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Santa Maria, RS, Brazil

A lição do “R” para um estilo de vida consciente

Foto: Annca – Pixabay

Desde a década de 1990 ouvimos falar do “princípio dos três R’s da sustentabilidade”, que tem como pilares os verbos Reduzir, Reutilizar e Reciclar, apresentados na Agenda 21. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, essa conjuntura tem como foco a não-geração de resíduos, estímulo ao consumo sustentável para conter o desperdício e poupar os recursos naturais, ou seja, propostas de alteração aos padrões de consumo (como refere o Capítulo 4 do documento)[1]. Contudo, a ordem dos termos acabou sendo invertida, se falando mais em reciclagem no que nos demais termos, mesmo com a inserção de novas iniciativas.

O documento, que ficou conhecido como Agenda 21, é resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, também conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra. As referências a essa expressão dos R’s podem ser encontradas também como “políticas dos R’s” ou “diretrizes” propostas pela Agenda. Em 2019, continuam atuais e necessárias mudanças estruturais, principalmente na gestão de resíduos, apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 (Lei nº 12.305/10). Lembrando que os lixões a céu aberto deveriam ter sido extintos em 2014.

O termo que deveria ser o foco principal é Reduzir. O primeiro e mais importante verbo pode ser encarado como o maior desafio. É ele que provoca uma avaliação pessoal do consumo versus consumismo, a necessidade versus vontade (ou ostentação, para usar palavras do momento). Reduzir o uso de transporte individual, o consumo de carnes e derivados animais, as compras impulsivas, o desperdício de energia, compras de grandes empresas para valorizar o comércio local e justo, são alguns exemplos.

Apesar de ser uma expressão que parece semelhante com a reciclagem, Reutilizar significa otimizar ao máximo a finalidade de determinado “produto” antes do descarte, prolongar a “vida útil”. Ainda que o descarte seja feito de forma adequada, é possível adiá-lo com a reutilização. Não existe o “jogar fora”. Além disso, não são apenas objetos que podem ser reutilizados, a água e alimentos, por exemplo, também podem ser reaproveitados.

Para poder Reciclar, em primeiro lugar, é preciso que se faça a coleta seletiva[2] e que seja eficiente. A reciclagem é o processo de transformação dos resíduos em novos materiais. Ou seja, é uma alternativa, mas não é a solução. No Brasil, os índices de reciclagem são bastante baixos, de acordo com estudo do Compromisso Empresarial para Reciclagem, o Cempre (2018)[3], somente 22% dos municípios tem programas de coleta seletiva.

Segundo estudos do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), 40% dos resíduos gerados tem destino inadequado. Anualmente no país, são produzidos 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos, com mais de 10 milhões de toneladas procedentes do plástico. Isso significa que haveria um retorno de 5,7 bilhões de reais à economia se o plástico produzido fosse reciclado. Justamente pelo valor econômico, desde 2001 o Brasil vem sendo líder na reciclagem do alumínio. Estima-se que em 2017, somente com a etapa da coleta da latinha, mais de 1,2 bilhão de reais foi injetado na economia e recicladas 97,7% das latas vendidas no ano, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio. São toneladas de resíduos que voltaram a ser utilizados e não foram parar nos lixões e aterros nem nas águas e solo.

No mesmo sentido, poderíamos falar em mais alguns verbos, a começar pela Recusa de produtos com embalagens plásticas, brindes e sacolas de supermercado, isopor (que apesar de reciclável não é um processo economicamente viável), produtos que prejudiquem a saúde e o ambiente, empresas que não tenham compromisso ético-ambiental.

Repensar ou refletir (como sugere o Instituto Akatu[4]) sobre a real necessidade de aquisição ou uso de determinado produto. Questione-se. O Instituto Akatu, inclui ainda outros quatro R’s: Respeitar, a si e outras pessoas, o trabalho, os animais e plantas, o ambiente; Reparar, consertar objetos e as relações; Responsabilizar-se por suas ações, os impactos bons e ruins, por sua cidade, entre outros; e Repassar informações que ajudem a difundir a prática do consumo consciente.

Enfim, todos esses R’s indicam um caminho para o consumo consciente. Com todas as letras são necessárias iniciativas individuais e coletivas, sobretudo de cobrança do poder público e na eleição de representantes que valorizem essa pauta.

Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

[1] http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global/item/606.html
[2] http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento  (coleta seletiva)
[3] http://cempre.org.br/ciclosoft/id/9
[4] https://www.akatu.org.br
 

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Foto: Annca – Pixabay

Desde a década de 1990 ouvimos falar do “princípio dos três R’s da sustentabilidade”, que tem como pilares os verbos Reduzir, Reutilizar e Reciclar, apresentados na Agenda 21. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, essa conjuntura tem como foco a não-geração de resíduos, estímulo ao consumo sustentável para conter o desperdício e poupar os recursos naturais, ou seja, propostas de alteração aos padrões de consumo (como refere o Capítulo 4 do documento)[1]. Contudo, a ordem dos termos acabou sendo invertida, se falando mais em reciclagem no que nos demais termos, mesmo com a inserção de novas iniciativas.

O documento, que ficou conhecido como Agenda 21, é resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, também conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra. As referências a essa expressão dos R’s podem ser encontradas também como “políticas dos R’s” ou “diretrizes” propostas pela Agenda. Em 2019, continuam atuais e necessárias mudanças estruturais, principalmente na gestão de resíduos, apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 (Lei nº 12.305/10). Lembrando que os lixões a céu aberto deveriam ter sido extintos em 2014.

O termo que deveria ser o foco principal é Reduzir. O primeiro e mais importante verbo pode ser encarado como o maior desafio. É ele que provoca uma avaliação pessoal do consumo versus consumismo, a necessidade versus vontade (ou ostentação, para usar palavras do momento). Reduzir o uso de transporte individual, o consumo de carnes e derivados animais, as compras impulsivas, o desperdício de energia, compras de grandes empresas para valorizar o comércio local e justo, são alguns exemplos.

Apesar de ser uma expressão que parece semelhante com a reciclagem, Reutilizar significa otimizar ao máximo a finalidade de determinado “produto” antes do descarte, prolongar a “vida útil”. Ainda que o descarte seja feito de forma adequada, é possível adiá-lo com a reutilização. Não existe o “jogar fora”. Além disso, não são apenas objetos que podem ser reutilizados, a água e alimentos, por exemplo, também podem ser reaproveitados.

Para poder Reciclar, em primeiro lugar, é preciso que se faça a coleta seletiva[2] e que seja eficiente. A reciclagem é o processo de transformação dos resíduos em novos materiais. Ou seja, é uma alternativa, mas não é a solução. No Brasil, os índices de reciclagem são bastante baixos, de acordo com estudo do Compromisso Empresarial para Reciclagem, o Cempre (2018)[3], somente 22% dos municípios tem programas de coleta seletiva.

Segundo estudos do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb), 40% dos resíduos gerados tem destino inadequado. Anualmente no país, são produzidos 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos, com mais de 10 milhões de toneladas procedentes do plástico. Isso significa que haveria um retorno de 5,7 bilhões de reais à economia se o plástico produzido fosse reciclado. Justamente pelo valor econômico, desde 2001 o Brasil vem sendo líder na reciclagem do alumínio. Estima-se que em 2017, somente com a etapa da coleta da latinha, mais de 1,2 bilhão de reais foi injetado na economia e recicladas 97,7% das latas vendidas no ano, de acordo com a Associação Brasileira do Alumínio. São toneladas de resíduos que voltaram a ser utilizados e não foram parar nos lixões e aterros nem nas águas e solo.

No mesmo sentido, poderíamos falar em mais alguns verbos, a começar pela Recusa de produtos com embalagens plásticas, brindes e sacolas de supermercado, isopor (que apesar de reciclável não é um processo economicamente viável), produtos que prejudiquem a saúde e o ambiente, empresas que não tenham compromisso ético-ambiental.

Repensar ou refletir (como sugere o Instituto Akatu[4]) sobre a real necessidade de aquisição ou uso de determinado produto. Questione-se. O Instituto Akatu, inclui ainda outros quatro R’s: Respeitar, a si e outras pessoas, o trabalho, os animais e plantas, o ambiente; Reparar, consertar objetos e as relações; Responsabilizar-se por suas ações, os impactos bons e ruins, por sua cidade, entre outros; e Repassar informações que ajudem a difundir a prática do consumo consciente.

Enfim, todos esses R’s indicam um caminho para o consumo consciente. Com todas as letras são necessárias iniciativas individuais e coletivas, sobretudo de cobrança do poder público e na eleição de representantes que valorizem essa pauta.

Alice Dutra Balbé,  doutora em Ciências da Comunicação e mestre em Informação e Jornalismo pela Universidade do Minho, Portugal,  jornalista egressa UFN.

[1] http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global/item/606.html
[2] http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento  (coleta seletiva)
[3] http://cempre.org.br/ciclosoft/id/9
[4] https://www.akatu.org.br