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Fundador do novo jornalismo morre aos 88 anos

Na segunda-feira, 14, morreu o jornalista e escritor americano Tom Wolfe, aos 88 anos. O autor é conhecido por ser um dos fundadores do New Journalism, movimento jornalístico revolucionário que usa técnicas e recursos literários.

Divulgação

De acordo com o site do jornal The New York Times, ele estava internado num hospital de Nova York com pneumonia e tratando uma infecção. Wolfe deixou a mulher, Sheila Wolfe, com quem foi casado por 48 anos e com quem teve dois filhos, Thomas e Alexandra.

Nascido em Richmond, na Virgínia, era filho de Thomas Wolfe, professor de agronomia que trabalhava também como jornalista em revistas deste tema. Porém, foi sua mãe, Helen, que o introduzir às artes, incentivando desde muito cedo a ler, interpretar e escrever.

Em 1947, Wolfe graduou-se em língua inglesa pela Universidade Washington and Lee, e ,embora tivesse começado sua carreira semi profissional de baseball como arremessador ainda na faculdade, logo voltou-se novamente para os estudos e buscou seu doutorado de Estudos Americanos na Universidade de Yale.

O trabalho de professor acadêmico foi oferecido à Wolfe, porém ele escolheu a carreira de repórter. Em 1959, foi contratado pelo The Washington Post que, ele acredita, ter sido por sua falta de interesse na política. Lá foi premiado internamente pelo jornal pela sua cobertura de Cuba em 1961.

No ano seguinte, após trocar Washington por Nova York, escreveu uma carta para o editor da revista Esquire contando a ideia de artigo sobre a febre de carros customizados no sul da Califórnia, ignorando todas as convenções do jornalismo, e foi assim que o editor, Byron Dobell, o publicou. O resultado do artigo, de 1964, foi There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby, que ajudou o autor a lançar seu primeiro livro, uma coletânea de seus trabalhos.

A variedade de técnicas literárias misturadas com a imparcialidade jornalistica foi o que Wolfe chamou de Novo Jornalismo. Seu maior exemplo disso é o livro The Electric Kool-Aid Acid Test, de 1968, publicado no Brasil em 1993 com o nome de “O teste do ácido do refresco elétrico”. Ele traz reportagens sobre o grupo Merry Pranksters, que propagava o uso do LSD na Califórnia naquela década. É notável o uso de onomatopeias, livre-associações e o uso pouco ortodoxo de pontuações.

O trabalho de Wolfe era ressaltado pelas longas reportagens autorais que tratavam o jornalismo como uma forma de arte. Suas sátiras, humor irônico e escrita ousada destacavam-se, misturando gírias e o emprego de novas palavras. Seu aclamada livro-reportagem foi o The Right Stuff,  inspirando o premiado filme “Os eleitos”, que conta a história de pilotos de provas que foram transformados em astronautas em um projeto espacial pioneiro nos Estado Unidos.  O filme, que contou com a participação de Sam Shepard, Scott Glenn, Ed Harris e Dennis Quaid, ganhou quatro estatuetas no Oscar.

Além de livro-reportagens e coletâneas, o jornalista também escreveu obras de ficção como “The Bonfire of the Vanities”, originalmente publicado 1987. A obra se tornou um dos maiores best-sellers da década, contando a história de um magnata de Wall Street que, ao se encaminhar com sua amante para Manhattan, erra seu caminho, deparando-se com um acidente e um jornalista que mudam a vida do milionário para sempre. O livro foi adaptado para o cinema em 1990, dirigido por Brian de Palma e estrelado por Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Griffith. Apesar dos nomes envolvidos e do grande orçamento, foi um total fracasso de bilheteria.

Na coletânea “Radical Chique e o Novo Jornalismo”, os três textos mais emblemáticos de Wolf estão reunidos. “A Garota do Ano” conta o perfil da socialite americana Baby Jane Holzer, o “O Último Herói Americano” sobre o perfil do piloto de stock car Junior Johnson, e o “Radical Chique”, sobre uma reunião elitista organizada pelo maestro Leonard Bernstein para arrecadar fundos para o Partido dos Panteras Negras.

Seu livro de ficção mais recente, Back to Blood, de 1998, foi editado no Brasil para “Sangue nas Veias” pela editora Rocco. Ela também lançou aqui os romances “Um Homem por Inteiro” de 1998 e “Eu sou Charlotte Simmons” de 2004, além do ensaio “O Reino da Fala”, último trabalho publicado pelo autor, em que ele propõe um desafio as ideias de Charles Darwin e Noam Chomsky.

Pesquisa e texto: Bibiana Iop

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Na segunda-feira, 14, morreu o jornalista e escritor americano Tom Wolfe, aos 88 anos. O autor é conhecido por ser um dos fundadores do New Journalism, movimento jornalístico revolucionário que usa técnicas e recursos literários.

Divulgação

De acordo com o site do jornal The New York Times, ele estava internado num hospital de Nova York com pneumonia e tratando uma infecção. Wolfe deixou a mulher, Sheila Wolfe, com quem foi casado por 48 anos e com quem teve dois filhos, Thomas e Alexandra.

Nascido em Richmond, na Virgínia, era filho de Thomas Wolfe, professor de agronomia que trabalhava também como jornalista em revistas deste tema. Porém, foi sua mãe, Helen, que o introduzir às artes, incentivando desde muito cedo a ler, interpretar e escrever.

Em 1947, Wolfe graduou-se em língua inglesa pela Universidade Washington and Lee, e ,embora tivesse começado sua carreira semi profissional de baseball como arremessador ainda na faculdade, logo voltou-se novamente para os estudos e buscou seu doutorado de Estudos Americanos na Universidade de Yale.

O trabalho de professor acadêmico foi oferecido à Wolfe, porém ele escolheu a carreira de repórter. Em 1959, foi contratado pelo The Washington Post que, ele acredita, ter sido por sua falta de interesse na política. Lá foi premiado internamente pelo jornal pela sua cobertura de Cuba em 1961.

No ano seguinte, após trocar Washington por Nova York, escreveu uma carta para o editor da revista Esquire contando a ideia de artigo sobre a febre de carros customizados no sul da Califórnia, ignorando todas as convenções do jornalismo, e foi assim que o editor, Byron Dobell, o publicou. O resultado do artigo, de 1964, foi There Goes (Varoom! Varoom!) That Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby, que ajudou o autor a lançar seu primeiro livro, uma coletânea de seus trabalhos.

A variedade de técnicas literárias misturadas com a imparcialidade jornalistica foi o que Wolfe chamou de Novo Jornalismo. Seu maior exemplo disso é o livro The Electric Kool-Aid Acid Test, de 1968, publicado no Brasil em 1993 com o nome de “O teste do ácido do refresco elétrico”. Ele traz reportagens sobre o grupo Merry Pranksters, que propagava o uso do LSD na Califórnia naquela década. É notável o uso de onomatopeias, livre-associações e o uso pouco ortodoxo de pontuações.

O trabalho de Wolfe era ressaltado pelas longas reportagens autorais que tratavam o jornalismo como uma forma de arte. Suas sátiras, humor irônico e escrita ousada destacavam-se, misturando gírias e o emprego de novas palavras. Seu aclamada livro-reportagem foi o The Right Stuff,  inspirando o premiado filme “Os eleitos”, que conta a história de pilotos de provas que foram transformados em astronautas em um projeto espacial pioneiro nos Estado Unidos.  O filme, que contou com a participação de Sam Shepard, Scott Glenn, Ed Harris e Dennis Quaid, ganhou quatro estatuetas no Oscar.

Além de livro-reportagens e coletâneas, o jornalista também escreveu obras de ficção como “The Bonfire of the Vanities”, originalmente publicado 1987. A obra se tornou um dos maiores best-sellers da década, contando a história de um magnata de Wall Street que, ao se encaminhar com sua amante para Manhattan, erra seu caminho, deparando-se com um acidente e um jornalista que mudam a vida do milionário para sempre. O livro foi adaptado para o cinema em 1990, dirigido por Brian de Palma e estrelado por Tom Hanks, Bruce Willis e Melanie Griffith. Apesar dos nomes envolvidos e do grande orçamento, foi um total fracasso de bilheteria.

Na coletânea “Radical Chique e o Novo Jornalismo”, os três textos mais emblemáticos de Wolf estão reunidos. “A Garota do Ano” conta o perfil da socialite americana Baby Jane Holzer, o “O Último Herói Americano” sobre o perfil do piloto de stock car Junior Johnson, e o “Radical Chique”, sobre uma reunião elitista organizada pelo maestro Leonard Bernstein para arrecadar fundos para o Partido dos Panteras Negras.

Seu livro de ficção mais recente, Back to Blood, de 1998, foi editado no Brasil para “Sangue nas Veias” pela editora Rocco. Ela também lançou aqui os romances “Um Homem por Inteiro” de 1998 e “Eu sou Charlotte Simmons” de 2004, além do ensaio “O Reino da Fala”, último trabalho publicado pelo autor, em que ele propõe um desafio as ideias de Charles Darwin e Noam Chomsky.

Pesquisa e texto: Bibiana Iop