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Automedicação

Os riscos da automedicação

Rotinas corridas causam exaustão e cansaço mental. Para estudantes, este é um grande empecilho em seu desempenho acadêmico, afinal, como ele irá estudar e produzir os trabalhos com sono, por exemplo? Não vendo outra saída, muitos

Automedicação contamina farmácias de Santa Maria

A automedicação é uma prática muito comum entre os brasileiros. Ao sinal de qualquer sintoma, é comum ir a uma farmácia para resolver dores de cabeça, de garganta, febre ou dor de estômago, muitas vezes com

Automedicação: uma prática comum mas perigosa

Quando surge algum problema de saúde que parece ser fácil de resolver, como dor de cabeça ou resfriado, a maioria das pessoas costuma procurar a solução na caixinha de medicamentos que tem em casa ou ir

Foto: Felipe Cardias Brum/LABFEM

Rotinas corridas causam exaustão e cansaço mental. Para estudantes, este é um grande empecilho em seu desempenho acadêmico, afinal, como ele irá estudar e produzir os trabalhos com sono, por exemplo? Não vendo outra saída, muitos estudantes acabam apelando para estimulantes. Guaraná cerebral, remédios naturais a base de cafeína são algumas das opções mais baratas e fáceis de encontrar em qualquer farmácia. Mas até que ponto estes remédios, naturais ou não, são seguros para o organismo?

  Conforme a professora de Medicina da Universidade Franciscana (UFN) Juliana Oliveira Freitas Silveira, o uso indevido destes estimulantes pode acarretar em riscos de alterações cardiovasculares, desta forma, quem ingere esses medicamentos de maneira excessiva pode tornar-se hipertenso, ter um vaso espasmo, lesões isquêmicas e até doenças cerebrovasculares.

 Para ajudar a manter o foco a professora recomenda manter hábitos de vida saudáveis. Uma boa alimentação, a prática de atividades físicas e horários de sono regulares, inclusive nos finais de semana, fazem a diferença. Ela afirma que dormir bem ajuda na memorização e que “a rotina torna o cérebro mais saudável”.

 Quem já passou por um final de semestre sabe que os hábitos que a professora indicou, por vezes, são deixados de lado devido à grande demanda de trabalhos e provas na mesma época. Foram em períodos assim que a estudante de jornalismo,Tayná Lopes, começou a tomar estimulantes naturais para ter mais energia e ânimo para estudar. A acadêmica toma, há cinco anos, um composto natural de guaraná com açaí que a ajuda nestes períodos.

Tayná Lopes, estudante de jornalismo. Foto: arquivo pessoal

Tayná contou que começou a tomar as cápsulas no ensino médio, pois tinha dificuldades em algumas matérias como matemática, física e química. Os seus colegas tinham mais facilidade em aprender determinados conteúdos, mas Tayná, mesmo estudando, tirava notas muito baixas, e precisa de algum estímulo para estudar o dobro.

Ela notou um certo cansaço mental durante os estudos e precisava fazer alguma coisa para mudar esta situação. Uma farmacêutica indicou as cápsulas para ela e, desde então, melhorou muito o seu rendimento. Mesmo assim, a estudante nunca realizou uma consulta médica para saber mais sobre estes medicamentos.

A estudante afirma que em relação a danos à saúde causados pelo remédio ela não se preocupa, nunca teve medo por eles serem naturais. Conta que nunca tomou mais um comprimido por dia, mas conhece amigos que já fizeram isso e “não aconteceu nada”. E além destes que tomam, Tayná também mencionou que pessoas do seu convívio não acreditam nestes remédios. Alguns compartilharam que o uso não funcionou, mas para ela sempre foi bom.

 Em relação ao tipo de medicação que a estudante utiliza, a professora alerta que mesmo naturais ,eles podem trazer riscos à saúde, pois não se sabe a quantidade que você estará ingerindo de determinado produto, como também não é sabido o modo de preparo, podendo acarretar em uma intoxicação hepática ou renal. A professora explica que alguns destes medicamentos são extraídos de plantas, mas na verdade o que é extraído são componentes da planta, e estes são misturados a outras substâncias que se potencializam.

Um dos cuidados que a estudante tem ao ingerir o medicamento é de não o tomar  com café ou chás, pois tem medo de ficar muito “elétrica”, podendo prejudicar seu sono. O que ela costuma fazer é tomar uma pequena xícara de café quando está cansada e ingerir a cápsula quando precisa se concentrar em alguma atividade.

 Sobre a cafeína, Juliana explica que não é recomendado seu uso durante a noite pois pode interferir na qualidade do sono. E não é só o café, comer chocolate também e realizar atividades físicas próximas do horário de dormir também pode prejudicar o sono. Ela complementa: “tudo que é em excesso pode fazer mal”.

A professora afirma que o cansaço da rotina agitada pode ser revertido com organização e disciplina, nem sempre é necessário o uso de estimulantes, pois estes medicamentos geralmente são prescritos para pessoas hiperativas ou com déficit de atenção. E isto não é feito em apenas uma consulta, é necessário um acompanhamento médico para que seja feita uma escala de testes, inclusive com pessoas da família, pois em alguns casos é necessário estudar onde este problema pode ter começado.

Sobre a importância do acompanhamento médico em qualquer desconforto

Fotos: Felipe Cardias Brum/LABFEM

Todo e qualquer desconforto físico ou mental necessita de um acompanhamento médico para que um profissional possa dar um diagnóstico. A professora Juliana mencionou que é de suma importância um diagnóstico dado por um psiquiatra ou um neurologista para identificar alterações. Desta forma, é possível indicar medicamentos (se necessários) com menos riscos de efeitos cardiovasculares. Além disso, o paciente ás vezes pode precisar de psicoterapia, e isto só é identificado com o acompanhamento psicológico e multidisciplinar.

 Algumas pessoas tem o costume de basear-se pelo diagnóstico alheio e acabam usando analgésicos. A professora alerta que o uso destes medicamentos aumenta os riscos de gerar uma cefaleia, que aumenta a recepção de dor no cérebro e acaba caindo em um ciclo vicioso, provocando crises de enxaqueca. Outra categoria de medicamentos preocupante é o antibiótico que, se mal utilizado, acarreta em resistência do organismo. Atualmente existe um controle maior nas vendas que exigem prescrição médica para a compra.

Juliana Oliveira Freitas Silveira, professora de Medicina da Universidade Franciscana (UFN). Foro: arquivo pessoal

Mesmo com um controle maior sempre tem o famoso “jeitinho brasileiro” e algumas pessoas conseguem remédios emprestados com outras pessoas e usam, muitas vezes, mais de um remédio ao mesmo tempo, sem saber que um medicamento pode anular o efeito do outro e trazer um grande risco de infecções, ou ainda, de mascarar um quadro infeccioso. A disseminação de uma infecção se dá através de um mau tratamento, por isso as consultas são tão importantes.

Além destas ressalvas quanto ao uso de medicamentos e da importância de um acompanhamento médico, Juliana recomenda que haja sempre uma alimentação balanceada com frutas e verduras. Conforme ela, o café da manhã é a refeição mais importante do dia, e esta exige um cardápio variado, e posteriormente, que façamos várias refeições durante o dia, pois poucas refeições podem prejudicar a qualidade do sono mencionada anteriormente. E uma ressalva importante da professora é em relação a importância do lazer, ela afirma que quem consegue conciliar a vida social com atividades curriculares mantém um bom desempenho, seja nos estudos ou no trabalho.

 Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Científico.

Por Larissa Essi

O Brasil é campeão da automedicação. Genéricos ou de marca, com ou sem prescrição, continuam a ser comprados em farmácias reais ou virtuais. Foto: Válery Monteiro

A automedicação é uma prática muito comum entre os brasileiros. Ao sinal de qualquer sintoma, é comum ir a uma farmácia para resolver dores de cabeça, de garganta, febre ou dor de estômago, muitas vezes com um paliativo, já que sem a indicação correta, estamos suscetíveis a errar.

Analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos são os campeões de procura nas farmácias, “alguns clientes ainda perguntam ao farmacêutico, pedem indicação e informação sobre os medicamentos, mas a maioria já vem com o nome certo do que quer, porque já estão acostumados a tomar sempre”, relata Lauzimar, gerente da farmácia central do Calçadão da cidade.

Os funcionários estão acostumados com clientes que chegam à procura de indicações de medicamentos, “quando são essas coisinhas cotidianas que todo mundo tem, como dor de cabeça ou garganta, a gente indica algum medicamento. Na falta de sabermos o que a pessoa tem, a gente recomenda a visita ao médico, aí perguntamos se é reincidente, se a pessoa tem sempre, a gente tem esse cuidado de perguntar e atender bem o cliente. Se realmente não sabemos como ajudar, como proceder, aconselhamos que a pessoa vá ao médico, porque só ele poderá dizer ao certo o que é e como agir, o que tomar, como e quando tomar”, diz Lauzimar.

Muitas vezes, os farmacêuticos e funcionários são pressionados pelos clientes que desejam comprar medicamentos sem a receita médica, “muitos deles batem o pé e engrossam a voz, mas a gente não vende, não tem jeito”.

Com o objetivo de ampliar o controle sobre a comercialização de antibióticos orais e injetáveis, para contribuir com a redução da resistência bacteriana na comunidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), incluiu os antibióticos na Portaria SVS/MS nº. 344/98, que lista as substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial no Brasil.  “Esse fato aumentou a venda de anti-inflamatórios”, diz Luciano, funcionário de outra farmácia.

Ao caminharmos pela farmácia encontramos lembretes aos clientes dos riscos da automedicação. Foto: Válery Monteiro
Mais avisos aos clientes. Foto por Válery Monteiro

Luciano, alerta também, para os clientes que querem que a farmácia seja um hospital, “se é uma dor de estômago, ou má digestão após um final de semana, é tranquilo, mas têm clientes que querem que nós sejamos os médicos. Nós não temos a formação do médico, a gente só sabe um pouco, da vida, de trabalhar aqui na farmácia, e da nossa formação, mas é diferente da do médico, claro, e os clientes não entendem isso”.

O  cliente frequente, que faz uso de medicamentos controlados tem consciência da necessidade do documento, Lauzimar explica que sempre há uma conversa com o cliente que acredita que por fazer um tratamento, não há a obrigação de apresentar receita. “Como a gente tem o SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados”, todos os dias a farmacêutica dá baixa nas receitas, nós não fazemos esse tipo de venda, existem ainda farmácias que fazem isso, mas não é o nosso caso”.

 

Foto por: Válery Monteiro
Foto: Válery Monteiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Válery Monteiro para a disciplina de Jornalismo Online

Foto: Divulgação

Quando surge algum problema de saúde que parece ser fácil de resolver, como dor de cabeça ou resfriado, a maioria das pessoas costuma procurar a solução na caixinha de medicamentos que tem em casa ou ir direto à farmácia.

Uma questão cultural – A automedicação é uma questão cultural, conforme a professora dos Cursos de Farmácia e Biomedicina da Unifra, Eliza Stefanon. “Existem medicamentos de venda livre, como analgésicos e antiinflamatórios e grande parcela da população ainda tem pouco acesso a médicos e tem que enfrentar filas de espera no SUS. A falta de uma política de prevenção de doenças desde a Educação Fundamental nas escolas leva a uma cultura de automedicação, propagandas de medicamentos e ainda o acesso destes como os de venda livre, ações que não dependem dos farmacêuticos, mas do sistema político do país”, explica a especialista.

Um exemplo de quem não hesita em tomar remédio por conta é Maquicili Brauner, 19, estudante de Design de Produto. Na bolsa, ela costuma carregar remédios que classifica como de alívio imediato: Paracetamol, Cinegripe, Aspirina e sempre vai à farmácia quando pretende se livrar de alguma dor. Para ela, esse hábito se deve à facilidade da compra sem receita de alguns remédios. “Depende do medicamento para o farmacêutico pedir receita. Quando são remédios comuns como analgésicos e antitérmicos nunca me pedem”, afirma a estudante Maquicili.

Já Vera Lucia da Silva, 35, funcionária pública, age diferente. Tem pavor de remédio e só toma quando é muito necessário, e com prescrição médica. “Deixo meu corpo reagir a dor, só tomo em último caso, não permito que o meu organismo se acostume a funcionar só quando há a ingestão de remédios,  para que quando eu necessite realmente faça efeito”, conta a funcionária pública.

A publicidade – A maior parte dos medicamentos consumidos pela população é vendida sem receita médica, no entanto, a automedicação é uma prática arriscada, que deve ser evitada. Enquanto parte da indústria farmacêutica incentiva o o uso correto de medicamentos, há um segmento que tende a divulgar aspectos supostamente milagrosos dos mesmos.

O ideal da associação entre Publicidade, Medicina e Farmácia está nos anúncios que aconselham o consumidor a procurar a orientação de dois profissionais, o médico e o farmacêutico. Segundo Eliza Steffanon, propagandas deste tipo são um avanço dos Conselhos de Medicina e de Farmácia no sentido de alertar e evitar a automedicação. Por outro lado, a divulgação de remédios milagrosos, que prometem emagrecer em pouco tempo, por exemplo, sem fazer exercícios físicos e sem cuidados na alimentação, não alertam para os riscos reais e efeitos colaterais,

Como cidadã que também é afetada por estas propagandas, a professora Eliza relata outro aspecto negativo das publicidades sobre medicamentos, muitas das quais, contém erros. “O problema são os panfletos que já peguei em supermercados, e também na rua, com o nome dos medicamentos e suas utilizações, inclusive, muitas vezes com erros graves, induzindo a população à automedicação”, menciona.

Efeitos colaterais da automedicação – O que os consumidores devem saber é que todos os medicamentos apresentam possuem efeitos colaterais e seu uso inadequado pode levar a complicações. “Pode haver desde a uma reação alérgica leve até a um quadro grave de intoxicação, além de mascarar alguns sintomas de uma doença mais grave. Isso atrasa o diagnóstico e comprometendo o tratamento”, explica a farmacêutica e professora Eliza.

Além disso,  destacou que o uso indiscriminado de analgésicos e antiinflamatórios podem causar desde problemas hepáticos e renais graves, entre outros problemas de saúde, às vezes irreversíveis. “Caso os antibióticos não sejam tomados nos horários corretos e se administrados com determinados alimentos, por exemplo, podem diminuir sua eficácia, e também causar insucesso da terapia”, relata Eliza Stefanon.

Debater o tema – Pensando em discutir questões como estas, é que o Curso de Farmácia da Unifra realiza a sua VII Jornada, que inicia nesta segunda-feira, 22 e se estende até o dia 25 de abril. Informações completas e inscrições sobre a VII Jornada de Farmácia aqui.