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Santa Maria, RS, Brazil

Ressignificando práticas na pandemia

Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e não avaliei a gravidade das notícias. A riqueza da decoração barroca da igreja do Mosteiro e a diversidade das obras de arte contemporânea da Casa Roberto Marinho eram os alvos da minha atenção. O Morro do Vidigal, infelizmente, não houve como visitar. “Não é seguro”, me disseram.

Apenas ao voltar para Santa Maria, as notícias da China e da Itália se desenharam com toda a sua gravidade. E assim, de uma hora para outra, o mundo virou de ponta cabeça. As notícias eram realmente alarmantes e tudo se tornou incerto. E as aulas? Como fazer? E então, aquilo que era assunto de discussões teóricas (as novas metodologias de ensino on-line, o ensino híbrido), se configurou como realidade urgente. Não mais teoria para aplicação nos próximos anos, mas tarefa urgente a ser implementada.

Ao mesmo tempo em que procurava equacionar esse assunto profissional, a necessidade também de organizar os fazeres do cotidiano, como a alimentação e o convívio com os outros. Não ir a restaurantes, ao café? Não abraçar, não beijar amigos e parentes? O mundo se alterava (tornava-se perigoso?), as práticas mais comuns eram suspensas, mas havia a ilusão, naquele março de surpresas, que seria por pouco tempo…

O então Ministro da Saúde mostrava-se conectado com as orientações das autoridades internacionais de saúde. O desafio apresentado pela pandemia seria enfrentado de forma racional e sensata. Mais uma peste das tantas que a humanidade enfrentou ao longo da sua História, mas certamente vivida com melhores recursos do que aqueles do medievo (Peste Negra) e mesmo do início do Século XX (Gripe Espanhola). Desafios que a humanidade enfrentou… e superou.

Mas este norte governamental logo foi desmoronando. Construir-se nessa conjuntura tão adversa (a de uma tragédia sanitária planetária acrescida por um desgoverno nacional desumano) foi um grande desafio. Reorganizar as tarefas domésticas e profissionais, assim como a encarar o noticiário nacional e não se abalar foram fazeres constantes, enfrentados de modo por vezes solitário.

Passado mais de um ano do início dessa aprendizagem (que continua), não avalio o resultado de todo ruim. A primeira aula virtual foi um desafio e a ausência física de rostos, vozes e olhares dos estudantes quase um impeditivo do trabalho ser executado a contento. No entanto, esse outro mundo antes apenas vislumbrado (o do ensino on-line) se impôs de tal modo que hoje o percebo “quase” natural.

Agora é sonhar com a recuperação da normalidade e também com novas viagens – como aquela ao Rio de Janeiro – e ampliar os conhecimentos do barroco brasileiro (no Mosteiro de São Bento e outros lugares), da arte contemporânea (na Casa Roberto Maranhão) e também do universo das classes populares (Morro do Vidigal). A realidade sempre pode nos proporcionar surpresas. Estejamos abertos para enfrentar desafios (inclusive os planetários) para novos cenários, gostos, saberes e fazeres.

 

 

Por Roselâine Casanova Corrêa, professora no curso de História (UFN), 

Inverno de 2021.

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Quando ouvi falar pela primeira vez na palavra “pandemia”, estava em viagem de férias no Rio de Janeiro. Meu interesse era visitar o Mosteiro de São Bento, a Casa Roberto Marinho, o Morro do Vidigal, e não avaliei a gravidade das notícias. A riqueza da decoração barroca da igreja do Mosteiro e a diversidade das obras de arte contemporânea da Casa Roberto Marinho eram os alvos da minha atenção. O Morro do Vidigal, infelizmente, não houve como visitar. “Não é seguro”, me disseram.

Apenas ao voltar para Santa Maria, as notícias da China e da Itália se desenharam com toda a sua gravidade. E assim, de uma hora para outra, o mundo virou de ponta cabeça. As notícias eram realmente alarmantes e tudo se tornou incerto. E as aulas? Como fazer? E então, aquilo que era assunto de discussões teóricas (as novas metodologias de ensino on-line, o ensino híbrido), se configurou como realidade urgente. Não mais teoria para aplicação nos próximos anos, mas tarefa urgente a ser implementada.

Ao mesmo tempo em que procurava equacionar esse assunto profissional, a necessidade também de organizar os fazeres do cotidiano, como a alimentação e o convívio com os outros. Não ir a restaurantes, ao café? Não abraçar, não beijar amigos e parentes? O mundo se alterava (tornava-se perigoso?), as práticas mais comuns eram suspensas, mas havia a ilusão, naquele março de surpresas, que seria por pouco tempo…

O então Ministro da Saúde mostrava-se conectado com as orientações das autoridades internacionais de saúde. O desafio apresentado pela pandemia seria enfrentado de forma racional e sensata. Mais uma peste das tantas que a humanidade enfrentou ao longo da sua História, mas certamente vivida com melhores recursos do que aqueles do medievo (Peste Negra) e mesmo do início do Século XX (Gripe Espanhola). Desafios que a humanidade enfrentou… e superou.

Mas este norte governamental logo foi desmoronando. Construir-se nessa conjuntura tão adversa (a de uma tragédia sanitária planetária acrescida por um desgoverno nacional desumano) foi um grande desafio. Reorganizar as tarefas domésticas e profissionais, assim como a encarar o noticiário nacional e não se abalar foram fazeres constantes, enfrentados de modo por vezes solitário.

Passado mais de um ano do início dessa aprendizagem (que continua), não avalio o resultado de todo ruim. A primeira aula virtual foi um desafio e a ausência física de rostos, vozes e olhares dos estudantes quase um impeditivo do trabalho ser executado a contento. No entanto, esse outro mundo antes apenas vislumbrado (o do ensino on-line) se impôs de tal modo que hoje o percebo “quase” natural.

Agora é sonhar com a recuperação da normalidade e também com novas viagens – como aquela ao Rio de Janeiro – e ampliar os conhecimentos do barroco brasileiro (no Mosteiro de São Bento e outros lugares), da arte contemporânea (na Casa Roberto Maranhão) e também do universo das classes populares (Morro do Vidigal). A realidade sempre pode nos proporcionar surpresas. Estejamos abertos para enfrentar desafios (inclusive os planetários) para novos cenários, gostos, saberes e fazeres.

 

 

Por Roselâine Casanova Corrêa, professora no curso de História (UFN), 

Inverno de 2021.