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A ditadura em Santa Maria, uma conversa pública e necessária

Na última quinta-feira,17, um tema duro da história brasileira foi retomado na forma de Conversa Pública: “A Ditadura em Santa Maria: Testemunhos da repressão e da resistência”. O seminário foi organizado pela APPOA (Associação Psicanalítica de Porto Alegre),

Recomendação Cultural: ‘Fuga do Campo 14’

“Tenho a impressão de que estou me tornando humano”, é o que o protagonista do livro Fuga do campo 14, de Blaine Harden, repete diversas vezes durante a sua dramática história. Shin Dong-huyk, prisioneiro dos campos

Parte do projeto Clínica do Testemunho, a conversa pública sobre a ditadura em Santa Maria lotou o auditório da antiga reitoria. Fotos: Gabriele Bordin/ ACS

Na última quinta-feira,17, um tema duro da história brasileira foi retomado na forma de Conversa Pública: “A Ditadura em Santa Maria: Testemunhos da repressão e da resistência”.

O seminário foi organizado pela APPOA (Associação Psicanalítica de Porto Alegre), através do projeto “Clínicas do Testemunho”, um projeto da Comissão de Anistia/Ministério da Justiça que visa a acolher testemunhos de pessoas afetadas pela ditadura civil-militar no Brasil, discutindo os efeitos psíquicos, sociais e políticos da violência de Estado. Segundo a APPOA, o ciclo de seminários visa ” sensibilizar para algumas questões que compõem o complexo tema dos efeitos do trauma e do silenciamento frente às violações perpetradas pelo Estado durante o período ditatorial”.

O evento ocorreu no Auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas da Antiga Reitoria da UFSM e reuniu um público interessado, entre eles profissionais de diversas áreas,  universitários  e professores da Unifra e da UFSM,  e mesa foi mediada por representantes da APPOA em Santa Maria.  O seminário contou com a presença do professor Diorge Alceno Konrad, doutor em história e membro da Comissão e do Conselho Editorial de “História & Luta de Classes”. Konrad, que é pesquisador e autor do livro “Sequelas de Santa Maria: memórias de apoio e da resistência ao Golpe de 1964” evidenciou o contexto local no período da ditadura, evidenciando o trabalho com as fontes orais e documentais no trabalho de resgate da memória.

Da esquerda para direita, Volnei Dassoler(APPOA) , Dartagnan Luiz Agostini, ( CPERS), Geisa Batista Obetine ( filha de ferroviário), Diorge Alceno Konrad(UFSM)

Os testemunhos ficaram a cargo de Dartagnan Luiz Agostini, professor de história e atual dirigente do Cpers, e Geisa Batista Obetine, filha de Balthasar Melo, líder ferroviário, preso e torturado em Santa Maria, no período da ditadura.
Dartagnan contou episódios do período em que lutou, ao lado de companheiros, pelo fim do regime militar. Compartilhou as lembranças sobre as suas duas prisões, e as agressões físicas e psicológicas decorrentes. Ele, hoje, afirma não ter traumas, mesmo que ainda se lembre dos fatos, e acha a militância importante. “O silêncio é fundamental para a luta das classes oprimidas.”, disse referindo-se à quando, mesmo sob tortura, não revelou nada a respeito de seus colegas de militância. Destacou também que não era toda a força armada brasileira que apoiava a ditadura, e nesse processo, parte dos militares brasileiros foram expurgados do exército. “O povo em 64 foi golpeado, mas nunca foi derrotado.”, disse ele.
Já Geisa Obetine narra que viu  trincheiras em Santa Maria “como nos filmes que assistimos hoje”.  Viu o pai, Balthasar, ser preso numa verdadeira operação de guerra e, depois de torturado, tentar o suicídio duas vezes. Ela também deu relatos sobre como eram severas as revistas feitas na época e as perseguições às famílias de quem era preso. Segundo ela, muitos parentes, mesmo concursados, não puderam assumir aos cargos públicos conquistados por pertencerem à família de um comunista. Conta com tristeza que, ao longo de sua vida, já viu três golpes acontecendo em seu país: em 1954, 1964 e 2017. E com alegria lembrou que conheceu Prestes e João Goulart. Ela diz: “Por pior que seja o governo, ditadura nunca mais.”

“Tenho a impressão de que estou me tornando humano”, é o que o protagonista do livro Fuga do campo 14, de Blaine Harden, repete diversas vezes durante a sua dramática história. Shin Dong-huyk, prisioneiro dos campos militares da Coreia do Norte, conta sua trajetória do cárcere e sua fuga, durante o Estado totalitário.

Gabriel considera que o regime totalitário na Coréia do Norte é desumano (Foto por: Viviane Campos/Laboratório de Fotografia e Memória)
Gabriel considera que o regime totalitário na Coreia do Norte é desumano (Foto: Viviane Campos/Laboratório de Fotografia e Memória)

Aspectos que chamaram atenção de Gabriel Braga, ex-estudante do curso de Design de Moda do Centro Universitário Franciscano, pois o protagonista sofre muito devido ao massacre do Estado. “Conforme o tempo passa ele conhece histórias de novas pessoas que são presas no campo e então começa a saber como o mundo está, já que ele está privado da realidade há muito tempo. As pessoas tem que ler esse livro para verem como a liberdade é indispensável e difícil de ser alcançada hoje, e como esses campos de concentração ainda existem. Liberdade lá na Coréia é praticamente inexistente”, relata o ex-estudante. Há uma certa redenção no livro, porque quando Shin era criança ele condena sua mãe e seu irmão, que são mortos, e até hoje se martiriza por isso, apesar de ter feito isso para não ser assassinado ele tem consciência do quão o Estado pode ser violento para fazer valer suas leis, ressalta Gabriel.

 

Imagem: divulgação
Imagem: Reprodução

Sinopse: Shin Dong-hyuk nasceu e cresceu no Campo 14, um dos imensos complexos destinados aos presos políticos da Coreia do Norte. Seus residentes estão condenados a trabalhar até 15 horas por dia, sofrendo fome e frio, sujeitos a uma rotina de violências sumárias – aos 13 anos, Shin assistiu à execução da mãe e do irmão mais velho por tentarem escapar. De lá, ninguém foge. Existe apenas uma exceção. Determinado a descobrir como é a vida do outro lado da cerca eletrificada, Shin supera todo tipo de dificuldade e consegue deixar a Coreia do Norte. Mas as marcas do passado ainda estão em seu corpo e assombram sua mente, pois durante muitos anos ele guardou um terrível segredo. Em ‘Fuga do Campo 14’, o jornalista Blaine Harden lança luz sobre uma realidade sinistra, que até então permanecia oculta e impenetrável ao olhar do Ocidente. Com sensibilidade, ele acompanha a impressionante jornada de Shin rumo à liberdade.
Preço de capa: 28,90