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Obrigação feita, agora é pensar em 2023

Depois de mais uma rodada perfeita para o Grêmio na Série B, onde todos os resultados que o tricolor precisava para depender só de si foram favoráveis, veio o alívio. Com a vitória por 3 a

Inclusão de atletas LGBT no esporte

Cada vez mais, vemos pessoas LGBTQIA+ ocupando espaços e ganhando as devidas visibilidades. O esporte é considerado como um meio de inclusão e um intermédio para as lutas contra os diversos preconceitos presenciados na sociedade. Porém,

A realidade do Esporte Clube 14 de Julho

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Levamos outro gol?

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Depois de mais uma rodada perfeita para o Grêmio na Série B, onde todos os resultados que o tricolor precisava para depender só de si foram favoráveis, veio o alívio. Com a vitória por 3 a 0 contra o já rebaixado e último colocado Náutico, o acesso foi garantido e o Grêmio volta para o lugar onde os gigantes devem ficar, a Série A do Campeonato Brasileiro.

SOBRE O JOGO

Apesar do alívio no apito final, o início não parecia tranquilo. O Grêmio começou nervoso, errando passes fáceis, por conta disso praticamente não passava do meio campo. Já o Náutico, sem obrigação nenhuma e apenas cumprindo tabela, ensaiava uma pressão que parava nas próprias limitações do time.

Ainda no primeiro tempo, Bitello, um dos destaques do tricolor na temporada, abriu o placar no rebote do goleiro, deixando a torcida tranquila. O segundo tempo começou com Geuvânio, atacante do Timbu expulso, após forte entrada em Kannemann, o que deixou o time ainda mais vulnerável. Repetindo a história de 2005, o único remanescente da Batalha dos Aflitos, Lucas Leiva fez o segundo. Bitello em mais um rebote fez o terceiro para completar o marcador e colocar o Grêmio na elite novamente.

AGORA É TUDO 2023

Logo após o apito do árbitro, o pensamento já era no próximo ano. As entrevistas do técnico Renato Portaluppi e do atacante Diego Souza foram grandes exemplos disso. O comandante do tricolor fez fortes críticas direcionadas à direção do clube, afirmando que amadores não poderiam trabalhar mais no Grêmio. Já o atacante, ressaltou: “Com todo respeito ao elenco, mas precisamos se reforçar muito para 2023”.

A consciência de que foi um ano fraco existe, isso é fundamental. Uma temporada de sofrimento para o torcedor, que não conseguiu ver jogos tranquilos, já que era difícil confiar em uma boa performance do time. Com Roger foi assim, com Renato também, o Grêmio vencia, mas não convencia. Os jogadores e a direção devem muito à torcida, que mesmo com o desempenho medíocre não deixou de apoiar e acompanhar, colocando mais de 40 mil pessoas em cinco jogos na Arena.

Torcida tricolor presente no Estádio dos Aflitos.

Os reforços precisam chegar e não podem ser poucos, pelo menos dez jogadores devem ser contratados para a temporada que vem. Laterais, zagueiros, meias e atacantes, praticamente todas as posições necessitam ser contempladas para 2023. Agora é essa a obrigação.    

Imagens: reprodução Twitter

Lucas Acosta é acadêmico do 6º semestre do curso de Jornalismo da UFN, apresenta o Titular da Rede, Camisa 10 e A Copa & Eu na RádioWeb UFN e escreve, a partir de hoje, periodicamente uma coluna sobre esporte na Central Sul Agência de Notícias

Foto: Divulgação CUFA Frederico Westphalen/RS

O edital “Segue o Jogo” é uma parceria do Governo Estadual, por meio da Secretaria do Esporte e Lazer, em colaboração com a Central Única das Favelas (Cufa-RS), que tem como objetivo mapear e selecionar projetos sociais esportivos voluntários e investir nas iniciativas. Os projetos devem estar dentro de áreas urbanas dos 23 municípios participantes do programa RS Seguro, Santa Maria é um dos municípios contemplados. As inscrições seguem abertas até dia 6 de outubro. 

O “Segue o Jogo” disponibiliza um investimento de R$ 3,6 milhões para a iniciativa. Os projetos serão selecionados para receber kits de materiais esportivos, para isso é necessário que esses projetos tenham 4 anos ou mais de atuação comprovada. Os critérios de seleção e destinação dos valores são: agente esportivo individual, poderá receber até R$ 2 mil em materiais; coletivos informais, poderão receber até R$ 5 mil em materiais; e coletivos formais com CNPJ, poderão receber até R$ 10 mil em materiais. O edital assegura que haverá a divisão proporcional dos recursos entre os 23 municípios. 

As cidades contempladas além de Santa Maria são: Alvorada/RS, Bento Gonçalves/RS, Cachoeirinha/RS, Canoas/RS, Capão da Canoa/RS, Caxias do Sul/RS, Cruz Alta/RS, Esteio/RS, Farroupilha/RS, Gravataí/RS, Guaíba/RS, Ijuí/RS, Lajeado/RS, Novo Hamburgo/RS, Passo Fundo/RS, Pelotas/RS, Porto Alegre/RS, Rio Grande/RS, São Leopoldo/RS, Sapucaia do Sul/RS, Tramandaí/RS e Viamão/RS. 

Na cerimônia de lançamento do projeto, no Palácio Piratini, a Secretária Estadual do Esporte e Lazer Letícia Boll Vargas destacou em sua fala a transformação motivada pelo esporte. “ Através dessa transformação promovemos mais educação, saúde e a integração. Nós vemos jovens indo tão longe e podendo transformar suas realidades. Através do projeto vamos chegar em diversas comunidades e que a gente consiga realizar muitas ações transformadoras”, pronunciou a secretária.   

O edital visa potencializar e dar continuidade às ações esportivas já realizadas e reconhecidas nas comunidades, reconhecendo a importância do esporte e do voluntariado para o desenvolvimento social. Serão contempladas atividades das diversas modalidades esportivas. Salienta-se que os projetos selecionados não receberão o dinheiro em espécie, apenas em kits com materiais esportivos. Acesse o documento do edital para mais informações.

Você tem um projeto esportivo? Veja abaixo como realizar a inscrição

Interessados em participar do edital podem realizar a inscrição por diversos meios:

– No Site do Segue o Jogo ou por este link

– Por e-mail, para o endereço editalsegueojogo@gmail.com

– Por WhatsApp, pelo número (55) 9 9941-0660; 

– Via Google Formulários, por meio do link https://forms.gle/amYivM559V6C9fwr5

– Via Facebook – Perfil Edital Segue o Jogo

– Via Instagram – @editalsegueojogo;

–  Com um Agente Local, o representante da organização responsável pelo edital haverá um formulário impresso para preenchimento;

– Presencialmente na sede da Secretaria Municipal de Esporte, que fica localizada na Rua Silva Jardim, número 1.660.

Para tirar dúvidas sobre o edital os interessados podem entrar em contato pelo número 0800 743 1111, todas as ligações para o número são gratuitas. A Prefeitura de Santa Maria também disponibiliza atendimento para tirar dúvidas, pelo número (55) 3921-7140, pelo WhatsApp (55) 9620-9130 ou presencialmente na sede da secretaria.

Imagem de Gerd Altmann /Pixabay

Com o passar dos anos, os cuidados à saúde têm se tornado cada vez mais importantes no âmbito esportivo. A prática e o treino passaram a ganhar mais atenção por parte de profissionais da área médica, assim como avaliadores de desempenho, que, por meio de suas funções, buscam evitar sérias complicações físicas à atleta em diferentes modalidades. 

Definido pela literatura médica como causa repentina, o mal súbito é uma parada cardíaca que pode ocorrer por causas cardiológicas (obstrução das artérias do coração; doenças ou distúrbios elétricos no músculo cardíaco) ou neurológicas (crise convulsiva; AVC hemorrágico ou isquêmico), bem como o uso de drogas e doenças metabólicas. Recentemente, ao contrário de outras doenças cardiovasculares, o mal súbito tornou-se recorrente na vida de atletas considerados saudáveis. Ocorrências no futebol, basquete, surf e triatletismo chamam atenção pelo número de casos e avaliações acerca dos motivos que levaram as vítimas ao infarto.

Segundo o cardiologista do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), Agnaldo Piscopo relata que o problema é acarretado por propensão hereditária, condições cardíacas (arritmia e hipertrofia de coração) ou até mesmo o overtraining, considerado o excesso da prática de exercícios, além dos limites do corpo. “Quando a pessoa faz atividade física de alta performance, é possível que ela apresente variáveis como inflamação, alterações eletrolíticas e miocardite causada por infecções. Essas condições não são detectáveis em exames clínicos comuns nem dão sintomas” , destacou o especialista em uma entrevista cedida ao grupo Veja.

“É um quadro típico de alguém que tem uma interrupção do fluxo sanguíneo ao cérebro. Na maioria das vezes, isso é provocado pelo próprio coração“, comenta Piscopo. De acordo com um estudo realizado em 2017, pela Annals of Internal Medicine, com mais de nove milhões de participantes de triatlo em três décadas (1985 a 2016), exibiu que 135 pessoas morreram repentinamente ou tiveram uma parada cardíaca, sendo 107 delas mortes súbitas. Deste total, 90 mortes e paradas cardíacas foram durante a natação, o que representa mais de 66% das mortes ocorreram na água.

No futebol, o quadro apareceu repentinas vezes. Dentre algumas, vale citar um dos mais marcantes casos de tragédias nos gramados, quando Camarões e Colômbia se enfrentaram em 2013, pelas semifinais da Copa das Confederações. Partida em que o volante camaronês Marc-Vivien Foé, de 28 anos, sofreu um mal súbito, identificado por um problema no coração que avolumava os riscos de ataque cardíaco durante a prática da atividade. Outra ocorrência foi Serginho, zagueiro de 30 anos do São Caetano, que teve um desmaio em campo durante um jogo com o São Paulo, no Morumbi, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2004. O jogador foi levado ao hospital, mas morreu horas depois. Ele sofria de uma cardiomiopatia hipertrófica, mas seguiu atuando mesmo sabendo dos riscos.

Ainda nas quatro linhas, a EuroCopa deste ano causou uma preocupação logo de início. No jogo de estreia, entre Dinamarca e Finlândia, o atacante dinamarquês Christian Eriksen, de 29 anos, caiu desacordado no gramado e precisou de atendimento médico instantâneo que durou quase 15 minutos. O atleta recebeu massagem cardíaca e foi retirado com o uso de balão de oxigênio. Segundo o médico da seleção Morten Boesen, Eriksen sofreu um mal súbito e foi ressuscitado em campo com o uso de um desfibrilador. Ele passou por cirurgia e se recupera em casa.

Além destes casos, diversos outros já foram registrados em demais esportes como basquete, natação e surf. Saiba mais no áudio produzido por Gianmarco de Vargas e Pablo Milani.

 

Gustavo Oliveira, educador físico – Foto: Arquivo Pessoal

Para minimizar o risco de um mal súbito, o profissional de educação física Gustavo Oliveira classifica como indispensável a presença de um membro de sua área na equipe. “O conhecimento técnico, evidenciando-se aqui, método de treinamento, fisiologia do exercício e biomecânica são fundamentais na prevenção de doenças e lesões”, esclarece. Ele salienta que, sempre antes de iniciar um treinamento físico ou a prática de um esporte, deve ser feita avaliação médica e física, para que sejam identificadas as possibilidades e as limitações do atleta.

Desta forma, é possível ofertar orientações voltadas à preparação e evitar lesões ou problemas fisiológicos. Caso um atleta passe mal durante o exercício, Oliveira detalha o procedimento a ser adotado. “Primeiramente deve-se ligar para o atendimento de emergência local. Em caso de fraturas ou contusões, o local da lesão deve ser preservado, evitando-se ao máximo manipulação local. Em paradas cardiorrespiratórias, é necessário desobstruir vias aéreas com a manobra tríplice e realizar ressuscitação cardiopulmonar (RCP) até a reanimação ou chegada da emergência”, explica.

Sheila Leal, Fisioterapia – Foto: Arquivo Pessoal

Assim como na educação física, a fisioterapia também compartilha de importante função preventiva. É o que destaca a fisioterapeuta Sheila Leal, pós-graduada em traumato e ortopedia, dermato funcional e instrutora de pilates, ao explicar que para se evitar contratempos, deve-se “trabalhar na prevenção de lesões visando o condicionamento, força muscular, propriocepção”. No flagrante de um caso de mau súbito, ela acrescenta sobre a importância da presença de um fisioterapeuta, pois trata-se de um especialista em biomecânica, principalmente na imobilização das articulações ao remover o indivíduo, a fim de prevenir uma futura complicação. 

Já no que tange a reabilitação desportiva do atleta, Sheila entende que “o mais importante é estar atualizado com as técnicas mais eficazes para cada tipo de lesão, pois vão surgindo diferentes abordagens compradas em estudos científicos, Uma das necessidade é manter-se informado nas partes preventiva e de tratamento”. Além da fisioterapia e da educação física, a enfermagem destaca-se pelo seu alto grau de compromisso com a saúde. Considerado o profissional conhecedor do serviço de atendimento pré hospitalar, a presença de enfermeiros vem sendo cada vez mais valorizada em grandes eventos esportivos. Jogos Olímpicos, Copa do Mundo, entre outras modalidades festivas, tem investido ano a ano em recursos e equipamentos direcionados à assistência prestada por equipes médicas. A enfermeira santamariense Tamires Pugin, avalia como positiva e agregadora a inserção destes enfermeiros junto ao esporte, principalmente por ainda ser uma área pouco explorada na profissão.

Outro ponto destacado por ela, é a relevância do conhecimento compartilhado, sobre como saber agir em uma situação de mal súbito, na ausência de um enfermeiro. Na área esportiva, até hoje, existem categorias de campeonatos que não agregam a ala médica na realização de jogos, o que tende a comprometer a saúde de um desportista, em casos de contratempos físicos. “Deveríamos ser treinados desde a escola para atendimento de primeiros socorros, pois nunca se sabe em que situações podemos precisar”, frisou Tamires. De acordo com a enfermeira, outra recomendação é jamais mexer na pessoa que sofre uma queda: “Existem protocolos de movimentação específica visando provocar o menor dano possível na vítima. Deixar que o pessoal treinado e habilitado faça a remoção de forma segura”.

Diante dessas situações, fica evidente a importância da atuação eficiente e ágil de enfermeiros e pessoas conhecedoras da reabilitação física do corpo humano. Como citado no material, os casos de mal súbito não são exceções, ainda mais pelo alto grau de ocorrências entre atletas. Para auxiliar na compreensão de como funciona o procedimento de reanimação,  a acadêmica em Terapia Ocupacional, Thais Pagnossin, que possui qualificação em primeiros socorros, explica como fazer uma massagem cardíaca corretamente.

https://www.youtube.com/watch?v=y7XWl1HZv4A

Texto: Gianmarco de Vargas e Pablo Milani

Reportagem produzida no primeiro semestre de 2021 sob supervisão da professora Glaíse Palma, na disciplina de Jornalismo Esportivo.

 

Bandeira gay dentro do estádio. Imagem: GettyImages

Cada vez mais, vemos pessoas LGBTQIA+ ocupando espaços e ganhando as devidas visibilidades. O esporte é considerado como um meio de inclusão e um intermédio para as lutas contra os diversos preconceitos presenciados na sociedade. Porém, é ainda considerado um tabu associar a prática esportiva com atletas não héteros. 

A decisão em assumir seu gênero e/ou orientação sexual sempre gerou muito preconceito e o afrontamento a essas escolhas, embora evoluções lentas sejam vistas com o passar dos anos. O dia 17 de maio de 1990 marcou o mundo quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. 

A data geralmente é marcada por manifestações que fortalecem as lutas travadas no cotidiano, assim como o mês de Junho, considerado como o Mês da história LBGT. O mês tem como intuito conscientizar e reforçar a importância do respeito e da promoção de equidade social e profissional de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, etc.

Torcida manifestando o espaço lgbt no esporte. Imagem: Makchwell Coimbra Narcizo, Pragmatismo Político

Atos que perduraram por anos na sociedade, como a Homofobia e Transfobia foram considerados crimes somente em janeiro de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal aprovou que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais devem ser enquadrados no crime de racismo.

O Grupo Gay da Bahia (GGB) coletou e divulgou, em 2019, um relatório anual com números de mortes violentas de pessoas da comunidade LBGT, no país. A cada 26h, um LGBT perde a sua vida, seja por homicídio ou suicídio. No mesmo ano, foram 329 mortes violentas, todas vítimas da homotransfobia, 90,3% dos casos correspondem a assassinatos, enquanto 9,7% dizem respeito a suicídio. Esses dados fazem com que o Brasil seja considerado um país violento, no topo dos países que cometem crimes contra as minorias sexuais. 

No esporte, injúria racial tem sido punida com base no art. 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que trata de atos discriminatórios. A equiparação pelo STF, abre espaço para a Justiça Desportiva também punir, mesmo sem uma mudança no CBJD. Afinal, o direito é um só. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) também se posicionou contra o preconceito no seu novo Código Disciplinar, determinando punições a manifestações preconceituosas, como injúria racial e homofobia. 

Embora seja um processo educativo, a verdade é que não há punição de crimes como homofobia, racismo ou outras manifestações preconceituosas que alimentam comportamentos que não podem ser mais tolerados, tanto na vida como também no esporte. Além de caminhos jurídicos, a postura dos protagonistas no jogo tem um papel importante. 

Olimpíadas de Tóquio 2020

Estão acontecendo nesse momento as Olimpíadas de Tóquio 2020, que foram adiadas e transferidas para Julho de 2021 em virtude da pandemia. O evento esportivo é um dos maiores e mais grandiosos, caracterizado por reunir atletas de variados esportes do mundo inteiro em prol de um único propósito, a conquista pela medalha no seu esporte.

Esta edição vem sendo muito importante pois está sendo um palco e tanto para atletas LGBTQIA+ se posicionarem. A primeira manifestação de protesto durante o evento esportivo foi feita pela atleta Raven Saunders, que competiu na modalidade de arremesso de peso feminino, conhecida como a Mulher Hulk. A atleta é uma entre os cerca de 180 atletas LGBTQIA+ que participam dos jogos olímpicos de 2020. 

Após ganhar a medalha de prata na modalidade de arremesso de peso, Saunders subiu ao pódio fazendo um gesto de protesto. Assim que recebeu a medalha ela levanta os braços acima da cabeça formando um “X”, como forma de manifestação a favor de todos aqueles que são oprimidos e sofrem preconceitos dentro e fora do esporte.

Raven Saunders. Imagem: Folha de São Paulo

O Comitê Olímpico Internacional (COI) proíbe todo tipo de protesto durante as premiações dos jogos olímpicos e se pronunciou após o ato de Raven. O comitê relata que irá analisar o gesto e tomar as devidas providências. Antes da Olimpíada de Tóquio, o COI havia flexibilizado as regras a respeito de protestos, liberando que atletas pudessem expressar suas opiniões durante as coletivas de imprensa.

As Olimpíadas de Tóquio 2020 se caracterizam por ser a edição dos jogos com o maior número de atletas da comunidade LGBTQIA+.  Entre os classificados está Laurel Hubbard, a primeira mulher trans a participar da competição desde sua primeira edição em 1896. Um outro fator interessante de citar é que o país sede dos jogos deste ano, é conhecido por ser um país extremamente conservador e o único, dentre as sete nações mais ricas do mundo, que não legalizou o casamento homoafetivo. 

O espaço que uma mulher trans ocupa, sendo a primeira e única a participar de uma Olimpíada, torna evidente o quanto mudanças ainda são necessárias dentro do meio esportivo, e que uma revisão no regulamento do evento precisa ser feita. 

Douglas Souza. Imagem: Divulgação/FIVB

O Brasil nas Olimpíadas está ganhando com o carisma do jogador da Seleção Brasileira de Vôlei, Douglas Souza, de 25 anos, um atleta que não esconde ser gay e muito menos deixa com que isso atrapalhe seu desempenho no esporte. Ele vem fazendo sucesso nas redes sociais ao compartilhar vídeos dos preparativos e da rotina em Tóquio. O atleta já possui mais de 500 mil seguidores em seu perfil no Instagram, além de chegar ao topo dos assuntos do momento do Twitter, após a repercussão de seus vídeos.

 

Esporte entre a população LGBTQIA+

Por conta do preconceito enraizado e da pouca oportunidade para com a inclusão do público LGBTQIA+ no âmbito esportivo, houve iniciativas que incentivam a prática para essa comunidade.

Pensando em promover a prática esportiva em grupo entre essa população, ao redor do mundo vários atletas se uniram para formar coletivos que praticam corrida, futebol, handebol, rugby, vôlei, treinos funcionais e etc. Esses eventos auxiliam na representatividade no meio esportivo, acolhendo homens e mulheres, de todas as idades e tipos físicos, com ou sem habilidades esportivas. A única exigência, normalmente, é não ser heterosexual. 

Conheça alguns desses projetos:

  • Bharbixas Esporte Clube: equipe poliesportiva LGBTI+ em Belo Horizonte, conheça acessando o Instagram.
  •  Meninos Bons de Bola: primeiro time de futsal amador composto por homens transexuais no BR, conheça acessando o Instagram.
  • Rangers Volley BR: time de vôlei da diversidade, voltado ao grupo LGBTQIA+, conheça acessando o Instagram.
  • Magia Sport Club: Primeiro clube esportivo LGBT do RS, conheça acessando o Instagram 
  • BeesCats Soccer Boys: 1ª equipe LGBTQIA+ de futebol do RJ, conheça acessando o Instagram.
  • Fair Play Sport Club: grupo multiesportivo e cultural voltado à comunidade LGBTQIA+ em prol da inclusão esportiva, do combate ao preconceito e à homofobia, conheça acessando o Instagram.
  • S.C GAIVOTAS: time de FUT7, conheça acessando o Instagram

Slogan do Magia Sport Club

Mais próximo da nossa realidade está o Magia Sport Clube, o primeiro clube LGBTQIA+ do Rio Grande do Sul, localizado em Porto Alegre, que oportuniza a prática em esportes como futebol, jiu jitsu, vôlei e handebol.  Em processo de formalização como associação esportiva sem fins lucrativos, caracteriza-se como clube inclusivo, atuando nas áreas esportivas e educacional, utilizando o esporte como meio de inclusão. 

A Professora de Educação Física, Ivvy Souza, compõe a equipe do Magia Sport Clube na modalidade de Futsal. Ela ressalta que o futebol em si, assim como o futsal, é um ambiente quase que estritamente masculino, então sua infância foi basicamente rodeada por meninos pois, quase nunca, nem em seu time, teve contato com meninas na prática do esporte. 

Oportunidades e desafios (áudio Ivvy)

Time feminino do Magia Sport Clube em partida. Imagem: acervo do clube

Ivvy traz como exemplo a representatividade que ainda é ausente principalmente no futebol. Ela ressalta que assim que questionada não consegue lembrar de cabeça um jogador sequer que “seja assumido” e que jogue futebol. Em contrapartida, várias jogadoras de futebol nunca esconderam ou se quer deixaram isso as atrapalharem. 

O exemplo da educadora física é muito relevante tendo em vista que, talvez, essa falta de segurança entre os atletas seja pelo próprio espaço que ainda é tão raso em relação ao assunto. Além do futebol já ser considerado um esporte masculino e possuir uma cultura machista.

O estudante de Jornalismo e também atleta do Magia Sport Club na modalidade do Futebol 7, Jônata Machado, contribui dizendo que essa representatividade significa evolução, porém ainda falta muito mais para chegar ao objetivo final, que é a inclusão e a diversidade.

Equipe do Jiu Jitsu do Magia Sport Club. Imagem: Acervo do clube

“Pessoas tomarem a iniciativa, não terem medo, embora haja muito medo por causa da violência, assim como quando tu vai revelar sua orientação sexual, é muito complicado. Tu tem medo do preconceito, do que irão pensar, de como a sociedade irá agir, sempre vigiando as suas atitudes e seus modos de agir. Então, significa que temos uma luz no fim do túnel, claro que falta muito a ser feito, porém é muito bom que esteja acontecendo e espero que daqui a pouco no futebol brasileiro, que é muito difícil, mas que se quebre esses tabus e que a gente consiga viver numa boa, sem precisar se preocupar com a orientação sexial do outro. Por que ficar se escondendo por medo é a pior coisa que tem!”, afirma o atleta.

Ambos os atletas consideram o Magia como uma família, onde a inclusão e espaço no ambiente esportivo é disponibilizado de maneira simples, sem mistério ou qualquer medo. 

Sobre o Magia (áudio Jônato)

O Magia Sport Club é o clube mais antigo do sul do país, com 16 anos de existência, pioneiro na Ligay BR e anfitrião da primeira edição da Copa Gaúcha LGBTQIA+.

Copa Gaúcha LGBTQIA+

A Copa Gaúcha foi idealizada para reunir os times do estado e, após o longo tempo de pandemia pelo qual vivemos, com calma e responsabilidade, está sendo organizado o evento de acordo com os protocolos, para as equipes voltarem a disputar torneios.

Atletas do futebol do Magia Sport Clube. Imagem: Acervo do clube

Além do Magia Sport Club, o Real Flamingos S.C. de Pelotas também está à frente deste evento, auxiliando na organização com intuito de promover mais diversidade e espaço a todos os atletas da comunidade. 

Para saber mais e acompanhar as novidades, siga o Instagram da Copa Gaúcha LGBTQIA+.

Pavilhão do Estádio João Martins. Foto: Lucas Acosta.

“O sentimento de ser jogador é maravilhoso. Desde criança sempre foi meu sonho.  Começou a ser realizado quando tinha 16 anos, fui jogar no Defensor de Montevideo, Inter-Santa Maria, Caxias, Avaí-SC, e depois para o 14 de Julho. Foi uma honra ter vestido esse manto, um dos clubes mais antigos do Brasil. A experiência foi maravilhosa por jogar na minha cidade”. esse é o sentimento de Gustavo Benitez, ex-jogador do Esporte Clube 14 de Julho, de Santana do Livramento. Um clube com uma história riquíssima e feitos históricos.

O começo

A história do clube começa em 1902 com garotos que jogavam um esporte ainda pouco conhecido pelas pessoas, em um espaço onde hoje se encontra o Parque Internacional, praça que divide as cidades de Santana do Livramento e Rivera, no Uruguai.

Parque Internacional atualmente.

Com a adoção das cores vermelho e preto, o clube do interior do Rio Grande do Sul, se tornou o primeiro rubro-negro do Brasil, com o passar dos anos outros grandes clubes adotaram essas mesmas cores, como Brasil de Pelotas e Flamengo. Além desse feito, o Esporte Clube 14 de Julho é o terceiro clube mais antigo do país, com fundação em 14 de julho de 1902, fica somente atrás do Sport Club Rio Grande, também do RS, fundado em 19 de julho de 1900 e a Associação Atlética Ponte Preta, de Campinas, São Paulo, fundada em 11 de agosto de 1900.

Evolução dos Uniformes ao longo dos anos:

 

O começo da caminhada do 14 de Julho é cheio de feitos históricos, que são lembrados até hoje. Em 1906, o clube aproveita a proximidade da cidade uruguaia e realiza um jogo contra o Rivera F.C, vence pelo placar de 2×1 e conquista a primeira vitória internacional de um clube brasileiro. Já em 1909, foi o primeiro clube a conquistar um campeonato internacional, a Copa La France, no Uruguai, competição que ajudou a fundar.

Os primeiros anos de história do clube foram vitoriosos, mas não só de vitórias se vive um time,  também de reconhecimento. Cipriano Nunes Silveira, o Castelhano, jogador do clube de 1907 a 1929, com exceção apenas do ano de 1920, quando atuou pelo poderoso Santos, se tornou o primeiro jogador do estado do Rio Grande do Sul a ser convocado para a seleção brasileira. Além disso, o clube é um dos fundadores da Federação Rio-Grandense de Desportos, hoje conhecida como Federação Gaúcha de Futebol (FGF).

Escudo do clube.

O apelido Leão da Fronteira surge com carinho e representação a garra com que os jogadores atuavam, pela localização e pelo grande número de uruguaios no time. O Leão sempre esteve presente no escudo do clube.

Esse começo de trajetória do clube foi muito importante, visto que, contribuiu para a evolução do esporte na cidade, no país ao lado e no estado.

O passado recente

A história recente do time santanense não é tão vitoriosa como antigamente, o clube que passou por inúmeras dificuldades ao longo das últimas décadas, hoje não possui time de futebol. Entre 1998 e 2004, o primeiro rubro-negro do Brasil também ficou com o departamento de futebol fechado, mesma situação que ocorreu no final de 2013, quando a então diretoria encerrou suas atividades de futebol por causa das dificuldades de manter o time.

Elenco do clube em 2012. Foto: Facebook/Gustavo.

Gustavo Benitez, meio-campo e ex-jogador do clube, atuou nos anos anteriores ao encerramento das atividades, “O ambiente era bem agradável, nossa equipe era muito boa, chegamos bem longe nas competições que participamos”, comenta Gustavo. O ex-jogador também conta um pouco da gestão do clube na época, “O clube teve muitas mudanças na estrutura. A gestão que estava na época fez várias melhorias arrumando vestiários, que nem time da primeira divisão tinha. Colocaram luz no campo, melhoraram o campo e a situação financeira nessa época estava muito boa, salários em dia…” O ex-jogador finaliza comentando também sobre o tratamento recebidos pelos jogadores, “O tratamento era bom, nós tínhamos tudo do bom e do melhor, ficávamos concentrados antes dos jogos, concentrávamos em hotéis muito bons, nem em vários times que passei não tinha toda essa estrutura pra nós jogadores.”

Desde 2013, com as atividades paradas e com os problemas se agravando, o clube ainda formou uma categoria de base, com futebol masculino e feminino. O Globo Esporte, com Alice Bastos Neves, foi a Santana do Livramento em outubro de 2014 para gravar o “Vem Alice”, quadro onde a apresentadora dava destaque para projetos novos e até projetos amadores no cenário sul-rio-grandense e mostrou para todo o estado a tentativa de recomeço de um grande time. Porém, a ideia que no começo era excelente, não foi tão a frente, também pelas dificuldades enfrentadas pelo clube.

Para olhar a reportagem, clique aqui.

O presente

Portão 1 do estádio João Martins. Foto: Lucas Acosta.

Já em 2018, uma nova gestão assumiu o comando do clube e fez algumas mudanças e reformas no João Martins, estádio próprio do 14 de Julho. Mercedes Cunha, assumiu como presidente e Adriano Silveira Trindade, como diretor de futebol.

Projeto Leão do Futuro. Foto: arquivo pessoal Adriano.

Adriano, conhecido por “Dingo”, também é ex-jogador do clube, e conta que em 5 de novembro de 2018 um projeto de categorias de base foi criado no clube, o Projeto Leão do Futuro, com crianças dos 6 aos 17 anos de idade. O diretor de futebol comenta também que o controle de dedicação é complicado com certas idades, já que atualmente existe muitas “distrações”. O Leão do Futuro era um trabalho social que contava com cerca de 160 crianças e recebia apoio de algumas empresas de Santana do Livramento, com alimentação e outras questões. Porém com a pandemia do Coronavírus, o projeto precisou dar uma pausa pela segurança das crianças, dos técnicos e dos demais envolvidos. O covid-19 não só  atrapalhou as categorias de base, mas também agravou a situação, que já era bem delicada na parte financeira do clube.

Leão do Futuro. Foto: arquivo pessoal Adriano.

Piscina térmica no estádio João Martins. Foto: Lucas Acosta.

Ao ser questionado sobre como o clube ainda se mantém vivo, Adriano respondeu “O clube, hoje, se mantém pela piscina, pelo departamento de piscina, com o pagamento dos sócios”. Em 1989, Hilário Nicolini, presidente do 14 de Julho naquele ano, construiu uma piscina térmica nas dependências do João Martins. Esse investimento, até hoje é usado, mas com a pandemia, também precisou parar de receber seus sócios. O diretor de futebol ainda ressalta que muitos sócios não fazem o pagamento e entende o lado dessas pessoas, visto que, o clube está fechado, mas pede que as pessoas entendam o lado do clube, que precisa manter o ambiente para uma possível reabertura.

Sobre o departamento de futebol ainda estar fechado, Adriano afirma que “O futebol, nesse momento, não tem condições, quem sabe no futuro”, já que em 2021 a Terceirona Gaúcha, terceira divisão do campeonato estadual, voltou a ser disputada e dá vaga para dois na próxima Divisão de Acesso, competição que o 14 de Julho poderá almejar em seu futuro, se o futebol retornar.

Adriano relata que várias soluções são pensadas para os problemas do clube, porém descreve o quão difícil é colocar as ideias em prática, por falta de recursos e também por falta de apoio. O diretor de futebol comenta que deveria existir uma união do esporte santanense, todos os clubes juntos em prol do esporte em geral e não em benefício a determinado clube. “O dia que parar as vaidades, rivalidades, a falta de respeito das pessoas se acharem melhores que as outras, diminuírem o valor das outras e sempre acharem que só elas têm a solução e só elas sabem das coisas, aí sim começamos a andar para frente.” complementa o diretor.

Aviso aos sócios na recepção. Foto: Lucas Acosta.

Com todas as dificuldades do clube, hoje o estádio e a piscina do João Martins não possuem funcionários, a diretoria procura ainda ajudar esses funcionários com cestas básicas e uma ajuda de custo, visto que poucos sócios realizam o pagamento das mensalidades durante a pandemia. Além disso, com as dívidas do clube, o complexo onde está situado o estádio já foi para leilão cinco vezes e, até o momento, pode estar indo para o sexto. Contudo advogados ligados ao clube tentam tornar o estádio João Martins patrimônio histórico da cidade e com isso o leilão não aconteceria.

Troféus do clube. A sala de troféus está em manutenção. Foto: Lucas Acosta.

Com 40 títulos municipais e campeão estadual de juniores em 1992, o Esporte Clube 14 de Julho possui um carinho enorme dos santanenses, porém no presente não conseguiu conquistar títulos e repetir o brilhantismo que existia no século passado. Com a categoria de base e novos projetos, a diretoria e os torcedores esperam que em um futuro próximo o clube volte a dar alegrias ao seu torcedor.

 

O autocontrole e a capacidade de equilíbrio mental, são fatores comumente trabalhados na rotina de um atleta. Porém, desde o começo do surto do novo coronavírus, estas competências foram testadas, a ponto de exigir dos desportistas conhecerem-se mais, para que pudessem se sobressair diante da pressão psicológica enfrentada neste período.

Além das dificuldades relacionadas às adaptações dos treinos em épocas de lockdown, a mente tornou-se um dos principais obstáculos em um processo de aceitação. Ricardo Brandt, formado em Educação Física e doutor na linha da Psicologia do Esporte, afirma que parte deste sofrimento mental deve-se ao fato dos atletas estarem acostumados com um objetivo de vida naquela modalidade, e que pelo fato da “busca por essa meta” ser parcialmente interrompida, a tendência é que o psicológico venha a reagir de maneira unusual.

Professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná e inserido no ramo da psicologia esportiva, Brandt já trabalhou com atletas da Seleção Brasileira de Vela, ciclismo, futebol, futsal, tênis, atletas profissionais de triatlo e do remo paralímpico. Estes últimos, mentorados por ele, com foco nos preparativos para as Olimpíadas de Tóquio, em julho de 2021. Com toda sua bagagem de conhecimento, o psicólogo ressalta a importância da relação entre a busca por metas e a tentativa de equilíbrio mental e emocional: “As pessoas precisam criar um motivo para voltar a ter disciplina. Ter um gatilho para serem levadas a essa ação. Praticantes recreacionais ou amadores sofreram mais, pois trata-se de um processo mais lento que os retirem da inércia. Já no caso de pessoas que vivem do esporte 24h por dia, há a necessidade da criação de motivos para a prática pois, após a mudança do hábito, a tendência é que os outros venham junto com a disciplina”.

Tornou-se comum perceber, em meio aos longos intervalos de quarentena, diferentes métodos de reinvenção em cada modalidade. Atletas que levaram seus esportes para dentro de casa, assim como criaram novos hábitos de alimentação e introspecção, para auxiliar no processo de entendimento do corpo. “As pessoas precisam encontrar uma modalidade que elas possam chamar de sua, algo que amem e se identifiquem. Não é por indicação ou moda, é por experimentar práticas que consigam manter uma constância”, acrescentou Brandt, sobre a relevância do esporte na vida das pessoas.

De acordo com ele, o uso moderado da rede social, foi um ponto positivo para auxiliar na necessidade de aproximação e convívio entre profissionais deste meio. Ponto realçado pelo motivo de que os mesmos costumavam vivenciar inúmeras situações de inter-relacionamento em comparação ao “novo normal”. Outro ponto abordado pelo profissional, são as técnicas de relaxamento, como yoga, meditação e o mindfulness, considerados exercícios estratégicos para serenar a mente e readquirir o equilíbrio do organismo: “Exercícios físicos praticados em casa, estratégias para reflexão e o contato com a natureza são essenciais para o controle emocional, pois agem na liberação de hormônios e neurotransmissores, decisivos na manutenção do humor”.

Francielli Gasparotto em competição orientista – Foto: Arquivo pessoal

No entanto, nem todos conseguem lidar da mesma forma com desequilíbrios e readaptações psicológicas. Além dos pontos já citados, a alimentação e a depressão podem ser consideradas outras consequências deste processo. A paranaense Francielli Gasparotto sempre foi adepta ao esporte. Praticante nata de orientação e natação, passou por um árduo caminho durante os momentos de lockdown. Ela conta que devido aos regramentos de saúde social impostos durante a pandemia, precisou se ausentar de todas as suas práticas, o que abalou fortemente seu psicológico: “Parei com todas as atividades no começo da pandemia. Fiquei adepta à instabilidade, não sabia o que estava acontecendo… Fui aguardando as liberações dos protocolos de saúde, para retomar a prática dentro do possível”.

Segundo a orientista, o avanço de pesquisas científicas corroborou para que ela pudesse voltar às piscinas: “Como a natação é uma modalidade segura durante a pandemia, por englobar o distanciamento social e por levar em consideração que o cloro inibe a ação do vírus, eu retornei”. Posteriormente, já em 2021, ela retomou as atividades ligadas ao ciclismo. Porém, para chegar até esta fase de recuperação, grandes desafios mentais estiveram presentes em seus dias. “Foi algo bem difícil de lidar. Meu psicológico foi muito afetado, a partir do momento que vi que não teria mais as competições de orientação, assim como não teria como recorrer à natação e ao ciclismo”, desabafou. Ela acrescenta que, entre outros pontos, o sono e a alimentação foram fortemente impactados. “Tive muita insônia, algo que nunca havia experienciado. Foi a primeira coisa que apareceu em razão da falta do esporte. A parte da motivação foi por água abaixo, principalmente por eu não encontrar mais minhas perspectivas”, destacou.

Frente a aspectos como este, Brandt salienta o cuidado necessário por parte dos profissionais que lidam com o desenvolvimento mental de atletas, em relação à intervenção destas situações: “O psicólogo esportivo precisa conhecer seu paciente a fundo, ter um acompanhamento sistemático, analisar, entender e compreender como a mente dele funciona e responde às diferentes situações e contextos esportivos. É interessante planejar o que será feito, traçar os objetivos e saber regular aspectos emocionais, como a ansiedade, depressão, stress, humor, além da criação de rotinas de treino para o aumento de energia”.

Francielli Gasparotto em Stand Up Paddle – Foto: Arquivo pessoal

Porém, ao fugir dos parâmetros clássicos do funcionamento de uma mente esportiva, há outros vieses relacionados com o equilíbrio entre corpo e mente. Essa relação é interligada com os níveis de autoconhecimento e com a quebra de paradigmas psicológicos, no que diz respeito ao conhecer os próprios limites e se permitir experimentar novas áreas de atuação. Francielli conclui que um dos pontos positivos que o lockdown proporcionou foi a tentativa de descobrir mais sobre si mesma, além de intensificar a prática de momentos reflexivos, encontrados na meditação, espiritualidade e contato com a natureza. “Eu optei por começar com o Stand Up Paddle, já que eu simpatizava remar. Vi nesse esporte a oportunidade de fazer uma coisa que eu gostava, que era sair de casa e estar em isolamento e contato com a natureza. Essa escolha me trouxe a sensação de aliar o lago da Itaipu com o esporte, além da coragem e do fato de estar em meio a natureza”, revelou.

Por mais que a atleta não tenha retornado à orientação, estar em meio à água, sozinha e em sintonia com a natureza, possibilitou-a focar no desenvolvimento do autoconhecimento, ao fazer algo bom para a mente e para o corpo. “O atleta precisa se conhecer, para que possa trabalhar com regularidade emocional. O desenvolvimento da inteligência emocional é muito particular. Sem sombra de dúvidas, optar por outras modalidades e dedicar um tempo para a própria mente, é um tiro certeiro. Tudo que coopera com o intelecto pode gerar bons frutos”, concluiu Brandt. Percebe-se, por meio dos exemplos, a capacidade que o esporte tem de fazer com que haja a recuperação da autoconfiança, assim como, reequilibrar a relação entre foco e metas. De fato, a pandemia gerou inúmeros conflitos mentais a muitas pessoas, porém, se houver a análise sobre cada situação, percebe-se que existe uma alternativa de melhora e reflexão. O autoconhecimento sempre estará presente.

 

Produção da disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

O alto índice de pessoas sedentárias no mundo todo, que já era preocupante, foi agravado ainda mais pela pandemia do novo coronavírus. Até cinco milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população fosse mais ativa, calcula a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançou, no final de 2020, novas diretrizes sobre atividade física.

Conforme o documento, é recomendado de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para os adultos, incluindo aqueles com doenças crônicas ou incapacidade. Para crianças e adolescente a média é de 60 minutos por dia.

Como explica o profissional de Educação Física, Gustavo Silva de Oliveira, “o esporte é um tipo de atividade física, trazendo assim, consigo, seus benefícios, como redução do estresse, controle do peso, melhora do condicionamento físico e melhora do sistema imune e cardiorrespiratório”.

Sendo assim, para garantir um estilo de vida mais saudável, diversas pessoas iniciaram a prática de algum esporte em meio a pandemia, principalmente modalidades individuais ou que exigem um grupo pequeno de participantes. A corrida de rua é um dos que se destacam na atualidade, principalmente pelo fato de poder ser praticado por todas as faixas etárias e não exigir um ambiente específico.

Corrida de rua é um dos esportes individuais que mais ganhou adeptos durante a pandemia | Foto: mega-studio/freepik

“Procuro sempre praticar onde não há circulação de pessoas. Então não costumo correr em pistas, e sim em rodovias ou estradas de chão. Por ser um esporte individual, possui diversos lugares em que pode ser praticado ao ar livre, longe de aglomerações. Então é simples de adaptá-lo durante a pandemia”, relata a sargento e atleta Ana Amaral.

Bom exemplo desta adaptação são as provas de corrida, que desde o início da pandemia estão suspensas. Sendo assim, houve um aumento nas competições virtuais, onde o participante, monitorado por um relógio com GPS ou aplicativo de celular, tem determinado período de tempo para concluir a atividade. Posteriormente, o arquivo é enviado para a organização para análise e validação.

No que diz respeito as vantagens identificadas ao praticar corrida de rua, Ana elenca que “uma das principais é a redução da chance de desenvolver doenças que o sedentarismo ocasiona, como cardíacas, obesidade, pressão alta e depressão, e o fortalecimento do sistema imunológico”. E acrescenta: “É muito bom fazer exames de rotina e verificar que tudo está normal, sem alteração. Sem falar na perda de gordura corporal e a bem estar físico”.

“O ciclismo é um vício e eu não quero largar esse vício”. Essas são as palavras do vice-prefeito de Formigueiro, Gilson Murilo Belmiro Severo, que, com 53 anos, aproveitou a pandemia para voltar a pedalar. “Eu diminui peso, perdi 10,2 kg. Eu tinha muito problema de insônia, hoje não tenho mais, eu durmo muito bem, me alimento bem”, conta.

E vai muito além da parte física. Severo explica que com a prática do esporte obteve melhoras na saúde mental: “a cabeça da gente funciona melhor, até para a questão de raciocinar eu sinto que tive uma melhora muito grande”.

Assim como a corrida de rua, o gosto pela bike cresceu durante a pandemia. O vice-prefeito relata que percebe um aumento muito grande na quantidade de pessoas adquirindo bicicletas. “Comece devagar, com muito cuidado, não queira fazer pedaladas muito longas no inicio. Devagar vai indo, vai indo, e você chega lá. É um ótimo exercício para todo o tipo de pessoa, seja ela nova, de meia idade, ou idoso, todos merecem e gostam de pedalar”, orienta.

Mas o aumento no número de atletas durante a pandemia não foi refletido em todas as atividades. Na musculação, por exemplo, o profissional de Educação Física Dioner Cardoso, que trabalha em uma academia, relata uma queda na procura pelo medo das pessoas contraírem o vírus, ainda que considere eficazes os protocolos de segurança, desde que cobrados e monitorados.

A musculação é “uma forma de manter a pessoa mais ativa quanto ao exercício físico e, portanto, também ajuda na melhora da imunidade, que é importante no combate ao vírus”, destaca Cardoso.

A microempresária Karol Dotto, que pratica o esporte, compartilha da mesma visão. “Procure uma academia que siga os protocolos e use sempre, de forma correta, a máscara e álcool gel, tanto nas mãos quanto nos aparelhos. Também é possível seguir um treino intenso em casa, o importante é se manter ativo, a imunidade agradece”, destaca.

Essa busca por esportes individuais foi comprovada por meio de um estudo realizado pelo Google, com base em pesquisas no buscador e atividades do Youtube, aliado a uma pesquisa da consultoria especializada Sport Track. Confira os principais dados no infográfico:

Elementos Gráficos: Freepik | Produção: Pablo Milani

 

Produção da disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

O gosto por partidas de futebol é algo que desde pequeno, com meus 9 ou 10 anos, de idade, possuo. Quando pequeno fui influenciado por meu pai e meu avô materno a gostar do esporte, os dois fanáticos gremistas que acompanhavam quase todos os jogos do Grêmio.

Em minha casa, meu pai assistia aos jogos do Grêmio e também de várias equipes do interior do Rio Grande do Sul como, por exemplo, o Juventude de Caxias do Sul. Este que, desde aquela época, é meu segundo time do coração.

Ao redor de meu pai, eu ficava de olhos deslumbrados pelas jogadas, passes e gols que aconteciam nas partidas de futebol. A narração da partida e os gols com emoção fizeram com que eu, cada vez mais, gostasse desse esporte fantástico e sensacional.

Foto de Mike no Pexels

Não só de partidas de futebol eu gostava de assistir, gostava também de jogar, tanto em gramado, quadra, ou simples chão batido. O que eu mais queria era jogar, porque jogando futebol me sentia mais feliz e tudo era tão divertido.

O gosto pelo esporte também se passava no meu quadro e times de futebol de botão que ganhei de meu pai e que, muitas vezes, joguei com ele, meu irmão, primos ou, simplesmente, sozinho.

Foi no quadro de jogo de botão que aprendi a narrar partidas e a comentar os gols, e num simples quadro me imaginava em uma partida de verdade, onde eu era o narrador e o comentarista. A cada gol que saia, eu narrava com a emoção de como fosse uma partida real e eu estivesse narrando uma grande final. Quando saia um time de botão campeão, me sentia quase que um Galvão narrando para a televisão.

Com o passar dos anos troquei o quadro de botão por um videogame onde eu, na sala, na frente da televisão, continuei a narrar e comentar as partidas ainda com mais emoção. Mesmo gostando de narrar, meu sonho inicial era ser atleta profissional mas, como minha família não tinha condições,  foi por água abaixo meu plano de ser jogador e passei a pensar em outras profissões.

Ainda no ensino médio decidi fazer jornalismo e seguir meu sonho de trabalhar com esporte, só que de maneira diferente, não seria mais jogador e sim tentaria virar um narrador. Narrador que já era desde pequeno nos quadros de futebol de botão e no videogame em frente à televisão.

No ano de 2018 me inscrevi para o curso de Jornalismo na Universidade Franciscana, com a intenção de trabalhar com futebol e ser um dia um narrador ou comentarista profissional. Ao longo do curso tomei gosto por outras áreas do jornalismo, até pensei em mudar, porém meu gosto pelo esporte, especialmente o futebol, parece não acabar.

Cada vez mais gosto dessa modalidade esportiva. Com um convite de estágio, hoje eu atuo na área, trabalhando como produtor do programa de esportes JoGa Junto, da Rádio Medianeira 102.7, e tenho certeza que esse trabalho é o meu grande teste.

No ano de 2022 vou me formar e espero que, como narrador, comentarista ou repórter, a minha vida ganhar. Quem sabe algum dia serei como minhas inspirações, Glauco Pasa, Fernando Becker, Tino Marcos, Gustavo Berton, Paulo Brito, Galvão Bueno, Marco de Vargas ou um Pedro Ernesto Denardim e trazer muitas informações e fazer narrações.

 

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Imagem de Galina9237941221 por Pixabay

No cenário atual em que vivemos, de distanciamentos e reclusão, algumas academias de esporte para crianças tiveram que interromper suas atividades e se adequar às novas normas de funcionamento.

Em 2020, no início da pandemia, as escolas de esportes fecharam as portas para as atividades presenciais. Com isso, muitas optaram por manter as aulas e atividades através de plataformas online. Olga Maria Lang, responsável pela administração da Academia Golfinhos, que disponibiliza de natação e academia, comenta que logo no início da pandemia, encerraram as atividades por cerca de um mês. Para manter as aulas, utilizaram as tecnologias para fazerem lives com exercícios e aulas teóricas para as crianças que praticavam natação na escola. Conforme as classificações das bandeiras do distanciamento controlado, foram reabrindo a escola e retornando a academia para os adultos, mas sempre mantendo as restrições conforme a classificação da bandeira na cidade. Durante as semanas de classificação de alto risco de contágio (bandeira preta) a academia voltou a fechar as portas. Atualmente eles atuam com 50% da capacidade de alunos (adultos e crianças) na natação e respeitando o distanciamento dentro das piscinas.

Outro esporte afetado foi o Jiu Jitsu. A academia Thork, exclusiva de Jiu Jitsu, também interrompeu suas atividades no ano passado, pois não poderia haver contato nas lutas. A alternativa que encontraram foi criar um site onde os alunos pagavam um valor menor que mensalidade e podiam ter acesso às aulas e treinos virtuais, assim a escola continuou tendo um retorno financeiro. Neste ano, eles reabriram mas fecharam as portas, mais uma vez, devido à bandeira preta em todo o estado. Após a flexibilização das medidas de distanciamento, a escola retornou às atividades, mas sempre respeitando as orientações da prefeitura. O mestre e professor da escola de Jiu Jitsu, Leonardo Morosetti, reitera que as aulas, atualmente, são mais voltadas aos exercícios físicos. Pois nas lutas há muito contato entre os alunos, que acaba infringindo as regras de distanciamentos dentro da escola.

Outro esporte que tem grande procura e encerrou as atividades na pandemia foi o Futsal. Na escola de Futsal Evolução, o Personal Training e coordenador da escola, Jonatan Dupin, relembra que no início da pandemia o clube AABB (Associação Atlética Banco do Brasil), onde eles utilizavam a quadra para dar aulas, foi fechado e as aulas foram interrompidas. Durante este período as aulas mantiveram-se através de exercícios físicos em vídeos para os alunos realizarem em casa. Jonatan também comentou que muitos pais entenderam a situação e mantiveram as mensalidades em dia. Mesmo assim, eles procuraram não deixar os alunos sem atividades. Quando as aulas puderam retornar, a escola teve que optar por utilizar a quadra de esportes do Cerrito, pois a AABB ainda não reabriu. Mesmo com as flexibilizações das medidas de distanciamento, os treinos têm o número de alunos reduzido e com todos os protocolos de distanciamento. 

Devido a incerteza de aumentos de casos de Covid-19 na cidade, alguns pais ainda têm receio de os filhos retornarem a frequentar as escolinhas de esportes. Muitos acabam procurando atendimento individual em casa. Isso influencia diretamente no ritmo de prática de esportes e atividades físicas que as crianças tinham. Fazendo-os regredirem nas aulas e a preguiça ser mais um empecilho no desenvolvimento.

Texto de Caroline Freitas Scremin.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Era uma bela manhã de sol… ou melhor, não seria uma tarde chuvosa? Se bem que poderia estar de noite, né!? O lugar também fica difícil de descrever: pode ser na fila do banco, no cafezinho da padaria, na roda de amigos ou até mesmo no trabalho. O fato é que futebol é assunto universal, basta apenas dois iniciarem a conversa que, em poucos minutos, já encheu de gente comentando sobre o lance de ontem ou a escalação de amanhã. E não precisam nem serem conhecidos.

Mas teve um dia que o assunto ficou meio de lado, com no máximo algumas colocações pontuais do tipo “é hoje, hein!” ou “e essa hora que não passa nunca?”.

Imagem de Rubén Calvo por Pixabay

18 de agosto de 2010. Quem dera se todos os dias do ano fossem como essa quarta-feira ensolarada. Aliás, a melhor parte do sol nesse dia foi quando ele se pôs, sinal que estava mais perto das 22h, quando a bola iria rolar no segundo jogo da final da Libertadores da América, entre Inter e Chivas. Mesmo com apenas 9 anos, lembro-me com perfeição dessa história realmente inesquecível.

Nesse fim de tarde, o restaurante de minha família, conhecido na época como bar dos colorados de Formigueiro (e localizado em frente ao dito bar dos gremistas, apesar desse fato nunca ter proporcionado desavenças), já estava começando a lotar. As mesas da parte interna já tinham “dono”, muitas desde o início da competição. Cadeiras de alumínio de alguma marca de bebida já sendo colocadas no espaço central. Tudo isso para olhar o jogo em uma simples televisão de 21 polegadas.

Mas a maior festa estava marcada para acontecer do lado de fora. A rua, pelo menos ali na frente, virou estacionamento de churrasqueiras: “cada um trás um pedaço e tudo certo”. Mas a essas alturas de ansiedade, a maioria nem fome tinha mais. O telão, pago através de vaquinha dos próprios clientes, reprisava os melhores momentos da conquista do mundial contra o Barcelona, em 2006. Com direito a comemoração no gol do Gabiru, claro.

E finalmente chegou a hora do jogo. A aba lateral externa do restaurante, um legítimo “garajão”, não tinha espaço para mais ninguém. Até nem sabia que existiam tantos colorados em Formigueiro. A alternativa para muitos foi olhar o jogo lá da rua mesmo. Mas eu já tinha garantido o lugar na primeira fileira, quase “dentro” da projeção. A última rápida saída dali havia sido para pintar algumas listras em vermelho e branco no rosto que, após muita insistência, minha mãe fez.

O clima era de estádio, com cantorias, gritos, aplausos e, óbvio, xingamentos ao juiz que, por incrível que pareça, sempre “rouba” contra o nosso time do coração. Era a hora de soltar toda emoção que ficou presa durante aquele demorado dia. E tínhamos motivo para isso, pois o Inter entrou em campo sendo campeão, após a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo.

Mas perto final do primeiro tempo, aos 42 minutos, preteou o olho da gataiada: gol dos caras. Mas os deuses do futebol não iriam nos sacanear a essas alturas do campeonato. A classificação nas oitavas contra o Banfield após perder o primeiro jogo por três a um; O milagre de Giuliano em meio a fumaça contra o Estudiantes nas quartas de final; O segurar de resultado contra o São Paulo na semi. Só podiam ser sinais de que o bicampeonato viria.

Sóbis, nosso herói de 2006, devolveu a esperança aos 16 minutos da segunda etapa. Tudo igual. Mas ainda não era o suficiente. Damião corre com a bola, deixa a zaga adversária para trás e faz o segundo, aos 30 minutos. Loucura total. O título realmente viria.

A torcida ficou dividida entre os que assistiam os últimos 15 minutos e os que foram para a rua comemorar. Eu estava nos dois grupos, fazia um pouco de cada. Com uma bandeira do Colorado em uma taquara pesada e bem maior que eu, arrastando pra lá e pra cá. E foi tremulando ela que escutei novos gritos, era a comemoração do gol do Giuliano, aos 44, que só vi depois, no replay.

Que noite! Nem o melhor dos roteiristas conseguiria tramar algo com tanta perfeição.

Ao longo do futuro, certamente tantas novas conquistas virão. Mas nenhuma, nem mesmo outra Libertadores, será tão especial como essa. No dia seguinte, olhando a repercussão na imprensa, uma surpresa: vitória por 3 a 2. Como assim? Levamos outro gol?

Texto de Pablo Milani.

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.