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Santa Maria, RS, Brazil

Quem está por detrás de cada máscara?

Quantos dias nublados são necessários para valorizarmos o Sol? Quantos dias de calor são necessários para valorizarmos o frio? Quantos dias de isolamento são necessários para valorizarmos a nossa natureza social mais profunda e inalienável? Da suposta quarentena aos meses e meses de pandemia. Um período violentamente ampliado pela negligência humana. Mais um capítulo da história que nos conta sobre as insistentes dualidades da nossa espécie: negacionismo e ciência, exclusão e privilégio, individualismo e solidariedade, abandono e acolhimento, insegurança e otimismo, medo e coragem, descrença e esperança, perda e ganho, dor e alegria.

Uma das mais fortes experiências de fragilidade coletiva do nosso século, vivida no modo distanciamento social compulsório. Essa contradição parece bem (bem) mais trágica do que irônica. Definitivamente, ninguém se prepara para viver o que estamos vivendo. Mas, de um jeito ou outro, todas e todos fomos encontrando, ao longo do percurso, lentamente e com muitos tropeços, a nossa adaptação.

Sim, eu poderia falar de mim, da minha família, das minhas e dos meus. Poderia falar literal e simbolicamente, em primeira pessoa, do que sinto confuso aqui dentro, do que tem me incomodado o sono e nos sonhos, dos pensamentos que às vezes tentam me anestesiar, confundir o que sinto e acredito. Poderia falar de como têm sido os meus passos para me equilibrar no caminho. Mas eu prefiro falar para você, com você, também de você, de nós. Quero dizer-lhe que mesmo não nos conhecendo intimamente, eu compreendo e respeito todos os seus sentimentos provavelmente tão confusos quanto os meus. Dizer que sinto muito pela sua apatia, desânimo, frustação, tristeza, decepção, revolta.

Mas eu quero falar principalmente daquilo que nenhuma máscara é capaz de esconder: a sua persistência, força, coragem, fé. Quero homenagear a forma pela qual você tem se organizado, reinventado, respeitado o distanciamento e as pessoas ao seu redor, acolhido e se acolhido junto à sua família ou amizades, buscado dar conta da rotina de trabalho e de auto-cuidado, saúde e bem estar. Faço votos para que seus olhos transmitam a todas as pessoas que cruzarem o seu caminho a luz de alguém que acredita num futuro melhor para si e para o nosso país. Ao fim dessa jornada, o meu maior desejo mesmo é de que os dias e os rostos encobertos tenham servido para valorizarmos o tempo e os sorrisos abertos.

 

Por Pauline Neutzling Fraga, Doutora em Comunicação, publicitária, escritora, professora do Curso de Publicidade e Propaganda da UFN.

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Uma das mais fortes experiências de fragilidade coletiva do nosso século, vivida no modo distanciamento social compulsório. Essa contradição parece bem (bem) mais trágica do que irônica. Definitivamente, ninguém se prepara para viver o que estamos vivendo. Mas, de um jeito ou outro, todas e todos fomos encontrando, ao longo do percurso, lentamente e com muitos tropeços, a nossa adaptação.

Sim, eu poderia falar de mim, da minha família, das minhas e dos meus. Poderia falar literal e simbolicamente, em primeira pessoa, do que sinto confuso aqui dentro, do que tem me incomodado o sono e nos sonhos, dos pensamentos que às vezes tentam me anestesiar, confundir o que sinto e acredito. Poderia falar de como têm sido os meus passos para me equilibrar no caminho. Mas eu prefiro falar para você, com você, também de você, de nós. Quero dizer-lhe que mesmo não nos conhecendo intimamente, eu compreendo e respeito todos os seus sentimentos provavelmente tão confusos quanto os meus. Dizer que sinto muito pela sua apatia, desânimo, frustação, tristeza, decepção, revolta.

Mas eu quero falar principalmente daquilo que nenhuma máscara é capaz de esconder: a sua persistência, força, coragem, fé. Quero homenagear a forma pela qual você tem se organizado, reinventado, respeitado o distanciamento e as pessoas ao seu redor, acolhido e se acolhido junto à sua família ou amizades, buscado dar conta da rotina de trabalho e de auto-cuidado, saúde e bem estar. Faço votos para que seus olhos transmitam a todas as pessoas que cruzarem o seu caminho a luz de alguém que acredita num futuro melhor para si e para o nosso país. Ao fim dessa jornada, o meu maior desejo mesmo é de que os dias e os rostos encobertos tenham servido para valorizarmos o tempo e os sorrisos abertos.

 

Por Pauline Neutzling Fraga, Doutora em Comunicação, publicitária, escritora, professora do Curso de Publicidade e Propaganda da UFN.