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Santa Maria, RS, Brazil

Levamos outro gol?

Era uma bela manhã de sol… ou melhor, não seria uma tarde chuvosa? Se bem que poderia estar de noite, né!? O lugar também fica difícil de descrever: pode ser na fila do banco, no cafezinho da padaria, na roda de amigos ou até mesmo no trabalho. O fato é que futebol é assunto universal, basta apenas dois iniciarem a conversa que, em poucos minutos, já encheu de gente comentando sobre o lance de ontem ou a escalação de amanhã. E não precisam nem serem conhecidos.

Mas teve um dia que o assunto ficou meio de lado, com no máximo algumas colocações pontuais do tipo “é hoje, hein!” ou “e essa hora que não passa nunca?”.

Imagem de Rubén Calvo por Pixabay

18 de agosto de 2010. Quem dera se todos os dias do ano fossem como essa quarta-feira ensolarada. Aliás, a melhor parte do sol nesse dia foi quando ele se pôs, sinal que estava mais perto das 22h, quando a bola iria rolar no segundo jogo da final da Libertadores da América, entre Inter e Chivas. Mesmo com apenas 9 anos, lembro-me com perfeição dessa história realmente inesquecível.

Nesse fim de tarde, o restaurante de minha família, conhecido na época como bar dos colorados de Formigueiro (e localizado em frente ao dito bar dos gremistas, apesar desse fato nunca ter proporcionado desavenças), já estava começando a lotar. As mesas da parte interna já tinham “dono”, muitas desde o início da competição. Cadeiras de alumínio de alguma marca de bebida já sendo colocadas no espaço central. Tudo isso para olhar o jogo em uma simples televisão de 21 polegadas.

Mas a maior festa estava marcada para acontecer do lado de fora. A rua, pelo menos ali na frente, virou estacionamento de churrasqueiras: “cada um trás um pedaço e tudo certo”. Mas a essas alturas de ansiedade, a maioria nem fome tinha mais. O telão, pago através de vaquinha dos próprios clientes, reprisava os melhores momentos da conquista do mundial contra o Barcelona, em 2006. Com direito a comemoração no gol do Gabiru, claro.

E finalmente chegou a hora do jogo. A aba lateral externa do restaurante, um legítimo “garajão”, não tinha espaço para mais ninguém. Até nem sabia que existiam tantos colorados em Formigueiro. A alternativa para muitos foi olhar o jogo lá da rua mesmo. Mas eu já tinha garantido o lugar na primeira fileira, quase “dentro” da projeção. A última rápida saída dali havia sido para pintar algumas listras em vermelho e branco no rosto que, após muita insistência, minha mãe fez.

O clima era de estádio, com cantorias, gritos, aplausos e, óbvio, xingamentos ao juiz que, por incrível que pareça, sempre “rouba” contra o nosso time do coração. Era a hora de soltar toda emoção que ficou presa durante aquele demorado dia. E tínhamos motivo para isso, pois o Inter entrou em campo sendo campeão, após a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo.

Mas perto final do primeiro tempo, aos 42 minutos, preteou o olho da gataiada: gol dos caras. Mas os deuses do futebol não iriam nos sacanear a essas alturas do campeonato. A classificação nas oitavas contra o Banfield após perder o primeiro jogo por três a um; O milagre de Giuliano em meio a fumaça contra o Estudiantes nas quartas de final; O segurar de resultado contra o São Paulo na semi. Só podiam ser sinais de que o bicampeonato viria.

Sóbis, nosso herói de 2006, devolveu a esperança aos 16 minutos da segunda etapa. Tudo igual. Mas ainda não era o suficiente. Damião corre com a bola, deixa a zaga adversária para trás e faz o segundo, aos 30 minutos. Loucura total. O título realmente viria.

A torcida ficou dividida entre os que assistiam os últimos 15 minutos e os que foram para a rua comemorar. Eu estava nos dois grupos, fazia um pouco de cada. Com uma bandeira do Colorado em uma taquara pesada e bem maior que eu, arrastando pra lá e pra cá. E foi tremulando ela que escutei novos gritos, era a comemoração do gol do Giuliano, aos 44, que só vi depois, no replay.

Que noite! Nem o melhor dos roteiristas conseguiria tramar algo com tanta perfeição.

Ao longo do futuro, certamente tantas novas conquistas virão. Mas nenhuma, nem mesmo outra Libertadores, será tão especial como essa. No dia seguinte, olhando a repercussão na imprensa, uma surpresa: vitória por 3 a 2. Como assim? Levamos outro gol?

Texto de Pablo Milani.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

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Era uma bela manhã de sol… ou melhor, não seria uma tarde chuvosa? Se bem que poderia estar de noite, né!? O lugar também fica difícil de descrever: pode ser na fila do banco, no cafezinho da padaria, na roda de amigos ou até mesmo no trabalho. O fato é que futebol é assunto universal, basta apenas dois iniciarem a conversa que, em poucos minutos, já encheu de gente comentando sobre o lance de ontem ou a escalação de amanhã. E não precisam nem serem conhecidos.

Mas teve um dia que o assunto ficou meio de lado, com no máximo algumas colocações pontuais do tipo “é hoje, hein!” ou “e essa hora que não passa nunca?”.

Imagem de Rubén Calvo por Pixabay

18 de agosto de 2010. Quem dera se todos os dias do ano fossem como essa quarta-feira ensolarada. Aliás, a melhor parte do sol nesse dia foi quando ele se pôs, sinal que estava mais perto das 22h, quando a bola iria rolar no segundo jogo da final da Libertadores da América, entre Inter e Chivas. Mesmo com apenas 9 anos, lembro-me com perfeição dessa história realmente inesquecível.

Nesse fim de tarde, o restaurante de minha família, conhecido na época como bar dos colorados de Formigueiro (e localizado em frente ao dito bar dos gremistas, apesar desse fato nunca ter proporcionado desavenças), já estava começando a lotar. As mesas da parte interna já tinham “dono”, muitas desde o início da competição. Cadeiras de alumínio de alguma marca de bebida já sendo colocadas no espaço central. Tudo isso para olhar o jogo em uma simples televisão de 21 polegadas.

Mas a maior festa estava marcada para acontecer do lado de fora. A rua, pelo menos ali na frente, virou estacionamento de churrasqueiras: “cada um trás um pedaço e tudo certo”. Mas a essas alturas de ansiedade, a maioria nem fome tinha mais. O telão, pago através de vaquinha dos próprios clientes, reprisava os melhores momentos da conquista do mundial contra o Barcelona, em 2006. Com direito a comemoração no gol do Gabiru, claro.

E finalmente chegou a hora do jogo. A aba lateral externa do restaurante, um legítimo “garajão”, não tinha espaço para mais ninguém. Até nem sabia que existiam tantos colorados em Formigueiro. A alternativa para muitos foi olhar o jogo lá da rua mesmo. Mas eu já tinha garantido o lugar na primeira fileira, quase “dentro” da projeção. A última rápida saída dali havia sido para pintar algumas listras em vermelho e branco no rosto que, após muita insistência, minha mãe fez.

O clima era de estádio, com cantorias, gritos, aplausos e, óbvio, xingamentos ao juiz que, por incrível que pareça, sempre “rouba” contra o nosso time do coração. Era a hora de soltar toda emoção que ficou presa durante aquele demorado dia. E tínhamos motivo para isso, pois o Inter entrou em campo sendo campeão, após a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo.

Mas perto final do primeiro tempo, aos 42 minutos, preteou o olho da gataiada: gol dos caras. Mas os deuses do futebol não iriam nos sacanear a essas alturas do campeonato. A classificação nas oitavas contra o Banfield após perder o primeiro jogo por três a um; O milagre de Giuliano em meio a fumaça contra o Estudiantes nas quartas de final; O segurar de resultado contra o São Paulo na semi. Só podiam ser sinais de que o bicampeonato viria.

Sóbis, nosso herói de 2006, devolveu a esperança aos 16 minutos da segunda etapa. Tudo igual. Mas ainda não era o suficiente. Damião corre com a bola, deixa a zaga adversária para trás e faz o segundo, aos 30 minutos. Loucura total. O título realmente viria.

A torcida ficou dividida entre os que assistiam os últimos 15 minutos e os que foram para a rua comemorar. Eu estava nos dois grupos, fazia um pouco de cada. Com uma bandeira do Colorado em uma taquara pesada e bem maior que eu, arrastando pra lá e pra cá. E foi tremulando ela que escutei novos gritos, era a comemoração do gol do Giuliano, aos 44, que só vi depois, no replay.

Que noite! Nem o melhor dos roteiristas conseguiria tramar algo com tanta perfeição.

Ao longo do futuro, certamente tantas novas conquistas virão. Mas nenhuma, nem mesmo outra Libertadores, será tão especial como essa. No dia seguinte, olhando a repercussão na imprensa, uma surpresa: vitória por 3 a 2. Como assim? Levamos outro gol?

Texto de Pablo Milani.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.