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frustração

Geração Y e a frustração

Estudar. Trabalhar. Sair da casa dos pais. Obter independência financeira. Ganhar reconhecimento profissional. Esses degraus representaram por anos o caminho que levaria as pessoas para uma vida adulta plena. Entretanto, para a geração de jovens adultos

Estudar. Trabalhar. Sair da casa dos pais. Obter independência financeira. Ganhar reconhecimento profissional. Esses degraus representaram por anos o caminho que levaria as pessoas para uma vida adulta plena. Entretanto, para a geração de jovens adultos da atualidade esses degraus não remetem mais tanta estabilidade e felicidade, e uma discussão começa a surgir dentro desses grupos a respeito das expectativas idealizadas sobre o futuro.

Durante o último ano de graduação e, principalmente, após a formatura, comecei a me sentir desapontada comigo mesma. Uma sensação de insuficiência passou a acompanhar minha rotina. Eu colei grau, mas ainda estava desempregada e morando com minha mãe. Talvez estivesse falhando como adulta. Porém, a partir do momento em que compartilhei essas angústias com outras pessoas de idades próximas a minha, percebi que  essas questões também cercavam os pensamentos delas.

Instigada por isso, pesquisei sobre o assunto e descobri que esse é um fenômeno da geração Y. Pesquisas, artigos e reportagens buscam compreender e justificar o processo vivido pelas pessoas que  nasceram entre os anos 80 e meados dos ano 90. O debate ainda é recente, mas dois fatores ganham destaques nas produções desenvolvidas nos últimos anos e ajudam a compreender o porquê da alta cobrança e do sentimento de frustração nutridos pelos jovens adultos.

A geração Y cresceu com uma grande expectativa em relação ao futuro. A promessa de um horizonte promissor está diretamente relacionada à educação destinada a esse grupo e seus antepassados. A geração baby boomers abrange a população que nasceu após a segunda guerra mundial até os anos 60. O contexto social e econômico em que cresceram era delicado, principalmente, nos países atingidos diretamente com a guerra. Com isso, a expectativa dessa geração era muito baixa em relação às conquistas futuras. O único propósito era um estabelecimento profissional para conseguir manter a família.

O  grupo seguinte, denominado de X, que abrange os nascidos entre os anos de 60 e 80, desenvolveu-se em um contexto diferente. Partindo com baixas expectativas e o mesmo propósito ensinado pelos progenitores, a geração X encontrou um cenário econômico que favoreceu um crescimento pessoal e profissional mais rápido e mais cedo do que o esperado. Com isto, o pensamento “com minha idade minha mãe já trabalhava”, “com minha idade meu pai já morava sozinho” tem uma justificativa.  Mas voltando à linha de raciocínio, a geração X, ou a geração dos nossos pais, educaram a geração Y, ou nós, com uma grande expectativa em relação ao futuro e  conquistas. A intenção dessa linha de pensamento não é colocar nos pais a culpa de nossas frustrações, mas compreender como esse movimento ocorreu e atingiu gerações dentro um contexto maior.

Dessa forma fica mais claro entender o porquê nos afetamos mais do que nossos antecessores no que se refere ao êxito pessoal e profissional. Partimos com o pensamento de que somos capazes de conquistar bens e espaços apenas com muito empenho. E é aí que sofremos o primeiro impacto. Quando não atingimos determinada meta, nos sentimos inferiores e insuficientes, pois se não conseguimos, foi porque não fizemos direito, não nos dedicamos o bastante. A geração Y passa a dar mais valor ao que falta e ao que deixou de ser feito, do que para aquilo que se já conquistou e para o espaço já ocupado.

E nesse cenário, um segundo elemento de destaque para o fenômeno vivido por esse grupo se apresenta, as redes sociais. Nossa geração é hiperconectada e o receio pelo offline já tem até nome: FOMO (“fear of missing out”), que pode ser traduzido como o medo de ficar de fora. É uma expressão que traduz não apenas o receio de ficar fora das mídias sociais e deixar de ver alguma publicação, mas também abarca a sensação de insatisfação sobre si mesmo ao se comparar com a vida exposta por outros usuários.

As diferentes mídias potencializam o exercício de comparação. Ao deslizar a timeline e ver as conquistas de outras pessoas, nos sentimos frustrados. E isso não é, necessariamente, inveja, mas uma sensação de que enquanto estamos “parados” outros estão fazendo mais e melhor do que nós e, por isso, venceram. Entretanto, imersos nesse ciclo de comparação e frustração, deixamos de pensar em, pelo menos, dois pontos básicos.

Primeiro, as redes sociais apresentam apenas um recorte da realidade. As postagens daqueles que seguimos expõe um determinado momento de suas vidas, mas não o real. A maioria das pessoas passam pelas mesmas angústias, dúvidas, com a diferença de que não as tornam públicas. O segundo ponto se refere a contexto. Enquanto clicamos em fotos e vídeos e nos comparamos, não pensamos que pessoas vivem em cenários diferentes, com estilos de vida diferentes, recortes sociais e econômicos distintos. Não é justo comparar trajetórias que partem de pontos diferentes.

A estrutura em que a geração Y está inserida leva a um desgaste psicológico. Não é difícil de encontrar reportagens e pesquisas que discutem sobre a saúde mental do jovem hoje. Exigência por um alto desempenho, pressão para alcançar um lugar – que no fundo nem sabemos muito bem qual é e se realmente queremos estar lá -, desenha um quadro perigoso e que precisa urgentemente de reparos.

Já é possível visualizar uma movimentação por parte dos jovens adultos na tentativa de quebrar esses paradigmas. Inclusive, há pouco tempo, algumas figuras públicas, que alcançaram um patamar considerado de prestígio, revelaram a seus fãs e seguidores que não estão bem e abriram espaço para uma conversa sincera sobre metas, conquistas e felicidade.  A abertura para um diálogo honesto consigo e com os outros está contribuindo para um processo de reflexão e desconstrução de um modelo de vida proposto à geração Y.

 

 

Paola Saldanha é egressa do curso de Jornalismo da UFN. Acredita em uma narrativa com protagonismo de diferentes vozes e espaços, uma leitura plural de vidas plurais