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Belinha e a saudade

Quando eu tinha cinco anos ganhei de presente um cachorro. Seu nome era Hulk, em homenagem ao gigante verde da Marvel. Hulk era um vira lata da cor preta com uma mancha branca entre os olhos. Foi meu fiel escudeiro durante muitos anos. Quando ele morreu, fiquei muito triste e prometi a mim mesmo que nunca mais ia ter cachorro.

Os anos passaram e ela apareceu. Chegou de mansinho e, sem esforço nenhum, arrebatou meu coração. Seu nome Belinha, uma lhasa apso, branca com o focinho despigmentado e um rosto extremamente expressivo para um cachorro. Minha filha de quatro patas, que quando a veterinária falou: “Se ela não for operada urgentemente, vai morrer”, cheguei à conclusão que não estava preparado para perdê-la.

Confesso que nunca me imaginei passando por essa situação, mas a vida tem das suas. Eu, agora, me via sentado na sala de espera do hospital veterinário, onde escrevi um pouco desse texto. Ao meu lado um cachorro hiperativo que, em pé, devia ter uns dois metros de altura, puxava a sua dona de um lado para o outro – uma senhora de um metro e cinquenta de altura e uns sessenta anos. À minha frente um gato preto dentro de um cesto de roupas improvisado como gaiola. Cercado de todos os tipos de cachorros, me olhava aterrorizado com aquela situação, tentando puxar na memória qual travessura tinha feito para a sua dona o estar  punindo daquele jeito. E eu ali, no meio daquele caos, pensando em como ia ser minha vida sem minha cadelinha dormindo todas as noites aos meus pés, ou me esperando chegar do trabalho.

Hoje, sentado aqui no sofá e terminando de escrever esse texto, que comecei  há um mês, com a Belinha deitada aos meus pés, lambendo uma pata, fico pensando: –  A vida é um grande filme feito de momentos editados por nós ao longo dos anos, e dos quais só nós vemos o resultado final. E um dos momentos que vou colocar no meu filme é esse: a imagem dela entre uma lambida e outra na pata, me olhando, sem imaginar no quanto é importante para mim.  Espero que a Belinha ainda fique comigo por muitos e muitos anos, que siga no seu sofá velho, amarelo e desbotado, latindo para o mundo.

PS: este texto foi escrito no dia 9 de maio de 2018. No dia 29 de maio do mesmo ano ela morreu. O sofá amarelo continua no mesmo lugar, junto com a saudade que nunca vai passar.

Fabian Lisboa é acadêmico de jornalismo da UFN

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Uma resposta

  1. perdi minha cachorrinha chamada belinha tbm hoje 🙁 31/08/2020 uma lhasa branca, 10 anos na minha vida me trouxe só alegria, eu a amo muito, dói e espero que realmente deus exista, e que um dia eu possa ver ela novamente, Belinha te amo muito <3

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Quando eu tinha cinco anos ganhei de presente um cachorro. Seu nome era Hulk, em homenagem ao gigante verde da Marvel. Hulk era um vira lata da cor preta com uma mancha branca entre os olhos. Foi meu fiel escudeiro durante muitos anos. Quando ele morreu, fiquei muito triste e prometi a mim mesmo que nunca mais ia ter cachorro.

Os anos passaram e ela apareceu. Chegou de mansinho e, sem esforço nenhum, arrebatou meu coração. Seu nome Belinha, uma lhasa apso, branca com o focinho despigmentado e um rosto extremamente expressivo para um cachorro. Minha filha de quatro patas, que quando a veterinária falou: “Se ela não for operada urgentemente, vai morrer”, cheguei à conclusão que não estava preparado para perdê-la.

Confesso que nunca me imaginei passando por essa situação, mas a vida tem das suas. Eu, agora, me via sentado na sala de espera do hospital veterinário, onde escrevi um pouco desse texto. Ao meu lado um cachorro hiperativo que, em pé, devia ter uns dois metros de altura, puxava a sua dona de um lado para o outro – uma senhora de um metro e cinquenta de altura e uns sessenta anos. À minha frente um gato preto dentro de um cesto de roupas improvisado como gaiola. Cercado de todos os tipos de cachorros, me olhava aterrorizado com aquela situação, tentando puxar na memória qual travessura tinha feito para a sua dona o estar  punindo daquele jeito. E eu ali, no meio daquele caos, pensando em como ia ser minha vida sem minha cadelinha dormindo todas as noites aos meus pés, ou me esperando chegar do trabalho.

Hoje, sentado aqui no sofá e terminando de escrever esse texto, que comecei  há um mês, com a Belinha deitada aos meus pés, lambendo uma pata, fico pensando: –  A vida é um grande filme feito de momentos editados por nós ao longo dos anos, e dos quais só nós vemos o resultado final. E um dos momentos que vou colocar no meu filme é esse: a imagem dela entre uma lambida e outra na pata, me olhando, sem imaginar no quanto é importante para mim.  Espero que a Belinha ainda fique comigo por muitos e muitos anos, que siga no seu sofá velho, amarelo e desbotado, latindo para o mundo.

PS: este texto foi escrito no dia 9 de maio de 2018. No dia 29 de maio do mesmo ano ela morreu. O sofá amarelo continua no mesmo lugar, junto com a saudade que nunca vai passar.

Fabian Lisboa é acadêmico de jornalismo da UFN