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A capitalização do futebol no século XXI

O futebol é um negócio que mobiliza, além da paixão, bilhões de dólares no mundo todos os anos. Gestores não podem mais ser apenas torcedores que trabalham de maneira voluntária, no tempo que encontram para isso. 

Memórias e frutos inestimáveis

O futebol feminino, sabidamente, parece trazer duas palavras contraditórias. A Copa do Mundo, que poderia se chamar Copa do Mundo de Futebol Masculino, mas ironicamente poderia conotar machismo, existe desde 1930, e hoje conta com 32

Um expoente na história do futsal santa-mariense

Leonardo Colvero é um nome marcante quando se fala na modalidade Professor Leonardo Colvero, um nome de grande relevância e que merece destaque no futsal de Santa Maria e do Rio Grande do Sul. Com 74

A história de Tadeu Menezes está ligada ao Inter-SM

Ele foi jogador e técnico do clube alvirrubro santa-mariense Em 29 de outubro de 1946, nascia na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, José Tadeu Menezes Ribas. Tadeu Menezes, como ficou conhecido, foi

Riograndense prepara volta ao futebol profissional

O Riograndense futebol clube, instituição com 107 anos e licenciada do futebol profissional desde 2017, começa a dar primeiros passos em direção ao retorno para as quatro linhas.  Na quadra sintética que faz parte do complexo esportivo

Pedro Borges: um defensor do esporte

Para diversas equipes, cada etapa, desde a confecção dos uniformes até o dinheiro para despesas do campeonato são difíceis. Apesar de todas dificuldades, o futebol amador luta bravamente para se manter e alimentar a paixão de

Dezessete vezes Marta

Enaltecer mulheres e desconstruir o machismo recorrente da sociedade conservadora e com origem do patriarcado é mais do que importante para igualdade de gênero. Marta Vieira da Silva é um dos maiores exemplos de reivindicação por

Uma paixão internacional

Dizem que não existem muros ou fronteiras que possam segurar o futebol e o amor, no amor pelo futebol isso não poderia ser diferente. Este é o caso do aposentado e motorista de aplicativo Nilton Cardoso,

Imagem: Pixabay

O futebol é um negócio que mobiliza, além da paixão, bilhões de dólares no mundo todos os anos. Gestores não podem mais ser apenas torcedores que trabalham de maneira voluntária, no tempo que encontram para isso.  O futebol exige profissionais qualificados, nas mais diferentes áreas. Um negócio que precisa de planejamento, de receita, organização e responsabilidade financeira. E isso pode existir no modelo associativo, da imensa maioria dos clubes brasileiros, ou numa transformação para clube empresa.

“O que falta hoje no nosso futebol é profissionalismo. Não é dinheiro. Dinheiro tem de sobra”, comentou Raphael Gomes. Repórter e produtor da rádio Gaúcha desde 2012. Gomes comentou ainda, que para a dupla grenal não seria a saída vender ações do clube pelo fato de serem clubes gigantes e possuírem muitos torcedores. Ainda, segundo ele, o Grêmio está com uma gestão excelente e conseguindo se estabilizar financeiramente. Já o Internacional está aos poucos tentando melhorar sua situação financeira. 

O repórter Tiago Nunes, da Bitcom TV, comentou sobre a nova proposta de transformar a instituição de futebol em clube S.A., que seria uma espécie de sociedade anônima, transformando os clubes de futebol em empresas e abrindo suas ações para investidores. “Eu não vejo como solução no futebol brasileiro em transformar um clube em uma empresa. Porque não adianta se a mentalidade de quem está dentro dos clubes não é de profissionalismo”, afirmou Nunes.

O futebol cada vez mais é um negócio em que uma gestão profissional faz toda a diferença na hora em que a bola rola. No início da década de 1990, os europeus descobriram que profissionalizar e transformar os clubes em empresas era uma saída para conseguir crescimento sustentável, na tentativa de gerar títulos e aumentar sua base de torcedores.

No ano de 2019, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que libera os clubes para se tornarem empresas, algo parecido com o que ocorre na Europa. Hoje, qualquer clube pode ser uma companhia. Há a possibilidade de nascer empresa, a exemplo do Red Bull Brasil, como deixar de ser uma associação e virar uma empresa, como Red Bull Bragantino e Botafogo-SP. Atualmente, em sua maioria, os clubes são entidades sem fins lucrativos e se tornariam sociedades limitadas ou até mesmo anônimas. Em 2020 com a pandemia do novo coronavírus e a paralisação das competições no Brasil, a delicada situação financeira que grande parte dos clubes atravessou ficou escancarada e ganhou holofotes.   

Tendo em vista que apenas clubes quais não vem obtendo sucesso com títulos e financeiro, acabam sendo comprados por investidores. Temos alguns exemplos como citado acima Botafogo-SP, houve a tentativa mal sucedida do Figueirense. E clubes internacionais, quais não figuravam no cenário do futebol, e depois da venda se tornaram sucesso. Instituições tais como: LyonManchester CityJuventus e RB Leipzig são casos de sucesso desse novo modelo de gestão. 

Imagem: Pixabay.

Para Gomes, a estratégia de transformar o clube em uma empresa não é uma boa opção, principalmente para os clubes de maior torcida. Para o jornalista esse modelo deu certo no Bragantino, por exemplo,  pelo motivo de o clube ser uma instituição menor, sem torcida de bairro. Ele ainda citou que o Figueirense não teve sucesso na venda do clube, pelo motivo de já ter uma quantia considerável de torcida. 

Em 2017 um grupo de investidores assinou com o Figueirense um contrato para transformar o clube em uma empresa de sociedade limitada. A terceirização da gestão foi aprovada no conselho deliberativo por 80 votos a 2. Em abril de 2018, o Figueirense foi campeão do Campeonato Catarinense. Poderia ser o prenúncio de bons tempos, mas, no mesmo ano, os problemas de gestão se agravaram e o número de processos trabalhistas ultrapassou a faixa dos 150. Hoje, por ora, o Figueirense segue com gestão interina, mas parte da cúpula ainda não desistiu do modelo empresarial. 

O exemplo também foi citado por Tiago Nunes que concorda que se os clubes não forem profissionais, vão acabar falindo. Ele ainda comentou que a CBF deveria instruir as instituições para profissionalizá-las, assim tendo regras que favorecem os clubes. Nunes deu como exemplo o Grêmio, que é um exemplo de organização como instituição que visa apenas alegrar o torcedor. 

Sobre os clubes do interior do Rio Grande do Sul, que não possuem estruturas e torcedores suficientes para manter suas receitas, Nunes afirmou ”eu não vejo a possibilidade de transformar em empresa. Porque são diferentes, apaixonados. Eles acabam administrando na paixão, e não na razão”. 

Texto: Matheus Andrade

Produção feita na disciplina de Jornalismo Esportivo, durante o primeiro semestre de 2021, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

Foto: arquivo pessoal
Kawanny é a última jogadora (da esq. para dir.), atrás. Foto: arquivo pessoal
Imagens: Raw Pixel

O futebol feminino, sabidamente, parece trazer duas palavras contraditórias. A Copa do Mundo, que poderia se chamar Copa do Mundo de Futebol Masculino, mas ironicamente poderia conotar machismo, existe desde 1930, e hoje conta com 32 equipes. A Copa do Mundo de Futebol Feminino, que ocorre desde 1991, conta atualmente com 24 times na disputa. Os números, datas, salários e, para além, os sentimentos de representação e valorização demonstram um caminho árduo, mas não acabam com os sonhos de muitas jogadoras, profissionais ou amadoras.

O esporte mais amado do Brasil repercute na vida de quem é apaixonado, ou apaixonada, pelos campos, times e um universo que só quem vive entende. Independentemente de ser homem, mulher, criança, adulto ou idoso, as memórias, o afeto e as experiências com o esporte marcam profundamente alguns dos que o praticam. Para algumas jogadoras, não importa a falta do salário ou prestígio, mas o ganho de valores que não têm preço.

A santa-mariense Kawanny Silva, 22 anos, é atendente por profissão mas, desde criança, carrega a paixão pelo futebol e guarda as boas lembranças dos incontáveis times dos quais já fez parte.

Para ela, ser jogadora de futebol é…

Amor

Desde pequena, carrego a paixão pelo futebol. Meu pai sempre foi muito ligado ao esporte e aprendi a amar indo com ele em campos e ginásios, mesmo não havendo mulheres jogando.

Amizade

Com o futebol, conheci pessoas incríveis em todos os lugares onde atuei. Elas se tornaram minhas amigas. Joguei em muitas cidades do Rio Grande do Sul e até em Santa Catarina, mas tudo começou no colégio. Algumas das minhas amizades do futebol têm mais de 11, 12 anos… ainda hoje nos damos bem e estamos sempre juntas. Com as meninas de outras cidades, mantemos contato.

Sonhos

Minhas amigas do esporte e eu temos grandes sonhos, como de um dia chegar ao topo da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Este sonho vem de todas aquelas meninas que entram no futebol, todas já tiveram esta aspiração ou ainda têm.

Alegria

Em cada time pelo qual passamos, sempre há momentos de alegria que ficam marcados para sempre. A maior felicidade para um time é sair de um jogo campeão, além dos gols… Mas há muito mais, para além disso. Há as experiências juntas, como acampamentos, viagens, brincadeiras entre a equipe, aquela união de compartilhar todos os momentos e ver todas sorrindo, às vezes até na derrota. A união do time já é uma alegria para mim.

Família

Nós, jogadoras, nos tornamos mais que um time, mas, sim, uma segunda família, que passa muito tempo junto e compartilha cada momento. Podemos contar umas com as outras em problemas pessoais, ir além de apenas amizade de equipe, mas estar ali sempre, para o que precisar, até em dificuldades financeiras.


Ninguém é apenas o nome, idade, formação, profissão ou naturalidade. Somos um conjunto de infinidades. Entre tudo o que te identifica, qual é a sua parte favorita? Você também pode fazer parte deste projeto ou indicar alguém que é excelente numa área bem diferente da formação ou profissão, um especialista (ou quase) pela vivência.

A acadêmica de Jornalismo Gabriele Bordin desenvolveu o Projeto Experimental em Jornalismo, no curso de Jornalismo da UFN, durante o primeiro semestre de 2020. O projeto foi orientado pela professora Glaíse Palma e teve uma história por semana publicada neste espaço.

Leia as matérias do projeto Lado B:

Leonardo Colvero é um nome marcante quando se fala na modalidade

Dos gramados para a quadra, Colvero acumula mais de 40 anos no esporte. Foto: Allan Carrion

Professor Leonardo Colvero, um nome de grande relevância e que merece destaque no futsal de Santa Maria e do Rio Grande do Sul. Com 74 anos, o ex-treinador ainda guarda em sua memória diversas histórias e acontecimentos que viveu em seus mais de 40 anos como comandante de equipes profissionais pelos campos e quadras.

Passou por diversas equipes no Estado, deixando sua marca em cada lugar e cidade que trabalhou. Lembrado por seu profissionalismo, dedicação e principalmente amor ao esporte, conquistou diversos títulos e acumulou boas campanhas ao passar dos anos. Mas engana-se quem acha que Leonardo já começou no antigo futebol de salão. Sua trajetória começa nos gramados, como jogador e, posteriormente, treinador.

Na primeira experiência no comando de uma equipe de futebol, Leonardo Colvero tinha apenas 22 anos. Foi na categoria juvenil do Riograndense Futebol Clube, tradicional equipe santa-mariense, que Leonardo deu os primeiros passos. O primeiro trabalho ocorreu em 1976. No ano de 1978, ele assumiu o Internacional de Santa Maria.

Leonardo Colvero ganhou gosto pelo futebol de salão no início da década de 80, e, em 1984, acabou trocando o campo pelo ginásio. Começou treinando a equipe de Alvorada, de Santa Maria. Ele lembra que, na época, sua equipe era a melhor equipe “das outras”, pois considerava os times do Veículos Pozzobon e da Brahma acima da média, com mais estrutura e investimentos.

No ano de 1986, Leonardo assumiu a equipe do Veículos Pozzobon, ganhando grande destaque no âmbito estadual. Nos 3 anos em que ficou à frente da equipe, Colvero garantiu o 4º, 3º e o 2º lugares nos anos de 86, 87 e 88, deixando sua marca na equipe. O time não seguiu com os trabalhos no ano de 1989.

Após ficar um ano fora das quadras, Leonardo Colvero assumiu a equipe das Dores/Bambino. Motivado pelo seu último trabalho, Leonardo buscou os jogadores que comandou na equipe do Veículos Pozzobon, garantindo assim um elenco forte, comprometido e que entendia o jeito do treinador. Uma marca que o treinador faz questão de lembrar é de uma sequência de 30 jogos invictos com a equipe.

Quando questionado a respeito do que o motivava e o faz amar o futebol de salão, Leonardo responde que, na época em que era treinador, as mudanças nas regras do esporte foram fundamentais para a manutenção do mesmo. O início dos anos 90 foi um divisor de águas na modalidade, que inclusive trocou de nome, passando a ser chamada como conhecemos hoje, de futsal.

O objetivo foi deixar o esporte ainda mais atraente, ágil e dinâmico, agradando ainda mais os jogadores, comissões técnicas e torcedores. Leonardo destaca que as mudanças ocorreram desde a regra número um, com o aumento nas dimensões da quadra de jogo até a regra 18, com o arremesso de canto sendo cobrado com os pés. Vale destacar também a utilização do tiro livre sem barreira após a 6ª falta coletiva, cobrado a 12 metros de distância.

Mas não para por aí. Leonardo também destaca a alteração no número de substituições, passando de 7, 10, 12  e, por fim, a serem ilimitadas durante a partida sem a necessidade da paralisação do jogo. A bola também não escapou das mudanças, sofrendo alterações no seu material, peso e dimensões.

Enquanto o futsal se modificava, Leonardo Colvero seguia sua carreira de treinador e aperfeiçoando seus trabalhos. No final da década de 90, assumiu a equipe do Jobi, umas das mais promissoras do Estado. No ano de 1997, Leonardo colocou a equipe da Jobi como umas das 8 melhores do Rio Grande do Sul. Por problemas envolvendo a diretoria, no ano seguinte, Leonardo trocou de equipe e assumiu a Associação Esportiva Sobradinho, por qual ainda tem grande carinho e prestígio.

Além de diversos campeonatos citadinos por todo o Estado, o grande feito na carreira do treinador santa-mariense foi o título estadual da categoria juvenil com a equipe da AABB/Corintians em 2004. A final foi disputada contra a favorita Semeato, da cidade de Passo Fundo. Além de levantar o caneco, Leonardo considera que este título mostrou para o Estado que Santa Maria, além de possuir boas equipes, também tinha a capacidade de formar grandes atletas.

No final de 2014, Leonardo Colvero abandonou as quadras para descansar e cuidar da família. Quando questionado sobre a vontade de retornar às quadras, o professor comenta que recebe muitos convites, tanto de equipes locais quanto de outras cidades. Segundo ele, o mercado sempre estará aberto em algumas cidades, seja pelos dirigentes conhecerem seus antigos trabalhos, seja por atletas e comissões que o conhecem e o indicam.

Para finalizar, ele conta que não deixa de colaborar com seu filho, Sandro Colvero, que treinou a Associação Esportiva Uruguaianense de Futsal em 2019, na Liga Gaúcha. Leonardo comenta que Sandro começou como seu auxiliar no início dos anos 2000 e 2001, mas que atualmente ele mais aprende com o filho do que passa ensinamentos.

Por Guilherme Superti, Alam Carrion e Wander Schlottfeldt, reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Esportivo sob orientação do professor Gilson Piber

Tadeu Menezes diz que o futebol sempre teve bons e maus jogadores. Foto:Patrício de Freitas

Ele foi jogador e técnico do clube alvirrubro santa-mariense

Em 29 de outubro de 1946, nascia na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, José Tadeu Menezes Ribas. Tadeu Menezes, como ficou conhecido, foi um grande jogador de futebol e, posteriormente, técnico, deixando seu nome marcado na história do Internacional de Santa Maria.

No entanto, sua trajetória no futebol profissional começou no rival, o Riograndense. Depois de aproximadamente dois anos jogando pelo Periquito, como é carinhosamente chamado o Riograndense, e alguns bons resultados conquistados, Tadeu Menezes, enfim, chegava ao Alvirrubro. A partir daí, começava então uma bonita e longa caminhada defendendo o clube vermelho e branco.

Talvez por ironia do destino, Tadeu fez sua estreia em jogos oficiais contra o Grêmio Porto Alegrense, time pelo qual ele torcia quando pequeno e acabou saindo derrotado por 2 a 0. O lateral-direito era um jogador técnico e exímio marcador, chegando inclusive a fazer um teste no Santos de Pelé, em 1970. Passou também por outros clubes gaúchos, como Esportivo de Bento Gonçalves e Brasil de Pelotas.

De volta ao Inter, Tadeu encerrou sua carreira como jogador profissional com uma vitória por 2 a 1 em cima do São Borja, no Estádio Presidente Vargas, em 1980, classificando o time para a Segunda Divisão do Futebol Brasileiro. No ano seguinte, começou a escrever sua história como treinador, nos juniores do Internacional. Algum tempo depois, já assumia como treinador do time principal do Inter de Santa Maria. E tudo estava só começando, Tadeu levou o clube a ser Campeão do Interior, isso tendo que jogar quatro jogos contra a dupla Gre-Nal, nos quais empatou dois e venceu outros dois. Com o título, o Inter-SM se classificou para disputar a Primeira Divisão do Futebol Brasileiro de 1982.

Hoje, com 73 anos, e muita bagagem, lembranças e histórias, Tadeu Menezes acompanha assiduamente o futebol. Ele não acredita em endeusamento de clubes, atletas ou técnicos e, sim, em trabalho com humildade e resultados. Tadeu também comenta que o futebol atual não é muito diferente de anos atrás, mas compreende que houve mudanças. “Futebol sempre teve bons e maus jogadores, os esquemas táticos mudaram as características, com evolução também na parte física dos atletas. Mas quando falamos de técnica, prevalece quem tem. Pelé, por exemplo, jogaria tranquilamente nos dias de hoje, assim como os bons jogadores de hoje jogariam na década de 80”.

Sobre os técnicos brasileiros, Tadeu acredita em uma grande falácia quando as pessoas e a imprensa dizem que um treinador é “ultrapassado”. Tadeu cita nomes, como Tite, Felipão, Luxemburgo, técnicos que já tiveram grandes conquistas e seguidamente têm seus nomes colocados em cheque.  “Hoje, quando um técnico mais velho não passa por um bom momento, se cria uma falácia que ele está ultrapassado, e as coisas não funcionam assim,” observa.

Tadeu Menezes deixou um legado no futebol, uma trajetória digna e exemplar, principalmente no Inter de Santa Maria, pois o time do qual ele fazia parte, até hoje, é considerado por muitos o melhor de todos os tempos. O conhecimento e a experiência adquiridos são passados adiante por Tadeu. Hoje, ele trabalha numa escolinha de futebol, em Santa Maria, ao lado do filho Fábio Ribas e do técnico Robson Centurião, que foi seu jogador no Inter-SM.

Por Alex Silveira, João Pedro Foletto e Patrício de Freitas . Reportagem produzida na disciplina de Jornalismo Esportivo orientada pelo professor Gilson Piber.

Leonardo aposta no entrosamento da equipe para enfrentar os adversários no retorno do clube ao futebol profissional. Foto: Patrício de Freitas

O Riograndense futebol clube, instituição com 107 anos e licenciada do futebol profissional desde 2017, começa a dar primeiros passos em direção ao retorno para as quatro linhas.  Na quadra sintética que faz parte do complexo esportivo do estádio dos Eucaliptos, o treinador Leonardo Ribeiro tenta dar forma a uma equipe que esteja à altura do desafio. Natural de Porto Alegre, mas com o coração Santa-mariense, Leonardo era o encarregado pela casamata Esmeraldina quando a equipe abandonou a segunda divisão do futebol estadual por falta de recursos: “Eu estava engasgado desde 2017 quando não conseguimos terminar um trabalho com 78% de aproveitamento.”

O novo elenco é formado por jovens de até 20 anos que trabalham duro para se colocarem à altura do desafio de trazer o Riograndense de volta aos trilhos do futebol profissional: “Todo treinador quer jogador pronto, o complicado é tu formar jogador, isso leva muito tempo. Mas o que eu prometo para o torcedor é que o meu time vai jogar com vontade para representar eles dentro do campo.” Completou o treinador.

Fotos de Patrício de Freitas

A equipe disputou dois amistosos no início de setembro, e terminou com o placar empatado nas duas ocasiões: 2×2 com a seleção de Caçapava do Sul e 1×1 com o Vasco de Lavras do Sul.

Dia 10 de setembro de 2019, Sahar Khodayari, 30 anos, mulher, mais uma vítima da desigualdade de gênero, no país e no mundo.

Preconceito de gênero no esporte ainda persiste em países como o Irã. Foto: pixabay.

Hoje debatemos todos os dias sobre desigualdade de gênero, mas você sabe qual o conceito dela? Desigualdade de gênero é fenômeno social e acontece quando há discriminação e/ou preconceito com outra pessoa por conta de seu gênero (feminino ou masculino). Blue Girl, como também era conhecida, morreu após atear fogo no próprio corpo, já que poderia ser presa por seis meses após ter tentado entrar num estádio de futebol para assistir a um jogo, vestida de homem. Ela era torcedora do Estaglal, que tem o azul como uma das suas cores principais, por isso Blue Girl.

No Irã, desde 1979, as mulheres foram proibidas de entrar em estádios de futebol, o que nos últimos anos têm gerado conflitos e inúmeras reivindicações por parte do público feminino. Torcedoras chegaram a se fantasiar de homens, com perucas e barbas falsas, como Sahar, para poderem ter acesso aos jogos. Em junho deste ano, algumas iranianas foram agredidas por seguranças e detidas após comprarem ingressos para um amistoso da seleção do  Irã contra a Síria. No ano de 2018, aproximadamente 35 torcedoras foram presas por entrar no estádio Azadi para acompanhar o clássico entre Persépolis e Esteghlal.

Assegurar o direito de uma educação inclusiva e de igualdade de gênero é dever do estado, no entanto, a prática desses direitos não é exercida no Irã, já que existem políticas públicas que restringem a liberdade e os direitos femininos no país.

Após a Revolução Islâmica no final da década de 1970, muitas coisas mudaram no país, se antes as mulheres andavam nas ruas com roupas semelhantes às nossas, como calça jeans e cabelos soltos, a partir da revolução as novas autoridades muçulmanas impuseram um código de vestimenta obrigatório, que determinava o uso do hijab (véu islâmico) por todas as mulheres.

Se no Brasil e no mundo a luta por direitos iguais é uma das principais bandeiras levantadas, no Irã o governo religioso, autoritário e radical, tornou as mulheres reféns de leis que tiram sua autonomia.

Inúmeros jogadores e figuras conhecidas no meio esportivo se comoveram com a morte de Sahar, como o ex-jogador iraniano Ali Karimi, ele foi e é dos principais defensores do direito das mulheres de entrarem em arenas esportivas no país. Karami publicou em uma de suas redes sociais pedindo que os iranianos boicotem os estádios em protesto pela morte de Khodayari.

Há quase 40 anos as mulheres lutam pelo direito de voltarem a frequentar estádios de futebol, seja na liga nacional ou em jogos da seleção, o que acontecia antes da Revolução Iraniana de 1979. No passado, a Arábia Saudita baniu a proibição a mulheres em estádios. Atualmente, o Irã é o único país que ainda impede que mulheres frequentem estádios esportivos, apesar da pressão constante da Fifa.

Na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, inúmeras torcedoras puderam realizar o sonho de acompanharem uma partida da seleção de dentro do estádio. Foi após inúmeras reivindicações e luta por acesso aos jogos, no próprio país, que o dia 10 de Outubro será histórico para as iranianas.  Elas poderão assistir a partida da seleção do Irã contra Camboja, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, no estádio em Teerã. Mas é importante salientar que o direito foi concedido antes da morte de Sahar e que não garante que elas terão livre acesso a outros jogos após a data.

A morte de Khodayari causou tamanha indignação no Irã e no mundo que, em redes sociais, internautas pediram para que a federação de futebol iraniana fosse punida, suspensa ou até mesmo banida da próxima copa. Até porque a própria Fifa impõe que a discriminação em razão do sexo é punível com suspensão ou expulsão da equipe.

Se antes já era fundamental falar sobre os direitos femininos no Irã, Sahar Khodayari se tornou símbolo da luta por direitos iguais no país e pelo acesso das mulheres aos estádios de futebol. Posicionamentos precisam ser feitos e medidas tomadas. A trágica morte de Sahar levanta o questionamento: até quando tragédias precisam acontecer para que as coisas mudem?

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias

 

 

Pedro está á frente do clube amador de São Martinho da Serra há 27 anos.
Imagem: Arquivo Pessoal/Facebook

Para diversas equipes, cada etapa, desde a confecção dos uniformes até o dinheiro para despesas do campeonato são difíceis. Apesar de todas dificuldades, o futebol amador luta bravamente para se manter e alimentar a paixão de milhares de torcedores das comunidades, que se distraem e estreitam laços de amizade. Apesar de toda sua importância, as equipes do futebol amador, em sua maioria, passam por muitas dificuldades. 

Uma pessoa que contribui para sobrevivência do futebol amador é Pedro Borges, 44 anos. Nasceu no interior de São Martinho da Serra, no Rincão dos Trindades. Mas com 11 anos se transferiu, juntamente com sua família para o centro da cidade. Foi a partir disso que começou a jogar como zagueiro no Sete de Setembro, time de futebol amador, com 88 anos de história. 

Em 1992, foi aberto um edital convocando os sócios e também a comunidade para a eleição da nova mesa diretora. A maioria do pessoal que estava ali queria somente ajudar a equipe, mas não um compromisso. Após muitas discussões de quem seria o novo presidente, Bida como é popularmente conhecido pelos familiares e amigos, resolveu se candidatar e foi eleito, estando há 27 anos no comando do único clube de futebol amador na cidade.

Logo que assumiu, acumulou as funções de presidente e treinador, conquistando um vice-campeonato na Copa Três Cidades e ano seguinte, na mesma competição, se consagrou campeão. Ele conta que no final da década de 90 foram de caminhão boiadeiro a Dilermando de Aguiar, jogar um amistoso. E que também, já saíram a pé para várias localidades dentro do próprio município. 

Coordenadora do projeto Jéssica, em um jogo com a categoria de base do clube.
Imagem: Arquivo Pessoal/ Facebook

O futebol amador envolve famílias, amigos, comunidades inteiras. Além disso, como toda modalidade esportiva, auxilia na promoção do corpo e da mente e também, serve como instrumento de orientação social. Foi com essa ideia que Bida, quando esteve à frente da Secretaria de Esportes criou, em 2009,  o projeto Pés no Esporte, que trabalha com crianças de 6 até jovens de 18 anos. “O projeto tem uma importância na vida das crianças pelo fato delas vivenciarem momentos de aprendizagem, dessa forma utilizamos o futebol como ferramenta de educação, onde eles aprendem a respeitar os colegas, respeitar as regras e terem disciplina”, explica a coordenadora do projeto, Jéssica Trindade

Pedro Borges é respeitado na cidade por sua colaboração ao esporte. “Não tenho como descrever o quanto ele é importante para nós (atletas) representantes dessa cidade. Só tenho a agradecer”, comenta o jovem lateral-esquerdo do Sete de Setembro, Bernardo Boemo.

*Reportagem de Matheus Beck, para a disciplina de Jornalismo II (2018), do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN), sob orientação do professor Bebeto Badke 

Enaltecer mulheres e desconstruir o machismo recorrente da sociedade conservadora e com origem do patriarcado é mais do que importante para igualdade de gênero. Marta Vieira da Silva é um dos maiores exemplos de reivindicação por direitos iguais no esporte mundial. A brasileira eleita seis vezes melhor jogadora do mundo tem usado a cobertura midiática da Copa do Mundo Feminina 2019 – uma cobertura histórica para o futebol feminino por sinal – a favor das mulheres e da igualdade salarial e de gênero.

No dia 18 de junho de 2019, Marta escreveu, mais uma vez, o seu nome na história do futebol mundial. A atacante se tornou a maior artilheira de Copas do Mundo, marcando seu décimo sétimo gol em uma copa, ultrapassando o alemão Miroslav Klose. Quem já leu meus outros textos aqui da coluna deve saber o quanto as coisas mudaram no esporte feminino desde o século passado, mas o reconhecimento tardio e a desigualdade de gênero ainda se fazem presente.

Se pararmos para pensar e construirmos uma linha histórica de principais acontecimentos do esporte no Brasil, relembramos aqui que, durante o governo de Getúlio Vargas, as mulheres eram proibidas por lei de qualquer prática esportiva. O decreto de 14 de abril de 1941 expunha regras no artigo 54 que impediam o público feminino de praticar qualquer esporte no país. Lei que caiu no final dos anos 1970.

Seguindo a linha de fatos históricos para o esporte feminino, é praticamente impossível falar de esporte e resistência no Brasil sem citar Aída dos Santos. Pulando obstáculos, literalmente, por ser uma atleta da  modalidade salto com vara, e quebrando barreiras, a brasileira foi a primeira mulher representante do país a disputar uma final olímpica, única atleta da equipe de atletismo nacional e única mulher da delegação brasileira nos Jogos de Tóquio, em 1964. Ela chegou à Olimpíada sem apoio algum, sem patrocínio, sem técnico e muito menos com uniforme próprio, precisando adaptar e ajustar a roupa de outra modalidade e competição. E mesmo com todas as dificuldades, Aída ficou em quarto lugar naquela olimpíada. Muitas mulheres mudaram a história do esporte no país e colaboraram para a desconstrução da ideia de que mulheres não podem praticar esportes.

O ano tem sido marcado por momentos importantes para o esporte feminino. A Copa do Mundo da França 2019 está sendo transmitida em dois canais na TV aberta, Rede Globo e Rede Bandeirantes, além do canal fechado SporTV. Com os holofotes do mundo inteiro virados para elas, finalmente, as atletas tem ocupado seus espaços de fala, além de usar a seu favor a mídia.

A atacante brasileira Marta não chamou a atenção somente pelo grande futebol nessa copa, mas a atleta tem reivindicado direitos de patrocínio iguais, usando uma chuteira sem marca alguma, mas com a bandeira de igualdade de gênero estampada. Marta não aceitou nenhuma proposta das grandes marcas esportivas por um simples motivo: elas ofereceram a ela um valor muito abaixo do pago aos homens, o que é um absurdo.

A expectativa é grande e o apoio às brasileiras tem batido recordes nessa copa, empresas têm parado o expediente durante os jogos da seleção feminina, pela primeira vez, para que os funcionários assistam às partidas. Neste domingo, 23, a seleção brasileira entra em campo contra a França, às 16h, pelas oitavas de final. O apoio e o incentivo dado às atletas, principalmente, nas redes sociais durante a fase de grupos deve continuar nos próximos jogos e permanecer após essa histórica Copa do Mundo Feminina. Poste, compartilhe e use as hashtags #GuerreirasdoBrasil #CopadoMundoFeminina e #SeleçãoFeminina para aumentar cada vez mais a circulação e a visibilidade do esporte feminino.

Uma das grandes lutas das mulheres é por espaço, espaço de fala, espaço de visibilidade, espaço e direito de ir e vir sem ser assediada, espaço pra ser quem quiser e fazer o que bem entender e não ser julgada. Ser mulher no esporte é resistir para poder existir, é treinar sem apoio, é trabalhar enquanto eles descansam. Ser mulher no esporte é ser resistência e acreditar que eu posso, que ela pode, que você pode e que todas nós podemos juntas.

 

Agnes Barriles é jornalista egressa da UFN. Foi monitora e repórter da Agência Central Sul durante a graduação e atuou no MULTIJOR. Tem o jornalismo esportivo como referência em pesquisas e reportagens desenvolvidas. É engajada com causas sociais e busca dar espaço e visibilidade às minorias.

Alunos e professores assistem a abertura da copa do mundo feminina. Fotos: Beatriz Bessow/LABFEM

Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Sérgio Lopes: sentados no tapete e em grandes bancos de madeira arrastados até à frente da pequena televisão, os alunos dos anos finais se reuniram, atentos, para assistir a abertura da copa do mundo feminina. O silêncio era absoluto, mesmo porque as caixas de som não ajudam muito na acústica da sala de convivência, localizada em um grande contêiner sem qualquer tratamento térmico ou acústico, ao lado da escola. Alunos e professores olhavam atentamente para a TV. Seus diversos troféus e medalhas ao fundo enfeitando a sala, junto aos diversos cartazes sobre empoderamento feminino, direitos igual, e o lugar da mulher no esporte.

A Escola ” Sérgio Lopes” , como é popularmente conhecida, se encontra no bairro Renascença, nos fundos do Shopping Praça Nova, região periférica de Santa Maria.  Era conveniada com uma instituição filantrópica até 2016, ano em que recebeu uma nova direção do município. Desde então, participa dos Jogos Esportivos de Santa Maria (JESMA), no qual cerca de 70 escolas se inscrevem para jogar. A escola Prof. Sérgio Lopes tem ganho grande destaque entre as escolas municipais.

Troféus da JESMA expostos na sala de convivência.

Cartazes podem ser vistos colados em todo o corredor e por toda a sala de convivência, e remetem ao esforço da escola em trabalhar projetos que incentivem os alunos. A diretora Andréia Aparecida Liberali Schorn conta que em um deles estão trabalhando o esteriótipo de gênero que delimita o que meninos e meninas podem fazer ou não. “A gente começou a puxar pelo lado do futebol para eles entenderem, já que aqui as meninas ganham muito no futebol do JESMA”, comenta Andréia.

Cada sala de aula tem um nome escolhido que homenageia uma mulher importante na história, e os cartazes dispostos em suas portas explicam o porquê  de terem sido escolhidas. Entre elas podemos encontrar Frida Kahlo, Djamila Ribeiro, Marie Curie, Maria Rita Py Dutra, Carolina Maria de Jesus, sem esquecer da Marta Vieira da Silva que ocupa o nome da sala do 3º ano.

 Apesar da pouca estrutura, os alunos da Sérgio Lopes participam em diversas categorias. Jogam tanto nos esportes coletivos quanto nos individuais, e mesmo que não tenham cesta de basquete para os treinos, improvisam com cadeiras empilhadas para compreenderem o básico do lançamento. Além disso, a vice diretora, Vanessa Flores explicou que a professora de Educação Física trabalha todas as modalidades  do esporte em aula, mas como o interesse dos alunos é grande, foi criado um projeto no turno inverso em que um professor proporciona 4 horas de futebol para os times feminino e masculino praticarem.

Raiane Lamach Almeida tem 12 anos e ganhou o troféu de primeiro lugar em xadrez no ano passado.

A Sérgio Lopes é bicampeã entre as escolas municipais, tendo arrecadado mais pontos pela grande participação em muitas categorias. No ano passado, o único título geral que ganhou foi no xadrez com a aluna Raiane Lamach Almeida do 6º ano, na categoria infantil. Ela conta que não achou ganharia, pois costumava perder nas partidas em aula, mas ficou muito feliz por poder representar o colégio. “Gosto muito da escola. Sempre que eu precisei eles me ajudaram”, confessa Raiane. Apesar de na hora nem acreditar que havia ganhado, a menina de 12 anos levou um troféu só dela para casa.

Desde 2016, quando a escola começou a participar JESMA, a realidade das crianças foi melhorando. O ex-aluno, Eduardo Conceição de Abreu, de 15 anos afirma que antes não era assim, “era só aula atrás de aula”. Foi quando mudou para escola municipal que Eduardo sentiu o incentivo ao esporte fazer uma diferença nos seus dias. “Eu sinto muita saudade da escola, venho ajudar aqui, às vezes, porque eu me sinto em casa; é como uma segunda casa pra mim”, expressa.

Além dos alunos aprenderem muito sobre disciplina e trabalho em grupo, a vice diretora, Vanessa Flores, relata também ter aprendido muito com eles. “Acho que o esporte é fundamental, tudo que eles aprendem influencia na aula, principalmente para trabalhar o companheirismo”, afirma Vanessa. Apesar das condições não serem das melhores, como precisarem descer no Rio Cadena para busca a bola quando cai, a vice diretora destaca a garra de seus alunos por nunca se vitimizarem, sempre manterem a determinação e persistirem, fazendo o que gostam. Mesmo no JESMA já foram elogiados pela organização, por sua educação e comportamento e, ainda,  por dificilmente receberem cartões durante as partidas.

“Elas voam com o futebol”, comenta a diretora Andréia sobre a participação das meninas no esporte.

A vice diretora ressalta que acha muito importante mostrar que acredita neles, e que  notou uma transformação quando o esporte começou a ser mais incentivado. “Eles se uniram muito mais em questão do esporte”, menciona. Mesmo quando um ex aluno vai participar de jogos, ela é convidada e sempre marca presença na plateia para torcer por seus alunos.

O tempo afastado do estádio Presidente Vargas não apagou as memórias do torcedor Nilton Cardoso. (Foto: Patrício Dias)

Dizem que não existem muros ou fronteiras que possam segurar o futebol e o amor, no amor pelo futebol isso não poderia ser diferente. Este é o caso do aposentado e motorista de aplicativo Nilton Cardoso, de 65 anos.

Nascido na cidade de Matosinhos, Portugal, foi em Santa Maria que ele encontrou a sua paixão esportiva: o Esporte Clube Internacional. O sentimento que começou nas arquibancadas, logo evoluiu para os bastidores do Presidente Vargas, onde ocupou diversos cargos na diretoria alvirrubra. Durante um café no centro da cidade, ele compartilhou detalhes de toda uma vida dedicada ao colorado. O carregado sotaque da terrinha transmite com o orgulho o sentimento de Nilton pelo clube da Baixada.

Agência Central Sul – Como começou a sua história com o Internacional de Santa Maria? 

Nilton Cardoso – A minha paixão pelo Internacional começou em 1982, quando vim para Santa Maria e fui morar em uma rua próxima ao Estádio Presidente Vargas. Eu cheguei na cidade de noite e, no outro dia de manhã, eu já fui me associar no Alvirrubro.  Já naquele ano eu assisti à histórica partida contra o Vasco da Gama. Eles vieram com a equipe completa e acabamos vencendo por 3 X 0 no Estádio Presidente Vargas.  Entre os seus titulares, o cruz-maltino tinha o Roberto Dinamite, um dos principais jogadores da seleção Brasileira naquela época e em todos os tempos. Em 1983 teve uma partida que também me marcou muito contra o Santo Ângelo, chovia muito e tinham apenas três torcedores no estádio, entre os três eu estava presente.

 

ACS – Quando você começou a participar dos bastidores do clube?

NC – O meu primeiro envolvimento com a diretoria do Internacional foi em 1992, durante a gestão do presidente Fabio Norberto Correa.  Depois disso, eu fiz parte de praticamente todas as diretorias até 2017.  Me orgulho muito de ter participado de todas as gestões do Heriberto Marquetto, uma lenda viva dentro do clube.

 

ACS – Enquanto outras cidades do interior estão se firmando no cenário estadual e, até mesmo, nacional, o futebol em Santa Maria parece estagnado ou  regredindo. A que fatores você atribui isso?

NC – Em primeiro lugar, a gente ouve dizer que Santa Maria não gosta de futebol. Não é verdade. Quando se faz um time bom aqui, nós lotamos o estádio.  Não é qualquer clube de interior que coloca o público do Inter de Santa Maria.  O problema é simples: aqui nós não temos indústrias grandes.  Não temos o aporte financeiro de outras equipes do interior. Por isso nós temos uma dificuldade enorme para fazer futebol. O Inter de Santa Maria mantém as portas abertas graças ao esforço de um grupo de abnegados que levam essa bandeira.

 

ACSExiste a visão por parte dos santa-marienses, de que o clássico Rio-Nal acaba sendo um pequeno Gre-Nal em Santa Maria. Pelo nome, o Internacional carrega a metade vermelha e o Riograndense, a metade azul.  Você concorda?

NC –  Não concordo. Já disputamos um campeonato estadual com o nome de Santa Maria Esporte Clube, e mudamos as cores, porém não houve o apoio esperado. Isso mostra que o problema não é o nome.

 

ACS – O que motiva você a torcer para o clube da sua cidade?

NC –  Eu sou apaixonado pelo futebol e por esse contato que tu só tem no estádio.  Eu não consigo torcer para outro clube. Santa Maria é a minha cidade. Essa é a minha gente e esse é o meu clube.  O Internacional mexe muito comigo. Eu botei três pontes de safena. Tenho evitado ir ao estádio e ainda não assisti nenhuma partida neste ano. O Internacional é a minha vida, é a minha paixão, é a minha cachaça.  Por isso eu estou afastado. Se eu começar a frequentar o estádio novamente, eu volto para lá (para a diretoria). E eu não tenho mais condições de saúde para me emocionar assim.

 

ACS – Qual a importância do Riograndense e do clássico Rio-Nal para o Internacional de Santa Maria?

NC –  A importância é enorme, o Riograndense tem que voltar. Ia ser fantástico ver o Riograndense retornar ao futebol profissional e disputarmos um clássico Rio-Nal pelo campeonato estadual, seria um sonho para Santa Maria.  Não podemos esquecer de que o Inter de Santa Maria e o Riograndense levam o nome da nossa cidade pelo estado.