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9º Interfaces

Painel discute gênero e políticas públicas

O debate sobre gênero e políticas públicas ocorreu na tarde de quarta-feira, 29 de agosto, e reuniu a psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Priscila Pavan

Saúde mental exige cuidados e acompanhamento

O painel sobre o cuidado em saúde mental ocorreu na tarde de ontem, terça-feira, 28, no 9º Interfaces do Fazer Psicológico.  Ministrado pela psicóloga, doutora em antropologia pela Universitat Rovira i Virgili, Károl Cabral, e a

Histórias de uma psicóloga sem fronteiras

Você já imaginou o seu telefone tocar a qualquer momento do dia e ter que largar tudo para atravessar o oceano Atlântico para ajudar centenas de pessoas que passam por algum momento crítico de saúde pública ?

O debate sobre gênero e políticas públicas ocorreu na tarde de quarta-feira, 29 de agosto, e reuniu a psicóloga, mestre e doutora em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Priscila Pavan Detoni e  Amilton Gustavo da Silva Passos,  pós-graduado em Educação e membro da Corpora em Liberdad, de Porto Alegre, durante o 9º Interfaces do Fazer Psicológico.

Priscila iniciou o debate falando sobre gêneros, cor e classe social, ressaltando que “todos esses marcadores são categorias que nos constrói como sujeitos.  A psicóloga explica que, no Facebook, ao criar uma conta o usuário informa seus dados como a data de nascimento, o idioma, a cidades e um dado que para muitos, passa despercebido – o gênero. De acordo com ela, o site de relacionamento oferece 17 tipos de gêneros. Na Inglaterra, o Facebook oferece 84 novas opções de gêneros para que o usuário possa expressar melhor a sua identidade com a nova opção de customização.

Priscila destacou a violência de gênero como um tipo de agressão física e psicológica cometida contra qualquer pessoa de um sexo sobre o sexo oposto. E citou o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) como uma unidade pública de assistência social que se propõe ao atendimento de famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade e risco social e ressaltou que dos 90% a 95% dos atendimentos são do sexo feminino mulheres.

Seguindo o debate, Gustavo Passos abordou sobre gênero sexualidade: componentes úteis ao controle prisional. Ele falou sobre a criação de uma ala especifica para agrupar travestis e gays no Presidio Central de Porto Alegre (PCPA). “A ala surge com o propósito de uma medida de segurança na tentativa de preservar a vida da pessoa que está convivendo com grande risco à vida. E também devido aos travestis não quererem ir para as prisões femininas”, afirma o pós-graduado em educação.

 

 

 

 Painel sobre o cuidado em saúde mental durante o 9º Interfaces no Fazer Psicológico, no Conjunto III da Universidade Franciscana.Foto: Vítor Cargnelutti

O painel sobre o cuidado em saúde mental ocorreu na tarde de ontem, terça-feira, 28, no 9º Interfaces do Fazer Psicológico.  Ministrado pela psicóloga, doutora em antropologia pela Universitat Rovira i Virgili, Károl Cabral, e a graduada em enfermagem e obstetrícia, com pós-doutorado na Università degli Studi di Torino, Luciane Prado Kantorski, o painel trouxe ao debate as formas de cuidado com a saúde mental.

Károl iniciou o debate falando sobre acompanhamento terapêutico e os deslocamentos da clínica e produção de novos territórios existenciais. Segundo ela,  “o acompanhamento terapêutico é um trabalho clínico que busca promover a autonomia e a reinserção social do paciente, destinado a pessoas que apresentam dificuldades de relacionamento e convívio social, devido a comprometimentos emocionais e limitações físicas. O atendimento terapêutico utiliza o espaço público da cultura como dispositivo para o ato terapêutico”.

A psicóloga fez uma comparação do atendimento terapêutico com a obra “Sapatos Magnéticos” do artista belga Francis Alÿs, que fez um percurso caminhando pela cidade de Havana, em Cuba, com um par de sapatos magnetizados e, através dele, coletou uma série de objetos metálicos e colocou-os junto a mapas que traçaram seu percurso diário pela cidade.

Károl destacou que durante a caminhada de Alÿs pelas ruas de Havana, ele interagia tanto com a cidade quanto com a população, e isso possibilitou uma conexão que surge do encontro entre duas ou mais pessoas. Também ressalta que o artista sempre introduz sua obra em interação com a cidade em que habita.

Cuidar da saúde mental

Seguindo o debate, Luciane Kantorski abordou o cuidado em saúde mental: novas abordagens em saúde mental. Ela explica que muitas experiências desenvolvidas no contexto mundial têm demonstrado a possibilidade de criação de novas práticas voltadas para o respeito dos sujeitos, e visam garantir os direitos de pessoas agredidas por algum tipo de sofrimento psíquico por meio da valorização de suas experiências.
A enferemeira destacou que o diálogo aberto é um método para atender a crise psicótica através de uma intervenção nas primeiras 24 horas, onde o paciente e sua família são convidados para participar não só do primeiro encontro, mas de todo o processo de tratamento. Assim, o objetivo central dessa prática é criar diálogos para colocar em palavras as experiências vivenciadas pelos pacientes.
Durante cinco anos, Luciane constata que a contribuição do diálogo aberto para o mundo ajudou 86% dos pacientes a retomarem seus estudos e trabalhos em tempo integral, sendo que 17 % recaíram durante os primeiros dois anos e 19% durante os três anos seguintes. Ela também explica que 29% fizeram uso de medicação neuroléptica durante uma fase do tratamento.
Outro método para atender os transtornos mentais são os Ouvidores de Vozes. Esta técnica está presente em mais de 30 países que organizam uma conferência a fim de incentivar uma mudança na atitude da sociedade, mudando a maneira de como os ouvidores foram tratados pelos médicos e psiquiatras.
“Muitas vezes, essas vozes são desencadeadas por eventos traumáticos e emocionais, como acidentes, abusos sexuais e doenças. E há três fases entre as pessoas que ouve vozes: a fase da surpresa, quando o paciente se depara e ouve pela primeira vez as vozes; a fase da organização onde o paciente lida com as vozes; e a fase da estabilização”, afirma Luciane.
Segundo ela, para combater os tratamentos abusivos e violentos no âmbito da psiquiatria, foram criadas organizações: O Projects Icarus e o Freedom Center. “O Projects Icarus é uma organização que oferece palestras e espaço de escuta. Ela está relacionada à saúde mental e justiça social, colocando-se à disposição de instituições e organizações que desejam iniciar conversas sobre saúde emocional e justiça social”, diz.
 “O Freedom Center é uma comunidade de apoio administrada por pessoas consideradas com graves transtornos mentais. Suas atividades se baseiam na filosofia de relação de danos, no direito da escolha das pessoas em relação aos tratamentos médicos e nas pessoas que não fazem uso de medicação. Estas duas organizações têm trabalhado na possibilidade de uma construção conjunta de outros caminhos para a vida dos sujeitos”, conclui a doutora.

A 9º Interfaces no Fazer Psicológico ocorre de 27 a 29 de agosto, no Conjunto III da Universidade Franciscana. O objetivo do evento é promover o intercâmbio de experiências entre os acadêmicos do curso de Psicologia da Universidade Franciscana com os demais acadêmicos e profissionais da área.

Texto: João Pedro Foletto e Rafael Finger, estagiários de Jornalismo

 

Conferência de abertura do 9° Interfaces do fazer psicológico teve a presença da psicóloga Débora Noal. Fotos: Thayane Rodrigues

Você já imaginou o seu telefone tocar a qualquer momento do dia e ter que largar tudo para atravessar o oceano Atlântico para ajudar centenas de pessoas que passam por algum momento crítico de saúde pública ? Pois essa é a realidade de quem trabalha na organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Fundada em 1971, a entidade é a maior organização de ajuda humanitária do mundo. Em 1999 chegou a ganhar o Prêmio Nobel da Paz. A MSF consegue manter os mais de 60 projetos em diversos países com doações de pessoas físicas. A entidade não recebe verba de governos ou de multinacionais, a não ser que a empresa comprove a licitude do dinheiro.

São 46 mil profissionais da área da saúde a disposição do projeto para atender comunidades que passam por guerras e casos de epidemia. Entre essas pessoas está uma santa-mariense. A psicóloga Débora  da Silva Noal contou um pouco da sua trajetória durante a conferência de abertura do 9º Interfaces no Fazer Psicológico, da Universidade Franciscana (UFN). O salão de atos do prédio 13 da instituição ficou lotado para acompanhar a fala da profissional.

Débora esteve em países em cerca de 40 países, sempre trabalhando em área de risco. Falou da experiência em países como Haiti, Guiné e Líbia. Ela revelou que em casos de destruição de cidades com terremotos aumenta o número violência sexual. “Após desastres temos um grande número de abusos sexuais e também abuso doméstico. Em um centro de trabalho que eu estava chegavam cerca de 20 a 30 mulheres violentadas em um bairro”, declara a psicóloga.

Um dos momentos que mais a marcou foi participar da ajuda humanitária na epidemia do vírus Ebola na República Democrática do Congo, na África. A doença tem uma taxa de mortalidade de quase 90%, segundo a Organização Mundial da Saúde. “Quem sofre em uma epidemia dessas são as pessoas que cuidam das outras. E a maior parte que morre são as mulheres, porque elas cuidam dos familiares”, explica a integrante da MSF.

Débora Noal: “Pensem nas histórias dos imigrantes com o coração e não com a cabeça”

Segundo a psicóloga, essas localidades são isoladas, não tem rádio, televisão, jornal ou internet. Conforme Débora, em determinadas comunidades eles nunca viram uma pessoa branca. Para evitar a contaminação com os doentes, os profissionais deslocados para os centros de epidemia usam 11 itens de proteção. O corpo fica completamente coberto.

O trabalho dos médicos nessas áreas de risco é isolar o vírus e dos psicólogos não isolar as pessoas, mesmo sabendo que muitas não irão sobreviver. Débora se emocionou quando falou sobre o pedido de uma mãe de querer saber informações da sua família. Ela disse que filmou a comunidade com uma câmera e projetou as imagens na tenda, já que não poderia ter contato com ela. “O nosso papel é muito maior. Cada um tem um projeto terapêutico. É o cuidado humano para humano. É assegurar que as necessidades básicas sejam atendidas. São pessoas que muitas vezes perderam tudo, como o vinculo afetivo”, afirma.

A psicóloga ainda deixou um recado ao público latino com a onda migratória dos venezuelanos. Centenas cruzam as fronteiras com o Brasil para ter uma condição melhor de vida, já que o seu país vive uma crise financeira e de falta de alimentos. “Pensem nas histórias dos imigrantes com o coração e não com a cabeça”, finaliza.

A estudante Caroline Ferreira dos Santos, de 20 anos, do 8º semestre do curso de Psicologia da UFN enfatiza a importância do encontro acadêmico para a troca de experiências. “É importante essa troca. A realidade que a Débora contou é tão longe, mas, ao mesmo tempo, muito perto da gente. Com essas falas saímos outros profissionais da faculdade”, admite a jovem.