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Especial

Os mais de 70 anos de sofrimento argentino

Durante a primeira metade do século XX, a Argentina era uma das maiores potências econômicas do mundo. Foi ao fim da Segunda Guerra Mundial que a economia do país sofreu uma derrocada fatal. Até hoje, o

A trajetória Covid no Brasil

Desde a detecção do primeiro caso de infecção pelo coronavírus no fim de 2019, foram registrados 518 milhões de pessoas que tiveram Covid-19 e mais de 6,25 milhões de mortes no mundo. No Brasil, são 30,5

Feira do Livro e seus quase 50 anos de história

A 49ª Feira do Livro de Santa Maria, aberta desde o  dia 29 de abril, está com extensa programação cultural e artística reunindo personalidades da área e população santa-mariense. Lançamento de livros, peças de teatrais, debates de

Eduardo Bueno, o Peninha, lota Theatro Treze de Maio

O escritor, jornalista, editor e tradutor Eduardo Bueno, mais conhecido como Peninha, esteve na Feira do Livro de Santa Maria na segunda-feira, autografando suas obras e conversando com o público. Com seu modo irreverente, Peninha falou

Começa a 49º Feira do Livro

Nesta sexta-feira, dia 29 de abril, foi o primeiro dia da 49º Feira do Livro que volta com força total depois de 2 anos de pandemia. A Patronesse da edição é a escritora, professora, pesquisadora e

Dia do Jornalista é comemorado hoje

O Dia do Jornalista, comemorado em 7 de abril, foi instituído em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como homenagem ao médico, jornalista e proprietário do jornal Observador Constitucional, um dos principais motivadores da liberdade de imprensa

As veias abertas da pandemia na América Latina

O coronavírus intensificou os conflitos sociais e escancarou as desigualdades e a crise do capitalismo no território latinoamericano. No início da década de 1970, durante o efervescer da Operação Condor, que representava o controle da América

Durante a primeira metade do século XX, a Argentina era uma das maiores potências econômicas do mundo. Foi ao fim da Segunda Guerra Mundial que a economia do país sofreu uma derrocada fatal. Até hoje, o povo sofre as consequências da má gestão governamental. Devido à inflação, os preços atuais dos produtos argentinos se apresentam muito caros para a população e muito atrativos para os estrangeiros.

No ano seguinte à guerra, mais especificamente em quatro de junho de 1946, o militar Juan Domingo Perón foi eleito democraticamente como presidente da Argentina, acompanhado de sua esposa Evita Perón. Com a ascensão do Peronismo, os cargos públicos começaram a aumentar descontroladamente. Além disto, a primeira-dama exerceu sua influência como cônjuge do presidente e, por meio do dinheiro público que provinha das indústrias diversificadas que havia no território argentino, começou a oferecer apoio financeiro aos países europeus que precisavam pagar dívidas. Perón permaneceu no poder até o ano de 1955 e voltou ao governo entre 1973 e 1974, quando foi substituído por sua segunda mulher, Isabelita Perón, que foi deposta pela milícia no início da ditadura civil-militar em 1976.

O impacto dessas ações, que se mostraram extremamente prejudiciais ao povo, pode ser visto até hoje no território argentino. Mesmo com sua grande produção pecuária, que sempre proporcionou carnes de ótima qualidade, sua produtividade agrícola, que lhe torna uma das maiores produtoras e exportadoras de cereais do mundo, e com uma larga presença de petróleo e gás no país, a Argentina hoje apresenta uma dívida externa fora de controle. A dívida do Banco Central do país subiu cerca de US$ 36 bilhões (R$ 187 bilhões) na gestão de Alberto Fernández. Este valor representa cerca de 80% do crédito do Fundo Monetário Internacional direcionado à Argentina.

A Argentina, hoje, quase não possui mais resquícios dos seus tempos de ouro. Em dezembro de 2021, se tornou viral o vídeo de cidadãos argentinos da província de Santiago del Estero que, após um acidente envolvendo um trem e um caminhão que transportava vacas, mataram os animais e saquearam a carne. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos, mais de 36% da população argentina vivia abaixo da linha da pobreza no primeiro semestre de 2022.

Historicamente, os salários argentinos apresentam maior poder aquisitivo quando comparados com o salário brasileiro. Entretanto, após pesquisas de analistas do Banco Central da Argentina, o país pode fechar o ano com inflação anual superior a 100%. Tentando conter essa inflação, o ministro da economia, Sergio Massa, anunciou nas últimas semanas que o governo está preparando um plano econômico de congelamento de preços. Já é o 9º congelamento realizado pelo governo argentino nos últimos nove anos.

Os mercados sofrem com a escassez de produtos básicos. Imagem: Nelson Bofill

Em Paso de Los Libres, região que faz fronteira com Uruguaiana, o comércio se mantém de pé, mas a infraestrutura maltratada da cidade e a grande diferença de preços das mercadorias em relação ao Brasil lembram aos visitantes que a crise continua. Ao atravessar a ponte e ingressar na Argentina, é possível fazer o câmbio do real para pesos. Atualmente, em alguns lugares, o peso argentino custa R$0,02.

O principal motivo que justifica essa sobrevivência dos negócios em Libres é a possibilidade de poder manter um comércio exterior. É natural as cidades fronteiriças apresentarem melhor desempenho devido ao grande fluxo de imigrantes que as visitam. A maioria dos produtos argentinos atualmente apresentam custos muito atrativos para os brasileiros que visitam o país. Tendo como exemplo o arroz, produzido em grande quantidade em território argentino e brasileiro, nos supermercados locais o preço médio de 10kg é em torno de R$35, enquanto no país vizinho, é possível comprar a mesma quantidade por R$24.

A compra de certos produtos no território argentino são limitadas. Imagem: Nelson Bofill

Mas mesmo as cidades fronteiriças se preocupam com a escassez de alimentos que vem assolando o país. Com o intuito de amenizar os efeitos da crise, alguns supermercados estão restringindo o limite de compra de certos produtos como farinha, açúcar e azeites. Em relação à carne produzida na Argentina, que sempre teve uma qualidade acima da média, o preço médio do quilo de costela é cerca de $ 1.230 (R$ 24,60), enquanto, no Brasil, a mesma quantidade pode ser comprada pagando cerca de R$ 29,20.

Apesar dos aparelhos tecnológicos possuírem um valor parecido em ambos os países, na Argentina a compra parcelada se mostra extremamente prejudicial ao consumidor devido à alta inflação. Um modelo de televisão, que custa $ 125.999 (R$ 2.519,98) à vista, pode ser parcelado em 30 vezes de $ 8.396,57 (R$ 167,93), custando, ao final do pagamento, $ 251.897,10(R$ 5.037,94).

A crise, atualmente, já não é mais novidade para o povo argentino, a situação foi até mesmo eternizada na música local. No ano de 1978, o cantor de tango argentino, Cacho Castaña, escreveu a música Septiembre del ’88, que só viria a ser lançada em 1988. A canção é apresentada como se fosse a leitura de uma carta direcionada à um amigo que reside na Itália. O artista comenta nos primeiros versos sobre a crise que assola a Argentina, citando as mentiras políticas, falsas promessas governamentais e impactos da época da ditadura civil-militar. Ao final da música, o cantor expressa a esperança que ainda existe no povo argentino de voltar a ser um grande país.

Em 2010, durante um concerto, o artista disse que a música parecia ter sido escrita naquele ano, pois mesmo mantendo a esperança, a crise ainda assolava o povo. O músico faleceu em 2019 sem ser capaz de concretizar seu sonho. Entretanto, seu desejo de ver seu país ser grande novamente representa a esperança eterna do povo argentino.

Desde a detecção do primeiro caso de infecção pelo coronavírus no fim de 2019, foram registrados 518 milhões de pessoas que tiveram Covid-19 e mais de 6,25 milhões de mortes no mundo. No Brasil, são 30,5 milhões de infectados e quase 664 mil óbitos até o dia 10 de maio. Mas em outra perspectiva, 60,2% da população global está vacinada e no Brasil esse percentual é de 77,9%, sendo sua maior concentração de vacinados nos estados de São Paulo e Piauí.

Homenagem às vítimas da Covid-19 em frente a Esplanada dos Ministérios em 18 de outubro de 2021.  Imagem : EVARISTO SA / AFP

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandemia o adoecimento pelo vírus Sars-Cov-2. Na prática, o termo pandemia se refere ao momento em que uma doença já está espalhada por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas. Na época, segundo a OMS, o mundo registrava 118 mil casos e 4.291 mortes.

Mas, de fato, o mundo registrou seu primeiro caso de Covid no dia 17 de novembro de 2019, quando um homem de 55 anos foi detectado com a doença na província de Hubei, próximo de Wuhan, foco do primeiro surto. Desde então a pandemia se agravou muito no mundo, chegando ao Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020 no estado de São Paulo, onde um homem de 61 anos com histórico de viagem para a Itália foi identificado com esta enfermidade. No dia 10 de março chegou ao Rio Grande do Sul onde um homem, de 60 anos, residente em Campo Bom, que teve histórico de viagem para Milão foi localizado com sintomas. Já em Santa Maria o primeiro caso surgiu em 22 de março, com um homem de 32 anos que viajou para Joinville(SC)  e quando voltou fez um teste sendo comprovada a infecção.

Foi a partir daí que vimos o caos se formando, milhares de infecções, causando superlotação em hospitais. Com as superlotações, os profissionais da saúde tiveram que manter seu foco no combate à pandemia. Diagnósticos de doenças como o câncer diminuíram por conta do receio de ir em consultas médicas, além de pessoas que apresentaram sinais de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto  mas que adiaram a busca por ajuda ou simplesmente não procuraram socorro.

Um dos momentos mais preocupantes da pandemia foi o estoque de oxigênio em Manaus se esgotando e o sistema de saúde colapsado, com dezenas de mortes por asfixia de pacientes com Covid-19. Funerárias passaram a aderir a sepultamentos à noite por conta do número de enterros muito acima do habitual. A prefeitura de Manaus chegou a adotar um sistema de enterros em camadas, ou seja, enterrar caixões um por cima do outro, em valas mais profundas. À época, a justificativa era a necessidade de atender à demanda, que cresceu durante a pandemia.

O isolamento

O mundo parou com o isolamento instaurado, as formas de trabalhos e relacionamentos tiveram que se adequar aos novos tempos, o home office foi estabelecido em muitos casos. Com a recomendação da quarentena as pessoas começaram a consumir muitas notícias, por conta da necessidade de  se manterem informadas. A infodemia, como foi chamada, trouxe uma exposição excessiva de informações tanto verdadeiras quanto falsas. A sobrecarga de informações fez com que a qualidade de vida das pessoas fosse abalada, pois há mais processamento de dados do que daríamos conta de modo saudável. Com esse aumento de informações as fake news, ou notícias falsas, vieram com tudo, como afirmações de que as máscaras não tinham eficácia e de que as vacinas não funcionavam.

A chegada das vacinas

Após uma triagem com voluntários, a vacina de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca começou a ser testada em profissionais da saúde de São Paulo no dia 20 de junho de 2020. Na ocasião, a vacina era uma das 141 registradas na Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma das 13 que tinham conseguido alcançar a terceira fase de testes. Mais tarde, em dezembro, ela seria a primeira a ter os resultados da fase 3 publicados em uma revista científica. Além disso, a vacina de Oxford também foi uma das primeiras a ter um contrato de compra fechado pelo governo brasileiro.

As vacinas eram um sonho que todos aguardavam que se concretizasse, porém somente no dia 8 de dezembro de 2020 Margaret Keenan, de 90 anos, , foi vacinada contra esta doença na cidade de Londres no Reino Unido, e tornou-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19 fora de um ensaio clínico.

Margaret Keenan, prestes a completar 91 anos, é a primeira vacinada contra Covid-19 no início da imunização no Reino Unido. Imagem: Reuters

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 17 de janeiro de 2021, para uso emergencial, as duas primeiras vacinas contra o coronavírus no Brasil. Foram compradas 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, produzida em parceria pela Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e 6 milhões da Corona Vac, produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Minutos depois da aprovação, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, tornou-se a primeira brasileira a ser vacinada, em São Paulo. O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram no 22 de Fevereiro as primeiras vacinas contra a covid-19 totalmente produzidas em solo nacional. De forma simbólica, os imunizantes da AstraZeneca foram fabricados na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

A enfermeira Mônica Calazans, 54, recebe a vacina contra o coronavírus. Imagem: Reuters/Amanda Perobelli

A primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul foi uma técnica de enfermagem que atua no Centro de Atendimento Intensivo (CTI) no Hospital de Clínicas (HCPA), em Porto Alegre. A vacinação ocorreu às 23h do dia 18 de janeiro. A primeira pessoa a ser vacinada em Santa Maria foi a enfermeira Mônica Oliveira Galimberti, de 56 anos, que atua na saúde há mais de 30 anos. Desde então são cerca de 60,2% da população global já vacinada, no Brasil esse percentual é de 77,9%, já o Rio Grande do Sul tem cerca de 87,3% dos habitantes vacinados e 88% da comunidade santa-mariense vacinada.

Variantes

Após mutações, uma nova variante do coronavírus se tornou comum no Reino Unido. Governos mundo todo fecharam as fronteiras para o país tentando evitar a propagação do vírus mutado. Essa nova versão recebeu o nome de linhagem B.1.1.7. e já teria sofrido pelo menos 23 mutações. A principal delas mudou a forma do espinho do novo coronavírus, que é a proteína que o vírus usa para abrir a célula. A agência inglesa de saúde tinha identificado a variante em setembro e notificou a OMS. O diretor de emergências da organização, Michael Ryan, afirmou no dia 21 de dezembro 2021 que a nova variante do coronavírus não estava “fora de controle”, mas que os bloqueios adotados por diferentes países eram “prudentes”.

Desobrigação do uso de máscara

A queda de casos de covid possibilitou órgãos de saúde do país optarem pela desobrigação do uso da proteção. O Projeto de Lei 5412/20, aprovado no dia 1 de abril, findou a obrigatoriedade do uso de máscaras,  ficando dispensado o uso e fornecimento de máscaras cirúrgicas ou de tecido em estados ou municípios que deixaram de exigir a utilização da proteção em ambientes fechados. No dia 6 de abril Santa Maria aderiu a lei tornando facultativo o uso da máscara em ambientes fechados.

Segundo dados da última segunda-feira, dia 9 de maio, o quadro da cidade de Santa Maria é bastante favorável e esperançoso. Há apenas dois adultos confirmados com Covid e um suspeito em leitos de UTI , um paciente em UTI pediátrica, e mais 20 adultos  hospitalizados em leitos normais. Totalizando 24 pessoas hospitalizadas na cidade.

A 49ª Feira do Livro de Santa Maria, aberta desde o  dia 29 de abril, está com extensa programação cultural e artística reunindo personalidades da área e população santa-mariense. Lançamento de livros, peças de teatrais, debates de temáticas contemporâneas estão ocorrendo diariamente e movimentando o universo intelectual da cidade. O evento, que é uma tradição na cidade, teve seu início no ano de 1973, tendo como idealizadores a primeira turma de Jornalismo de Universidade Federal de Santa Maria.

Feira do Livro de Santa Maria. Imagem: Luiza Silveira

O jornalista Luiz Recenna, que participou na fundação da Feira, conta que “foi fácil entrar na campanha da Feira. Além disso tínhamos contatos com Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, o que ajudou muito. Estávamos sem livrarias em Santa Maria. Um espaço a preencher e ganhar pessoas.  Veio muito romance da época, no meio livros de história e política. Deu certo a receita, vendemos quase tudo”. Quando nos fala sobre as adversidades  da época ele não deixa de citar a ditadura militar. Em meio a um momento turbulento da história do país, jovens inovadores conseguiram montar um dos maiores eventos da cidade: “vendemos livros para o povo ler e pensar, essas são alegrias inesquecíveis”. O aprendizado que ele teve com esse evento foi de muita importância para sua vida pessoal e profissional: “com as leituras só crescemos e com as pessoas que foram a praça só melhoramos nossos rumos, no jornalismo e na vida.”.

A jornalista Pricila Barreto, que também colaborou na época, nos conta como foi participar deste movimento: “Éramos jovens com sede de cultura e disposição para criar um novo ambiente que motivasse a cidade a valorizar cada vez mais a leitura. Inspirados na maravilhosa Feira do Livro de Porto Alegre – acontecimento que anualmente nos levava à capital – nos perguntávamos: por que não também em Santa Maria?A partir daí, um grande grupo de alunos das primeiras turmas do curso de Comunicação Social da UFSM, e onde me incluo com alegria, arregaçamos as mangas e fomos à luta! As ‘forças vivas da cidade’ (como falávamos naquela época) nos apoiaram e conseguimos! Os livros disseram ‘presente’ pela primeira vez nesse belo encontro na Praça Saldanha Marinho! A maior alegria é a Feira existir até hoje e ser um dos principais eventos culturais da minha cidade!”.

Atualmente, os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana atuam com alunos e professores. Para Thaís de Almeida, estudante de Publicidade e Propaganda: “É uma experiência única, aprendizado todos os dias. Minha vida acadêmica muda por conta da visão que tenho sobre como é projetar algo, como é estar na produção, realmente estando por trás das câmeras”.

Thaís de Almeida é estudante de Publicidade da UFN. Imagem: Luiza Silveira

O acadêmico de Jornalismo Ian Lopes relata que “é muito interessante colocar em prática a profissão logo no início do curso dessa forma. No início fiquei nervoso para ir lá, fiquei dois dias pensando direto no que ia falar, o que ia perguntar, o que ia fazer. Mas quando cheguei lá, depois da primeira entrevista, é muito bom o exercício da profissão, é muito reconfortante voltar para casa e pensar que entrevistou uma pessoa ou que fez “tal” coisa”.
Para ele, fazer parte do processo de cobertura jornalística tráz um impacto de saber que está trabalhando com o que realmente gosta. Ian conta que quando entrou no curso não tinha certeza se gostava, mas acabou se apaixonando pela profissão. Referente ao aprendizado adquirido durante o trabalho o estudante destaca:”O professor Bebeto é excelente, me ensina não só a parte do rádio, como também a escrita, porque ele corrige e produz textos, escrevemos na hora, tiramos fotos do evento, matérias variadas, orientações sobre como produzir a pauta, como promover o evento da maneira que a assessoria de comunicação quer. É muito bom participar”.

Ian Lopes cursa Jornalismo na UFN. Imagem: Luiza Silveira

Colaboração : Luiza Silveira

Turma do Pé Quente apresentou a Opereta Pé de Pilão no Theatro Treze de Maio.

A 49° Feira do Livro de Santa Maria iniciou suas atividades na última sexta-feira, 29, na praça Saldanha Marinho. A edição deste ano conta com diversos estandes de livros e revistas, apresentações musicais, teatrais, entre outras atividades.

Na noite de ontem, 03, um musical regado a histórias lúdicas despertou a magia e a imaginação de quem compareceu ao Theatro Treze de Maio para acompanhar o grupo Turma do Pé Quente. Eles contaram e cantaram a peça Opereta Pé de Pilão.

O grupo conta com quatro atores-músicos em seu elenco, Ian Ramil, Carina Levitan, Guilherme Ceron e Cláudio Levitan, que interpretaram suas canções ao vivo. A obra apresentada possui o texto todo em rimas, de autoria de Mário Quintana. No palco, além de suas apresentações, também havia a presença de bonecos e um telão com imagens ao fundo que contribuíam para o entendimento da história.

Cláudio Levitan é autor da Opereta Pé de Pilão.

Cláudio Levitan conta sobre o início. “Começamos a trabalhar montando a música, a qual foi criada em cima da obra clássica da literatura infantil brasileira que é o poema de Mário Quintana, muito bem elaborado por ele, guardada durante 30 anos em uma gaveta, sendo publicado apenas em 1975”, destaca. Já Ian Ramil afirma que se apresentar na Feira do Livro de Santa Maria “é muito especial e se sente lisonjeado”.

O enredo da história apresentada gira em torno de Matias, um menino que virou pato pelo feitiço de uma fada mascarada e sua avó perde o encanto de nunca envelhecer. Os dois não se reconhecem mais, e no meio da busca por ela, o menino encontra o cavalo-polícia, o macaco retratista, Nossa Senhora, o passarinho, incansável com sua máquina fotográfica, e outros personagens.

O escritor Mário Quintana, quando construiu o conto, combinou elementos da cultura popular, como a religiosidade em torno de bruxas, a tradição religiosa cristã através da figura de Nossa Senhora, e trabalhou muito com a imaginação.

O servidor público federal Gustavo Lima, que assistiu com sua filha Pietra Lima, avalia a peça positivamente. “É diferente do que estamos acostumado a ver, pois ela traduziu um poema em uma canção bem musical, que ficou bem lúdica, e que mexeu bastante com a imaginação, tanto minha quanto da minha filha, que gosta muito de teatro e, aliás, faz teatro na escola onde estuda”, relata.

A Feira do Livro encerra suas atividades no dia 14 de maio. Seu horário de funcionamento é das 13h às 19h de domingo a sexta e no sábado das 10h às 19h.

Confira mais fotos da apresentação:

Texto produzido por Joedison da Silva Dornelles. Fotos de Pablo Garcia Milani. Produzido na disciplina de Linguagem das Mídias, durante o primeiro semestre de 2022, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

O escritor, jornalista, editor e tradutor Eduardo Bueno, mais conhecido como Peninha, esteve na Feira do Livro de Santa Maria na segunda-feira, autografando suas obras e conversando com o público.

Eduardo Bueno participou da Feira do Livro na segunda-feira. Imagem: Felipe Perosa

Com seu modo irreverente, Peninha falou especialmente sobre a História do Brasil e seu  último livro “Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes”. O livro, que tem o formato de dicionário, traz ilustrações que ajudam a explicar o bicentenário da independência.“Utilizei a ilustração pois eu acredito em uma história pop. É fundamental conhecermos nosso passado, pois, como já diz o ditado, um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-lo”. Bueno respondeu questionamentos de quem estava presente, comentou sobre a direita no Brasil dizer que ele é de esquerda, além de acusá-lo de comunista, e as pessoas da esquerda dizerem que ele é de direita, com o bom humor que lhe é peculiar. Ao final, aplaudido de pé, gritou um Fora Bolsonaro que foi ecoado pelo público.

O autor tem mais de 30 livros publicados e com a coleção Brasilis, que reúne A viagem do descobrimento, Náufragos, traficantes e degredados, Capitães do Brasil e A coroa, a cruz e a espada, tornou-se o primeiro autor brasileiro a emplacar simultaneamente quatro títulos entre os cinco primeiros nas listas dos mais vendidos dos principais jornais e revistas do país. Já editou mais de 200 títulos, tendo colaborado com algumas das principais editoras brasileiras.

Para quem quiser acompanhar Eduardo Bueno pelas redes, ele mantém um Podcast e um canal no Youtube, ambos denominados Buenas Ideias.

A Feira do Livro de Santa Maria segue até dia 14 de maio, na Praça Saldanha Marinho. Para assistir ao Livro Livre, que ocorre todos os dias às 19h no Theatro Treze de Maio, é só pegar o ingresso gratuito na recepção do Theatro.

Nesta sexta-feira, dia 29 de abril, foi o primeiro dia da 49º Feira do Livro que volta com força total depois de 2 anos de pandemia. A Patronesse da edição é a escritora, professora, pesquisadora e ativista Nikelen Witter, e os homenageados são a professora e escritora Maria Esther Gomes de Souza e o médico e compositor nativista Mario Eleú da Silva que é homenageado póstumo.

Maria Esther possui deficiência auditiva e é educadora especial e lançou 2 livros nessa sexta-feira na Feira do Livro, Uma história de mãos brilhantes e Minivoleibol para Surdos que escreveu junto com Jeferson de Oliveira Miranda. O primeiro livro conta a história de Daniel, um rapaz surdo, e demonstra a importância da inclusão de jovens surdos e deficientes auditivos na educação desde jovens. Sobre isso a professora comentou que a sociedade precisa dar mais passos em direção a sensibilidade e abrir mais espaços para que histórias de mãos brilhantes como as de Daniel sejam contadas.

Também ocorre neste fim de semana o projeto Troca Livros, organizado pela Biblioteca Pública Henrique Bastide. O objetivo do projeto é promover a troca de livros em bom estado, com foco em livros literários. Outra atração foi o espetáculo 2 Lunáticos, que teve duas apresentações, de manhã e de tarde, no Teatro Treze de Maio, e recebeu um grande número de pessoas, em especial crianças que se contagiaram com a alegria dos artistas. A 49º Feira do Livro vai de 29 de abril até 14 de maio.

O prazo para que todos os brasileiros que tenham 16 anos ou mais façam o seu titulo do eleitor ou regularizem o documento termina dia 04 de maio. O titulo pode ser tirado de forma remota através do site do TSE pelo sistema do Titulo Net ou presencialmente nos cartórios eleitorais. No Rio Grande do Sul cerca de 2,2% da população ainda não regularizou o mesmo. A transferência do local de voto e a solicitação do uso do nome social de pessoas transexuais e travestis também podem ser solicitadas através do site do Tribunal Superior Eleitoral.

O aumento do número de jovens a partir dos 16 anos que já fez a solicitação do registro é bastante significativo. As campanhas realizadas por pessoas famosas fez com que hovesse maior engajamento da juventude na causa pois pessoas dessa faixa etária não são obrigadas a votar. O TRE do Rio Grande do Sul registrou o aumento de 86,7% em um mês no número de adolescentes de 16 anos que fizeram o título de eleitor no Estado. Entre os de 17 anos, o acréscimo foi de 35,7% no período.

 Conforme justificou Giselle Garcia, estudante 2°ano do ensino médio, que tem  16 anos, “tirar o título  é importante para assumir o compromisso e não deixar na mão dos outros o que queremos para o futuro do país e o nosso.  Penso que seria hipócrita falar de política e não fazer nada para mudar. Acredito que  votando temos o poder de tentar fazer um futuro melhor”. Quando questionada sobre o aumento de jovens que fizeram o titulo de eleitor ela acredita que alguns fatores podem ter colaborado: ” Pode ser tanto por insatisfação com o governo atual, quanto por influência da mídia e do mundo em que vivemos, muitos se sentem pressionados a votar, pelos amigos e pela família”. Para ela, essa eleição vai ser muito debatida, uma vez que diversos jovens tiraram seus títulos e estão mobizilizados para este evento. 

Já para Marina Pacheco de 17 anos, que está no primeiro semestre de Letras Inglês da UFSM, o sentimento é de engajamento com os destinos do País. Ela define sua participação como jovem na política de essencial e desabafa uma frustração dizendo: “eu esperava que mais do que nunca a juventude estivesse interessada em tirar o título de eleitor e tentar de alguma forma modificar o que estamos passando, mas é decepcionante ver que as taxas de jovens menores de idade que podem votar são as menores desde 2010”.

O primeiro turno da votação será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mêsJá o segundo turno, nos estados e nacionalmente, caso preciso, ocorrerão em 30 de outubro, o último domingo.

A tradicional Feira do Livro de Santa Maria chega a sua 49ª edição de 29 de abril a  14 de maio. Depois de dois anos ocorrendo de modo híbrido, a Feira deste ano será totalmente presencial. São cerca de 40 livreiros e mais de cem lançamentos de livros, sendo que boa parte de escritores locais.

A programação conta com apresentações de peças de teatro, shows musicais e cinema, além dos tradicionais estandes de livros. A patronesse desta edição é a professora, escritora, pesquisadora e ativista Nikelen Witter; e a professora homenageada, Maria Esther Gomes de Souza. Já o escritor homenageado (póstumo), é o médico e compositor Mário Eleú da Silva. No dia 7 de maio haverá a Noite da Patronesse: #LeiaMulheres, com a professora Nikelen acompanhada de Monalisa Dias e o Clube de Leituras Bem-ditas.

A abertura ocorre na sexta às 18h, no Theatro Treze de Maio, com uma homenagem à professora Maria Esther Gomes de Souza. Ela tem seis livros publicados e realiza trabalho de leitura inclusiva e se destaca no trabalho com alunos surdos na Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser.

Veja a programação completa na página da Feira do Livro.

O Dia do Jornalista, comemorado em 7 de abril, foi instituído em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como homenagem ao médico, jornalista e proprietário do jornal Observador Constitucional, um dos principais motivadores da liberdade de imprensa Giovanni Battista Líbero , morto por inimigos políticos em 1830.

Segundo o professor do curso de Jornalismo Bebeto Badke “O jornalista tem um papel de alerta, aquele que toca o sinal vermelho.”  Para ele, a formação de um jornalista tem de ser contínua, “o bom jornalista tem de se bombardear não só de notícias, tem que se bombardear de bons livros, boa música, bons filmes. Não basta só trabalhar a notícia, tem que saber o que está acontecendo no mundo e fazer com que a sua mente se liberte. Faz-se necessário uma formação intelectual, cultural, além da faculdade”.

Os jornalistas são pessoas que tem como trabalho divulgar os acontecimentos do mundo para a população da forma mais diversa possível. O profissional é um prestador de serviços para a comunidade, desta forma ele incentiva a formação de opiniões sobre determinados assuntos ajudando a compreender melhor a realidade em que se vive. Para isso é nescessário um trabalho feito com seriedade e ética, sempre alerta para o mundo ao seu redor. Buscando respostas para o povo, o acesso a informação é um direito de todos e liberdade de imprensa é um direito de todo jornalista.

O coronavírus intensificou os conflitos sociais e escancarou as desigualdades e a crise do capitalismo no território latinoamericano.

Foto: Santiago Torrado @santitorrado1

No início da década de 1970, durante o efervescer da Operação Condor, que representava o controle da América Latina pelos Estados Unidos através das ditaduras militares, o escritor uruguaio Eduardo Galeano eternizou-se nas linhas de “As veias abertas da América Latina”. O sucesso de vendas, publicado há 50 anos, narrou através de uma pesquisa jornalística, histórica e antropológica, a exploração, as riquezas, a cultura e as realidades da terra e do povo latinoamericano.

Poucos anos antes de sua morte, Galeano, que era jornalista e escritor, chegou a revelar que lamentava que depois de décadas de sua publicação original, “As veias abertas” não tenha perdido sua atualidade.

O livro passou a ser considerado uma bíblia por parte da esquerda intelectual e ferozmente criticado pela direita conservadora. As controvérsias acerca do texto se intensificaram após Galeano considerar que não o leria novamente e que não era qualificado quando escreveu o clássico anticolonialista, antiimperialista e anticapitalista nos anos 70. 

Válido ou datado, o fato é que o livro marcou o pensamento dos estudos sociais latinoamericados e cumpriu sua proposta de analisar e fazer pensar sobre as relações de exploração e dominação que há séculos regem a política e a sociedade das Américas para além dos Estados Unidos.

O fim da primavera progressista

La lluvia que irriga a los centros del poder imperialista ahoga los vastos suburbios del sistema. Del mismo modo, y simétricamente, el bienestar de nuestras clases dominantes – dominantes hacia dentro, dominadas desde fuera – es la maldición de nuestras multitudes condenadas a una vida de bestias de carga.” Tal trecho, retirado da décima sétima página, representa com fidelidade a América Latina de ontem mas também a de hoje.

Após anos de hiato democrático, milhares de mortos, torturados e desaparecidos, os governos populares e o neoliberalismo passaram a dividir espaço nos países da região. Durante a primeira década do século XXI, progressistas foram eleitos por toda a região. A guinada à esquerda trouxe políticos como Néstor Kirchner e Cristina Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula e Dilma no Brasil e José Mujica no Uruguai. Mesmo que esses governos tenham garantido direitos das classes populares e respondido às lutas históricas dos subalternizados, não foram capazes de quebrar, de fato, com os interesses neoliberais dos grupos dominantes. 

Segundo o doutor em História Social do Trabalho e professor da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Diorge Konrad, “esses governos aplicam políticas sociais e econômicas, inclusive de reparação das perdas do poder aquisitivo das classes trabalhadoras”. Conforme Konrad, mesmo que tenha havido um aumento real de salários “é muito pouco perto das perdas anteriores para repor níveis, por exemplo, do salário mínimo quando ele foi criado” e completa que governos como o do Lula e o de Néstor Kirchner, que chegou a crescer 8% a economia na Argentina, “são governos que não mudaram a macroestrutura neoliberal”.

A não ruptura dos governos progressistas com a ordem neoliberal culminou no declínio de seus próprios políticos. Sob os holofotes da mídia, os escândalos de corrupção e de autoritarismo mancharam a história desses governos e acarretaram num bem elaborado movimento de retomada e manutenção do poder pelas classes políticas e sociais historicamente dominantes.

Os holofotes apontam para a direita extrema e para o neoliberalismo

Guiada pelo discurso anticorrupção, a América Latina abraçou a nova onda conservadora que teve início na Europa na década de 2010. A Operação Lava Jato no Brasil que contou com a midiatização do juiz Sérgio Moro, talvez seja um dos melhores exemplos das características da política latinoamericana atual. 

O discurso neoliberal da extrema direita vende o Estado como real e único vilão responsável por toda corrupção e miséria e, como única forma de combater-se esse mal, é preciso desinflá-lo e diminuir o seu controle ao mínimo possível. Em “A Elite do Atraso”, o sociólogo brasileiro Jessé Souza evidencia a existência de uma distorção da realidade na qual a real elite encontra-se fora do Estado.

Jessé propõe uma analogia, para ele essa construção funciona como um narcotráfico. Nesse sentido, “os políticos são os aviõezinhos do esquema e ficam com as sobras do saque realizado na riqueza social de todos em proveito de uma meia dúzia.” Ainda para o sociólogo, a verdadeira corrupção estaria em permitir que meia dúzia de superpoderosos ponham no bolso a riqueza que é de todos, deixando o resto na miséria.

A partir dessa construção, onde é imprescindível corrigir os erros cometidos pela esquerda através da eleição de políticos extremistas, conservadores e com características fascistas, elegeram-se nos últimos anos, uma gama de novos líderes de direita. 

Entre esses políticos estão Sebastián Piñera no Chile e Iván Duque na Colômbia. Não por causalidade, nesses países eclodiram as maiores manifestações sociais dos últimos tempos na América Latina. Mas além disso, não podemos deixar de citar o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, da “nova direita” que, entretanto, continua representando ideais e pensamentos já conhecidos do cenário político brasileiro. 

A política entreguista e sem espaço para as reivindicações dos movimentos sociais não esperava encontrar pelo caminho uma pandemia que mudaria, mesmo que temporariamente, os rumos político-sociais da América Latina, escancarando fraquezas e reais intenções por trás dos novos líderes do cenário político-ideológico.

A pandemia de conflitos sociais

Foto: Santiago Torrado @santitorrado1

Em 2019, antes mesmo do início da pandemia de coronavírus, a situação social e política da América Latina já apresentava os sinais da crise. No mesmo ano, uma campanha pela passagem do metrô realizada por estudantes do ensino médio de Santiago, tornou-se um dos maiores protestos que o Chile já viu e provocou a queda da constituição datada do governo do ditador Augusto Pinochet. 

O povo foi às ruas contra a política ultra-neoliberal herdada da ditadura Pinochet e contra a enorme desigualdade social do país. O governo e a polícia reprimiram com violência as manifestações, o que acarretou na resistência dos participantes e popularização do protesto que terminou com mais de 30 mortos e 11 mil feridos. Atualmente o país está em processo de redação da nova constituinte.

Já em 2020, no meio de diferentes políticas de contenção ao coronavírus, altos índices de morte, desemprego e inflação, a população latinoamericana seguiu organizando protestos contra o abandono e má condução dos governos.

O primeiro exemplo que podemos citar são as manifestações no Peru em novembro do ano passado. Inconformados com o impedimento do presidente Martín Vizcarra, os peruanos lotaram a capital Lima, em protesto ao que chamaram de golpe à democracia. As manifestações foram consideradas as maiores dos últimos 20 anos segundo a imprensa local. 

Os manifestantes seguiram se reunindo contra o governo inteiro de Manuel Merino e após denúncias de mortes de participantes, 11 ministros do governo pediram demissão. Em 15 de novembro, cinco dias após assumir o cargo, Merino apresentou sua renúncia e seu lugar foi assumido por um governo de transição. 

Neste ano, o Haiti entrou em uma forte ebulição social após uma onda de violência e sequestros assolar o país. Os haitianos exigiam atitude por parte do governo contra os grupos criminosos. Os conflitos passaram a se intensificar desde fevereiro, quando o então presidente Jovenel Moise recusou deixar o cargo e prendeu opositores políticos. Em 7 de junho, Moise foi assassinado em sua residência nos subúrbios de Porto Príncipe em um crime ainda sem solução.

Um dos maiores conflitos sociais que podemos destacar em 2021 foi o ocorrido na Colômbia. No dia 15 de abril o presidente colombiano Iván Duque apresentou ao Congresso uma proposta de reforma tributária que visava aumentar a base de arrecadação do imposto sobre serviços básicos e IVA. A medida buscava liberar 6,3 bilhões de dólares para financiar os gastos do governo durante a pandemia e a recuperação econômica para os próximos anos.

Desde que foi lançada, a proposta de reforma foi considerada onerosa para a classe média do país. Segundo especialistas, a medida retiraria dinheiro dos que movem a economia da Colômbia, deixando-os vulneráveis e incapazes. A partir daí, sindicatos, movimentos sociais e diversos setores da sociedade se manifestaram contra a reforma, o que ocasionou forte turbulência social e rapidamente os protestos se espalharam pelo país.

A cidade de Cali, terceira mais populosa da Colômbia, se tornou o epicentro do embate entre policiais militares e manifestantes. O governo criticou a violência das manifestações e acusou dissidentes guerrilheiros e grupos criminosos de participação nos atos. Desde então, os protestos contra o governo e as denúncias de desaparecimento e morte de manifestantes se intensificaram. Os atos contra o governo e a política neoliberal de Iván Duque resultaram em 67 mortes segundo um relatório do Human Rights Watch.

A forte repressão e violência policial na Colômbia foi relatada pela jornalista colombiana Gina Piragauta que esteve presente na cobertura dos protestos:

“A situação na Colômbia é de conflito social crescente desde muito tempo, há elementos que contribuíram para que aumentassem os conflitos como a falta de emprego, educação, péssimo sistema de saúde e houve protestos muito significativos no ano passado mas foram suspendidos por questão da pandemia. A pandemia veio a acrescentar os conflitos sociais e políticos no país. Esta greve não é de nenhum partido político, de nenhuma organização política, é do povo colombiano trabalhador e nesse sentido levou as pessoas massivamente para a rua. Temos visto que a repressão policial tem sido dirigida especialmente às pessoas da imprensa e também dirigida às pessoas que cuidam dos direitos humanos durante as manifestações. Temos visto que estão disparando nos olhos dos manifestantes, temos muitos desaparecidos. Algumas dessas pessoas desaparecidas aparecem mortas nos rios e de outras nada se sabe e também tivemos muitos presos.”

Os relatos da ação policial disseminaram-se pelas redes sociais e pela imprensa. No dia 1º de maio, Alejandro Zapata, um jovem de 20 anos, foi gravemente ferido pelo esquadrão de choque Esmad durante um protesto em Bogotá e não resistiu. No dia 5 de maio, Lucas Villa, de 37 anos, recebeu vários disparos em uma marcha pacífica na cidade de Pereira. O universitário morreu no dia 11 do mesmo mês. 

Em 14 de maio, Sebastián Munera de 22 anos morreu após ser atingido por uma granada lançada por agentes da Esmad. Um dos casos que mais revoltou os manifestantes e que provocou a convocação de novos atos pelo país foi o da jovem de 17 anos Alison Meléndez. Alison foi presa na noite de 12 de maio e violentada sexualmente por agentes da polícia. Um dia depois a jovem se suicidou.

O êxodo venezuelano

Para além dos conflitos sociais que eclodiram nos últimos anos e que vimos anteriormente, a América Latina também passa por um momento de intensos processos migratórios. Tais movimentos podem ser deslocamentos entre os países latinoamericanos, como os decorrentes de crises humanitárias, mas também, pelos processos de imigrantes de outros países do globo que chegam na América Latina todos os anos. A política de recepção dessas pessoas em processo de deslocamento é diferente em cada país.

De acordo com o cientista político venezuelano Xávier Franco, “nada define mais a espécie humana desde suas origens do que sua capacidade de se mover ao redor do mundo”. Entre os motivos que podem levar uma pessoa a sair de seu país de origem estão as crises humanitárias como a venezuelana, mas também existem outros, como a legítima aspiração por uma melhor qualidade de vida.

Entretanto, no caso da Venezuela, é preciso compreender os aspectos que levaram aos processos de deslocamento populacional. A crise no país vem se intensificado desde 2013 após a eleição de Nicolás Maduro. A população começou a sofrer os impactos econômicos a partir de 2014, quando o barril do petróleo se desvalorizou e a economia venezuelana começou a desmoronar. 

Desde então o país atravessa uma grave crise humanitária onde parte da população é obrigada a se refugiar em países vizinhos. O número de venezuelanos que migraram forçadamente para outros países só em 2020 é de 3,9 milhões. Esses dados são do relatório anual da UNHCR (Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados)

O relatório  mostra um crescimento no número de refugiados venezuelanos no continente latinoamericano. Houve aumento do fluxo de migrações para o Brasil, México e Peru. Porém, mais de 120 mil refugiados venezuelanos que estavam na Colômbia retornaram ao país de origem em 2020. Segundo o documento, entre os motivos para o retorno estão as dificuldades enfrentadas desde o início da pandemia do coronavírus.

Atualmente a Colômbia hospeda cerca de 1,7 milhões de imigrantes venezuelanos. Dados do novo relatório também estimam que entre refugiados e venezuelanos deslocados no exterior, quase um milhão de crianças nasceram em situação de deslocamento entre 2018 e 2020, uma média de entre 290 mil e 340 mil por ano.

O Xávier Franco evidencia que a imigração em massa da Venezuela nos últimos anos “se expandiu em todas as direções mas principalmente para os países fronteiriços, o que gerou uma verdadeira crise política, diplomática e humanitária de proporções continentais para as quais nenhum governo foi preparado e coordenado”.

Para a professora da UFSM e coordenadora do Migraidh (Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional da UFSM) a migração de venezuelanos é “potencializada pelas questões socioeconômicas e que tem muito forte a própria mobilidade como uma possibilidade de promover as chamadas remessas, levar ao país de envio o suporte para os que ficaram”. Ou seja, nesses casos, a população migrante envia recursos financeiros para os familiares que continuam a residir no país de origem. 

Ataques à imprensa 

Assim como com os movimentos sociais, a imprensa latinoamericana tem sofrido recorrentes ataques e censura. Entre janeiro a junho de 2020 foram mais de 600 violações à liberdade de imprensa na América Latina segundo dados do último dossiê levantado pelo Voces del Sur, um projeto que monitora as agressões à imprensa e a liberdade de expressão em 11 países da região e que no Brasil conta com o apoio da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Conforme o levantamento, entre as vítimas estão 336 jornalistas, 27 repórteres independentes, 220 meios de comunicação, 46 fotógrafos e cineastas, 37 diretores, editores e executivos de meios de comunicação, 11 trabalhadores de comunicação e 1 produtor de conteúdo. Além disso, os dados apontam que 453 desses ataques foram realizados por parte dos governos, 95 por meios não estatais e 61 de forma desconhecida.

Outra denúncia do Voces del Sur é sobre as leis que buscam criminalizar a desinformação, as conhecidas notícias falsas. Apesar dessas leis serem propostas como formas de se conter a difusão de rumores e conteúdos falsos que prejudiquem a sociedade, elas podem se tornar ambíguas e quando usadas de forma estratégica por governos, até prejudiciais à democracia.

Segundo a Comissão Internacional dos Direitos Humanos, as proibições de divulgação de desinformações são baseadas em conceitos vagos como “notícias falsas” ou “informação não objetiva”. Porém, é importante que os aspectos sejam analisados cuidadosamente para que se evite imprecisões que possam vir a favorecer atos de arbitrariedade.

Com a covid-19, por exemplo, alguns governos latinoamericanos estão redigindo leis que, por sua vez,  acabam por censurar a informação incômoda. Ou seja, aquela que prejudica ou denuncia a atuação dos governos. Na Venezuela, por exemplo, a Lei Contra o Ódio e o Código Penal foram utilizadas para prender cidadãos e jornalistas que divulgaram informações não oficiais.

O relatório ainda evidencia que o país com mais casos de violação ao jornalismo em 2020 foi o Brasil com 168 casos. Logo depois estão Nicarágua com 123, Equador e Honduras com 50, Peru com 18, Argentina com 16,  Uruguai com 10 e Guatemala com uma violação à liberdade de imprensa.

Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana sob a orientação da professora Carla Torres.