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Santa Maria, RS, Brazil

espetáculo teatral

Uma vida em cena

Quando entramos em um teatro para assistirmos um espetáculo, deixamos despertar sentimentos muitas vezes escondidos, lembranças vem à tona, pessoas, fragmentos das nossas vidas são resgatados naquela troca com os artistas em cima do palco. Para

Peça Sonhos de William será reapresentada neste domingo

Quem ainda não assistiu, tem nova chance. O espetáculo Sonhos de William participa da programação do Natal no Coração e, neste domingo, 4 de dezembro, a partir das 19 horas  será apresentado na praça Saldanha Marinho. Nos

Os sonhos de Shakespeare tornaram-se realidade

Sem dúvida, William Shakespeare é o maior dramaturgo da história. Passando por adaptações por conta da densidade de seus textos ou servindo de inspiração para o pano de fundo de outras histórias, as tragédias e comédias do

O relato de quando as cortinas se fecham, as alegrias, tristezas e o amor pela profissão de um artista de teatro. Foto: Breno Surreaux Fixman

Quando entramos em um teatro para assistirmos um espetáculo, deixamos despertar sentimentos muitas vezes escondidos, lembranças vem à tona, pessoas, fragmentos das nossas vidas são resgatados naquela troca com os artistas em cima do palco. Para o ator esse momento não é diferente, talvez aquela atuação a qual ele nos está entregando, seja a mais marcante da vida dele. Um trabalho de meses, anos, uma preparação, mental, física, para chegar ali e mexer em algo dentro de nós.

Para Laédio José Martins o teatro é exatamente isso, uma vida. ”O teatro estava em mim desde criança. Sempre insisti em jogos de representação e na escola os professores comentam que eu sempre queria fazer teatro, escrevendo, organizava apresentações em datas comemorativas. da escola. Na adolescência, aos 14 anos, fui convidado para participar de uma montagem de espetáculo na cidade, por uma oficina de teatro. Entrei para substituir uma pessoa que havia desistido. Entre e nunca mais abandonei”, relembra ele.

“Como o teatro é algo que não é tão certo, a gente tem que estar sempre jogando para todos os lados”, declara o artista. Foto: Arquivo pessoal

Martins fez Mestrado em Teatro na Instituição de Ensino Udesc (2008). Anos antes, ao final da década de 90, se formou em Direção e Interpretação Teatral. Em 1999, aos 26 anos, ingressou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para cursar artes cênicas. O que levou Martins a universidade foi a necessidade de possuir um diploma específico, pois já trabalhava na área há alguns anos. “Já não via outra possibilidade para mim. Não queria me sujeitar a um outro tipo de profissão. Já tinha me dado bem com aquilo, era algo que me dava prazer. Eu estava conseguindo sobreviver a partir daquilo. Eu não estava mais conseguindo ter um trabalho formal, pois não podiam mais registrar minha carteira como professor de teatro porque eu não tinha formação”, explicou ele.

“O teatro estava em mim desde criança”

Conheceu sua esposa no curso de Artes Cênicas. Ela se formou no mesmo ano em que ele encerrava suas atividades como professor substituto. Os dois, então, viajaram para a cidade natal de Laédio onde seguiram atuando na área. Após, dez meses, sua esposa foi selecionada para mestrado em Florianópolis. No ano seguinte, Laédio também ingressou no mestrado. Ficaram na capital catarinense até 2012, quando Raquel foi selecionada para ministrar aulas de teatro.

Quando voltou a Santa Maria, reativou  o Coletivo Teatral – Ateliê do Comediante, iniciado em 2005, quando moravam na cidade. A partir da formação desse grupo, que na época era formado por Martins, sua esposa e duas colegas, partiram para o oeste de Santa Catarina fazer oficinas de teatro, em nove municípios. Nesse período, o estado de Santa Catarina havia descentralizado a administração estadual, então cada região tinha uma administração. As coisas começaram a acontecer de forma mais fluída, havia mais verba.

Laédio (ao centro) durante o espetáculo Varieté. Foto: Guilherme Senna

 Em Florianópolis ministrou aulas em um curso profissionalizante e no ensino fundamental (aula de artes) no mesmo período em estudava mestrado. Participou da montagem de duas apresentações na escola de teatro que deu aulas – um como diretor e outro como colaborador.  Nesta época também montaram dois espetáculos com o Ateliê do Comediante: Guarda circo, que pode voltar ainda esse ano ou em 2019.  Pernas pra que te quero, que os trouxeram de volta para o Rio Grande do Sul, entre 2010 e 2011. Neste dois espetáculos, experimentaram as práticas circenses. Ao voltarem para Santa Maria, em 2012, se envolveu na montagem de quatro espetáculos: No país das maravilhas (espetáculo de graduação), À venda (D. Copetti Produções e Cia de Teatro Saca-Rolhas), Mágico de Oz e Branca de Neve (juntamente com a Cia de Teatro Saca-Rolhas).

Laédio também atua na recreação de festas, junto com a Saca-Rolhas e outras companhias de teatro. “Como o teatro é algo que não é tão certo, a gente tem que estar sempre jogando para todos os lados. Eu dou aula, eu dirijo, atuo, faço cenografia, figurino. Participo de todas as etapas de produção”, enfatiza ele. Em 2015, participou da montagem do espetáculo de graduação, Carícias, com cerca de 10 apresentações na cidade. Atualmente, Martins dirige o espetáculo teatral A Venda, que teve início em 2014, e compõe o espetáculo circense Varieté (concepção geral e direção).

A vida do artista de teatro, circense não é fácil, infelizmente o brasileiro não tem a cultura de ir ao teatro, a cultura na maioria das vezes fica em segundo plano e em Santa Maria esse cenário não é diferente. “É sofrido como viver de qualquer outra profissão, com a diferença de que não há um salário fixo mensal, salvo quem trabalha como contratado de uma escola. Quando você tem que correr atrás e produzir seu próprio trabalho fica mais complicado. Mas há mercado na cidade. Porém, em períodos de crise, como a que estamos passando agora, a cultura é a primeira a ser cortada. As pessoas deixam de ir ao cinema, ao teatro. O lazer fica em segundo plano e a gente sente a diferença”, explana ele. Martins comenta que para os ensaios dos espetáculos, conseguem espaços emprestados, não há espaço fixo para ensaios.

“O poder de passar uma mensagem de uma maneira não autoritária, arbitrária, tira as pessoas do lugar comum. Faz refletir.”

O teatro não nos faz apenas rir, chorar ou nos emocionar, também nos faz pensar sobre o mundo em que vivemos e nosso cenário atual. Para Laédio o teatro é político em sua natureza. “Isso é o que me move no teatro, é esse agenciamento político – não a política partidária, mas a política que envolve a gente, nas relações cotidianas. O poder de passar uma mensagem de maneira não autoritária, arbitrária, tira as pessoas do lugar comum, faz refletir”, ressalta ele.

“Quando vemos uma reação positiva do público é um combustível para continuarmos”, afirma Martins. Foto: Rodrigo Ricordi

Quando o espetáculo termina, as cortinas se fecham e as luzes se apagam, a missão do artista está cumprida, tocar nossa alma, transformar as pessoas de alguma forma. Quando o artista remove a maquiagem, ele sabe que também removeu junto as tristezas de quem embarcou no mundo mágico do teatro. “É fantástico. Os números a gente já sabe, como a gente sai nas fotos a gente já sabe. A gente fica tentando buscar a reação do público nas fotos. É gratificante ver, é intraduzível. Nos motiva. Quando vemos uma reação positiva do público é um combustível, para continuarmos”,finaliza.

Por Fabian Lisboa e Paola SaldanhaReportagem produzida na disciplina de Jornalismo Cultural

 

Jader Guterres, Camila Borges e Luciano Gabbi, integrantes do grupo de Saca-Rolhas Teatro & Cia. Crédito: Pedro Freitas/LABFEM

A kombi – a Bergamota – da Saca-Rolhas Teatro & Cia estacionou na praça mais uma vez, na tarde da última segunda, 7 de maio. Desta feita o Kombão de Histórias III estava cheio de histórias literárias. O espetáculo contou a aventura dos personagens viajando pelas regiões do Brasil. Em cada região, novas histórias e novos personagens são descobertos.

A ideia do grupo é continuar viajando pelos cantos do mundo, como nas apresentações anteriores, Kombão I e II mas no Kombão III a Saca-Rolhas quer viajar pelas regiões Brasil. A atriz Camila Borges explica que, além de divertir, querem fazer uma leve crítica social lúdica: ‘’o teatro tem essa função também, de certa forma leve, mas com a intenção de pensar, o teatro vem para comunicar algo, e queremos comunicar todo esse movimento que vem acontecendo no nosso país.’’

No espetáculo, surge um país de fartura e não um país de “faltura”, ou seja um país idealizado. O grupo formado por ela, Jader Guterres e Luciano Gabbi está sempre à procura de temas atualizados, mas de uma forma que interaja com todas as faixas etárias.

Parte do elenco de "Sonhos de William": Marina Colvero, Eduardo Biscayno de Prá, Bebeto Badke e Verônica Colvero. / Foto: Gabriel Oliveira - Laboratório de Fotografia e Memória
Parte do elenco de “Sonhos de William”: Marina Colvero, Eduardo Biscayno de Prá, Bebeto Badke e Verônica Colvero. / Foto: Gabriel Oliveira – Laboratório de Fotografia e Memória

Quem ainda não assistiu, tem nova chance. O espetáculo Sonhos de William participa da programação do Natal no Coração e, neste domingo, 4 de dezembro, a partir das 19 horas  será apresentado na praça Saldanha Marinho. Nos 400 anos da morte de Shakespeare, mais de 1500 pessoas já assistiram a montagem criada por alunos e egressos da Unifra e UFSM, sob direção de Bebeto Badke.

Personagens como Hamlet, o Rei Lear e a Megera Domada já provocaram risadas nos palcos de várias escolas da cidade e do Treze de Maio.

O espetáculo é uma realização do Centro Universitário Franciscano, tem incentivo da LIC-SM e só volta a ser apresentado em 2017.

"Hamlet" em cena durante a apresentação de "Sonhos de William" no Theatro Treze de Maio. / Foto: Roger Haeffner - Laboratório de Fotografia e Memória
“Hamlet” em cena durante a apresentação de “Sonhos de William” no Theatro Treze de Maio. / Foto: Roger Haeffner – Laboratório de Fotografia e Memória

Sem dúvida, William Shakespeare é o maior dramaturgo da história. Passando por adaptações por conta da densidade de seus textos ou servindo de inspiração para o pano de fundo de outras histórias, as tragédias e comédias do escritor inglês tornaram-se atemporais aos olhos atentos daqueles que tem sensibilidade de perceber a arte em tudo, fazendo com que a presença de suas obras em nossas vidas seja notada.

Carlos Alberto Badke, professor do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, que o diga. Após o término das apresentações da peça Pedro, O Viajante, Bebeto Badke sabia que precisava de um novo espetáculo para 2016.

Na mesma época que abriram as inscrições para o Projeto de Extensão da Unifra, Badke ganhou de presente de uma amiga o livro Como Shakespeare Tornou-se Shakespeare. “Comecei a ler, me interessei muito e me dei conta que poderia fazer um espetáculo sobre os processos criativos do Senhor William”, conta o professor. Nascia, então, a primeira fagulha do espetáculo Sonhos de William, que foi apresentado no último sábado, dia 17, no palco do Theatro Treze de Maio para mais de 300 pessoas.

Depois de ter chamado alunos e egressos do Centro Universitário Franciscano para ingressarem no grupo de teatro Todos Ao Palco, começou o processo de preparação dos atores. Badke disponibilizou trechos, livros, peças e filmes baseados em obras de Shakespeare para que todos tivessem ao menos uma noção de sobre o que tratam as peças do dramaturgo inglês. Na sequência, deram início aos trabalhos para escolher quais peças seriam possíveis de trazer para o contexto atual.

Badke, assim como o dramaturgo inglês, acumulou funções. Além de diretor, o professor é responsável por assinar o roteiro final e, claro, interpretar o próprio William Shakespeare. “Ele é o narrador, o fio condutor da história. Ele quem comenta os entreatos de uma peça para outra”, explica o Prof. Bebeto.

Depois que as obras favoritas do grupo foram escolhidas, a criação dos diálogos e a cena aconteceram durante os ensaios. Por vezes, quatro núcleos diferentes ensaiavam ao mesmo tempo cenas diferentes, criando a trama contemporânea a partir dos originais. “Depois, o Bebeto só vinha e fazia ajustes”, conta a atriz Verônica Colvero. Os atores tiveram total liberdade de criação durante o processo. Badke conta que o trabalho foi democrático e aberto. “Alguns chegaram com algumas ideias e acabaram migrando para outra cena e, assim, os atores foram se sentindo à vontade para experimentar”.

A subversão dos sonhos

Na época em que Shakespeare se apresentava com sua companhia teatral, a Rainha Elizabeth I estava no poder. Com a maioria dos protagonistas masculinos, as mulheres eram excluídas do teatro – e também da sociedade como um todo -, e era normal que homens se travestissem de mulher para interpretar papéis femininos. Por escolha, o grupo trabalhou e adaptou obras trágicas em que os protagonistas, além de serem homens, também dão nome a elas como Hamlet e Rei Lear e a única obra com protagonista feminina que trabalharam foi A Megera Domada. Nada disso foi por acaso.

Em Sonhos de William, as seis mulheres que tomam o palco retratadas são poderosíssimas, todas a seu modo, e bem diferente dos textos originais. Os versos e a tragédia mais pesada não estão presentes na peça, mas o peso dos assuntos contemporâneos que o grupo coloca em pauta se faz presente. Tratar de temas como empoderamento feminino, relações homoafetivas e algo próximo de alienação parental requer não é fácil, mas a peça faz parecer que sim.

Ao todo, são dez atores no palco em quatro atos diferentes, mais o William Shakespeare de Bebeto que aparece para comentar os entreatos. “É uma ousadia hoje em dia, ninguém mais faz espetáculo com dez pessoas”, comenta Badke. Nenhum espetáculo será igual ao outro, uma vez que o roteiro só é seguido para que os atores saibam o que será dito e quando, mantendo a fluidez e naturalidade de uma conversa formal. Isso só se tornou possível com a preparação da equipe, que foi realizada por Marina Colvero, que também está na peça e é formada em Artes Cênicas. Foram meses trabalhando com os atores jogos teatrais, expressão corporal e preparação vocal durante os ensaios, o que deu um ótimo ritmo para o espetáculo e também para a vida dos atores.

Bem aos moldes de William Shakespeare, que mostrava o lado cômico das falhas humanas, o grupo Todos Ao Palco, guiado por Bebeto Badke, provoca muito além do riso solto do qual o mundo parece carecer tanto hoje em dia.

Pedindo bis

O Centro Universitário Franciscano receberá a peça no dia 06 de outubro (quinta-feira), às 19h no Salão de Atos do Prédio 13 (Conjunto III, localizado na Rua Silva Jardim, nº 1175).  Assim como Pedro, O Viajante, o espetáculo Sonhos de William será apresentado gratuitamente em escolas locais. As datas ainda estão sendo definidas.

Sonhos de William é um espetáculo teatral, produto do Projeto de Extensão do Centro Universitário Franciscano, com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria (LIC-SM).
Apoio Cultural: Secretaria de Município da Cultura, Centro Universitário Franciscano e Chili Produções Culturais.

ELENCO:
Alex Bittencourt
Carla Rosa
Eduardo Biscayno
Elton Maia
Eveline Grunspan
Iuri Patias
Jaqueline Menezes
Marina Colvero
Renata Teixeira
Verônica Colvero
Bebeto Badke como William Shakespeare

FICHA TÉCNICA:
Adereços e figurino

Luciano Santos

Cabelo e penteados
Moisés Rosa

Maquiagem
Dudu Santos

Iluminação
Régis D’Ávila

Fotografia e Identidade Visual
Heih Coletto

Preparação corporal e vocal
Marina Dutra Colvero

Administração
Chili Produções Culturais

Roteiro
Grupo Todos Ao Palco

Produção, roteiro final e direção
Bebeto Badke
Agradecimentos
Claudia Souto, Daiane Spiazzi, Natalia Librelotto, Nikelen Witter e Solange Fagan

 

Colaborou com esta matéria a acadêmica do curso de jornalismo Júlia Fleck.