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Santa Maria, RS, Brazil

Clubes santa-marienses: Futebol em dia e salário atrasado

Os torcedores que acompanham o futebol do interior sabem que as dificuldades financeiras assolam os clubes. Em Santa Maria, a situação não é diferente, o sofrimento para manter as contas e salários em dia é uma batalha todo o ano.
O Internacional de Santa Maria é a equipe mais conhecida da região, pois disputa a divisão de acesso, que dá vaga para a primeira divisão. Para termos uma noção, em 2017, a equipe Alvirrubra teve uma das melhores campanhas na divisão de acesso, chegando até as semifinais sem perder nenhum jogo dentro de casa, porém acabou desclassificada. Em 2018, a história se repetiu, a equipe do Presidente Vargas acabou parando na semifinal novamente. A verba utilizada para todo elenco era de 26 mil reais em 2017, dividido entre 30 pessoas jogadores, incluindo jogadores, comissão técnica e funcionários. Na divisão de acesso de 2018, a renda acabou aumentando para 38 mil.
Ainda este ano, o Inter-SM acabou disputando a copa Wianey Carlet, e dando sequência para o segundo semestre da temporada, porém, com uma renda de apenas 18 mil reais, muito abaixo do que era previsto. A diferença da equipe para os demais times da competição era evidente, mas mesmo assim a o time conseguiu chegar até a fase de mata-mata da competição.

Torcida presente no PV na divisão de acesso 2018. Foto: Leonardo Machado

Para quem trabalha nos bastidores do futebol gaúcho, os baixos valores no segundo semestre não são novidades, mas alguns acabam assustando os torcedores. Maria Angélica Varaschini, radialista esportiva da rádio Imembuí que acompanha o dia a dia do Inter-SM, falou sobre a situação salarial do colorado santa-mariense: “O Inter-SM, nas duas gestões passadas, tinha um objetivo muito bem traçado, que era não fazer mais trabalhistas e ir quitando as que tinha, com isso, pagava praticamente duas folhas: A do futebol, e das trabalhistas, por isso que, não tinha muita grana para investir no futebol”.
O dia a dia dos jogadores é bem diferente de um atleta de clube de série A nacional, não tendo tantas obrigações como nutricionista e academia. Todos moram no alojamento, apenas alguns tem casa em Santa Maria. Tomam café, almoço, lanche da tarde, janta e lanche da noite no clube. Têm horário para entrar no alojamento à noite, logo depois o portão fecha e ninguém mais pode entrar.
Thiago Rizzatti, 22 anos, jogador que já teve passagem pelo profissional do Riograndense e disputou a copa Wianey Carlet, pondera que “a cidade de Santa Maria nunca foi um centro do futebol. Há pessoas muito boas por trás do clube, mas precisa de um investimento mais forte”.

O clube

A gestão dentro de um clube de futebol passa por muitas pessoas, mas a principal figura por trás do time é o seu presidente, no caso do colorado santa-mariense é Luiz Cláudio Mello, que foi reeleito presidente no dia 5 de novembro deste ano. Segundo ele, o time acabou sofrendo resquícios de administrações anteriores, o que afetou a folha salarial do clube, mesmo vindo de uma ascensão desde 2013. “Nós trabalhamos muito para colocar o Internacional de Santa Maria no seu devido lugar, que é a série A do Campeonato Gaúcho, creio que daqui para frente o clube tem tudo para conseguir realizar os seus objetivos”, desabafa.
De nove jogos disputados dentro do estádio Presidente Vargas, foram seis vitórias, um empate e duas derrotas, tornando o seu mando de campo uma verdadeira fortaleza. Com um total de sete jogos invictos na baixada, o Clube obteve 63% de aproveitamento em casa.

Jogadores comemorando a classificação do mata-mata. Foto: Leonardo Machado

Quando perguntado sobre como funciona o contrato dos jogadores, o atual presidente é pontual: “Os nossos contratos são todos executados de maneira legal, há uma reunião com os jogadores e seus empresários onde entramos em acordo sobre o que é melhor para o jogador e o clube”.
Alguns jogadores do clube contam com a ajuda de empresários, com um incentivo financeiro, pois, para a maioria, sustentar uma família apenas com o salário pago pelo Clube é muito difícil. O jogador que mais ganha dentro do Inter é o camisa dez, Chiquinho, que está no clube desde 2017.

A base

O ano de 2018 serviu para o futebol santa-mariense firmar-se dentro do cenário gaúcho de base, o colorado não tinha uma categoria sub 17 desde 2013, e já no seu retorno acabou sendo campeão Gaúcho B na sua categoria, dando fim a um jejum de 27 anos sem títulos do clube.
Quando perguntado sobre a categoria de base, o presidente Mello afirma que “o clube teve um sucesso meteórico, esses meninos merecem uma atenção maior do clube, sabemos da dificuldade que foi para conquistar esse título”.

Jogadores do sub 17 comemorando o título com o ídolo Chiquinho. Foto: Arquivo pessoal Cadinho Maciel

Os jogadores da base colorada não são vinculados por meio de nenhum tipo de contrato. Alguns jogadores terão contratos profissionais já para o próximo ano, como é o caso do meio campista Cadinho, que foi o principal jogador da equipe dentro da competição e demonstrou bom futebol em meio aos profissionais nos treinos.
O atual técnico da equipe profissional, Guilherme Tocchetto, esclarece sobre a categoria de base. Conforme ele, “é muito importante que os meninos tenham um tipo de proteção contratual, pois como eles não ganham nada para jogar, apenas custos da viagem, fica fácil empresários ou qualquer outro clube tirar esses garotos daqui, creio que alguns deles, apesar de jovens, possam já somar no grupo profissional do próximo ano”.
Segundo o lateral direito do sub 17, Christian Moreira, a ajuda que o Clube podia dar era muito boa, tudo foi muito bem planejado. “Nós tínhamos as roupas tudo certinho, tanto pós jogo como pré-jogo, claro que não recebemos nada para estar ali representando o Inter, mas jogamos por amor e o Inter nunca nos deixou faltar nada”, detalha.

Confira a entrevista do técnico Guilherme Tocchetto na integra: https://www.youtube.com/watch?v=S7atg6B-GU0

Riograndense

Até mesmo moradores que não acompanham o futebol da cidade sabem da rivalidade que existe entre Inter-SM e Riograndense que acabou em 2017 e poderá retornar em 2019.
Em 2017, o clube esmeraldino recebeu uma rigorosa punição do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) por ter desistido no meio da competição. A punição foi de dois anos sem disputar qualquer campeonato oficial da Federação Gaúcha de Futebol (FGF).
Tudo isso acabou ocorrendo devido à folha salarial extremamente cara do clube. Na época, o presidente chegou a afirmar que o time dos eucaliptos teria que fechar as portas por conta de não ter como pagar os jogadores, que acabaram sendo dispensados.
O clube pretende voltar para o futebol profissional em 2019, Francisco Novelletto, presidente da FGF, já deu o aval para o clube voltar e antecipar o fim da punição. O periquito voltara para jogar a terceira divisão do campeonato gaúcho.

As dificuldades de fazer a bola rolar

Fazer futebol no interior é bem complicado, e o Inter-SM vem nesse processo de estruturação e planejamento nos últimos anos. Na busca por sócios e conselheiros, o apoio de empresas e empresários de Santa Maria é muito fraco, por isso, o clube só se sustenta pela mensalidade dos conselheiros, e claro, do pouco patrocínio que consegue. Desta forma, fazer o segundo semestre foi bem difícil, ainda mais que o público não comparece em grande número no estádio. A divisão de acesso só dá uma quantia em prêmio a quem sobe para a série A; o restante, só tem a ajuda da FGF em relação a arbitragem, e algumas bolas, o resto, é tudo custeado pelo clube, e não é só a folha de jogadores. Tem o gasto de viagem, alimentação e fardamento, fora os gastos do dia a dia, que com ou sem futebol se tem no clube, como água, luz, telefone e internet.

Jogadores do Inter-SM reunidos antes do jogo da semifinal da divisão de acesso. Foto: Leonardo Machado

Elevar uma situação financeira que não vinha boa demanda tempo, e para que isso melhore, precisa ter resultado dentro de campo, uma coisa leva a outra. Bateu duas vezes na trave, mas não entrou, não tem visibilidade de TV, e isso também prejudica. Em 2016 o Inter SM perdeu patrocínios, pois muitos jogos não puderam ser realizados no Presidente Vargas devido a toda situação dos PPCIs (Planos de Prevenção e Combate a Incêndios) dos estádios, o Inter só jogou em casa no returno da competição.
Tudo isso influencia para uma ascensão financeira, mas a falta de apoio, tanto do público quanto de patrocinadores é um fator bem importante, e os empresários entenderem que ter um clube na série A ou até mesmo em alguma competição do Brasileiro é muito importante. Resultado e apoio devem andar juntos, para que as coisas funcionem.

 

Texto produzido por Leonardo Machado e João Martins, na disciplina de Jornalismo Investigativo, do Curso de Jornalismo da UFN, ministrada pela professora Carla Torres durante o 2º semestre de 2018.

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Os torcedores que acompanham o futebol do interior sabem que as dificuldades financeiras assolam os clubes. Em Santa Maria, a situação não é diferente, o sofrimento para manter as contas e salários em dia é uma batalha todo o ano.
O Internacional de Santa Maria é a equipe mais conhecida da região, pois disputa a divisão de acesso, que dá vaga para a primeira divisão. Para termos uma noção, em 2017, a equipe Alvirrubra teve uma das melhores campanhas na divisão de acesso, chegando até as semifinais sem perder nenhum jogo dentro de casa, porém acabou desclassificada. Em 2018, a história se repetiu, a equipe do Presidente Vargas acabou parando na semifinal novamente. A verba utilizada para todo elenco era de 26 mil reais em 2017, dividido entre 30 pessoas jogadores, incluindo jogadores, comissão técnica e funcionários. Na divisão de acesso de 2018, a renda acabou aumentando para 38 mil.
Ainda este ano, o Inter-SM acabou disputando a copa Wianey Carlet, e dando sequência para o segundo semestre da temporada, porém, com uma renda de apenas 18 mil reais, muito abaixo do que era previsto. A diferença da equipe para os demais times da competição era evidente, mas mesmo assim a o time conseguiu chegar até a fase de mata-mata da competição.

Torcida presente no PV na divisão de acesso 2018. Foto: Leonardo Machado

Para quem trabalha nos bastidores do futebol gaúcho, os baixos valores no segundo semestre não são novidades, mas alguns acabam assustando os torcedores. Maria Angélica Varaschini, radialista esportiva da rádio Imembuí que acompanha o dia a dia do Inter-SM, falou sobre a situação salarial do colorado santa-mariense: “O Inter-SM, nas duas gestões passadas, tinha um objetivo muito bem traçado, que era não fazer mais trabalhistas e ir quitando as que tinha, com isso, pagava praticamente duas folhas: A do futebol, e das trabalhistas, por isso que, não tinha muita grana para investir no futebol”.
O dia a dia dos jogadores é bem diferente de um atleta de clube de série A nacional, não tendo tantas obrigações como nutricionista e academia. Todos moram no alojamento, apenas alguns tem casa em Santa Maria. Tomam café, almoço, lanche da tarde, janta e lanche da noite no clube. Têm horário para entrar no alojamento à noite, logo depois o portão fecha e ninguém mais pode entrar.
Thiago Rizzatti, 22 anos, jogador que já teve passagem pelo profissional do Riograndense e disputou a copa Wianey Carlet, pondera que “a cidade de Santa Maria nunca foi um centro do futebol. Há pessoas muito boas por trás do clube, mas precisa de um investimento mais forte”.

O clube

A gestão dentro de um clube de futebol passa por muitas pessoas, mas a principal figura por trás do time é o seu presidente, no caso do colorado santa-mariense é Luiz Cláudio Mello, que foi reeleito presidente no dia 5 de novembro deste ano. Segundo ele, o time acabou sofrendo resquícios de administrações anteriores, o que afetou a folha salarial do clube, mesmo vindo de uma ascensão desde 2013. “Nós trabalhamos muito para colocar o Internacional de Santa Maria no seu devido lugar, que é a série A do Campeonato Gaúcho, creio que daqui para frente o clube tem tudo para conseguir realizar os seus objetivos”, desabafa.
De nove jogos disputados dentro do estádio Presidente Vargas, foram seis vitórias, um empate e duas derrotas, tornando o seu mando de campo uma verdadeira fortaleza. Com um total de sete jogos invictos na baixada, o Clube obteve 63% de aproveitamento em casa.

Jogadores comemorando a classificação do mata-mata. Foto: Leonardo Machado

Quando perguntado sobre como funciona o contrato dos jogadores, o atual presidente é pontual: “Os nossos contratos são todos executados de maneira legal, há uma reunião com os jogadores e seus empresários onde entramos em acordo sobre o que é melhor para o jogador e o clube”.
Alguns jogadores do clube contam com a ajuda de empresários, com um incentivo financeiro, pois, para a maioria, sustentar uma família apenas com o salário pago pelo Clube é muito difícil. O jogador que mais ganha dentro do Inter é o camisa dez, Chiquinho, que está no clube desde 2017.

A base

O ano de 2018 serviu para o futebol santa-mariense firmar-se dentro do cenário gaúcho de base, o colorado não tinha uma categoria sub 17 desde 2013, e já no seu retorno acabou sendo campeão Gaúcho B na sua categoria, dando fim a um jejum de 27 anos sem títulos do clube.
Quando perguntado sobre a categoria de base, o presidente Mello afirma que “o clube teve um sucesso meteórico, esses meninos merecem uma atenção maior do clube, sabemos da dificuldade que foi para conquistar esse título”.

Jogadores do sub 17 comemorando o título com o ídolo Chiquinho. Foto: Arquivo pessoal Cadinho Maciel

Os jogadores da base colorada não são vinculados por meio de nenhum tipo de contrato. Alguns jogadores terão contratos profissionais já para o próximo ano, como é o caso do meio campista Cadinho, que foi o principal jogador da equipe dentro da competição e demonstrou bom futebol em meio aos profissionais nos treinos.
O atual técnico da equipe profissional, Guilherme Tocchetto, esclarece sobre a categoria de base. Conforme ele, “é muito importante que os meninos tenham um tipo de proteção contratual, pois como eles não ganham nada para jogar, apenas custos da viagem, fica fácil empresários ou qualquer outro clube tirar esses garotos daqui, creio que alguns deles, apesar de jovens, possam já somar no grupo profissional do próximo ano”.
Segundo o lateral direito do sub 17, Christian Moreira, a ajuda que o Clube podia dar era muito boa, tudo foi muito bem planejado. “Nós tínhamos as roupas tudo certinho, tanto pós jogo como pré-jogo, claro que não recebemos nada para estar ali representando o Inter, mas jogamos por amor e o Inter nunca nos deixou faltar nada”, detalha.

Confira a entrevista do técnico Guilherme Tocchetto na integra: https://www.youtube.com/watch?v=S7atg6B-GU0

Riograndense

Até mesmo moradores que não acompanham o futebol da cidade sabem da rivalidade que existe entre Inter-SM e Riograndense que acabou em 2017 e poderá retornar em 2019.
Em 2017, o clube esmeraldino recebeu uma rigorosa punição do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) por ter desistido no meio da competição. A punição foi de dois anos sem disputar qualquer campeonato oficial da Federação Gaúcha de Futebol (FGF).
Tudo isso acabou ocorrendo devido à folha salarial extremamente cara do clube. Na época, o presidente chegou a afirmar que o time dos eucaliptos teria que fechar as portas por conta de não ter como pagar os jogadores, que acabaram sendo dispensados.
O clube pretende voltar para o futebol profissional em 2019, Francisco Novelletto, presidente da FGF, já deu o aval para o clube voltar e antecipar o fim da punição. O periquito voltara para jogar a terceira divisão do campeonato gaúcho.

As dificuldades de fazer a bola rolar

Fazer futebol no interior é bem complicado, e o Inter-SM vem nesse processo de estruturação e planejamento nos últimos anos. Na busca por sócios e conselheiros, o apoio de empresas e empresários de Santa Maria é muito fraco, por isso, o clube só se sustenta pela mensalidade dos conselheiros, e claro, do pouco patrocínio que consegue. Desta forma, fazer o segundo semestre foi bem difícil, ainda mais que o público não comparece em grande número no estádio. A divisão de acesso só dá uma quantia em prêmio a quem sobe para a série A; o restante, só tem a ajuda da FGF em relação a arbitragem, e algumas bolas, o resto, é tudo custeado pelo clube, e não é só a folha de jogadores. Tem o gasto de viagem, alimentação e fardamento, fora os gastos do dia a dia, que com ou sem futebol se tem no clube, como água, luz, telefone e internet.

Jogadores do Inter-SM reunidos antes do jogo da semifinal da divisão de acesso. Foto: Leonardo Machado

Elevar uma situação financeira que não vinha boa demanda tempo, e para que isso melhore, precisa ter resultado dentro de campo, uma coisa leva a outra. Bateu duas vezes na trave, mas não entrou, não tem visibilidade de TV, e isso também prejudica. Em 2016 o Inter SM perdeu patrocínios, pois muitos jogos não puderam ser realizados no Presidente Vargas devido a toda situação dos PPCIs (Planos de Prevenção e Combate a Incêndios) dos estádios, o Inter só jogou em casa no returno da competição.
Tudo isso influencia para uma ascensão financeira, mas a falta de apoio, tanto do público quanto de patrocinadores é um fator bem importante, e os empresários entenderem que ter um clube na série A ou até mesmo em alguma competição do Brasileiro é muito importante. Resultado e apoio devem andar juntos, para que as coisas funcionem.

 

Texto produzido por Leonardo Machado e João Martins, na disciplina de Jornalismo Investigativo, do Curso de Jornalismo da UFN, ministrada pela professora Carla Torres durante o 2º semestre de 2018.