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Santa Maria, RS, Brazil

2020

Os Sete Magníficos e a representatividade feminina na mídia

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere,

Memórias e frutos inestimáveis

O futebol feminino, sabidamente, parece trazer duas palavras contraditórias. A Copa do Mundo, que poderia se chamar Copa do Mundo de Futebol Masculino, mas ironicamente poderia conotar machismo, existe desde 1930, e hoje conta com 32

Troca de afetos

Em 2003, uma pesquisa já apontava que 40% das brasileiras havia feito laqueadura, processo contraceptivo cirúrgico e permanente.Em uma busca rápida na internet, é possível descobrir a definição para maternidade como um “laço de parentesco que

Foto: Reprodução / Metrópoles \ Mulheres governantes de sete países têm enfrentado à Covid-19 com sucesso

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere, são países liderados por mulheres, a Alemanha, governada pela chanceler Angela Merkel, Taiwan, com a presidente Tsai Ing-wen, Islândia, com a primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, Finlândia, com Sanna Marin, Noruega, com Erna Solberg, Dinamarca, com Mette Frederiksen, e Nova Zelândia, com Jacinda Ardern. As matérias abordam aspectos geopolíticos que refletem em âmbitos culturais, de saúde e econômicos.

Os veículos escolhidos pela reportagem variam entre jornais independentes, tradicionais, grandes corporações e mídia alternativa. São eles BBC, Forbes, Catraca Livre, Metrópoles, CNN Brasil e Mídia Ninja.

Mas por que este tema?

A reportagem se perguntou por que o tema foi levantado e foi atrás da opinião de especialistas.

Marcia Veiga, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro da ONG Themis, de assessoria e estudos de gênero, explica que o fenômeno não é mera coincidência e que, embora não seja o motivo por completo, o gênero das líderes tem a ver com o sucesso do enfrentamento à pandemia:

“Ao estudar gênero, é possível compreender o que esses fatos trazidos à tona sinalizam”.

Elas serem do sexo feminino, por fatores culturais, facilita com que tenham um olhar mais aproximado da população, não sempre, mas na maioria dos casos, de acordo com a especialista.

“Todas as sociedades têm convenções sociais, entre elas, a expectativa de que meninas e mulheres serão mais frágeis e que a elas caberão os cuidados. Entre ocidentais, tudo que é considerado masculino são elementos mais valorizados e que sensibilidade é algo “menor” e menos importante”, diz Marcia.

A pesquisadora esclarece que estas líderes focam em ações de cuidado e prevenção, valorizando o ser humano e tratando áreas como saúde e educação como tão importantes quanto a economia:

“Enquanto Brasil e Estados Unidos declaram “guerra ao vírus”, as mulheres são pacifistas”.

Um caso que chamou atenção da especialista foi a abordagem trazida pela BBC acerca de atitudes da primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern. Antes da páscoa, ela realizou um discurso voltado às crianças, em mídia nacional, para acalmar os pequenos com relação à data, garantindo que “o coelho da páscoa faz parte dos serviços essenciais”.

“Traços femininos fundamentais em um governante, como o diálogo e o interesse pela opinião de todos, são comuns para elas. Após ouvirem a população, através de atitudes horizontais como esta, só então elas agem”, afirma a pesquisadora.

Sobretudo, coloca o ser humano como prioridade e centro da preocupação. Assim, os cidadãos se sentem participantes. Isso mostra a necessidade de colaboração de todos num período de crise, ainda conforme a especialista.

“Valorizar a diversidade, mantendo o cuidado e a horizontalidade de discursos é o caminho”, conclui Marcia.

Para ela, o jornalismo tratar destes assuntos é cumprir o papel primário da profissão, de encontrar fatos e trazê-los à tona, nada mais do que retratando a realidade:

“Não havia como não perceber a existência deste fato. Além disso, hoje, há mais mulheres jovens e informadas nas redações e em chefias dos veículos jornalísticos. Então, o entendimento de que isso significa algo relevante é mais comum. Talvez a mídia não aprofunde os temas, ainda tendo muito o que avançar, mas, ao menos, publicam”.

A professora de psicologia Graziela Miolo, explica que as mulheres já crescem se adaptando à cultura machista já imposta e implantada na sociedade:

“Elas enfrentam dificuldades para se legitimar em posições habituais aos homens e precisam conquistar os espaços onde desejam estar. Qualquer lugar fora do lar não é para elas, principalmente na liderança e ainda mais fortemente no campo da política. Por isso, são mais inventivas e preparadas para demandas inusitadas”.

A reinvenção das mulheres faz parte de uma constituição psíquica, histórica, política e social, segundo a Graziela. Por isso, esta criatividade com a qual a mulher cresce a auxilia a se adaptar e encontrar recursos e saídas para grandes e inesperados problemas, como uma pandemia, desenvolvendo habilidades para conquistar seu lugar no espaço público, de ser e estar no mundo.

“As mulheres têm habilidades psíquicas que tornam esta administração mais fácil por terem mais recursos criativos para lidarem com as crises”, diz a professora.

Para ela, este momento é de sair do padrão tido como o certo e criar novas formas de governar e enfrentar conflitos, característica do feminino:

“A mídia aborda a questão do gênero de forma massificada, sem questões mais específicas, trazendo “as mulheres”, ao invés de “a mulher”, não dando conta de observá-la. Ainda observamos o discurso que prevalece a posição do homem, mas não é difícil de se compreender, em função de estar dentro de uma cultura embasada em uma linguagem que prioriza um discurso machista, que é estrutural”.

Por: Gabriele Bordin
Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Orientação: Profª Carla Torres

Foto: arquivo pessoal
Kawanny é a última jogadora (da esq. para dir.), atrás. Foto: arquivo pessoal
Imagens: Raw Pixel

O futebol feminino, sabidamente, parece trazer duas palavras contraditórias. A Copa do Mundo, que poderia se chamar Copa do Mundo de Futebol Masculino, mas ironicamente poderia conotar machismo, existe desde 1930, e hoje conta com 32 equipes. A Copa do Mundo de Futebol Feminino, que ocorre desde 1991, conta atualmente com 24 times na disputa. Os números, datas, salários e, para além, os sentimentos de representação e valorização demonstram um caminho árduo, mas não acabam com os sonhos de muitas jogadoras, profissionais ou amadoras.

O esporte mais amado do Brasil repercute na vida de quem é apaixonado, ou apaixonada, pelos campos, times e um universo que só quem vive entende. Independentemente de ser homem, mulher, criança, adulto ou idoso, as memórias, o afeto e as experiências com o esporte marcam profundamente alguns dos que o praticam. Para algumas jogadoras, não importa a falta do salário ou prestígio, mas o ganho de valores que não têm preço.

A santa-mariense Kawanny Silva, 22 anos, é atendente por profissão mas, desde criança, carrega a paixão pelo futebol e guarda as boas lembranças dos incontáveis times dos quais já fez parte.

Para ela, ser jogadora de futebol é…

Amor

Desde pequena, carrego a paixão pelo futebol. Meu pai sempre foi muito ligado ao esporte e aprendi a amar indo com ele em campos e ginásios, mesmo não havendo mulheres jogando.

Amizade

Com o futebol, conheci pessoas incríveis em todos os lugares onde atuei. Elas se tornaram minhas amigas. Joguei em muitas cidades do Rio Grande do Sul e até em Santa Catarina, mas tudo começou no colégio. Algumas das minhas amizades do futebol têm mais de 11, 12 anos… ainda hoje nos damos bem e estamos sempre juntas. Com as meninas de outras cidades, mantemos contato.

Sonhos

Minhas amigas do esporte e eu temos grandes sonhos, como de um dia chegar ao topo da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Este sonho vem de todas aquelas meninas que entram no futebol, todas já tiveram esta aspiração ou ainda têm.

Alegria

Em cada time pelo qual passamos, sempre há momentos de alegria que ficam marcados para sempre. A maior felicidade para um time é sair de um jogo campeão, além dos gols… Mas há muito mais, para além disso. Há as experiências juntas, como acampamentos, viagens, brincadeiras entre a equipe, aquela união de compartilhar todos os momentos e ver todas sorrindo, às vezes até na derrota. A união do time já é uma alegria para mim.

Família

Nós, jogadoras, nos tornamos mais que um time, mas, sim, uma segunda família, que passa muito tempo junto e compartilha cada momento. Podemos contar umas com as outras em problemas pessoais, ir além de apenas amizade de equipe, mas estar ali sempre, para o que precisar, até em dificuldades financeiras.


Ninguém é apenas o nome, idade, formação, profissão ou naturalidade. Somos um conjunto de infinidades. Entre tudo o que te identifica, qual é a sua parte favorita? Você também pode fazer parte deste projeto ou indicar alguém que é excelente numa área bem diferente da formação ou profissão, um especialista (ou quase) pela vivência.

A acadêmica de Jornalismo Gabriele Bordin desenvolveu o Projeto Experimental em Jornalismo, no curso de Jornalismo da UFN, durante o primeiro semestre de 2020. O projeto foi orientado pela professora Glaíse Palma e teve uma história por semana publicada neste espaço.

Leia as matérias do projeto Lado B:

Foto: arquivo pessoal

Em 2003, uma pesquisa já apontava que 40% das brasileiras havia feito laqueadura, processo contraceptivo cirúrgico e permanente.
Em uma busca rápida na internet, é possível descobrir a definição para maternidade como um “laço de parentesco que une a mãe a seu(s) filho(s)”. Mas como esse laço é criado?

Simone Del Fabbro Vollbrecht, 42 anos, é psicóloga por formação. Natural de Itaqui (RS), ela morou por oito anos na em Santa Maria, de 2002 a 2010. Hoje em Porto Alegre, a gaúcha retrata, dia a dia, nas redes sociais pessoais e em um blog criado por ela, uma das facetas de sua vida. Simone captura alguns dos detalhes mais bonitos de sua família, aos olhos de uma mãe carinhosa e dedicada. Ela é mãe de três “filhos únicos” como os identifica, porque as idades e peculiaridades os fazem assim. Catarina, de 17 anos, Miguel, 9, e a pequena Joana, 4, colorem os dias de Simone.

Para Simone, ser mãe é…

Aprendizagem
Uma mãe não só cuida e ensina seu filho. Ela também aprende, muito. Ser mãe é um aprendizado diário. Em todas as fases se aprende. O filho pode já estar crescido e com autonomia, e seguimos aprendendo. Penso que o grande aprendizado seja aceitar que o filho é alguém diferente, em gostos, pensamentos e desejos. Essa separação é uma lição de vida para a mãe e um presente para o filho.

Doação
A maternidade exige entrega desde a gestação. É preciso abrir mão de muita coisa. O corpo modificado já nos impõe alguns limites. A mudança vem de dentro para fora e entregar-se é o maior exercício que a maternidade exige. Mas, lá adiante, a gente descobre que muito do que se abriu mão não faz mais sentido. Os interesses mudam. As prioridades são ressignificadas.

Perseverança
Com certeza esse é o grande desafio diário de uma mãe: ser constante na rotina que cansa e exige. Uma mãe exausta sempre encontra forças para cuidar e amar seus filhos. O envolvimento afetivo é intenso. Mas é preciso estar lá, todos os dias, nos bons e nos ruins. Permanecer, por inteiro. A maternidade é um mergulho profundo nas águas desconhecidas de um novo ser: a mãe que nasce junto com o filho. Assusta, desacomoda, mas é preciso seguir, é preciso perseverar.

Amor
O vínculo entre mãe e filhos é uma força muito potente. É a base e o elo dessa relação tão intensa. O amor que recebi da minha mãe segue influenciando o modo como me relaciono com meus filhos. Acredito que, ao nascermos, recebemos o amor, também, de nossas avós e bisavós. Assim, o amor de mãe tem sua fonte na ancestralidade de nossa família. É um amor do passado que consegue se renovar no presente.

Propósito
Quando se tem uma criança para cuidar, a vida ganha um outro sentido. As preocupações, com certeza, crescem, mas as alegrias também. Nossas atitudes e escolhas ganham novos significados. É saber dar valor ao que realmente importa: a simplicidade, a convivência, o bem estar físico e mental, o apoio dos familiares e amigos. É entender que, apesar das dores, dos cansaços acumulados, lá na frente, você se torna alguém melhor.


Ninguém é apenas o nome, idade, formação, profissão ou naturalidade. Somos um conjunto de infinidades. Entre tudo o que te identifica, qual é a sua parte favorita? Você também pode fazer parte deste projeto ou indicar alguém que é excelente numa área bem diferente da formação ou profissão, um especialista (ou quase) pela vivência.

A acadêmica de Jornalismo Gabriele Bordin desenvolveu o Projeto Experimental em Jornalismo, no curso de Jornalismo da UFN, durante o primeiro semestre de 2020. O projeto foi orientado pela professora Glaíse Palma e teve uma história por semana publicada neste espaço.

Leia as matérias do projeto Lado B: