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Márcia Foletto emociona platéia no 14° Forum de Comunicação

Márcia Foletto, repórter fotográfica do Jornal O Globo, ministrou a palestra Desafios e perspectivas no fotojornalismo. Foto: Thayane Rodrigues/LABFEM

A premiada repórter-fotográfica Márcia Foletto ministrou uma palestra de tirar o fôlego na noite desta quarta-feira, dia 15 de agosto, nas dependência da Universidade Franciscana. Natural de Santa Maria, Márcia é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trabalhou no Diário Catarinense de Florianópolis (SC) e, desde 1991, integra a equipe do Jornal O Globo, no Rio de Janeiro.

No colóquio, a Jornalista mostrou mais de 30 fotos, contando os bastidores por trás de cada imagem. Ela comparou os anos 90, quando o fotógrafo era o protagonista da história, com a atualidade da era digital, quando todos são “fotógrafos”, o que torna a profissão desafiadora e estimulante. Foletto acredita que é preciso retratar de uma maneira diferente, ” pois estamos diante de muitas imagens que são produzidas em um acontecimento”, afirma.

Chacina de Vigário Geral. Foto: Márcia Foletto / Acervo Pessoal

Um exemplo é o retrato da Chacina de Vigário Geral – um massacre no Rio de Janeiro, em 1994, que deixou 36 mortos. ”Se a Chacina fosse hoje, todo mundo receberia milhares de fotos, com muitos ângulos e, com certeza, quando eu batesse essa foto, na mão de cada pessoa em volta dos corpos teria um celular”, relatou a jornalista.

Crianças sendo revistadas em ocupação no morro Santa Tereza em 1994. Crédito: Márcia Foletto / Acervo Pessoal

Márcia também mostrou uma foto de novembro de 1994, que voltou a circular como fake news nos dias atuais. A foto é de ”uma das ocupações que as Forças Armadas fizeram no Rio de Janeiro e o exército ocupou o morro Santa Marta, que fica em Botafogo. Eles estavam em todas as entradas da comunidade,  ficaram nessa esquina chamada São Clemente, que tem muito movimento. Eles estavam fechando o morro nas entradas e saídas, e todas as pessoas eram revistadas.  Essas crianças da foto estavam voltando da escola, quando os menores viram os adultos colocando as mãos na parede, imitaram-os e foram revistados também. Mesmo a foto sendo feita em 94, ela ainda descreve o que se passa nas favelas nos dias de hoje”, afirma a fotógrafa.

Filha de uma geração analógica e praticamente artesanal, durante a palestra Márcia relembrou sua trajetória, relatou episódios vividos ao longo da carreira e falou sobre sua luta para se estabelecer em um meio dominado por homens. De acordo com ela, o início foi difícil, sobretudo, por causa do preconceito e da discriminação velada e explícita em relação à mulher. Ela contou que, recentemente, deixou de ser escalada para uma operação na Bahia, onde trabalharia em um navio da Marinha, por ser mulher, pois o capitão optou por um homem.

Para a fotógrafa, ainda há muitas barreiras para o exercício profissional, mas as mulheres têm que se impor. “Fotojornalismo é coragem, garra e ter certeza do que você está fazendo ali”. Questionada sobre os requisitos para ser uma profissional bem sucedida na área, ela é enfática: “para ser fotojornalista precisa ter sensibilidade no olhar”, afirma a fotógrafa que se diz fascinada por pessoas.

Prêmio Rei da Espanha 

Fotografia vencedora do Prêmio Rei de Espanha, uma das imagens feitas para a série “Os miseráveis”, publicada em maio de 2015. Foto: Márcia Foletto/Acervo Pessoal

Em 2016, Márcia Foletto recebeu, em Madrid, o troféu na categoria Fotografia das mãos do rei Felipe VI. A imagem premiada mostra duas crianças moradoras na comunidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, em seus estudos, sentadas numa cama à mercê da pobreza que as rodeava.

A fotografia foi publicada na primeira página do Jornal O Globo, no dia 31 de maio de 2015, e fez parte da série “Os miseráveis”, que revelou que 3,77% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro – cerca de 565 mil pessoas – viviam em situação de extrema pobreza.

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Márcia Foletto, repórter fotográfica do Jornal O Globo, ministrou a palestra Desafios e perspectivas no fotojornalismo. Foto: Thayane Rodrigues/LABFEM

A premiada repórter-fotográfica Márcia Foletto ministrou uma palestra de tirar o fôlego na noite desta quarta-feira, dia 15 de agosto, nas dependência da Universidade Franciscana. Natural de Santa Maria, Márcia é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trabalhou no Diário Catarinense de Florianópolis (SC) e, desde 1991, integra a equipe do Jornal O Globo, no Rio de Janeiro.

No colóquio, a Jornalista mostrou mais de 30 fotos, contando os bastidores por trás de cada imagem. Ela comparou os anos 90, quando o fotógrafo era o protagonista da história, com a atualidade da era digital, quando todos são “fotógrafos”, o que torna a profissão desafiadora e estimulante. Foletto acredita que é preciso retratar de uma maneira diferente, ” pois estamos diante de muitas imagens que são produzidas em um acontecimento”, afirma.

Chacina de Vigário Geral. Foto: Márcia Foletto / Acervo Pessoal

Um exemplo é o retrato da Chacina de Vigário Geral – um massacre no Rio de Janeiro, em 1994, que deixou 36 mortos. ”Se a Chacina fosse hoje, todo mundo receberia milhares de fotos, com muitos ângulos e, com certeza, quando eu batesse essa foto, na mão de cada pessoa em volta dos corpos teria um celular”, relatou a jornalista.

Crianças sendo revistadas em ocupação no morro Santa Tereza em 1994. Crédito: Márcia Foletto / Acervo Pessoal

Márcia também mostrou uma foto de novembro de 1994, que voltou a circular como fake news nos dias atuais. A foto é de ”uma das ocupações que as Forças Armadas fizeram no Rio de Janeiro e o exército ocupou o morro Santa Marta, que fica em Botafogo. Eles estavam em todas as entradas da comunidade,  ficaram nessa esquina chamada São Clemente, que tem muito movimento. Eles estavam fechando o morro nas entradas e saídas, e todas as pessoas eram revistadas.  Essas crianças da foto estavam voltando da escola, quando os menores viram os adultos colocando as mãos na parede, imitaram-os e foram revistados também. Mesmo a foto sendo feita em 94, ela ainda descreve o que se passa nas favelas nos dias de hoje”, afirma a fotógrafa.

Filha de uma geração analógica e praticamente artesanal, durante a palestra Márcia relembrou sua trajetória, relatou episódios vividos ao longo da carreira e falou sobre sua luta para se estabelecer em um meio dominado por homens. De acordo com ela, o início foi difícil, sobretudo, por causa do preconceito e da discriminação velada e explícita em relação à mulher. Ela contou que, recentemente, deixou de ser escalada para uma operação na Bahia, onde trabalharia em um navio da Marinha, por ser mulher, pois o capitão optou por um homem.

Para a fotógrafa, ainda há muitas barreiras para o exercício profissional, mas as mulheres têm que se impor. “Fotojornalismo é coragem, garra e ter certeza do que você está fazendo ali”. Questionada sobre os requisitos para ser uma profissional bem sucedida na área, ela é enfática: “para ser fotojornalista precisa ter sensibilidade no olhar”, afirma a fotógrafa que se diz fascinada por pessoas.

Prêmio Rei da Espanha 

Fotografia vencedora do Prêmio Rei de Espanha, uma das imagens feitas para a série “Os miseráveis”, publicada em maio de 2015. Foto: Márcia Foletto/Acervo Pessoal

Em 2016, Márcia Foletto recebeu, em Madrid, o troféu na categoria Fotografia das mãos do rei Felipe VI. A imagem premiada mostra duas crianças moradoras na comunidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, em seus estudos, sentadas numa cama à mercê da pobreza que as rodeava.

A fotografia foi publicada na primeira página do Jornal O Globo, no dia 31 de maio de 2015, e fez parte da série “Os miseráveis”, que revelou que 3,77% dos moradores da cidade do Rio de Janeiro – cerca de 565 mil pessoas – viviam em situação de extrema pobreza.