passou e foi tão rápido quanto seu olhar ao me ver sair daquele quarto de CTI em nosso último encontro.

Dias antes, o último presente. Uma camiseta do Grêmio. Colorada doente, ainda brincou: “vê se deixa minha neta ser vermelha”. Desculpa mãe, não deu. Bola de cristal, previsão ou adivinha… não sei. Sua neta é linda. A cara do seu bebê. Apenas a Lívia é gremista.

Seu primeiro presente, não poderia ser outro, uma camisa gremista. Como você ao dar, sabia? É… foi e ficou linda. Acho que até você viraria gremista. Sabe o gênio forte? É igual? Ela te convenceria.

Se minha mãe fosse minha filha, talvez buscasse repetir tudo que ela me ensinou. Como não posso, deixo ela ocupar o seu lugar. E os amores… hoje ela é quem me ensina, que me guia e mostra para onde seguir. Esse sentimento vem de berço, de casa, de algum lugar, de ti. Obrigado por estar sempre aqui.