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Envelhecer é natural, mas quem cuida do idoso?

Envelhecer é um processo comum a todos. Com o passar dos anos, esse processo vai ficando cada vez mais evidente pelo aumento exponencial de idosos acima de 60 anos vivendo no Brasil. Segundo dados do Instituto

Envelhecer é um processo comum a todos. Com o passar dos anos, esse processo vai ficando cada vez mais evidente pelo aumento exponencial de idosos acima de 60 anos vivendo no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estástiticas (IBGE), o país, visto como uma nação jovem há anos, está se tornando velho. Só entre 2012 e 2017 houve um aumento desta população em 19,4%, o que significa um salto de cerca de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas idosas vivendo no país.

O mesmo IBGE especifica que hoje o número de idosos é o equivalente a uma entre 10 pessoas, e de um a cada dois jovens abaixo dos oito anos de idade. O Instituto também expõe que o número de idosos ultrapassará o de jovens no país até 2039, passando a ser o equivalente a um idoso entre quatro pessoas no país.

O aumento é recorrente. Nos últimos 60 anos, o Brasil passou de um total de 4,3% da população total, para 14%, o que traz um alarme econômico e, principalmente, para a assistência social do país, responsável por fazer o acolhimento e cuidar dessa parte da população.

O impacto do aumento é sentido, principalmente, pelos idosos desamparados pelas famílias, pois mesmo com os albergues, lares e asilos lotados, a demanda por vagas é cada vez maior, o que deixa sem alternativa este setor da população.

Nos albergues, no mesmo período levantado pelo IBGE, de 2012 a 2017, a população aumentou em 33%, correspondendo a um crescimento de 45,8 mil para 60,8 mil pessoas, sem contar com os alojamentos privados, o que passa da casa das 100 mil pessoas.

Pirâmide Etária do Brasil – 2017. Fonte IBGE

Os lares, asilos ou clínicas geriátricas são responsáveis por abrigar idosos, uma vez que as famílias não têm condições de os manterem em casa, seja por limitações de horários, por não terem o interesse em cuidar, ou por vários outros motivos e situações de impedimento. Esses ambientes em que os idosos ficam, por vezes, recebem visitas de seus filhos, sobrinhos entre outros parentes ou responsáveis. Mas não são todos, por esse motivo os cuidadores e voluntários tornam-se as suas familias. Algumas clínicas são consideradas temporárias e, também, uma “creche” onde os idosos passam o período da manhã e tarde, retornando à noite para as suas residências.

Casas para idosos em Santa Maria

Familiares recorrem a clínicas especializadas em cuidar de familiares idosos. Foto: arquivo ACS

Na cidade de Santa Maria, os asilos públicos que abrigam idosos cadastrados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social são três: o Lar das Vovozinhas, que abriga apenas idosas do sexo feminino, o Lar Vila Itagiba, que abriga apenas homens, e o Abrigo Espírita Oscar Pithan que abriga ambos os sexos. Já no setor privado, o número de asilos é bem superior. Cerca de 15 clínicas e asilos geriátricos fazem o atendimento e promovem o alojamento para pessoas idosas na cidade.

Clínicas e casas de geriatria

Lares em Santa Maria. Fonte: Emily Costa

 

Abrigo Lar das Vovozinhas

Fundado pelo Diácono Constantino Cardióli em 16 de outubro de 1946, a Associação Amparo e Providência Lar das Vovózinhas é uma instituição de assistência e acolhimento a idosas da cidade de Santa Maria e região. Atualmente o Lar é considerado o maior do país, e conta com equipe multiprofissional para atender mais de 190 idosas.

Em Santa Maria, a entidade já conta com cerca de sete enfermeiras, dois médicos e 34 técnicos de enfermagem, assim como o pessoal da higienização, da alimentação e da manutenção, totalizando 98 funcionários.

No Lar também há atuação do trabalho voluntário que auxilia na parte geral, na limpeza e na horta, inclusive em eventos da instituição. Saul Fin, responsável pelo Lar das Vovózinhas diz que o trabalho voluntário é sempre bem vindo. “ Nós temos uma vez por mês um evento festivo aqui, da venda do galeto e do risoto, sempre aos domingos. Aí nós temos uma equipe de 20 voluntários que ajudam a assar, a preparar e entregar o galeto. A equipe da casa ajuda, mas não faria sem o auxílio voluntário”, argumenta.

Saul afirma que a instituição recebe as idosas a partir dos 60 anos. Ele relata que há casos de idosas que até tem familiares fora da instituição, porém, preferem ficar ali do que conviver com os familiares em casa, devido ao tratamento de saúde, alimentação, medicamento e higienização que recebem no Lar.

Saul Fin, responsável pelo Lar das Vovozinhas. Foto: Tiago Teixeira

Ele afirma que há vários motivos pelo qual pessoas idosas são internadas no Lar. “As pessoas idosas vêm para cá ser acolhidas porque a família não tem como cuidar, não tem como dar a assistência que elas têm aqui. Enquanto isso, tem avós que vieram através do Ministério Público, pois são pessoas que estavam em situação de vulnerabilidade e foram acolhidas aqui no Lar”, revela Fin.

    O trabalho voluntário é fundamental na instituição, além de ser gratificante, e quem o exerce, também se sente útil. A voluntária Mirian Guarienti desabafa ao dizer que quando chega no Lar, sua perspectiva muda. “Comecei por que queria fazer alguma coisa por alguém. Foi um momento da minha vida em que resolvi ter essa atitude e, então, procurei o Lar. Estou aqui há dois anos e gosto de trabalhar no voluntariado. A gente se sente realizado e feliz por se doar para as idosas”, afirma. A voluntária ainda evidencia a importância da troca de atenção, carinho e afeto.

Nádia Maria Dias de Ávila, bancária na Caixa Federal é voluntária há três anos no Lar. Ela atua junto à equipe do artesanato, usado como terapia e, ainda, na venda de parte das produções no brechó da instituição. Não há um projeto somente para a venda dos artesanatos. Nádia diz que as idosas têm suas particularidades. Algumas fizeram artesanato a vida toda e não querem mais trabalhar com isto, muitas não têm condições de produzir e outras gostam de fazer. “Não se pode propor uma atividade única para todas. Uma faz um tapete, outra faz pinturas em caixas de isopor… enfim, elas recebem uma atenção individual aqui. Às vezes, os óculos não estão bons ou elas têm dores nas mãos”, conta a bancária.

O trabalho com o artesanato é desenvolvido em um espaço preparado para as atividades. Os materiais arrecadados são doados por farmácias, bem como os isopores para serem pintados, além de outros. Nádia ainda relata já ter tido experiências como voluntária, porém com crianças. Para ela cada lugar cria expectativas diferentes, assim como as vovós que a surpreenderam e mostram o contraponto entre a infância e a velhice.

Artesanato produzido pelas idosas. Foto: Tiago Teixeira

Aparecida Pagliari Colvero, mora no Lar há três anos, por conta de uma cirurgia de ponte de safena e sua filha não teve condições de prestar os devidos cuidados em casa. Aparecida necessitava de muita ajuda. Chegou na instituição sem andar e falar, e foi se recuperando aos poucos. Para a idosa, o Lar é a sua segunda casa e sempre recebe a visita de sua filha. “ Eu me sinto bem, é minha casa também”.

Como o Lar das Vovozinhas, várias outras casas, clínicas e instituições são de extrema importância para essas pessoas. Elas necessitam de atenção nessa fase da vida, quando muitas delas ficam em situação de vulnerabilidade e requerem cuidados com a saúde física e mental.

Dessa forma, considerando que pessoas idosas podem ser atingidas por situações de abandono na família. O descaso não se restringe apenas aos abrigos, mas também pela falta de cuidados no contexto familiar.

Os voluntários e funcionários necessitam ter paciência e amor para doar, pois os idosos precisam de muita atenção na reta final das suas vidas. Com a bagagem adquirida ao longo das suas caminhadas, as emoções ficam afloradas pela percepção de que a morte está próxima. Assim, é preciso que ocorram trocas entre os voluntários e funcionários com os idosos, para proporcionar experiências e aprender com seus conselhos e vivências.

Por Emily Costa, Fernando Cezar, Mariana Tabarelli e Tiago Teixeira
Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Humanitário, ministrada pela professora Rosana Zucolo