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Santa Maria, RS, Brazil

Um Olhar Que Fala

Uma amizade das raras hoje em dia e que já dura vinte e três anos. Duas meninas que moraram na mesma rua, uma do lado da outra. É esse o início da minha história com ela que é companheira de uma vida. Subimos na mesma árvore, jogamos pedra na mesma casa, vimos os mesmos filmes e matamos muita aula juntas para comer batata frita escondidas durante a tarde.

Foto: Pixabay License

Quando você é criança, dançar na sala ao som de Latino – Festa no Apê com a sua melhor amiga pode ser uma das coisas mais divertidas a se fazer, e pra nós de fato era. Juntas, aprendemos a falar, a andar, a se defender e defender uma a outra. Medo? Só de a minha mãe chegar mais cedo do trabalho e nos pegar com o som no volume trinta em horário de aula. Foram muitos lanches, ‘’pousos’’, aventuras e histórias. ‘’Se você pedir, a minha mãe deixa’’, era a frase mais inteligente usada como uma estratégia para tentar dormir fora de casa.

É por isso e muito mais que eu sabia que o olhar dela era diferente dessa vez. Porque já brincamos muito de boneca, de casinha, pega-pega. Cantamos Zezé Di Camargo e Luciano em fita cassete, colecionamos CD’s da Wanessa Camargo e, anos mais tarde, comemos bolo chorando desilusões amorosas.

Para quem ainda tem uma amizade de infância pode ser fácil lembrar. sem precisar fazer qualquer esforço, de quando foram pequenos. E como – com sorte e vontade – é possível manter a amizade. Muitos obstáculos apareceram, entretanto lembranças são poderosas: brincadeiras, festa junina na escola, amigo secreto no fim do ano, famílias, o pote de margarina que virava panelinha, as duas aprendendo a gostar de coisas novas, a lembrança de nós duas no verão montando a piscina no fundo do pátio, na casa nova azul, ao lado da minha bisavó.

O tempo passou e a minha amiga de infância está me dando uma notícia com o olhar. O mesmo olhar que ela fazia quando brincava de boneca. Não tem mais fita cassete, não ouvimos mais Wanessa Camargo e faz tempo que não vamos a uma festa junina, mas nada disso importa. Porque o tempo é só e unicamente nosso. Ano a ano. Mudou o que fazemos, o que ouvimos e sobre o que falamos, mas ainda fazemos, ouvimos e brindamos juntas.

Amigas de infância são assim: o mundo muda, as relações mudam, mas tem um vínculo que só quem se conhece desde pequeno mantém. Para nós, uma intimidade de irmãs, pois acompanhei todas as histórias dela e ela, as minhas. Acompanhei o desabrochar de uma menina inocente com um chapeuzinho de festa na cabeça em todos os meus aniversários, mas que quando cresceu segurou a minha mão nos momentos em que conheci a maior dor do mundo. E agora ela está ali, diante de mim, um ar sagrado toma conta do lugar e ela nem precisou me explicar o olhar diferente. Somos amigas há vinte e tantos anos. Ela sentada no sofá da minha casa, às onze horas da noite de domingo e aí eu já soube: ela está grávida.

Crônica escrita pela acadêmica de Jornalismo Lilian Dias Streb, na disciplina de Jornalismo II, orientada pelo professor Carlos Alberto Badke.

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Uma amizade das raras hoje em dia e que já dura vinte e três anos. Duas meninas que moraram na mesma rua, uma do lado da outra. É esse o início da minha história com ela que é companheira de uma vida. Subimos na mesma árvore, jogamos pedra na mesma casa, vimos os mesmos filmes e matamos muita aula juntas para comer batata frita escondidas durante a tarde.

Foto: Pixabay License

Quando você é criança, dançar na sala ao som de Latino – Festa no Apê com a sua melhor amiga pode ser uma das coisas mais divertidas a se fazer, e pra nós de fato era. Juntas, aprendemos a falar, a andar, a se defender e defender uma a outra. Medo? Só de a minha mãe chegar mais cedo do trabalho e nos pegar com o som no volume trinta em horário de aula. Foram muitos lanches, ‘’pousos’’, aventuras e histórias. ‘’Se você pedir, a minha mãe deixa’’, era a frase mais inteligente usada como uma estratégia para tentar dormir fora de casa.

É por isso e muito mais que eu sabia que o olhar dela era diferente dessa vez. Porque já brincamos muito de boneca, de casinha, pega-pega. Cantamos Zezé Di Camargo e Luciano em fita cassete, colecionamos CD’s da Wanessa Camargo e, anos mais tarde, comemos bolo chorando desilusões amorosas.

Para quem ainda tem uma amizade de infância pode ser fácil lembrar. sem precisar fazer qualquer esforço, de quando foram pequenos. E como – com sorte e vontade – é possível manter a amizade. Muitos obstáculos apareceram, entretanto lembranças são poderosas: brincadeiras, festa junina na escola, amigo secreto no fim do ano, famílias, o pote de margarina que virava panelinha, as duas aprendendo a gostar de coisas novas, a lembrança de nós duas no verão montando a piscina no fundo do pátio, na casa nova azul, ao lado da minha bisavó.

O tempo passou e a minha amiga de infância está me dando uma notícia com o olhar. O mesmo olhar que ela fazia quando brincava de boneca. Não tem mais fita cassete, não ouvimos mais Wanessa Camargo e faz tempo que não vamos a uma festa junina, mas nada disso importa. Porque o tempo é só e unicamente nosso. Ano a ano. Mudou o que fazemos, o que ouvimos e sobre o que falamos, mas ainda fazemos, ouvimos e brindamos juntas.

Amigas de infância são assim: o mundo muda, as relações mudam, mas tem um vínculo que só quem se conhece desde pequeno mantém. Para nós, uma intimidade de irmãs, pois acompanhei todas as histórias dela e ela, as minhas. Acompanhei o desabrochar de uma menina inocente com um chapeuzinho de festa na cabeça em todos os meus aniversários, mas que quando cresceu segurou a minha mão nos momentos em que conheci a maior dor do mundo. E agora ela está ali, diante de mim, um ar sagrado toma conta do lugar e ela nem precisou me explicar o olhar diferente. Somos amigas há vinte e tantos anos. Ela sentada no sofá da minha casa, às onze horas da noite de domingo e aí eu já soube: ela está grávida.

Crônica escrita pela acadêmica de Jornalismo Lilian Dias Streb, na disciplina de Jornalismo II, orientada pelo professor Carlos Alberto Badke.