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Interfaces

Último dia de Interfaces aborda violência e as suas narrativas

O último dia de Interfaces no Fazer Psicológico iniciou com o minicurso de Luciano Mattuella, professor na Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), doutor em Filosofia e clínico psiquiatra. ”Violência, literalmente” foi o tema desta manhã, trazendo o

8ª Interfaces prossegue com minicursos na manhã de hoje

No segundo dia da 8ª Interfaces, o minicurso ministrado pelo professor Carlos Décimo (Unifra) abordou a desesperança como sintoma da depressão e a necessidade do desenvolvimento da esperança e de planos para prevenir os suicídio. Segundo dados da Organização

O professor citou Freud e sua obra "O mal estar da cultura (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
O professor Luciano Mattuella analisou a obra de Freud “O mal estar da cultura” (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

O último dia de Interfaces no Fazer Psicológico iniciou com o minicurso de Luciano Mattuella, professor na Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), doutor em Filosofia e clínico psiquiatra. ”Violência, literalmente” foi o tema desta manhã, trazendo o psicanalista Sigmund Freud, Mattuella aprofundou-se na reflexão sobre os conceitos e linguagens que circulam e constituem nossa sociedade e nosso ser. Os vários discursos que regem a sociedade, como cultura, capitalismo, educação, formam um compilado do mundo em que vivemos.
As pessoas se alienam ao discurso da produtividade e rapidez, o homem que não dorme e trabalha o tempo todo é reconhecido e elogiado, mesmo que isso seja prejudicial, afirma o psicólogo. A vida se torna uma empresa e as pessoas se tornam empresas para serem geridas. Tudo é calculado. Bem como a educação, que, segundo Mattuella, parece um adestramento em que os alunos devem ficar focados no professor, em seus discursos, sem desviar a atenção. As avaliações são baseadas em provas em números. “Não há uma narrativa, as notas, os números não dizem nada sobre a trajetória do estudante”, afirma.

“Se estamos na cena, na civilização, de que forma fazemos enlaces com o discursos da cultura?”, questionou durante o curso, abrindo espaço para comentários dos alunos. “Qual meu lugar na cultura? Qual meu ponto de alienamento com ela?”.

Para o psicanalista, quando se tenta fugir desse espaço da cultura, os indivíduos acabam indo para as drogas, medicamentos, e podem desenvolver a neurose. Essa crise é recorrente também, segundo Mattuella, na adolescência (que é uma passagem), em que há um choque do discurso dos pais, família, com o discurso da cultura contemporânea.

Oficina de Pinhole

(foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
(foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

Dinamizada e criativa, a oficina do psicólogo Márcio Fransen Pereira, mestre em Psicologia Social e Institucional, pela UFSM. Ele projetou um minicurso de montagem de câmeras pinhole, sem lente, formada por uma caixa escura e pequeno orifício, como o furo de alfinete (daí o nome). Com o propósito dos alunos experimentarem as atividades que menores infratores fazem no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), em Novo Hamburgo, onde o psicólogo atua há dois anos. Esse trabalho parte de uma pesquisa que Pereira estuda, “Arsenal Poética”.
“Nosso trabalho é voltado para a comunidade, com o ‘fazer’ criativo, entre os adolescentes que, muitas vezes, têm o acesso à cultura e educação negados. Então damos para eles possibilidades de fotografar de forma artesanal”, explica. Assim, os adolescentes criam um olhar mais poético, mais ligado com elementos de composição, luz. Sendo autores das suas próprias fotografias, eles não se resumem somente ao ato infracional como algo isolado, que é apenas um sintoma, para a psicologia, segundo Pereira.

Os olhares sobre a feminilidade

Parto humanizado e teoria Queer foram assuntos da conversa (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
Parto humanizado e teoria Queer foram assuntos da conversa (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

Encerrando a manhã do Interfaces, as psicólogas do grupo de estudos ”Políticas da subjetividade e psicanálise no contemporânea” ministraram a roda de conversas sobre os múltiplos olhares sobre as feminilidades na contemporaneidade. Andréia Garcia, Diana Soldera, Fernanda Alves e Martina Poll conversaram com as estudantes de psicologia sobre as diversas imposições que a mulher sofre pela sociedade. Abandono, culpabilização, maternidade, procriação, família, foram pautados no minicurso. A fertilidade feminina e a forma como essa é vista como objeto, pela sociedade, pelos homens e pela medicina, sustentaram a fala de Fernanda Alves. Algumas meninas se manifestaram apontando as injustiças e violências médicas que mães sofrem durante a gravidez. “Há homens dizendo como devemos parir e não somos ouvidas, não escolhemos como nosso corpo vai receber aquela vida”, apontou uma das alunas.

Feminismo e seus desdobramentos também fez parte do debate, pois, segundo Fernanda, essas questões ligadas à mulher estão diretamente ligadas ao movimento. “Estamos em uma época de alguns retrocessos e perda de direitos, das mulheres e da população LGBTT, e trouxemos isso para o curso, pois é algo ainda não tão abordado dentro da psicologia”, afirma. Para Andréia, esses pontos fazem parte do nosso dia a dia, mas também são conceitos de pesquisa, de estudos, e é preciso trazer essas questões para a psicologia. “Eu estudo a precariedade dos locais de trabalho, principalmente onde mulheres atuam, e a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho contemporânea”, explica Andréia. Na segunda parte do minicurso, elas abordaram a questão transsexual e o rompimento da ideia do que a sociedade pontua como “o que é mulher”.

Alunos debateram o tema em uma roda de conversa  (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
Alunos debateram o tema em uma roda de conversa (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

No segundo dia da 8ª Interfaces, o minicurso ministrado pelo professor Carlos Décimo (Unifra) abordou a desesperança como sintoma da depressão e a necessidade do desenvolvimento da esperança e de planos para prevenir os suicídio. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 17 milhões de brasileiros sofrem de depressão atualmente, mas Décimo acredita que esse número seja maior devido às pessoas que têm a patologia e não procuram ajuda. “É notável que as mulheres são as mais atingidas pela doença, mas isso se dá pelo fato de que elas vão até um psicólogo ou psiquiatra, enquanto homens não procuram auxílio”. O professor coloca isso como um fato cultural de que ”homens não choram”, não ficam triste, logo, não buscam ajuda para esses sintomas.
Décimo pautou ainda o tema suicídio, seus sinais para prevenção, dados, o pensamento de um possível suicida. O suicida não quer tirar sua vida, e sim tirar o sofrimento, acabar com a dor e vê uma “saída”. Os alunos também comentaram sobre as pessoas não conseguirem falar sobre tristeza ou sobre suas dores, pois há uma subestimação do sentimento. “Hoje tem-se muito uma subestimação do sofrimento, não se pode estar triste, temos sempre de estar alegres, e a vida não é assim, a tristeza as vezes é necessária”, nota o professor. O psicólogo apontou que o transtorno tem potencial epidêmico, e poderá afetar mais pessoas do que o câncer, em alguns anos.

O silêncio da ditadura e a importância do testemunho

A psicóloga considera importante falarmos sobre os traumas da ditadura  (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
A psicóloga considera importante falarmos sobre os traumas da ditadura (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

Em uma análise profunda sobre os resquícios e os efeitos da ditadura militar no país, a psicóloga Gabriela Weber Itaquy (Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul) ministrou o minicurso “Vidas silenciadas pelas violências de Estado: a potência do Testemunho”. A professora abordou  o trauma de torturados políticos e seus descendentes. Ela defende a necessidade de um resgate da memória e da história individual-social das vítimas e dos fatos. “É preciso dar visibilidade a dor das vítimas e as violências praticadas pelo Estado. Os reflexos que temos hoje na polícia militar é um problema institucionalizado, e não culpa dos policiais. Eles recebem o treinamento que o Estado dá”, explica. Gabriela trouxe relatos reais de presos e torturados.
A plateia presente ao curso trouxe a comparação da memória que os alemães têm com o 3º Reich, na Segunda Guerra Mundial e, em como eles preservam a história e lidam com os horrores do holocausto, enquanto aqui a época da Ditadura não é reconhecida e poucos sabem como realmente foi esse período.

 O Aikido e a não-violência

 (foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)
(foto: Julia Trombini/Laboratório de Fotografia e Memória)

O último minicurso da manhã foi ministrado pelo professor da Unifra, Marcos Pippi de Medeiros e  pelo professor Rafael Santini com a oficina da arte marcial japonesa. Rafael é graduado na luta e atua junto com Pippi no Instituto Shimbukan, espaço na Avenida Itaimbé, nº 506,sala 4, onde acontecem as aulas, nas terças e quintas, às 19h.

O curso de não-violência contou com os princípios filosóficos do Aikido e ensinou alguns passos para os alunos de psicologia. “É uma prática de vida, como lidar com os outros, buscar harmonia. Mesmo sendo uma luta, é uma atividade que prega a não-violência, não há golpes”, explica Pippi.

O Aikido é uma arte marcial que preza pela não-violência e não-resistência. É considerada uma boa luta para defesa pessoal, pois não se usa a força ou o tamanho, porque a força usada é a própria do golpe do adversário. Não há competição no Aikido, o praticante aprende a se defender redirecionando o ataque inicial com movimentos circulares e acaba derrubando o agressor. O Aikido é utilizado pela Polícia Metropolitana de Tóquio, Japão, pelo Pelotão de Choque e pela Polícia Feminina da cidade.

Programação da tarde:

14hrs – Palestra: Conversando sobre violência no namoro com jovens. Palestrante: Psic. Jeane Borges
Local: Sala de Conferências, 10º andar, Prédio 17, Conjunto III.

15h45 – Conversações: Por que a guerra? Convidado: Prof. Luís Henrique Pereira
Local: Salão de Atos, Prédio 13, Conjunto III.

17h – Psicocine 4: Apresentação e discussão do documentário: Para além da guerra, de Vanessa Solis Pereira. Convidada: Psicóloga Vanessa Solis Pereira
Local: Salão de Atos, Prédio 13, Conjunto III.