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“Não é o batom vermelho. Tem outras coisas além disso”

  O título da matéria é a frase da empresária Jaqueline Adams. Ela ilustra bem a dimensão que o bate-papo Mulheres e Mercado de trabalho: muito mais que poder, protagonismo tomou na última quinta-feira, 8 de março, dia

Feliz dia da mulher para quem?

O ano é 2018, século XXI, mas pelos altos índices de feminicídios parece que estamos na idade média. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Mesmo com as leis mais severas e inafiançáveis, 

Mulheres gritam pela cultura

O Grita, Festival de Arte e Música Feminina, é um movimento voltado para que as pessoas percebam a relevância das mulheres no campo das artes. O festival reuniu as bandas She Hoos Go (Pelotas), 3D (Porto

Casa da Cultura promove debate sobre empoderamento feminino

Empoderar-se é o ato de tomar poder sobre si, já empoderamento feminino significa promover e defender a igualdade de gênero. Essa temática ainda é cortada das rodas de conversa e tratada como tabu, por isso, a

Último dia de Interfaces aborda violência e as suas narrativas

O último dia de Interfaces no Fazer Psicológico iniciou com o minicurso de Luciano Mattuella, professor na Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), doutor em Filosofia e clínico psiquiatra. ”Violência, literalmente” foi o tema desta manhã, trazendo o

Feminismo negro, força para lutar e resistir

No último Superbowl, jogo final da liga americana de futebol americano, a cantora Beyoncé aproveitou o evento de maior audiência da televisão americana para fazer um protesto contra o racismo. Junto com a apresentação, que virou

8 de março, dia internacional da mulher

Lugar de mulher é em todos os lugares. A ACS acompanha a caminhada delas  a cada dia,  e  a registra em entrevistas, notícias e reportagens.

 

Jacqueline Adams. Fotos: Juliana Brittes/LABFEM

O título da matéria é a frase da empresária Jaqueline Adams. Ela ilustra bem a dimensão que o bate-papo Mulheres e Mercado de trabalho: muito mais que poder, protagonismo tomou na última quinta-feira, 8 de março, dia internacional da mulher. A discussão promovida pela Gema (Agência Experimental do Curso de Publicidade e Propaganda), teve como questão central promover um debate sobre questões que cercam a mulher no mundo profissional.

Além da fundadora da J. Adams Propaganda, atuante em Santa Maria há mais de 20 anos, participaram da discussão Shaiana Antonello, atendimento na agência MP&C Comunica, Raquel Martins, sócia-fundadora da Agência Advertência, e Julie Jarosczniski, sócia proprietária do Mercato Amorino, mediadas pela estudante de Publicidade e Propaganda, também freelancer Débora Lemos.

Tudo começou com apresentações das participantes e uma breve trajetória de cada uma no mercado de trabalho. “Peguei um período histórico de formação tradicional. O assédio moral, aquela cantada fora de hora sempre existiu”, relatou Jaqueline. Raquel, que começou como diretora de arte diz ter sofrido no início da carreira profissional devido a inexperiência. Um sentimento compartilhado por Shaiana: “já sofri preconceito por ter pouca idade e ser novata no mundo profissional”.

Já Julie relatou que seu maior problema como empresária é lidar com as atitudes de alguns clientes. “Sofremos assédio de alguns deles. Dizem frases como: sou solteiro. Eu dou liberdade para as minhas funcionárias reagirem da forma que quiserem. Não posso permitir que algo dessa natureza aconteça apenas para manter um cliente”, revela. Ela ainda relata que alguns vizinhos homens agem de forma machista: eles são estudantes e tem aproximadamente a minha idade. Ficam na sacada dando nota para as funcionárias e clientes do mercado. Gritam coisas como: Cinco, essa é muito feia”.

De preto e branco, combinação favorita da estilista feminista Coco Chanel, mediadora e participantes mostram seu protagonismo. Foto: Juliana Brittes.

Entretanto, percebe atitudes dessa natureza ao lidar com os fornecedores: “eles geralmente preferem falar com o Maurício, meu sócio, do que comigo”. É algo também relatado por Débora, que já passou por esse tipo de situação. “Trabalho com o meu namorado e os homens que ligam preferem tratar com ele do que comigo. Como nós dois atuamos em todas as áreas, nunca demos muita importância para isso”. A questão de uma profissional multitarefa nas agências também por Raquel, que ressaltou já ter trabalhado um pouco em todas as funções. “Nas agências do interior é assim”, explica.

Shaiana ressalta isso como um ponto positivo, relatando não ver tanto machismo em consequência dos funcionários atuarem em diversas áreas. Algo diferente em grandes centros: “quando fui para Porto Alegre, senti a diferença entre homens e mulheres através dos setores da empresa onde trabalhei. Na área da criação, por exemplo, a maior parte eram homens”.

Esse tipo de dominância acaba por refletir em questões do dia a dia, como destaca Raquel: “Se tratando de competência, nunca senti preconceito por ser mulher, mas sim em questões rotineiras da agência, como na hora de lavar a louça do café”. A sócia da Agência Advertência destaca que esse tipo de situação vem, muitas vezes, de berço. “O machismo vem da educação, mesmo da própria mãe. O homem não é cobrado a fazer faxina, por exemplo”.

Outro ponto tratado neste sentido é o fator da vestimenta de trabalho. “Duvido que alguma mulher aqui nunca tenha tido medo de usar alguma roupa e ser assediada”, relatou Shaiana. Raquel ressaltou ainda que não se deve temer o que vestir: “meninas, vistam as roupas que vocês quiserem. O que importa são as atitudes, a competência e a experiência de vocês”. Ao entrar nesse ponto de discussão, uma das mulheres que assistia ao debate desabafou já ter sofrido com questões ligada a vestimenta e aparência. “A empresa em que trabalho já me avisou. Se eu tomar alguma atitude como colorir o meu cabelo, vou para a rua”.

A estudante de Direito e Ciências Contábeis Marcela Denardi, de 21 anos,  participando do bate-papo, declarou para todos ter gostado muito da experiência: “é muito importante esse tipo de discussão. Ambos os cursos que faço tem uma aura machista. Em um deles, falamos sobre mercado de trabalho todos os dias, mas nunca foi abordado o ponto de vista das mulheres”.

O ano é 2018, século XXI, mas pelos altos índices de feminicídios parece que estamos na idade média. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. Mesmo com as leis mais severas e inafiançáveis,  isto não tem sido barreira para quem quer matar. Os motivos?  As discriminações pelas quais as mulheres são alvos do machismo, pelo racismo, pela lesbofobia e pela maneira como vivem suas vidas, levando-as a mortes violentas. Quantas mulheres morreram apenas pela sua condição de gênero? Pelo ódio motivado, não tendo força física para própria defesa? Homens acovardados se aproveitam disso diariamente.

Numa entrevista para emprego, quantas mulheres já receberam as seguintes perguntas: ‘’Pretende engravidar? Tem filhos? Você quer trabalhar fora mas vai ter que cuidar da casa também’’? Tirando esse assédio moral, socialmente aceito, quantas mulheres já foram demitidas logo após uma licença maternidade? Temos um exemplo de um político que declarou, publicamente, que mulheres devem receber salários menores, pois engravidam.

O objetivo do dia 8 de março era reforçar as conquistas das lutas feministas das mulheres.  De todas os homens que parabenizam as mulheres ‘’por serem fortes e guerreiras’’, quantos realmente reconhecem isso? Quantos desses mesmos homens já humilharam as mulheres com palavras de baixo calão, assediando-as verbalmente ou até mesmo sexualmente?

A hipocrisia grita –principalmente- nas redes sociais. Talvez um dia poderemos sim, comemorar o dia da mulher com a igualdade dos salários, com cargos de chefia, com o fim da violência doméstica. Talvez um dia poderemos caminhar na rua sem ter o medo de ser abusada sexualmente. Podemos sim, reconhecer alguns avanços, mas não está nem perto de ser o suficiente. Hoje eu, como mulher, afirmo que de feliz essa data não tem nada.

Grita, Festival de Arte e Música Feminina teve apresentações de seis bandas. Foto: Graciane Martini e Atílio Alencar/Divulgação

O Grita, Festival de Arte e Música Feminina, é um movimento voltado para que as pessoas percebam a relevância das mulheres no campo das artes. O festival reuniu as bandas She Hoos Go (Pelotas), 3D (Porto Alegre), Sterea (Porto Alegre), Musa Híbrida (Pelotas) e Glass (Santa Maria), no Parque Itaimbé, no dia 19 de novembro.

O festival teve início quando um grupo de meninas decidiu trazer uma banda de São Paulo para um show em Santa Maria, mas a ideia não se efetivou por questões financeiras. As idealizadoras decidiram apostar em um festival com seis bandas regionais

O Grita foi criado com a intenção de ser um espaço de visibilidade e valorização de música e arte feitas por mulheres, não só no palco do festival como nas oficinas, pensadas para incentivar a criatividade e autoestima feminina.

A estudante Luiza Roos, do curso de Psicologia da UFSM, 24 anos, disse que o Grita possibilita que outras mulheres se inspirem e se motivem a perseguir esse caminho.

O evento foi divulgado inteiramente pela internet. As organizadoras criaram conta no Instagramfanpage no Facebook para divulgar os eventos prévios ao festival – oficinas, rodas de conversa e as festas – e a vaquinha online, que custeou a maior parte do festival.

Luiza comenta que a repercussão do festival, em geral, foi muito boa e que o grupo tiveram muito apoio, além da vaquinha, nas parcerias de quem cedeu seu tempo, seu espaço ou seu trabalho para colaborar com o Grita.

A estudante Valentina Pezzi, do curso de Letras da UFSM, 19 anos, participou da iniciativa e constatou que, na sua concepção, o evento é muito importante para valorizar o trabalho de mulheres e sua trajetória na música. Para a universitária, o Grita é uma forma de mostrar ao publico que isso também existe apesar do preconceito e da pouca visibilidade.

Já a jovem aprendiz Luizi Rosauro, 15 anos, participa pela primeira vez de um festival com este intuito. Ela considerou importante a proposta para as mulheres terem seu espaço e se sentirem motivadas. Luizi diz que as mulheres não se sentem tão confortáveis em eventos específicos para homens.

A livraria Casa da Cultura fica no Centro Comercial de Camobi. Foto: arquivo Livraria

Empoderar-se é o ato de tomar poder sobre si, já empoderamento feminino significa promover e defender a igualdade de gênero. Essa temática ainda é cortada das rodas de conversa e tratada como tabu, por isso, a livraria Casa da Cultura irá promover um debate sobre o assunto no dia 14 de outubro, as 16h, no Centro Comercial de Camobi.

A conversa será mediada pela escritora, historiadora e professora universitária, Nikelen Witter, junto com a jornalista especializada em cinema, Bianca de França Zasso. Nikelen escreve “de tudo um pouco”, tem 8 livros publicados e, muitas vezes, seus pensamentos e ideias são divulgados no Diário de Santa Maria.

Bianca é pesquisadora independente de cinema e colunista de toda quinta-feira no blog do jornalista Claudemir Pereira. O propósito do debate é promover um diálogo aberto e descontraído sobre o empoderamento feminino, tirando dúvidas e compartilhando histórias.

Além da livraria possuir um acervo diversificado, tanto para adultos quanto para criança, é um local aconchegante e acolhedor. Ela apresenta uma constante seleção criteriosa e cuidadosa de títulos, incluindo leituras internacionais em edições originais. Dentro da temática tratada, a livraria possui livros como O Diário de Frida Kahlo – Um autorretrato íntimo, o livro de poesias Outros jeitos de usar a boca de Rupi Kaur, além de obras de autoras importantes como Clarice Lispector e Simone de Beauvoir.

Por Mariana Olhaberriet e Bibiana Rigão Iop

O professor citou Freud e sua obra "O mal estar da cultura (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
O professor Luciano Mattuella analisou a obra de Freud “O mal estar da cultura” (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

O último dia de Interfaces no Fazer Psicológico iniciou com o minicurso de Luciano Mattuella, professor na Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), doutor em Filosofia e clínico psiquiatra. ”Violência, literalmente” foi o tema desta manhã, trazendo o psicanalista Sigmund Freud, Mattuella aprofundou-se na reflexão sobre os conceitos e linguagens que circulam e constituem nossa sociedade e nosso ser. Os vários discursos que regem a sociedade, como cultura, capitalismo, educação, formam um compilado do mundo em que vivemos.
As pessoas se alienam ao discurso da produtividade e rapidez, o homem que não dorme e trabalha o tempo todo é reconhecido e elogiado, mesmo que isso seja prejudicial, afirma o psicólogo. A vida se torna uma empresa e as pessoas se tornam empresas para serem geridas. Tudo é calculado. Bem como a educação, que, segundo Mattuella, parece um adestramento em que os alunos devem ficar focados no professor, em seus discursos, sem desviar a atenção. As avaliações são baseadas em provas em números. “Não há uma narrativa, as notas, os números não dizem nada sobre a trajetória do estudante”, afirma.

“Se estamos na cena, na civilização, de que forma fazemos enlaces com o discursos da cultura?”, questionou durante o curso, abrindo espaço para comentários dos alunos. “Qual meu lugar na cultura? Qual meu ponto de alienamento com ela?”.

Para o psicanalista, quando se tenta fugir desse espaço da cultura, os indivíduos acabam indo para as drogas, medicamentos, e podem desenvolver a neurose. Essa crise é recorrente também, segundo Mattuella, na adolescência (que é uma passagem), em que há um choque do discurso dos pais, família, com o discurso da cultura contemporânea.

Oficina de Pinhole

(foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
(foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

Dinamizada e criativa, a oficina do psicólogo Márcio Fransen Pereira, mestre em Psicologia Social e Institucional, pela UFSM. Ele projetou um minicurso de montagem de câmeras pinhole, sem lente, formada por uma caixa escura e pequeno orifício, como o furo de alfinete (daí o nome). Com o propósito dos alunos experimentarem as atividades que menores infratores fazem no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), em Novo Hamburgo, onde o psicólogo atua há dois anos. Esse trabalho parte de uma pesquisa que Pereira estuda, “Arsenal Poética”.
“Nosso trabalho é voltado para a comunidade, com o ‘fazer’ criativo, entre os adolescentes que, muitas vezes, têm o acesso à cultura e educação negados. Então damos para eles possibilidades de fotografar de forma artesanal”, explica. Assim, os adolescentes criam um olhar mais poético, mais ligado com elementos de composição, luz. Sendo autores das suas próprias fotografias, eles não se resumem somente ao ato infracional como algo isolado, que é apenas um sintoma, para a psicologia, segundo Pereira.

Os olhares sobre a feminilidade

Parto humanizado e teoria Queer foram assuntos da conversa (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
Parto humanizado e teoria Queer foram assuntos da conversa (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

Encerrando a manhã do Interfaces, as psicólogas do grupo de estudos ”Políticas da subjetividade e psicanálise no contemporânea” ministraram a roda de conversas sobre os múltiplos olhares sobre as feminilidades na contemporaneidade. Andréia Garcia, Diana Soldera, Fernanda Alves e Martina Poll conversaram com as estudantes de psicologia sobre as diversas imposições que a mulher sofre pela sociedade. Abandono, culpabilização, maternidade, procriação, família, foram pautados no minicurso. A fertilidade feminina e a forma como essa é vista como objeto, pela sociedade, pelos homens e pela medicina, sustentaram a fala de Fernanda Alves. Algumas meninas se manifestaram apontando as injustiças e violências médicas que mães sofrem durante a gravidez. “Há homens dizendo como devemos parir e não somos ouvidas, não escolhemos como nosso corpo vai receber aquela vida”, apontou uma das alunas.

Feminismo e seus desdobramentos também fez parte do debate, pois, segundo Fernanda, essas questões ligadas à mulher estão diretamente ligadas ao movimento. “Estamos em uma época de alguns retrocessos e perda de direitos, das mulheres e da população LGBTT, e trouxemos isso para o curso, pois é algo ainda não tão abordado dentro da psicologia”, afirma. Para Andréia, esses pontos fazem parte do nosso dia a dia, mas também são conceitos de pesquisa, de estudos, e é preciso trazer essas questões para a psicologia. “Eu estudo a precariedade dos locais de trabalho, principalmente onde mulheres atuam, e a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho contemporânea”, explica Andréia. Na segunda parte do minicurso, elas abordaram a questão transsexual e o rompimento da ideia do que a sociedade pontua como “o que é mulher”.

Documentário ''Meu Relacionamento Abusivo''
Documentário ”Meu Relacionamento Abusivo”

“A culpa não é minha, é dele, a culpa é sempre do abusador, nunca da vítima”, foi a forma que as cinco feministas encerraram seus depoimentos no documentário Meu Relacionamento Abusivo, pré-lançado hoje, 9, no Vaca Profana. O documentário surgiu como finalização do projeto Não é você, É ele realizado pelos alunos de Publicidade e Propagando do Centro Universitário Franciscano, Caroline Pigatto Motta e Hélison Leeher. “Queremos mostrar que tem um local para as pessoas que sofreram esse tipo de abuso, que as meninas que foram abusadas têm onde se encontrar e buscar apoio”, comenta Hélison.

O projeto começou no final do ano passado, na disciplina de Projeto de Comunicação Comunitária l na forma de campanha. A ideia veio a partir do vídeo Não tira o batom vermelho, da youtuber Julia Tolezano (Jout Jout). A campanha que começou a ser veiculado nas redes sociais no dia 21 de abril deste ano, e foi desenvolvida pelos alunos na página do Unas e muitas meninas do coletivo Unas participaram. Por fim, veio o documentário Meu Relacionamento Abusivo, dando rostos, nomes e histórias sobre essa violência.

O documentário começa com violência psicológica, uma pessoa controlando outra e, depois, parte para a violência doméstica. “É impossível não se identificar com elas, principalmente nós, mulheres, com os relatos. Sempre deixamos claro que, caso elas não se sentissem confortáveis, nós tiraríamos alguma parte do documentário, para criar um ambiente seguro”, aponta Caroline. As meninas que sofreram abuso e deram seus relatos foram: Júlia Do Carmo, Nanda Fernandes, Luana Dornelles Moreira, Alice Carvalho e Natália Barchet.

“Tu sentes como se tu se soltasse dele, tu cai num vazio”

Meu Relacionamento Abusivo inicia com o relato de Júlia Do Carmo, militante do Unas, que sofreu abuso psicológico por três anos. Foi essa vivência que fez Júlia entrar para o feminismo, a partir do processo pelo qual ela passou. “Quando eu vi que isso era comum entre as meninas, comecei a militar. Depois que passou o momento da vergonha e eu me senti livre, sempre tentei mostrar minha história e apoiar quem passa ou passou por isso”, salienta. “Encaramos o ciúme e apego exagerado como normal, como sinal de amor, então é muito importante falar das relações interpessoais. É algo difícil de enxergar e de chegar até a vítima, pois ela se fecha. Há muito apego e posse e, por esse motivo, relacionamentos abusivos são invisibilizados”, acrescenta. E eles acontecem, desde as meninas jovens até mulheres empoderadas.

“Eu tinha muita vergonha de ter sido agredida, de ter medida protetiva da Lei Maria da Penha. Depois eu percebi que eu não tinha maturidade. Ele era 11 anos mais velho do que eu, tinha plena consciência do que estava fazendo, e eu não”. Nanda Fernandes, também do Unas, conta que relutou muito em admitir que não tinha culpa nenhuma sobre o que aconteceu.

Hélison, Caroline, Júlia, Nathália, Nanda, Alice, Luana e Júlia (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)
Hélison, Caroline, Júlia, Natália, Nanda, Alice, Luana e Julia Sousa (Foto: Juliano Dutra/Laboratório de Fotografia e Memória)

“Então, inicialmente as gurias do Unas, especialmente a Nanda Fernandes, me falou do projeto e me convidou para participar, pela importância de deixar o trabalho ainda mais plural e com vivências diversas”, conta  Alice Carvalho.

Por mais difícil que seja  falar sobre que aconteceu, as participantes do trabalho a deixaram mais tranquila sobre se expor e contar sua história. Segundo elas, há medo no silêncio e há medo quando se fala sobre isso, porém Alice, e todas elas, se fortalecem em suas companheiras, e ajudam outras a sair de uma situação abusiva. “Meu silêncio não me protegeu até hoje e não quero a inércia e o silêncio se tornem meus maiores arrependimentos na vida, porque também não vai proteger outras mulheres e só nos corrói diariamente”. afirma. A importância do documentário, para ela, é o alerta, o empoderamento e fortalecimento de mulheres, principalmente as negras. “Meu depoimento é totalmente atravessado pela questão racial. Quero que as pretas se vejam em mim, acreditem no poder delas para superação desses relacionamentos e acreditem que, de fato, a culpa não é delas, somente do agressor”, encerra a militante.

O último depoimento foi a história de um relacionamento abusivo entre mulheres, com a militante Natália Barchet, que sofreu abuso psicológico de sua namorada por meses. Ela conta que já estava dentro do feminismo e empoderada quando conheceu a menina, e o relacionamento tóxico a afastou de todas suas amigas, inclusive, das feministas.

As psicólogas, Júlia de Sousa e Vânia Fortes também comentaram sobre os estágios de um abuso psicológico e relacionamentos. Júlia ressaltou o racismo que impregna relacionamentos abusivos com mulheres negras. “Geralmente nos lares, a mulher negra está sozinha, é mãe solteira, e então passa a aceitar esse tipo de relacionamento, por dependência financeira e psicológica”, afirma.

O coletivo Unas

O Unas, Coletivo Feminista Interseccional de Santa Maria, é formado por onze mulheres e mais cinco colaboradoras, que não podem estar sempre ativas nas reuniões e encontros, mas que militam pelo coletivo. Na página online há postagens sobre temas sociais e políticos ligados às mulheres.

Webcard Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas
Webcard
Foto: Projeto AMA/reprodução Coletivo Unas

Elas recebem um retorno muito grande na página no Facebook do coletivo, de mulheres que se identificam com os relatos. “São várias militantes com diferentes vivências que formam o coletivo, e eu falo de abuso em relacionamentos porque é algo que eu vivi. Essa experiência serviu para que a Júlia de hoje existisse, mas eu espero que nenhuma menina precise passar por isso, nunca”, reforça Júlia. Quando tu percebes que há pessoas passando pelo mesmo e que tu podes usar esse sofrimento como uma bandeira de luta, para ajudar elas, é algo muito gratificante, conta Nanda. Várias seguidoras vão à página pedir conselhos e apoio, justamente porque uma das características mais fortes do relacionamento abusivo é que o abusador te isola completamente do mundo social.

Há webcards do projeto “Não é você, É ele” postados na página com dados de pesquisa sobre violência contra mulher, notícias relacionadas na cidade, informativos, e sinais que caracterizam relacionamento abusivo. O documentário completo será lançado dia 12 de junho, domingo, no Facebook do Unas.

Para entrar em contato com o Unas, visite a página no Facebook, ou pelo email contatounas@gmail.com.
Confira o teaser do documentário Meu Relacionamento Abusivo aqui.

 

panther
Panteras Negras, partido negro revolucionário estadunidense fundado no ano de 1966 em Oakland (Califórnia), por Huey Newton e Bobby Seale, criado com objetivo de patrulhar guetos negros para proteger os residentes da brutalidade da polícia.

No último Superbowl, jogo final da liga americana de futebol americano, a cantora Beyoncé aproveitou o evento de maior audiência da televisão americana para fazer um protesto contra o racismo. Junto com a apresentação, que virou polêmica para os americanos, ela lançou o clipe da música Formation, que defende o orgulho dos traços e cabelo afro e critica o preconceito, a violência policial e os assassinatos de negros.
A filha da cantora, Blue Ivy, aparece no videoclipe quando ela diz que ama “o cabelo afro de seu bebê”. No evento, Beyoncé e seu exército de mulheres se vestiram como integrantes do partido dos Panteras Negras, que surgiu em 1960 e lutou pela participação dos negros na política e contra a segregação racial e o racismo.
Mulheres negras lutam há muito tempo pela quebra do sistema machista e racista. Entre elas, estão Angela Davis, Nina Simone, cantora que abordava questões raciais desde 1976, a atriz Viola Davis que luta contra a desigualdade étnica, e a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Essas mulheres inspiram movimentos ao redor do mundo, como o feminista, e sua corrente – feminismo negro – que faz o recorte para as demandas de mulheres negras.

No Brasil, o feminismo negro iniciou no final da década de 1970, quando, segundo Jarid Arraes*, o movimento vinha suprir duas demandas: o sexismo dentro do próprio movimento negro, quando as mulheres negras enfrentavam dificuldades para manter sua autonomia e igualdade de gênero em relação aos homens negros, e em um momento em que as questões – ainda nascentes – do feminismo davam prioridade a temas relacionados às mulheres brancas. No que toca a população negra feminina no País, o autor aponta dados alarmantes relacionados a temas como mercado de trabalho e violência doméstica. Entre os casos mais críticos, cita a conquista do “emprego formal, uma boa colocação e ingressar no ensino superior [como] dificuldades típicas daquelas que possuem a pele negra”. Além disso, o autor aponta que 60% das vítimas de agressão por parte de companheiros e ex-companheiros no Brasil são mulheres negras. Historicamente os dados do IBGE  evidenciaram em relação ao emprego formal e salários, uma hierarquia discriminatório –  melhores salários  obedeciam a escala de homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. No censo de 2014, os dados do instituto já apontavam que quase 54% da população brasileira se considerava preta ou parda. Esse índice parece se refletir nas crescentes demandas da parte do feminismo negro no País. Em Santa Maria, além do Movimento negro, o coletivo JuNF marca a luta da mulher negra.

 Juventude Negra Feminina de Santa Maria – o JuNF

Geanine Escobar, criou o grupo virtual JuNF (Juventude Negra Feminina de Santa Maria), em 2003. Primeiro surgiu a necessidade de se encontrar para falar e debater. Logo, os encontros começaram presencialmente, então, com saraus de poesia negra, por exemplo. “A poesia negra declamada é algo bem simbólico e marcante, temos autores como Oliveira Silveira, que, inclusive, propôs a mudança na fase racista do hino do Rio Grande do Sul – povo quem não tem virtude/acaba por ser escravo”, conta Alice Carvalho, estudante de psicologia. A frase não foi alterada.
“Na Junf, além de ser um espaço para falarmos sobre feminismo e empoderamento da mulher negra, fazemos amigos lá também. Conversamos sobre o nosso dia a dia, e quando alguma de nós não está muito bem nós nos juntamos, como irmãs mesmo, e não somente como militantes. Isso é uma característica única do coletivo, pois, em outros movimentos eu não encontrava muito, esse fortalecimento emocional, ainda mais entre nós, mulheres negras”, relata a estudante de psicologia. Sua amiga e parceira de luta, Aline Escobar, estudante de serviço social, da UFSM, fazia parte do coletivo Junf, mas se afastou do movimento recentemente. O Junf (Juventude Negra Feminina) é bem único dentro do país, segundo a militante, pois faz um recorte dentro do grupo feminino , e com mulheres negras, também abordando a questão homossexual e bissexual.

Foto: Pedro Gabriel/laboratório de fotografia e memória
Integrantes do Junf. Foto: Pedro Gabriel/Laboratório de Fotografia e Memória

As diferenças entre as lutas

Para Alice, o feminismo nos moldes da mulher branca não contempla a mulher negra, pois parte de um lugar diferente. “Ele não atinge as demandas das negras, não as empodera. Elas avançaram na luta com o feminismo negro, mas as linhas são diferentes, por mais que elas se atravessem”, afirma.

Segundo ela, as feministas, em geral, lutam pelo aborto legal e seguro, mas o feminismo negro luta para que mulheres negras possam ter seus filhos vivos, porque muitas vezes eles são mortos por conflitos, pela Polícia Militar. Já que boa parte da população negra se encontra nas periferias – há um recorte, inclusive, nos locais onde mulheres brancas nascem e as negras nascem e crescem. “Quando chegamos num grupo de mulheres majoritariamente brancas, não conseguimos ficar ali muito tempo, pois não temos voz, nossas pautas não são abordadas”, acrescenta.

As mulheres (brancas) ainda tem a ideia de hierarquização de quem pode falar. “É jogada a carta da solidariedade, de que somos todas irmãs, mas isso não é posto em prática, por isso nos afastamos, porque somos diferentes, sofremos de formas diferentes”, critica Alice.

A estudante acredita que há conforto e reconhecimento entre elas para compartilhar a luta e experiências em um espaço constituído para debater somente feminismo negro. “Acho que podemos, de fato, participar de espaços mistos. Cabe às brancas que desconstruam seu racismo, nos escutem, pratiquem uma ação transformadora. É importante que quem luta contra a cultura racista, se manifeste também em espaços quando alguém fala algo racista, fale para aquela pessoa que é errado e desconstrua essa construção racista”, completa.

A militância no cabelo

negressencia
O Projeto Negressencia, através da bolsa Funarte de fomento para artistas e produtores negros, financiou a imersão artística de 9 bailarinos negros de Santa Maria/­RS em um processo criativo em dança negra. Foto: arquivo projeto

Amanda Silveira, 22, faz parte do espetáculo Negressencia e estuda dança na UFSM. “O feminismo está aí para mostrar que somos mais do que uma aparência da mulher negra, podemos ser milhões de outras coisas além do estereótipo criado, principalmente dentro da dança”, nota Amanda. A estudante conta que parou de alisar o cabelo por outros motivos pessoais, mas percebeu, lendo sobre, que usar o cabelo crespo é um ato político. E ao reconhecer sua identidade, ela tomou coragem para outros passos.
“Eu não preciso agradar a não sei quem, por causa de um padrão que eu não sei quem criou”, destaca. Ao valorizar sua cor, seu cabelo, ela pode ajudar outras meninas que passam pelas mesmas coisas. “Eu notei coisas peculiares depois que parei de alisar, por exemplo, assédios na rua – por mais que seja horrível – eu parei de sofrer, mas não por consciência dos homens e sim por causa do racismo. Por causa do meu cabelo crespo, de negra, é como se um preconceito espantasse o outro. E são coisas que notamos, é complicado passar por essa transição, depois percebi que essa sou eu, me reconheço muita mais agora ao olhar no espelho. ”, completa Amanda.

Foto: Pedro Gabriel/Laboratório de Fotografia e Memória
Foto: Pedro Gabriel/Laboratório de Fotografia e Memória

As meninas também falam sobre a representatividade inexistente do cabelo afro e crespo, na mídia. Hoje é mais aceito pela sociedade ter cabelo crespo, desde que esteja com cachos controlados. Elas alisam o cabelo para se sentirem iguais e serem aceitas. Alice Carvalho ressalta que consegue transitar mais facilmente por espaços, por causa das tranças, do que mulheres que usam o cabelo black power. Ela parou de alisar o cabelo a partir do poema “Cabelos que Negros”, declamado pela Geanine Escobar, no dia em que conheceu a JuNF. “Hoje consigo me olhar no espelho e ficar feliz com o que vejo, as pessoas me elogiam mais quando estou de trança do que quando estou com ele natural”.
Já Aline nunca alisou os cabelos, e atribui isto ao fato de ter nascido numa família negra com uma estrutura identitária forte.  “Usar o cabelo natural é uma forma de nos libertarmos de um sistema racista, usar roupas e acessórios afros também é um ato político”.

A estudante de psicologia da UFSM, Juliane Loreto, 20, conta que alisou os cabelos por um ano e depois começou a usá-lo naturalmente em 2014. “Isso aconteceu quando encontrei uma colega negra no meu curso, e conversamos sobre isso. Ela elogiava meu cabelo quando o usava crespo, e eu pensava que enfim alguém gostava dele assim, até que passei a usá-lo sempre”. Segundo a estudante, o corte do cabelo foi para deixá-lo mais volumoso e aussumir o discurso de empoderamento enquanto mulher negra em espaços de debate. “Tudo que é estético é um ato político. O modo como a gente se veste tem muito da gente”, concorda Karen Tolentino, 30, dançarina do Negressencia.

A solidão da mulher negra

As entrevistadas ressaltaram ainda que a solidão da mulher negra também é discutida entre as meninas do movimento,principalmente porque se sentem visibilizadas como objeto de forma mais intensa do que as outras mulheres – brancas – e, segundo elas, entre parceiros e parceiras essa discrepância vai aparecer em algum momento. “Percebo uma facilidade maior entre minhas amigas brancas para relacionamentos, e em como os homens brancos hesitam em entrar em relacionamentos sério com nós, negras”, nota Karen.
A objetificação e sexualização do corpo da mulher negra também são mais intensas, segundo Alice, e elas precisam construir uma identidade e saber o que é ser negra. A pauta de representatividade é recorrente, pois, quando há representação na mídia, a mulher negra é hiperssexualizada, estereotipada, ou aparece como serviçal. Alice acredita que há um estereótipo que a mídia finge representar, mas é de modo racista e excludente.

Além disso, ocorre racismo entre mulheres dentro do próprio movimento feminista. “Sofremos racismo em todos os espaços, em instituições escolares, em festas, na raiz da estrutura do sistema está esse ímpeto de nos afastar e nos tirar a humanidade. Visto que nossos ancestrais eram tratados como animais na escravidão”, afirma Aline.

O Laproa  veiculou a crônica audiovisual produzida por alunas do primeiro semestre na disciplina de Oficina de Mídias do curso de Jornalismo da Unifra, sob orientação da professora Neli Mombelli.

*ARRAES, Jarid. Feminismo negro: sobre minorias dentro da minoria. Revista Fórum, 21.fev.2014 (http://migre.me/tW3lr)

Por ACS, Arcéli Ramos e Amanda Souza

Lugar de mulher é em todos os lugares. A ACS acompanha a caminhada delas  a cada dia,  e  a registra em entrevistas, notícias e reportagens.
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Seminário debate a questão da violência contra à mulher na sociedade (Imagem: Divulgação)

O Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, que ocorreu em 25 de novembro, marcou o início da campanha 16 Dias de Ativismo. O movimento tem como objetivo disseminar conhecimento a fim de evitar a violência contra a mulher. Para apoiar a causa, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a 3ª Região Policial, a Delegacia de Polícia Regional (DPR) e a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) promovem a I Semana de Prevenção e Combate à Violência Contra a Mulher até o dia 5 de dezembro.

As atividades começaram no dia 20 de novembro, com diálogos em escolas, participação em programas de rádio e o Mutirão Maria da Penha, que concluiu 492 investigações referentes aos delitos que se caracterizavam como Lei Maria da Penha em apenas dois dias. Para encerrar a I Semana de Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher, a delegada Débora Dias e a escrivã de Polícia Olinda Barcellos realizam um seminário com as palestras “Suicídio”, com o professor Marcelo Soares, da Universidade Federal de Santa Maria; “A objetificação da mulher por meio da mídia”, com a psicóloga Aline Baumer e as professoras Carolina Suptitz, da Faculdade de Direito de Santa Maria, e Luciana Carvalho, do Centro Universitário Franciscano;  e “A violência de gênero e transgêneros”, com a defensora pública estadual Alessandra Quines.

Para a palestrante Luciana Carvalho, professora de Jornalismo na Unifra, a iniciativa é de extrema importância, pois a discussão leva à desconstrução da cultura do machismo. “Como mulher, todos os dias estamos pensando sobre a questão da desigualdade de gênero, o quanto se precisa avançar e muito o que ainda tem a ser mudado”, ressalta.

O seminário ocorre no dia 5 de dezembro, a partir das 8h30, na Câmara de Vereadores de Santa Maria, localizada na Rua Vale Machado, 1415, Centro. A programação completa pode ser consultada na página do evento.

Com campanhas online como #PrimeiroAssédio, criado pelo Think Olga, onde mulheres contam o primeiro contato com a violência sexual, devido ao caso da menina Valentina, do programa Master Chef, que foi assediada por homens no Twitter, feministas estão protestando nas ruas e na internet. A hashtag foi replicada 82 mil vezes em respostas à comentários machistas.
Com isso, nas redes sociais está acontecendo uma espécie de “guerra fria” entre páginas ditas de direita e esquerda. No último domingo, 1, foi derrubada a página Orgulho de ser hetero, via denúncias de usuários do Facebook. No mesmo dia a página foi devolvida ao moderador e pelo menos cinco páginas feministas e pró LGBTs foram derrubadas, como a Feminismo sem demagogia e Jout Jout Prazer. As usuárias feministas tiveram seus perfis bloqueados por um tempo, inclusive, algumas mulheres ainda não conseguiram recuperar seu perfil.

Arte: divulgação/ThinkOlga
Arte: divulgação/ThinkOlga

Julia Tolezano, vlogueira do canal Jout Jout Prazer e moderadora da página, tuitou na terça-feira que não estava conseguindo acessar a página e nem seu perfil no Facebook. A colunista da Cosmolitan teve sua conta de volta na quarta-feira. E postou em seu perfil uma mensagem de carinho para os seguidores, também fez comentários sobre a “guerra” entre as páginas online.

As moderadoras da página Feminismo sem Demagogia também estão chocadas com o bloqueio e ainda não conseguiram recuperar a conta. O perfil da militante Stephanie Ribeiro também foi bloqueado, ela luta contra o machismo e racismo, com postagens de denúncia. Agora só consegue postar fotos via instragam para o Facebook e usar o bate-papo inbox, seus seguidores estão a acompanhando via twitter.

O blog Escreva Lola Escreva, também está sofrendo ameaças. A doutora em literatura, dona do site, Lola Aronovich, escreveu um desabafo sobre os fakes do blog que estão circulando e postando conteúdos inapropriados, misóginos, racistas, em seu nome. Um dos nomes fakes criados é o “Lola escreva Lola”. Foi criada uma hashtag de apoio à feminista, #ForçaLola, com mensagens de indignação e revolta aos ataques machistas.

O site Think Olga publicou um texto de solidariedade com as páginas que foram derrubadas, dando força para as feministas, afirmando que não calarão as mulheres! Em meio a tanta violência e agressividade contra mulheres e contra quem luta pelo feminismo – que visa a desconstrução dos papéis de gênero e a não objetificação da mulher – as feministas buscam forças em conversas e marchas contra o assédio e discriminação de gênero. Recentemente, com o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio abordar a persistência na violência contra a mulher brasileira, elas encontram esperanças e se tornam cada vez mais fortes, nas ruas e nas redes sociais. Visto os protestos contra o projeto de lei de Eduardo Cunha – que restringe os direitos à vítimas de estupro – e vídeos, como o do canal Jout Jout Prazer, incitando as mulheres a não se calarem, e fazerem um escândalo diante de abusos sexuais.

O grupo de machistas que derrubou ambas as páginas também está tentando derrubar a Quebrando o Tabu, com 2.097.032 curtidas, e a Travesti Reflexiva, com 174.016 curtidas. Inclusive, essa última, teve uma postagem censurada pelo Facebook, ao postar uma foto com os dizeres “sejam bem-viados”. Outras páginas de esquerda também estão sendo atacadas.
De acordo com as regras do Facebook, um post ou página pode ser bloqueado se for uma violação clara dos termos de uso da plataforma (como em casos de quebra de direitos autorais e perfis falsos) e em temas considerado “conteúdo ofensivo”. E deve haver uma justificação para a denúncia, após um funcionário do Facebook analisa a página ou perfil denunciado.

Assista ao vídeo de Julia Tolezano sobre a violência sexual e a voz das mulheres: