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Beatriz Ardenghi entrevista Lucas Ozônio no episódio desta semana. Arquivo: LabSeis

Que Arte é Essa? é o tema da mais nova temporada do Provoc[A]rte que, no segundo episódio, discute sobre a arte do pão, ou melhor, de fazer pão. Arte ou não, qual é o lugar que o pão ocupa nas nossas vidas? Como lembra Beatriz, em uma de suas perguntas ao convidado Lucas Ozônio, padeiro da padaria e confeitaria Pão do Gato, as palavras companheiro e companhia, vem do latim companis, que significa aquele com quem dividimos o pão. Afinal, com quem compartilhamos o pão e estaria ele neste lugar social de afeto?

O Provoc[A]rte vai ao ar nesta terça-feira (11), às 19h, com reprise às 22h, na UFN TV, pelo canal 15 da NET, com reprise no sábado, às 19h, e no domingo, às 19h30min. E também pode ser visto na TV Câmara, canal aberto 18.2, na sexta-feira, às 21h, e sábado, a partir das 19h. Acompanhe a temporada Que Arte é Essa? na íntegra! 

Lucas Ozônio domina a arte da panificação. Arquivo: LabSeis

O programa é produzido pelo Lab Seis, laboratório de produção audiovisual dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) e disponibilizado no canal do YouTube da UFNT TV. A equipe é formada por Beatriz Ardenghi e Petrius Dias no roteiro e apresentação, João Pedro Ribas na direção de arte e na divulgação nas redes sociais, com auxílio de Aryane Machado, Raphael Sidrim na edição,  Alexsandro Pedrollo na gravação, Jonathan de Souza na finalização, e coordenação e direção da professora Neli Mombelli.

Texto: Neli Mombelli

Arquivo: LabSeis

Fruto da criatividade aliada à técnica, a humanidade, e suas diferentes culturas, já produziu obras de arte inesquecíveis que todo mundo já ouviu falar algum dia, como o quadro da Monalisa, de Pablo Picasso, por exemplo. Também outras tantas produções artísticas, desconhecidas da maioria, circulam por aí ou estão prestes a ser criadas. A quinta temporada do Provoc[A]rte buscou inspiração em atividades e práticas que chamamos de arte, mas cujo status de Arte – essa com A maiúsculo, pode ser questionado. A questão é que não nos interessa definir se é arte ou não, mas provocar reflexão sobre esses fazeres tão diversos e tão imbricados com a vida humana e suas distintas subjetividades. Que Arte é essa?

No primeiro episódio, vamos falar da Arte da Mágica, com Marcos Lark. Ele é mágico, artista e praticante das artes circenses. Durante o bate-papo, o convidado conta como a arte chegou em sua vida, como a mágica faz brilhar os olhos do público e de que ser artista independente ainda é um desafio no Brasil. E claro, não poderia faltar um número de mágica nesse episódio, porque quem sabe da arte, cria ilusão até mesmo em frente às câmeras. 

Arquivo: LabSeis

Serão oito episódios nesta temporada do programa. Você não pode perder os demais que vão falar sobre arte culinária, arte terapia, artes marciais, arte de rua, arte botânica, arte da discotecagem e arte do cuidado. 

 Provoc[A]rte vai ao ar nesta terça-feira (04), às 19h, com reprise às 22h, na UFN TV, pelo canal 15 da NET, com reprise no sábado, às 19h, e no domingo, às 19h30min. E também pode ser visto na TV Câmara, canal aberto 18.2, na sexta-feira, às 21h, e sábado, a partir das 19h. Acompanhe a temporada Que Arte é essa? na íntegra! 

O programa é produzido pelo Lab Seis, laboratório de produção audiovisual dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) e disponibilizado no canal do YouTube da UFNT TV. A equipe é formada por Beatriz Ardenghi e Petrius Dias no roteiro e apresentação, João Pedro Ribas na direção de arte e na divulgação nas redes sociais, com auxílio de Aryane Machado, Raphael Sidrim na edição,  Alexsandro Pedrollo na gravação, Jonathan de Souza na finalização, e coordenação e direção da professora Neli Mombelli.

Texto: Neli Mombelli

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Vivência e resistência de pessoas trans em Santa Maria

Relatos de mulheres e homens trans a partir de suas narrativas.

Marquita segurando a bandeira trans, símbolo que representa a comunidade transgênero. Foto: Heloisa Helena.

“Eu digo que a gente foi uma geração muito resistente porque viemos de um estigma de preconceito muito grande em cima da nossa população, por causa de uma doença. Nós sobrevivemos a tudo aquilo e estamos aqui”

Era outono do ano de 1967 quando veio ao mundo um menino, julgado por seu sexo biológico. Aos 17 anos começou o processo de se reconhecer como uma pessoa trans, termo que era pouco utilizado naquela época, pois usavam a palavra travesti como definição. Assim surge Marquita Quevedo, no ano de 1985, em plena pandemia de HIV/AIDS no Brasil, em um ambiente cheio de preconceito contra a população LGBTQIA+ e desinformação sobre a doença.

Ela relata a discriminação que sofreu nos anos 1980 por conta da epidemia, era agredida, xingada e expulsa de bares. “Era muito real na nossa cidade, em pleno Calçadão tinha uns espaços que quando a gente passava ouvia gritos ‘olha a AIDS’, ‘vocês estão matando a população’.” Porém, esse não foi o primeiro preconceito em sua trajetória.

Somente há quatro anos o Ministério dos Direitos Humanos retirou a transexualidade da lista de doenças ou distúrbios mentais. Em agosto de 2018, a Organização Mundial da Saúde publicou a 11ª edição do CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que deixou de incluir o chamado “transtorno de identidade sexual” ou “transtorno de identidade de gênero”. Desde 1952 a população trans era considerada portadora de distúrbios mentais, reforçando o estereótipo de que eram doentes.

Aos 15 anos, Cilene deu o grito de liberdade. Se reconheceu como mulher, feminina e delicada. Na infância foi apelidada de “sorriso”, o sorriso largo estava quase sempre presente em sua trajetória. Mas, aos 11 anos, seu sorriso desmanchou ao ser abusada na escola. Após ser descoberta, através de uma carta contendo uma declaração de amor para um colega de sala de aula em um colégio apenas de meninos, Cilene foi encaminhada ao psicólogo.

“Na sala dele eu tirava toda a minha roupa e ele tocava nas minhas partes íntimas. Na segunda sessão foi piorando, embora eu sentia dor, na época eu imaginava que fazia parte do tratamento. Na terceira sessão, eu parei de ir e acredito que ele iria concluir o ato.”

E nessa travessia perigosa que é a vida, Cilene começou sua caminhada em busca de ser quem realmente desejava. “Eu tenho muitos motivos para ser uma pessoa revoltada e agressiva, porque só a gente sabe o que carregamos nessa vivência toda”.

Cilene menciona uma das suas principais marcas de resistência:

Cilene Rossi trabalha como assessora parlamentar no Legislativo de Santa Maria gerando representatividade para o público trans em espaços políticos. Foto: Vitória Gonçalves.
Cilene Rossi trabalha como assessora parlamentar no Legislativo de Santa Maria gerando representatividade para o público trans em espaços políticos. Foto: Vitória Gonçalves.

É sobre o caminho difícil que Cilene fala. É sobre um caminho de perdas e abandonos. De pedras e espinhos. De preconceito e discriminação. De luta e resistência. Mesmo diante de todos os desafios, Cilene não se recolheu em si mesma. E procurando compreender o que havia nela que tanto incomodava os outros, foi construindo para si a história de sua vida.

Viver no país que mais mata travestis e transexuais é um ato de resistência. O Brasil lidera o ranking mundial de mortes por transfobia, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU). Os dados são alarmantes. Segundo o dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no país, sem contabilizar os demais atos de violência física e moral. 140 vidas, 140 histórias interrompidas. A idade média das vítimas foi de 29 anos. “Nossa maior vingança será envelhecer. Qualquer travesti que passe dos 35 anos estará se vingando desse CIS-tema” – Keila Simpson Presidenta da Antra.

Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.

Gráfico produzido a partir dos dados do dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgado em 2021. Produzido por Vitória Gonçalves.
Gráfico produzido a partir dos dados do dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgado em 2021. Produzido por Vitória Gonçalves.

No começo do século 21 surgiram entidades nacionais como a Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros (Antra), a Rede Trans e o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades, com o propósito de falar sobre questões relacionadas a população tras e gerar visibilidade. Entretanto, descobrir-se neste cenário ainda possui dificuldades.

“Eu sou uma mulher trans, mas é nítido que a maioria nem me considera mulher”. Descobrir-se diferente. Reconhecer-se. Autoproclamar-se. Assumir-se enquanto mulher trans exigiu de Davina Kurkowski todo um processo de negociação, consigo mesma e com o mundo externo. “Pelo fato de eu ser transsexual, a maioria dos homens acham que eu sou alvo de sexo fácil. Já fui assediada várias vezes em Santa Maria, na rua, indo para o cursinho, quando estava trabalhando. Era algo que acontecia quase todos os dias.”

Davina relata como as pessoas reagem de forma preconceituosa ao vê-la na rua:

Sem contar com qualquer respaldo social, mulheres como Davina estão desprotegidas e se tornam extremamente vulneráveis a múltiplas formas de assédio e ataque, sendo radicalmente privadas de direitos. Neste momento, a jovem se depara com a bruta realidade de uma mulher trans na sociedade. O desconforto em utilizar o banheiro feminino do shopping, olhares que transmitem medo, nojo e ódio acompanham Davina no seu cotidiano.

“Escutei vários comentários, uma vez me chamaram de traveco. No começo da transição eu não me sentia confortável para usar vestido e saia em público mas, pela primeira vez, devido ao verão e ao calor, coloquei um vestido. Estava voltando do shopping com duas amigas, eu me sentia ótima e  quando estávamos passando pelo calçadão, aquele homem que está sempre cantando música gospel e gritando com as pessoas começou a gritar olhando pra mim ‘porque vocês adoram o diabo’.”

Quando se fala em homens trans há pouco levantamento aprofundado no país sobre a população masculina, o reconhecimento das identidades de gênero desses sujeitos, a invisibilidade social e política enfrentada por eles, bem como as várias formas de violência que os atingem diariamente.

“Eu posso não ter passado nenhum confronto físico, nem moral, mas é bem humilhante e degradante não ter acesso a um direito básico. É de certa forma violento na vivência”. Cauã de Bairros tem apenas 21 anos, mas já possui uma grande bagagem de experiências e vivências. Aos 17 anos deu adeus ao gênero feminino, rótulo que foi imposto a ele ao nascer, mas que nunca o pertenceu. O direito básico a que o jovem se refere é ser reconhecido pelo nome social na documentação.

 

Cauã atualmente cursa música na UFSM e faz parte da equipe da Casa Verônica Foto Cauã - Arquivo pessoal.
Cauã atualmente cursa música na UFSM e faz parte da equipe da Casa Verônica Foto Cauã - Arquivo pessoal.

No ano de 2019 ele era calouro, no curso de licenciatura em Teatro na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e ainda não tinha modificado o nome na certidão de nascimento e RG. “Na época ainda não tinha uma política facilitada para o nome social. A maior burocracia era o nome, porque as pessoas olhavam o nome social e achavam que era enfeite. Pra mim isso foi o pior, questão do nome na carteira do Restaurante Universitário (RU), portal do aluno, matrícula e carteira de ônibus”.

O jovem conseguiu fazer a retificação do nome por conta de uma lei  (Provimento n° 73 de 2018) instaurada no ano de 2018, que facilitou o processo ao retirar a obrigatoriedade do requerimento de laudos médicos para alteração. Atualmente, para mudar basta a autodeterminação da pessoa interessada em modificar o nome. “Pensa que desagradável ter que pedir para um médico olhar teu corpo e atestar aquilo, para você poder ter acesso ao nome básico. É só teu nome”. Felizmente Cauã não precisou passar pela consulta médica graças a alteração da lei.

Alguns direitos e o acesso a eles tem evoluído ao longo dos anos, mas o preconceito persiste intrínseco na sociedade como mencionado nos relatos de quem convive diariamente com essa realidade.

O desafio no mercado de trabalho

A realidade das pessoas trans em busca da sua independência financeira

“A falta de oportunidade e de inclusão me fez trabalhar na noite. Eu não vou dizer que todas estão na noite por necessidade, mas 95% sim […] Hoje o público trans tem muitas oportunidades, por conta de quem esteve na linha de frente batalhando pelo público LGBT.” 

A noite muitas vezes não tem regra, não tem leis, não tem descanso. Mas não para Cilene, que optou por ter disciplina nos 15 anos que viveu a rotina do trabalho na prostituição. Conheceu todas as drogas na noite – ou quase todas. Mas se considera abençoada de não ter se viciado em nenhuma delas.

“Esses 15 anos para mim era um trabalho. Do qual, eu tinha horário para chegar na rua e horário para ir embora, e final de semana eu não trabalhava. O corpo precisa descansar e a alma também. Porque você sobrecarrega”

Ao falar sobre as marcas que a compõem, sobre as experiências que vivenciou, sobre a sua vida, a sua história, a sua luta, Cilene relatou as agressões, os assédios e a conquista pelo território. No mundo da prostituição, toda esquina é conquistada, assim como os clientes.

“Muitas vezes a gente apanha mas a gente revida para apanhar com dignidade. Tu não aceitou quieta, tu lutou também. Perdeu, infelizmente perdeu. Mas no mundo da noite, tu só conquista seu espaço assim, apanhando e voltando, apanhando e voltando, uma hora desistem e te permitem ficar”

De acordo com Cilene, o mundo da noite envolve muitos gritos e xingamentos. E o desejo de estar em cima de um salto alto, muitas vezes se torna um pesadelo. Há noites em que não é escolhida e noites em que o corpo implora por descanso. Quando jovem, sempre contribuiu em casa, apesar das tentações de um mundo perverso, seu objetivo sempre foi o mesmo.

“Eu nunca joguei meu dinheiro fora, sempre ajudei meus sobrinhos. Geralmente a mulher trans que trabalha na noite, elas estão vulneráveis ao álcool e a droga, uma coisa leva a outra.”

Depois de vivenciar muitos mundos, conhecer seus próprios abismos e reencontrar-se consigo mesma diversas vezes nesse caminho, uma oportunidade de emprego surgiu na Estação Rodoviária de Santa Maria contribuindo com a sua construção.

“Eu se pudesse aparecer de forma mais feminina, ótimo. Mas não é privilégio de muitas. Cilene Rossi foi toda uma construção. Antigamente as condições eram precárias, algumas já tinham sorte de nascer bonitas, conseguir clientes à noite. Chamávamos na rua de “bater portinhas”. Atualmente, Cilene tem 51 anos e exerce a profissão de assessora parlamentar da vereadora Marina Callegaro (PT). Com seu trabalho, auxiliou 23 mulheres trans a fazerem a troca do nome social. Considera esse passo como um empoderamento para que pessoas como ela se reconheçam como cidadãs e como desejam ser reconhecidas.

Definitivamente, a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho ainda é um desafio. Mas, como conta Marquita, a área da beleza era uma alternativa para pessoas trans trabalharem, pois o local se mostrava parcialmente receptivo a essa população.“Eu digo que a minha profissão era ser cabeleireira.  Até alguns anos atrás era a profissão onde a gente se encontrava e não tinha preconceito, a gente era aceita no meio do salão”, relembra. Atualmente, Marquita trabalha com a produção cultural de eventos em Santa Maria.

Tentar se colocar no mercado de trabalho sendo uma pessoa trans pode resultar em cicatrizes profundas e desgastes emocionais. No final de 2019, logo antes da pandemia do coronavírus, Cauã estava procurando emprego, mas não havia resultados. Nas experiências para conquistar algumas vagas, houve muitos questionamentos desnecessários e nem um pouco profissionais dos colegas da empresa.

“Fiz o teste de uma semana em uma sorveteria. A moça que estava me treinando começou a me perguntar por que eu tinha cabelo comprido, se eu era gay, se eu ‘dava’, coisas bem íntimas que não tem nada a ver com o espaço de trabalho e, por causa do meu cabelo comprido, ela achou que eu era gay e ela tinha essa permissão.”

Davina também se deparou com dificuldades ao buscar por empregos. Antes da transição, ela conseguiu uma oportunidade de estágio, mas quando terminou o ensino médio, o estágio foi cancelado. De acordo com a jovem, após trocar seu nome social e começar a fazer currículo como Davina, as entrevistas de emprego nunca mais surgiram. Até o momento, seu único trabalho depois da transição foi como babá e como modelo.

Essa realidade reflete a dificuldade desse público ao tentar ingressar no mercado de trabalho. Muitas vezes não avançam sequer nos processos seletivos e não são contratados apenas por serem quem são.

As adversidades no dia a dia de pessoas trans

O impacto do preconceito na vida da comunidade T

“O momento que sofri o primeiro preconceito foi dentro da família e aí tive que me tornar forte”

Como acontece com a grande maioria das mulheres e homens trans, Marquita não teve apoio da família. A exclusão familiar ocorreu quando tinha apenas 14 anos, foi expulsa de casa e mudou de cidade para morar com um tio, após dois anos retornou para Santa Maria apenas com a roupa do corpo. Sem lugar para morar e família para acolhê-la, dormiu nas ruas da cidade e foi amparada pelos iguais a ela.

Marquita comenta como era o preconceito na década de 80:

Na trajetória de Davina, seu pai se tornou um dos primeiros desafios preconceituosos que ela enfrentaria. Na busca por tentar encontrar uma explicação para os seus sentimentos, resolveu assumir-se, a princípio, como um homem homossexual para a família, iniciando um processo de negociação entre a sua identidade e a aceitação dos outros. Após Davina e sua mãe saírem de casa na pandemia da covid-19, a jovem começou a refletir e descobriu que haveria uma (des)construção em sua vida. No final de 2020, Davina nasceu e a relação com o pai ficou em pedaços.

Cauã, por sua vez, teve o apoio da mãe desde o começo da transição, tanto emocional quanto financeiro. Por mais que fosse difícil, ela estava sempre presente para apoiá-lo. Porém, por parte do pai houve, no início, uma certa rejeição e dificuldade durante o primeiro ano de transição. Seus avós paternos optaram por cortar relações e nunca mais falaram com o neto. Alguns familiares mais próximos de Cauã se mantiveram em sua vida, pessoas que ele chama de parceria.

“Infelizmente grande parte das mulheres trans encontram o preconceito dentro da família. Muitas são expulsas de casa, pela própria mãe ou pelo pai, geralmente pelo pai. Tem mães que também não aceitam, porque esperavam um homem que casasse e tivesse filhos. Mas também tem muitas mães que abraçaram a causa junto aos filhos, eu acho isso lindo” – Cilene

Cilene costuma dizer que foi abençoada por ter sido acolhida pela família, apesar de ter sido uma construção. Foi criada em um meio onde predominava o amor e o respeito. O pai era militar, no começo foi difícil a aceitação e compreensão, mas com a convivência ele a aceitou, embora não a chamasse de Cilene. “Ele nunca me chamou pelo nome social, e eu não esperaria isso de um homem de 80 anos”. Cilene sempre colocou a família em primeiro lugar e amou-os de forma incondicional. Infelizmente, seus pais já faleceram, mas ela recorda carinhosamente dos dois e segue a vida pregando os ensinamentos de amor e respeito que ambos a ensinaram.

Passabilidade: a influência da aparência na vida de pessoas trans

Cilene fala sobre sua história com muita leveza e humor, assim como compartilha a sua vida de uma forma muito sincera, aberta e acolhedora. Apesar de ser designada ao gênero masculino ao nascer, sempre lutou pela existência da mulher que vivia dentro de si, sem perder o humor, a graça e a alegria.

De acordo com a revista Veja, aproximadamente 70% das mulheres trans se submetem a cirurgia de redesignação sexual e apenas 35% dos homens trans procuram pela cirurgia genital. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), as filas de acesso para a redesignação sexual superam os dez anos de espera, atualmente.

Mas apesar do índice ultrapassar a metade da população trans feminina, algumas mulheres optam por não realizá-la e se consideram satisfeitas com seu corpo. Este é o caso da Cilene, embora a aparência feminina, o cabelo longo, os seios fartos, a maquiagem, façam parte da sua personalidade. Cilene nunca cogitou realizar a cirurgia de redesignação sexual.

“Estou satisfeita com meu corpo, não pretendo me mutilar, nunca tive a idéia de cirurgia. Respeito aquelas que não aceitam o órgão, mas eu me aceito perfeitamente”.

Apesar da cirurgia ser considerada uma afirmação de gênero pela revista Veja, a mudança na forma de se vestir, de se comportar ou até mesmo de se montar, passou a ser a principal necessidade de mulheres que se descobriram trans, logo, quanto mais feminina, mais mulher aos olhos da sociedade.

Cilene participou, em 2019, da Parada do Orgulho LGBT Alternativa organizada pelo Coletivo Voe apresentando uma de suas performances - Foto: Vitória Gonçalves.
Cilene participou, em 2019, da Parada do Orgulho LGBT Alternativa organizada pelo Coletivo Voe apresentando uma de suas performances - Foto: Vitória Gonçalves.

No “processo da Marquita”, como ela mesma chama, começou a se montar, passar maquiagem e usar roupas femininas. Em suas próprias palavras, essa construção vem muito da heteronormatividade. “Tem que ter peito, tem que ter cabelo comprido, tem que ter uma passabilidade para poder estar inserida na sociedade e no mercado de trabalho. Independente da aparência estética que se tem, a identidade de gênero é uma coisa e a aparência é outra coisa. Em uma sociedade que julga as pessoas pelo órgão genital, isso tem de ser repensado.”

Atualmente, Marquita é uma ativista da causa LGBTQIA+ e coordenadora do ONG Igualdade - Foto: Vitória Gonçalves.
Atualmente, Marquita é uma ativista da causa LGBTQIA+ e coordenadora do ONG Igualdade - Foto: Vitória Gonçalves.

“É um processo de auto-aceitação, olhar o seu corpo e se aceitar, isso tem uma pressão muito grande. Afeta a autoestima e saúde mental da nossa população. A saúde mental é muito debilitada, por todo esse processo da pressão, da transfobia e lgbtfobia.” – Marquita

Assim como Marquita e Cilene, apesar de terem vivido as experiências em épocas diferentes, Davina também sentiu uma pressão estética ao se assumir como mulher trans. “[…] no começo eu sentia muita pressão estética, de me parecer com uma mulher cis. Sentia essa necessidade de vestir coisas femininas e me esforçar ao máximo para ter essa aparência delicada […]”.

Davina considerava seu corpo fora do padrão e vivenciou um período difícil e delicado, onde foi necessário uma constante luta por reconhecimento e aceitação. A jovem sentia muita disforia pelo próprio corpo, se sentia desconfortável com sua altura, seus ombros largos e suas mãos grossas. O verão era um incômodo, suas veias das mãos ficavam nítidas, mais um motivo para despertar a sua frustração.

Foi complicado, no começo foi bem difícil. Eu sentia mesmo essa pressão, mas não sei se a pressão vinha das pessoas ou eu me pressionava, acredito que eu mesma. Agora eu sei que não precisa, eu aceito meu corpo, sinto falta de alguma coisa as vezes, me incomoda bastante ter pelo no rosto, odeio ter pelo no rosto, é o que mais me incomoda na verdade.”

Davina em um dos seus trabalhos como modelo no desfile do curso de moda da UFN - Foto: Arquivo Pessoal.
Davina em um dos seus trabalhos como modelo no desfile do curso de moda da UFN - Foto: Arquivo Pessoal.

Quando Davina iniciou a transição, ela tinha como prioridade fazer terapia hormonal, mas agora não vê mais necessidade de tomar hormônio, pois gosta bastante do seu corpo. Porém, pretende avaliar na terapia com uma psicóloga e decidir se realmente quer ou não começar o processo de hormonização.

A pressão estética não atinge só as mulheres trans, mas os homens trans também se deparam com essa realidade, e foi uma das questões para Cauã. Em 2019, quando retificou o nome, sua aparência era diferente, tinha os cabelos compridos, ele gostava, mas muitas pessoas não gostavam. Frustrado com os questionamentos sobre seu cabelo, cortou. “Certamente, teve uma pressão pra deixar essa aparência. Os endócrinos diziam para eu fazer academia pra ficar mais musculoso. Mas eu sempre caminhei ou fiz algum tipo de esporte, então aquilo não era questão de saúde, eles estavam falando sobre aparência física. Isso é cobrado, para todas as pessoas trans é cobrado, para mulheres trans com certeza é pior”.

Em 2018, ele começou a fazer o tratamento da hormonização em Porto Alegre, sua cidade natal, no sistema privado, já que em Santa Maria ainda não existiam os ambulatórios pelo SUS que hoje auxiliam a população trans no processo de transição.

“Agora que tenho cabelo curto, barba e voz, eu tenho acesso a um respeito que nunca tive na vida. Nem antes e nem durante a transição. As pessoas parecem que me ouvem mais, é surreal”

Cauã compartilha as vantagens de se parecer com uma pessoa cis:

Entre o amor e a dor

Amar sempre foi algo complexo. Às vezes o amor não correspondido pode definir como uma pessoa vai ser daquele momento em diante. Assim como o amor muda um ser humano, a rejeição muda mais ainda. Cilene relata a sua realidade como mulher trans no mundo de relações afetivas e a dificuldade em encontrar o reconhecimento e aceitação que tanto anseia.

“Às vezes a pessoa tá com vergonha de estar do teu lado por ser quem tu é. O coração é um ponto muito fraco nosso. A gente está sempre procurando um amor, mesmo sabendo que aquele amor não vai ser correspondido e isso te frustra muito.Eu vivi quatro anos com um homem e sofri muito quando ele me deixou. Ele me trocou por uma mulher cis. Ele não estava errado, eu que estava errada de me entregar inteira”

Iniciativas de apoio à comunidade trans em Santa Maria

A importância da assistência à saúde física e mental

Utilizo o Sistema Único de Saúde (SUS), é um direito e acredito que devemos fortalecer o SUS”

Durante a transição, Marquita não teve apoio psicológico. Hoje em dia ela faz tratamento porque foi diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. Em Santa Maria, recentemente, dois ambulatórios para o público trans foram instaurados na cidade para dar auxílio a essa população: o Ambulatório Transcender e o Ambulatório Trans do Hospital Casa de Saúde.

“É muito importante esses espaços de saúde que a gente tem hoje, os ambulatórios trans, porque a saúde é fundamental e para nossa população mais ainda. Porque a nossa população não acessa a saúde facilmente, é importante ter acesso a esses locais”

O Ambulatório Trans do Hospital Casa de Saúde, inaugurado em 2022, oferece atendimento médico a pessoas que buscam iniciar ou prosseguir com a transição de gênero. O local especializado conta com atendimento clínico, psicológico, psiquiátrico e endócrino via SUS. O foco do ambulatório é dar atendimento clínico e psicossocial a pessoas que queiram fazer a transição com tratamento hormonal. Além de Santa Maria, o espaço atende também as 33 cidades da Região Central.

O Laboratório Transcender atendeu cerca de 65 pessoas trans em um ano de atendimento - Divulgação Prefeitura de Santa Maria Crédito: Marcelo Oliveira/PMSM.
O Laboratório Transcender atendeu cerca de 65 pessoas trans em um ano de atendimento - Divulgação Prefeitura de Santa Maria Crédito: Marcelo Oliveira/PMSM.

Destinado apenas aos residentes de Santa Maria, o Ambulatório Transcender nasceu em 2020 como um laboratório destinado à população T, mas ampliou os atendimentos a toda a população LGBTQIA+. O laboratório funciona junto à Policlínica de Saúde Mental, localizado na Rua dos Andradas, número 1.397. Os serviços oferecidos são: apoio psicológico, médico clínico e odontológico. Já os pacientes que desejam fazer a hormonização são encaminhados à Casa de Saúde. Em um ano de atendimento do ambulatório, 65 homens e mulheres trans e travestis foram acolhidos. É necessário reforçar que o atendimento é gratuito, via SUS e não é necessário agendar consulta ou ter encaminhamento de um posto de saúde, tudo para facilitar o acesso da população ao atendimento.

O ambulatório realiza uma busca ativa principalmente a pessoas Trans, Travestis e Transgêneros, para oferecer assistência. “A população T já tem historicamente uma dificuldade de acesso às Unidades Básicas de Saúde e, hoje, estamos fazendo um movimento de captação dessa população. No início, nós achamos que seria mais fácil eles aparecerem, mas não foi isso que aconteceu. A solução que encontramos é fazer visita domiciliar, vamos até as Unidades Básicas e conversamos com as agentes de saúde, elas já tem mais ou menos um mapa daquele território e das pessoas que têm interesse. A partir disso, a enfermeira vai até a casa, explica como funciona e oferece os serviços que disponibilizamos”, relata o psicólogo e coordenador do ambulatório Transcender, César Bridi, sobre a necessidade da busca ativa.

Bridi reforça que o atendimento é gratuito, público e acessível para todos e todas - Foto: Vitória Gonçalves.
Bridi reforça que o atendimento é gratuito, público e acessível para todos e todas - Foto: Vitória Gonçalves.

O Transcender também abre espaço para as pessoas que querem falar sobre questões de identidade. Ele tem grupos de afirmação de gênero para adultos – maiores de 18 anos – e grupos para adolescentes, dando oportunidade de se descobrir e se entender. Além do atendimento em grupo, dispõe de atendimento individual e para família, como conta Bridi: “Quando uma pessoa transiciona ou descobre sua orientação sexual, todos que estão no entorno precisam lidar com isso. A gente acolhe, explica, orienta os familiares e, caso necessário, encaminhamos para a psiquiatria da policlínica. Nós pensamos que, quando a pessoa vem pra cá, ela precisa se sentir protegida e acolhida.”

Outro espaço que acolhe vítimas de violência de gênero e tem como foco o público LGBTQIA+ e feminino é a Casa Verônica. O projeto é ligado ao Observatório de Direitos Humanos (ODH) e Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O local recebeu o nome Casa Verônica para homenagear e manter viva a luta e ativismo de Verônica Oliveira, conhecida como Mãe Loira. Ativista trans e referência na militância LGBTQIA+ na cidade, Verônica foi violentamente assassinada no ano de 2019 a facadas.

A Casa Verônica pretende promover rodas de conversa, eventos e oficinas, focalizadas na saúde mental e física do público alvo, assim como promover a inclusão de nome social, para fomentar políticas públicas voltadas para essas questões. Cauã, atualmente, faz parte da equipe e expõe a importância de existir um espaço como esse, devido a alta demanda: “É um projeto que poucas universidades têm até agora. Mas não é porque esses projetos são raros e escassos que há pouca demanda, a demanda é grande. As pessoas têm sede e fome de reconhecimento, de diálogo e de troca”.

Logo da Casa Verônica. Ilustração: Noam Wurzel/ Casa Verônica.

Logo da Casa Verônica

Ilustração: Noam Wurzel / Casa Verônica.

Os atendimentos ainda não começaram, pois a Casa Verônica está trabalhando na contratação dos profissionais, processo que envolve trâmites administrativos. Mas a Casa oferece orientações sobre os serviços disponíveis na universidade e na cidade e, conforme o caso, realiza encaminhamentos para a rede.


Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Investigativo, no 2º semestre de 2022, sob orientação da professora Glaíse Palma.

Diretores, coordenadores e seus adjuntos tomaram posse ou foram reconduzidos ao cargo na Universidade Franciscana, na manhã de hoje, sexta-feira, 16 de dezembro. Foram mais de 50 profissionais que assumiram suas funções de liderança, válido por 4 anos, até 2026. No curso de Jornalismo, a professora Sione Gomes esteve a frente do curso nos últimos 13 anos, e passou hoje a missão para o professor Iuri Lammel. Para ver a lista completa acesse o site da UFN.

Professor Iuri Lammel com a reitora Iraní Rupolo e a pró-reitora de graduação Vanilde Bisognin

Com 50,90% dos votos, ou 60 milhões, 345 mil e 999 votos, foi eleito o novo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo. O atual presidente, Jair Bolsonaro, contou com 49,10%, ou 58 milhões, 206 mil e 354 votos. Uma diferença de dois milhões, 139 mil 645 votos. Já para o governo do estado, Eduardo Leite saiu vitorioso com 57,1% dos votos válidos, contra seu oponente Onyx Lorenzoni, que recebeu 42,90% dos votos. No Rio Grande do Sul, houve um comparecimento às urnas de 80,22% da população, tendo o índice de 19,78% de abstenções.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, e equipe durante entrevista coletiva após reunião para tratar da transição. Crédito Marcelo Camargo/agência Brasil

Após a disputa apertada para a presidência do Brasil, segunda a Agência Brasil, hoje começa o período de transição, em que o governo deve disponibilizar à nova equipe informações referentes às contas públicas, aos programas e aos projetos do governo federal. De acordo com Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, a partir de segunda-feira (7) começarão uma série de reuniões de trabalho. De acordo com a legislação, até 50 pessoas podem ser nomeadas para atuar no período de transição, grupo que pode ter ainda servidores federais e voluntários.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a diplomação dos candidatos eleitos deve ocorrer até 19 de dezembro, conforme a legislação eleitoral, embora a posse ocorra apenas em 1º de janeiro de 2023.

Desde segunda-feira, manifestações ocorrem em diversas partes do Brasil, de cidadãos contrários à vitória de Lula. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, em sessão do Tribunal Superior Eleitoral ocorrida hoje, garantiu que “não há como contestar um resultado com movimentos criminosos e os responsáveis apurados e responsabilizados. A democracia venceu novamente no Brasil.” Moraes ainda parabenizou o Tribunal Superior Eleitoral e os eleitores que estão cumprindo seu papel e respeitando a democracia.

Em Santa Maria, manifestantes contrários à decisão das urnas estão desde ontem, quarta-feira, 2 de novembro, em frente à 6ª Brigada, na avenida Borges de Medeiros, entre as ruas Venâncio Aires e Coronel Niederauer. Às 19h de quinta-feira, 3 de novembro, quando do fechamento deste texto, ainda havia manifestantes e o trânsito apresentava lentidão no local. Equipes de jornalismo relatam dificuldades para fazer a cobertura das diversas mobilizações pois estão sofrendo ameaças dos manifestantes.

Depois de mais uma rodada perfeita para o Grêmio na Série B, onde todos os resultados que o tricolor precisava para depender só de si foram favoráveis, veio o alívio. Com a vitória por 3 a 0 contra o já rebaixado e último colocado Náutico, o acesso foi garantido e o Grêmio volta para o lugar onde os gigantes devem ficar, a Série A do Campeonato Brasileiro.

SOBRE O JOGO

Apesar do alívio no apito final, o início não parecia tranquilo. O Grêmio começou nervoso, errando passes fáceis, por conta disso praticamente não passava do meio campo. Já o Náutico, sem obrigação nenhuma e apenas cumprindo tabela, ensaiava uma pressão que parava nas próprias limitações do time.

Ainda no primeiro tempo, Bitello, um dos destaques do tricolor na temporada, abriu o placar no rebote do goleiro, deixando a torcida tranquila. O segundo tempo começou com Geuvânio, atacante do Timbu expulso, após forte entrada em Kannemann, o que deixou o time ainda mais vulnerável. Repetindo a história de 2005, o único remanescente da Batalha dos Aflitos, Lucas Leiva fez o segundo. Bitello em mais um rebote fez o terceiro para completar o marcador e colocar o Grêmio na elite novamente.

AGORA É TUDO 2023

Logo após o apito do árbitro, o pensamento já era no próximo ano. As entrevistas do técnico Renato Portaluppi e do atacante Diego Souza foram grandes exemplos disso. O comandante do tricolor fez fortes críticas direcionadas à direção do clube, afirmando que amadores não poderiam trabalhar mais no Grêmio. Já o atacante, ressaltou: “Com todo respeito ao elenco, mas precisamos se reforçar muito para 2023”.

A consciência de que foi um ano fraco existe, isso é fundamental. Uma temporada de sofrimento para o torcedor, que não conseguiu ver jogos tranquilos, já que era difícil confiar em uma boa performance do time. Com Roger foi assim, com Renato também, o Grêmio vencia, mas não convencia. Os jogadores e a direção devem muito à torcida, que mesmo com o desempenho medíocre não deixou de apoiar e acompanhar, colocando mais de 40 mil pessoas em cinco jogos na Arena.

Torcida tricolor presente no Estádio dos Aflitos.

Os reforços precisam chegar e não podem ser poucos, pelo menos dez jogadores devem ser contratados para a temporada que vem. Laterais, zagueiros, meias e atacantes, praticamente todas as posições necessitam ser contempladas para 2023. Agora é essa a obrigação.    

Imagens: reprodução Twitter

Lucas Acosta é acadêmico do 6º semestre do curso de Jornalismo da UFN, apresenta o Titular da Rede, Camisa 10 e A Copa & Eu na RádioWeb UFN e escreve, a partir de hoje, periodicamente uma coluna sobre esporte na Central Sul Agência de Notícias

Ocorre hoje, 6 de outubro, durante todo o dia, o Comunica Roots, evento promovido pelos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda, que visa promover a integração entre diversos cursos e entre mercado e acadêmicos, já que a grande tarefa é produzir uma campanha para um cliente real.

O Comunica desenvolve a criatividade, já que os alunos devem produzir sem qualquer aparato tecnológico e sim com equipamentos analógicos, como cartolinas, canetinhas e afins.

Grupos na abertura do Comunica Roots. Imagem: Luiza Silveira

Algumas das regras constam de, por exemplo: todas as peças propostas na campanha devem possuir pelo menos uma apresentação visual ou sonora; no caso de peças gráficas, estas deverão estar layoutadas através de colagem e/ou ilustração em cartolina; no caso de propostas de peças radiofônicas, cabe a equipe realizar a locução ao vivo ou cantar o jingle criado, mesmo que a capella; o caso de uma proposta de peça audiovisual, a equipe deve encenar teatralmente o roteiro criado, junto a um storyboard em cartolina. Os estudantes podem levar instrumentos musicais para serem usados nas apresentações.

O evento segue até a noite no Cerrito, quando haverá um Luau de encerramento.

Gianmarco apresentou um recorte do seu TFG no Congresso em Comunicação. Imagem: arquivo pessoal

Gianmarco de Vargas, formado em Jornalismo em 2021 pela UFN, participou na primeira semana de setembro do Intercom, 45° Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em João Pessoa, na Paraíba. Fruto do seu Trabalho Final de Graduação, Gianmarco afirma que “Ter a oportunidade de ir para o Intercom foi algo fomentado por mim, a partir do momento em que foram almejadas as publicações dos artigos oriundos do meu TFG, em revista científica. Enxerguei como uma oportunidade a mais de usar a pesquisa desenvolvida sobre a atuação dos enviados especiais nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no campo da comunicação.”

Com o título Jornalismo Internacional Esportivo: o trabalho de enviados especiais na cobertura dos jogos olímpicos em Tóquio, o jornalista estudou, por meio de observação e entrevistas feita com jornalistas, a rotina dos profissionais que fizeram a cobertura das olimpíadas em meio à pandemia.

Hoje assessor de imprensa da CGT Eletrosul, em Florianópolis, Gianmarco ainda atua como produtor de conteúdo e narrador esportivo.

Entre os corredores cinzas do Presídio Regional de Santa Maria, a sala da ala feminina floresce cores através do trabalho realizado pelas apenadas do regime fechado. Tecidos que seriam descartados ganham forma de bolsas e sacolas, através de uma oficina em parceria com o Grupo de Voluntários Corrente do Bem, desenvolvida há um ano. O projeto, além de estimular o reaproveitamento de materiais, faz parte da ressocialização das detentas.  

Diariamente, Fátima (nome fictício) acorda cedo, lava o rosto, se arruma e vai trabalhar. A rotina, comum a milhões de brasileiros, guarda uma peculiaridade: ela é uma das cerca de 38 mil mulheres que cumprem pena no Brasil. O cerceamento da liberdade não impede que Fátima constitua seus sonhos e se aprimore profissionalmente. Ao deixar a cela, passa parte do dia na sala de corte e costura do Presídio Regional. Junto de outras nove detentas, realiza o trabalho manufaturado de confecção de bolsas e sacolas a partir de tecidos reutilizados.  

Tecidos que seriam descartados ganham forma pelas mãos das apenadas. Imagem: Petrius Dias.

O projeto arrecada os mais variados tipos de tecidos que seriam descartados, e os encaminha ao presídio, para que as apenadas produzam bolsas e sacolas que serão devolvidas ao grupo que decidirá sobre o destino das peças. O Hospital Universitário de Santa Maria e o Hospital Casa de Saúde são alguns exemplos de locais que recebem o material por meio dos setores de Assistência Social das instituições. “As bolsas são utilizadas tanto nas maternidades, onde servem para armazenar os enxovais de crianças em situação de vulnerabilidade, como para que os pertences de pacientes que venham a óbito sejam entregues com dignidade”, comenta Rosaura Freitas, assistente social responsável pela coordenação do projeto no presídio. 

Segundo o relatório A New Textiles Economy, a cada segundo no mundo, o equivalente a um caminhão de roupas é enviado para o aterro ou à incineração. Apesar do tempo de decomposição destes materiais ser de seis meses a um ano, as confecções descartam nos aterros sanitários uma enorme quantidade de sobras de tecidos e insumos, como agulhas quebradas e tubos de papelão. O descarte, além de sobrecarregar ainda mais esses locais, que já estão com sua capacidade comprometida, impede o reaproveitamento. 

No presídio, as dez apenadas deixam entre seis e oito horas de seus dias na oficina. O trabalho se destaca no ambiente monocromático. Retalhos viram arte, ofício minucioso que exige cuidado e criatividade. “É ótimo estar aqui. Se não fosse por esse lugar, as coisas seriam muito mais complicadas aqui dentro”, diz Fátima. A Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, também conhecida como Lei de Execuções Penais, regulamenta a remição de pena para apenados. Segundo o Art. 126, a cada três dias trabalhados, um dia será remido. 

 Impactos no Mundo 

 Segundo o relatório da Pulse of the Fashion Industry, a indústria têxtil é responsável pela emissão de 10% dos gases de estufa do planeta. Ainda, o relatório The Water Footprint of Cotton Consumption revela que o consumo de água também assusta. São necessários cerca de 2.700 litros de água para se produzir uma camiseta, é água o suficiente para uma pessoa consumir durante dois anos e meio. O poliéster, por exemplo, fibra sintética mais usada na indústria têxtil em todo o mundo, requer, segundo especialistas, milhões de barris de petróleo todos os anos, como tem o tempo estimado para decomposição no meio ambiente ampliado para cerca de 200 anos. 

O reaproveitamento de material têxtil é um projeto que beneficia detentas e meio ambiente. Imagem: Petrius Dias.

O trabalho realizado na PRSM contrapõe o chamado fast fashion, ou seja, a tendência alimentada pela indústria de usar e jogar fora. O conceito, que surgiu na década de 1990, com o barateamento tanto da mão de obra quanto da matéria-prima, faz com que, só no Brasil, sejam produzidas quase 9 bilhões de novas peças por ano. Isso dá uma média de 42 novas peças de roupa por pessoa em 12 meses. No país, são descartados cerca de 170 mil toneladas de resíduos de tecidos. 73% dos resíduos têxteis são queimados ou enterrados em aterros sanitários. Além disso, 12% dos resíduos têxteis vão para reciclagem – em sua maioria, são triturados para encher colchões, utilizados em isolamentos ou panos de limpeza. Menos de 1% dos resíduos é usado para fabricar peças de roupas novas. 

 Novas tendências 

 Segundo o levantamento da Fundação Ellen McArthur, a produção de roupas aproximadamente dobrou nos últimos 15 anos. Parte relevante da sociedade, no entanto, já demanda a revisão das políticas que impactam o meio ambiente. A declaração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU assume papel de destaque neste cenário. O ODS 12, um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas em 2015, trata de assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis com redução de produtos químicos e de resíduos por meio da prevenção, da reciclagem e do reuso.  

Fátima tem acesso ao noticiário para acompanhar o andamento das pautas ambientais, e vê a importância do seu trabalho na oficina. A reutilização de materiais têxteis é um “trabalho de formiguinha”. Máquinas que não costuram só peças, mas remontam sonhos antes retalhados. Autoestima, reaproveitamento, aprendizado de um novo ofício.  

  • Texto e fotos produzidos durante o primeiro semestre de 2022 pelo acadêmico Petrius Dias, na disciplina de Jornalismo Especializado do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana.

 

 

 

Santa Maria vem crescendo empresarialmente cada vez mais, muitos desses negócios se adaptaram em relação ao covid e todos os dias a diversidade de empresas e micro-empresários vem expandindo. Com isso surgiu uma ideia de negócio no meio de um brincadeira, o Albanios da Boca do Monte iniciou em 2017 quando um grupo de amigos decidiu fazer espadas para treino de H.E.M.A (Artes marciais históricas europeias), foi até fundado um grupo na UFSM chamado Universitatis Ludus grupo que estuda e pratica esgrima histórica. Desde então, a atividade ganha adeptos e desperta a curiosidade de quem circula pelo campus sede da Universidade e presencia os encontros da turma, que chama atenção pelo uso de espadas de madeira e máscaras. O atual dono, Daniel Albanio e seu sócio Ismael Fontana, começaram a fazer os equipamentos e a procurar eles mesmos os materiais e como funciona a produção pela internet.

Material produzido pelo grupo de amigos. Imagem: Ygor Vasques

O trabalho de marcenaria foi evoluindo cada vez mais, com troca de informações com outros artesãos pelas próprias redes sociais, de espadas a diversidade das confecções foram aumentando, logo foram machados, escudos, martelos, adagas, katanas e até mesmo peças para casa como, canecas e estantes já foram produzidas, todo tipo de item realizado com madeira eles começaram a fabricar. Sua oficina começou pequena com poucos equipamentos para produção, mas logo com a demanda aumentando foi necessário adquirir os equipamentos necessários para suprir a demanda.

Texto produzido por Ygor Vasques.