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Um destino promissor para as cascas de arroz

Fonte de carboidrato, ele possui vitaminas e nutrientes importantes. Acompanhado, na maioria das vezes, do feijão, o arroz é um dos alimentos mais consumidos no Brasil e no mundo diariamente. Na escala mundial, o Brasil é

Arroz, um dos principais alimentos na mesa do brasileiro. Foto: Planeta Arroz
Arroz, um dos principais alimentos na mesa do brasileiro. Foto: Planeta Arroz

Fonte de carboidrato, ele possui vitaminas e nutrientes importantes. Acompanhado, na maioria das vezes, do feijão, o arroz é um dos alimentos mais consumidos no Brasil e no mundo diariamente. Na escala mundial, o Brasil é o nono maior produtor deste cereal, de acordo com o Ministério da Agricultura, com cerca de 11 milhões de toneladas anuais.

Mas, depois de colhido e trilhado, a palha de arroz demora entre 9 a 10 anos, para se degradar no meio ambiente. Aí que os resíduos de um pequeno grão, viram um grande problema ambiental. Na maioria das vezes, as indústrias costumam descartar a casca do arroz em beira de rios, lagos ou áreas desocupadas. Isso estimula a queima degradada do solo e da água, além de emitir gases que intensificam o efeito do aquecimento global.

Mas nem tudo são pedras. Já há várias propostas ambientais que visam à sustentabilidade por meio da minimização dos impactos negativos decorrentes do descarte inadequado da casca. Uma dessas ideias é a união da palha de arroz com a construção de uma termoelétrica, que terá como fonte de energia a casca. É pensando em sustentabilidade que as cascas de arroz ganham um destino grandioso, o que era para ser descartado revive com outra função.

O município de São Sepé, situado na região central do Rio Grande do Sul, possui, aproximadamente, 25 mil habitantes e, assim como municípios vizinhos, a principal cultura é o arroz. O destino final das cascas, geralmente, é o lixo, causando danos ao meio ambiente. E foi pensando de uma forma sustentável que o responsável pela ONG Glocal, que luta pela sustentabilidade, Gabriel Leão, e o prefeito da cidade, Leocarlos Girardello, conversaram sobre um projeto para reaproveitar a casca do grão.

Tudo começou com um sonho de Gabriel e a luta do prefeito. Eles viram na pequena casca de arroz várias oportunidades para uma cidade inteira. Sem fins lucrativos, a Glocal trabalha em prol de benefícios ligados ao meio ambiente na região. “São Sepé precisa se desenvolver economicamente, mas sempre respeitando as questões sociais e ambientais”, ressalta o fundador da ONG. Em meio a muitas ações no município, a ONG visa englobar as escolas para participarem dos projetos de desenvolvimento sustentável.

Sustentabilidade e empreendedorismo: essas são as palavras chaves para Gabriel quando relata o que é a Glocal. Para eles que trabalham direto com a comunidade, conscientizar é o maior desafio para falar em questões do meio ambiente. O berço da informação para o empreendedor são os jovens, por isso é fundamental trabalhar nas escolas. “As pessoas com mais idade, muitas vezes, não vão mudar os hábitos”.

Léo Girardello(direita), prefeito de São Sepé. Foto: Bruno Garcia
Léo Girardello(direita), prefeito de São Sepé. Foto: Bruno Garcia

Juntamente ao secretário de Desenvolvimento Econômico, Sandro Brum, e empresários, o prefeito começou uma mobilização para a construção de uma Usina Termoelétrica movida à casca de arroz na região. O contrato, após muitas discussões, foi firmado com a empresa Creral, de Erechim.

A partir de uma área adquirida pela empresa às margens da RS 149, em São Sepé, a Usina Termoelétrica São Sepé vai usar quase 70 mil toneladas de casca de arroz para produzir energia limpa. Segundo dados, a utilização da casca do arroz coloca fim ao problema gerado pelo volume em excesso do produto que até então não possuía uma destinação correta e rentável. No total, a Termoelétrica São Sepé deve gerar 8 megawatts de energia, capaz de abastecer uma cidade com população até quatro vezes maior que a do município.

De acordo com o prefeito, no período de busca pela concretização do projeto foi criada a Lei de Incentivo, que não tinha no município. Hoje já existe o licenciamento ambiental, área adquirida, a perfuração dos poços, financiamento resolvido junto ao BRDE e serão investidos 45 milhões de reais, sendo 36 milhões de financiamento e 9 milhões da empresa Creral.

“Hoje estamos em fase final de projeto, sendo que a obra de terraplanagem inicia agora nos meses de junho e julho, depois vem a parte civil até janeiro e depois a montagem dos equipamentos, a caldeira, usina e o gerador, que já foram adquiridos. Esperamos que o processo realmente siga, pois são nove municípios envolvidos e vem para alavancar a nossa economia, pois envolve a questão de ICM da região”, destaca Girardello.

A questão ambiental

 Antonio Leão,engenheiro da Enerbio. Fotos: Gabriel Leão
Antonio Leão,engenheiro da Enerbio. Fotos: Gabriel Leão

Contudo, São Sepé não está sozinha nessa causa. Segundo o engenheiro Antônio Leão, diretor da Enerbio, uma das fornecedoras de equipamentos para usina, o projeto conta com a ajuda de outras regiões, como Caçapava do Sul, Vila Nova do Sul, Formigueiro, Restinga Seca, São Pedro e Mata. “Os parceiros vão contribuir com uma quantidade razoável de casca. Mas a maior quantidade é de São Sepé, da cooperativa Cotrisel, que vai oferecer praticamente 50% da casca”.

O grande benefício é diminuir o problema ambiental que a casca traz. Mas para o engenheiro, entre 250 a 300 empregos devem ser gerados durante a construção e até 100 cargos serão abertos para a operação da usina. “Então além da sustentabilidade, vamos gerar renda e emprego para a população”.

O jornalista e locutor, da Rádio fundação Cotrisel, Bruno Garcia, vê o progresso, na parte da economia, para São Sepé. As melhorias para a população vão surgir, “será necessária muita mão de obra. Desde os caminhoneiros que transportarão a matéria prima das cidades vizinhas como aqueles que trabalharão na execução da obra e durante a fase de operação da usina. Sem falar nos restaurantes, comércio, rede hoteleira e imobiliária”, comenta o locutor.

Antônio Leão diz que vai ser utilizada de uma maneira eficiente, gerando energia elétrica e energia em investimentos nas áreas como social, saúde e educação. A termoelétrica irá vender em um leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a energia para 28 concessionárias. Os contratos já foram assinados com 27 delas.

Segundo dados do site O Sepeense o sistema terá um silo de 8.000 m² com capacidade de armazenagem para operar com 60 m³/h. A torre de resfriamento irá ter a capacidade para 1.900 m³/h com temperatura de entrada de água de 40 graus e saída de 30 graus.

A intenção da prefeitura é atrair indústrias para o município, oferecendo essa energia. Os principais equipamentos já estão contratados e as obras começam em julho.  Em setembro, de 2017, a casca já vai gerar muitas formas de energia.

São Parceiros: BR Energia Renováveis, Moinho Speense Ltda – São Sepé (1.500 toneladas); F. Dotto & Cia Ltda – Santa Maria (1.500 toneladas); Cooperativa Tritícola Caçapavana Ltda – Caçapava do Sul (6.000 toneladas); Cereais Peger Ltda – Mata (7.000 toneladas); Pagliarin e Cia ltda – São Pedro do Sul (2.000 toneladas); Irmãos Pilon Ltda – Santa Maria (1.500 toneladas); Cooperativa Tritícola Sepeense Ltda – São Sepé/Formigueiro/Restinga Seca (30.000 toneladas); Cerealista Steckel – Santa Margarida (5.000 toneladas); Amauri Guidolin – Santa Maria (1.500 toneladas); Arrozeira Sepeense S/A – São Sepé/Formigueiro (10.000 toneladas).

Por Adriana Aires e Natália Librelotto. Reportagem desenvolvida para a disciplina de Jornalismo Especializado II.