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Árvores são condenadas pela falta de manuteção

Quem passa diariamente pela rua Visconde de Pelotas, não mais vê a Tipuana que espalhava sua sombra sobre a rua e a calçada.  No último dia 27,  a árvore Tipuana  localizada em frente à casa de número

Santa Maria sofre com a escassez de árvores

O município de Santa Maria possui, segundo o Secretário do Meio Ambiente, Antônio Carlos de Lemos, em média 50 praças distribuídas. Uma dessas é a Praça João Pedro Manoel Bandeira, popularmente conhecida como Praça dos Bombeiros,

Quem passa diariamente pela rua Visconde de Pelotas, não mais vê a Tipuana que espalhava sua sombra sobre a rua e a calçada.  No último dia 27,  a árvore Tipuana  localizada em frente à casa de número 808, foi cortada.  O corte foi solicitado pelos moradores e executado pela prefeitura. De acordo com o Alvará para Licenciamento de Serviços Florestais (ALSF nº 93/2017) assinada pelo engenheiro competente, a árvore estaria causando riscos às pessoas por estar entrelaçada aos fios, e atrapalhando a passagem dos pedestres.

A Tipuana, originária da Bolívia e Norte da Argentina, é uma árvore florífera e decídua, com copa bastante densa e ampla. Por essa razão, foi bastante utilizada na urbanização em diversos países, inclusive o Brasil, onde elas podem ser observadas com frequência em São Paulo e Porto Alegre. No entanto, suas raízes são agressivas e quando não manejada adequadamente, a árvore torna-se ameaça.

As Tipuanas, quando mais velhas, são muito suscetíveis à quebra e à ação de cupins quando não tem manutenção correta.

Romélio Luis Rossato, 71 anos, funcionário federal aposentado, proprietário da casa em frente à árvore e quem contatou a prefeitura, diz: ” Relato com toda paz de consciência. Eu sempre quis a  permanência da árvore, só que chegou uma hora que não deu mais. Ela causava mais prejuízo, incômodo, do que prazer, satisfação, e os galhos estavam entremeados com os fios de luz”. Ele afirma também que várias pessoas já se lesionaram na calçada,  destacando o pouco espaço  para a circulação. Para ele, se o calçamento tivesse mais de 1,50 de largura , a presença da árvore não seria um problema.

Foto: Mariana Olhaberriet Silva.
O morador Romélio Luis Rossato. Fotos: Mariana Olhaberriet Silva.

Rosângela Da Silva, 65, professora aposentada, moradora próxima afirma que se sentia ameaçada. “Nós tínhamos medo, pois cada vez que ocorria um vento, a energia caía e  a árvore estava podre, ficando oca no meio, e estava sujeito a cair por cima das casas”. E relata:”Faz tempo que o dono da propriedade estava comunicando à prefeitura para o corte”. Para o corte da árvore, a  luz foi cortada e voltou a partir da 13;30. A partir da 7;30  o trajeto entre Duque de Caxias e Visconde de Pelotas foi interrompido pelos Agentes da Coordenadoria Municipal de Trânsito Urbano (CMTU), segundo a prefeitura Municipal.

Cidade perde o verde

A questão do corte de árvores na área urbana é polêmica. Santa Maria é uma cidade com poucas áreas verdes, o que a torna cada vez mais quente. Muitos moradores preservam as árvores nas calçadas, em frente às casas e edifícios, mas a tendência é o corte delas. E muitas vezes, sob o argumento de que as raízes “estragam” as calçadas, ou as sujam.

A ACS foi ouvir  Ivo da Cunha, superintendente de praças e jardins da prefeitura de Santa Maria sobre a fiscalização acerca dos cortes e da saúde das árvores na cidade. O superintendente admite dificuldades e afirma: ” Estamos com planos de fazer um projeto para melhorar o reflorestamento urbano, mas para isso precisamos do apoio dos universitários para compartilhar ideias. A cidade está com poucas árvores”.

Para o professor do curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) Galileo Adeli Buriol , é  melhor cortar e plantar outra do que deixar uma árvore, sendo que ela está a prejudicando e está oca. Conforme o professor, ” não existe tempo certo, mas a Tipuana dura em média 55 anos”. Ele diz ser preciso escolher melhor as espécies de árvores mais apropriadas.” Raízes pivotantes são mais adequadas para que quando a raiz cresça, não  destrua as calçadas”, explica.

Galileo destaca também a importância das árvores para a regulação térmica. ” Há uma semelhança a um corpo negro. Ela absorve energia e também a libera mais lentamente, então, o que você vai ter na cidade é uma regulação térmica. De dia vai ser mais agradável e de noite não vai ser tão frio. A amplitude térmica, portanto, a mínima que ocorre antes de nascer do sol  não vai ser tão baixa,  e a máxima não vai ser tão alta. Mas para a adequação da árvore “seria mais apropriado ter um calçamento com fendas para a água infiltrar melhor para o tronco absorvê-la”, esclarece.

A multa para quem corta árvores, sem a autorização da prefeitura é de 500, 1000 e 1500 dependendo da reincidência. E em relação à fiscalização sobre a saúde das árvores, é o engenheiro florestal quem dá o laudo se a árvore deve ser cortada e quando deve ser podada, explica o superintendente

 

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Na rua Suzana, Bairro Itararé, não há arvores plantadas em calçadas. Foto: Bruna Germani.

O município de Santa Maria possui, segundo o Secretário do Meio Ambiente, Antônio Carlos de Lemos, em média 50 praças distribuídas. Uma dessas é a Praça João Pedro Manoel Bandeira, popularmente conhecida como Praça dos Bombeiros, revitalizada há dois anos. O secretário afirma que os jardins da cidade são os principais locais de investimento ultimamente, mas que a prefeitura ainda não dispõe de um projeto específico na área ambiental para a população adotar áreas verdes.

Dezenas de ruas da cidade não tem árvores plantadas em canteiros e ao caminhar nas calçadas do bairro Itararé, por exemplo, a falta de árvores é notada, já que a maioria das copas vistas vem dos pátios das casas. Mas também há aqueles que já plantaram em suas calçadas.

Para a moradora Eleane Camilo Germani, que possui árvores na frente da sua casa, são vários os benefícios de ter plantado, como colaborar com a oxigenação, ter sombra e aproveitar as cores da natureza. “Todos deviam ter uma árvore, se não tivesse espaço no quintal, deviam colocar nas calçadas”, assegura Eleane aposentada da Universidade Federal de Santa Maria.

Para o Secretário, a iniciativa das pessoas, nem sempre é positiva. “Os moradores, no intuito de ter algum arbusto, plantam de forma indiscriminada as espécies sem ter ideia das plantas adequadas”, argumenta. Por outro lado, Antônio Carlos solicita a ajuda dos cidadãos para cuidar das praças e os arredores de suas residências.

A aposentada e dona de casa, Ivonete da Silva Haag, também moradora do bairro, diz que ama e odeia a árvore que tem em sua calçada. “Amo por causa da sombra e odeio pelos problemas que me trouxe entre elas o estrago na calçada” afirmou. Ivonete ainda ressaltou que não gosta de varrer as folhas da calçada. Em contraponto disso, o exercício faz bem até para a mente. “Varrer a calçada e limpar o jardim é uma terapia pra mim”, observa Eleane.
Segundo o site do jornal Gazeta do Povo, no panorama nacional, a cidade de Curitiba, capital do Paraná, é a quinta cidade mais arborizada do Brasil. As outras quatro cidades são Goiânia, Campinas, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba, em ordem de arborização.

 

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Na continuação da rua Suzana a situação é a mesma e as árvores que existem são nos pátios das residências. Foto: Bruna Germani.
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Raras são as árvores plantadas pelo Bairro Itararé, como na rua 14 de Abril. Foto: Bruna Germani

 

Por Bruna Germani