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Itararé

Sábado é dia de festa junina no Itararé

A festa caipira ainda não terminou em Santa Maria. Sábado, dia 1º, será realizada a festa junina no Centro de Convivência 21 de Abril, na rua Anita Garibaldi, nº 2, Bairro Itararé. A comemoração ocorrerá, das 14h

Bairro Itararé: nos trilhos da história

“Tchau na estação quem ainda não deu, não entendeu quem lá vai quem já vem. Triste é sentir virar som de saudade quando vai longe o apito do trem”.  Na canção de Beto Pires é retratada a

A festa caipira ainda não terminou em Santa Maria. Sábado, dia 1º, será realizada a festa junina no Centro de Convivência 21 de Abril, na rua Anita Garibaldi, nº 2, Bairro Itararé. A comemoração ocorrerá, das 14h às 18h, na quadra de futebol clube. A entrada no arraiá é gratuita. Conforme  o coordenador do clube Vilson Quaiatto, a expectativa é de que mais de mil pessoas compareçam à festa.

Foto: Arquivo PMSM

As atrações previstas são diversificadas, como casamento na roça, brinquedos infláveis, quadrilha e artistas locais. Além disso, haverá a apresentação da cantora Aline Freitas com um grupo de rap da região. Também ocorrerá a queda de braço entre as pessoas do Centro de Convivência, além de Danças Circulares e Dança Afro Euwá-Dandaras.

As pessoas que comparecerem ao arraiá não ficarão sem energia. Estarão à venda pratos com amendoim, pastéis, bolos de fubá e de milho, nega maluca e pizza. Como bebida, haverá quentão. As comidas serão produzidas e vendidas  pelos grupos que compõem o programa Clube 21 de Abril. A renda será destinada para proporcionar a melhora dos projetos.

Nesta quarta-feira, 28, foi realizada, pela a equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) Urlândia, festa junina para o grupo de diabéticos e hipertensos na vila Urlândia, rua Valdir C. da Silva, 495. O cardápio foi adaptado à dieta dos pacientes. O objetivo foi mostrar para as pessoas que têm problemas de saúde que é possível aproveitar as festas juninas.

Dentre funcionários e pacientes, cerca de 45 pessoas participaram das comemorações. O grupo de hipertensos e diabéticos da ESF Urlândia promove reuniões mensais, sempre na última quinta-feira do mês. Ao decorrer dos encontros, os usuários recebem orientações sobre promoção de saúde, alimentação e outros assuntos relacionados. Cerca de 15 pessoas participam do grupo.

Fonte: Prefeitura de Santa Maria 

O monumento, a bandeira e  o apito do trem. Estes são exemplos de elementos que ajudam a contar a história do bairro Itararé. O Centro de Convivência 21 de Abril, localizado na rua Vidal de Negreiros, também compõe a narrativa da biografia do Itararé . Após mais de 20 anos fechado,o  antigo clube foi reformado e reabriu as portas em 16 de abril deste ano, e hoje oferece diferentes atividades à população do bairro.

O 21 de Abril inaugurou em 1927 como associação dos ferroviários. No local eram oferecidos espaços para a prática do jogos, entre eles a bocha, e bailes. Entre as décadas de 1960 e 1970 o clube viveu o auge da sua história. Os associados do 21 de Abril – que chegou a contar com cinco mil membros – mantinham as atividades e a manutenção do clube.

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Gardel Silveira relata o trabalho no 21 de Abril. Foto: Diego Garlet/ Laboratório de Fotografia e Memória

Com a privatização da viação férrea a partir de 1990 os clubes voltados aos ferroviários e suas famílias iniciou uma fase de declínio.Com o 21 de Abril não foi diferente, em 1995 foi realizado o último baile antes do seu fechamento. Conforme Gardel Silveira, atual diretor do clube e sobrinho de ferroviários,  a mentalidade da população do bairro está mudando, pois inicialmente a comunidade não acreditava na reforma e reabertura do clube, mas ao longo do tempo apoiaram sua iniciativa para a reabertura do lugar.

Desde 2000 o 21 de Abril está sob a direção de Silveira, que procurou auxílio do moradores do Itararé, como da Associação Amigos do Itararé (SAI),  e escolas para dar seguimento no processo de restauração do local. O clube estava em mau estado, já que foi invadido e sofreu ação de vândalos durante o período em que esteve fechado.

De acordo com Silveira, após o período de reforma, o 21 de Abril reabriu como Centro de Convivência no mês de abril e contou com a presença em massa da população do bairro. Cerca de mil pessoas passaram pelo local, que teve entre as atrações a  Banda Marcial Manoel Ribas, exposição de automóveis antigos e mateada. Desde então o 21 de Abril é mantido com verbas da prefeitura, e  oferece atividades diversas em seu espaço. Aulas de capoeira, judô e taekwondo são realizadas no clube, que também recebe a Associação Amigos do Futebol de Mesa e a companhia de dança Euwa

Exposição no salão do Centro. Foto: Diego Garlet/ Laboratório de Fotografia e Memória
Exposição no salão do Centro. Foto: Diego Garlet/ Laboratório de Fotografia e Memória

Dandaras. Na última segunda-feira, 27,  foi lançado o  projeto CineKids –  que tem o propósito de aproximar as crianças ao 21 de Abril. Na ocasião cerca de 47 alunos dos 1º e 2º anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Aracy Barreto Sacchis  estiveram presentes. A próxima edição do CineKids será no dia 11 de julho.

Para Silveira, a missão de dar vida nova ao 21 de Abril foi cumprida. “Sinto que estou devolvendo para a comunidade do Itararé um sonho deles que estava a muito tempo abandonado, me sinto feliz em fazer parte disso e ser a primeira pessoa a coordenar o clube após 20 anos fechado”, finaliza.

 

 

 

 

Bairro Itararé, em Santa Maria (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)
Bairro Itararé, em Santa Maria (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)

“Tchau na estação quem ainda não deu, não entendeu quem lá vai quem já vem. Triste é sentir virar som de saudade quando vai longe o apito do trem”.  Na canção de Beto Pires é retratada a nostalgia de quem viveu com o som dos trens. A tamanha saudade é uma das características do Itararé – bairro localizado na região nordeste de Santa Maria -, e que possui uma história diferente das outras regiões da cidade: ele surgiu por conta da ferrovia, a VFRGS, Estação Férrea do Rio Grande do Sul.

A estação férrea de Santa Maria da Bocca do Monte, nome original, inaugurada em 1885, deu início ao desenvolvimento do bairro que, no seu começo, abrigou os ferroviários e seus familiares. Contudo, com o fechamento da empresa no ano de 1997, a realidade do local transformou-se, mas sem nunca perder as histórias e memórias de quem um dia já viajou de trem.

De acordo com o Censo de 2010, Itararé abriga mais de 7300 pessoas. Entre os habitantes, encontramos dona Véra, dona Terezinha e seu Selvino que nos ofereceram suas lembranças para reconstituir a história do bairro.

O nascimento

(Foto: Amanda Souza/ Lab. Fotografia e Memória)
Véra Terezinha conta sobre o desenvolvimento do bairro Itararé (Foto: Amanda Souza/ Lab. Fotografia e Memória)

“O Itararé sempre foi um bairro muito tranquilo, caracteristicamente ferroviário. A gente não tinha tanto recurso aqui, mas se dirigia daqui para o centro”, conta a aposentada Véra Terezinha Germani, 68 anos. A professora aposentada, que nasceu e viveu boa parte de sua vida no bairro, comenta que vivenciou de perto a época da ferrovia. “Meu pai não foi ferroviário, mas meu avô e todos os meus tios foram. Todos moravam no Itararé”, completa. Além disso, afirma que grande parte da população era imigrantes ou descendentes. “A vizinhança toda era de ferroviário e a maioria de origem italiana”, aponta.

“Quando eu me mudei para cá, eu não gostava. Hoje eu me enraizei, me sinto muito bem”, relembra Terezinha Borin, 74 anos. Moradora do bairro há mais de 50 anos, a também professora aposentada se mudou para o Itararé em 1964, quado casou com o empresário Nelson Borin. A família Borin possuía um dos principais armazéns da região e fornecia diversas mercadorias para os ferroviários.

(Foto: Amanda Souza/ Lab. Fotografia e Memória)
Terezinha Borin relembra as memórias do bairro (Foto: Amanda Souza/ Lab. Fotografia e Memória)

Dona Terezinha conta que seu marido morou no bairro desde seu nascimento até seu falecimento, em 2014. Borin foi presidente por diversos anos da Associação Amigos do Bairro Itararé, além de promover diversas melhorias na localidade e ser o responsável por trabalhos voluntários, como os papais noéis no período de Natal. “Quem fazia o trabalho de entrevistas e pesquisas sobre o Itararé era meu marido, então eu o acompanhava”, comenta a professora aposentada de educação física.

“Meu monumento estradas e trilhos”*

Vista do Monumento (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)
Vista do Monumento (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)

Em 1935, como uma homenagem do então governador à época, General José Antônio Flores da Cunha, aos trabalhadores das ferroviais, foi inaugurado o Monumento Ferroviário. Ele localiza-se na rua Antônio Dias e quem o visita pode ter uma vista panorâmica da cidade de Santa Maria – ou pelo menos podia, antes dele ser abandonado.

“Uma das coisas marcantes daqui do bairro é o Monumento Ferroviário. O Nelson fez uma campanha muito grande para a restauração do monumento, em 17 de maio de 1975. Até tinha uma escola aqui perto, dos filhos de ferroviários. Os alunos ajudaram na reconstrução”, relembra dona Terezinha.

Monumento dos Ferroviários (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)
Monumento dos Ferroviários (Foto: Diego Garlet/ Lab. Fotografia e Memória)

Mais de 40 anos após a reinauguração, o Monumento se encontra abandonado. Com pichações e muita sujeira, até o percurso dos 130 degraus da escadaria foi comprometido. A vista panorâmica que o lugar proporciona foi tomado pelas vegetações. Os moradores da região reclamam do descaso com um patrimônio tão bonito. “Infelizmente, ele está completamente abandonado”, afirma Selvino Luiz Cogo, 70 anos.

A nostalgia 

Seu Selvino Luiz Cogo, morador do bairro há mais de trinta anos, lembra quando chegou no bairro a infraestrutura era diferente dos dias de hoje. “Não existia esgoto ou asfalto”, conta. Contudo, aponta que a ferrovia trouxe grande desenvolvimento e o seu fechamento, no final dos anos de 1990, desestruturou a realidade do Itararé.

“Eu vejo como um bom bairro. Nós temos mercados, farmácias, ambulatório médico”, completa Selvino. “O Itararé é um bairro que até teve uma época que foi chamado de bairro-cidade, porque tinha tudo, como tem até hoje”, sustenta Terezinha. Os moradores observam que antes a região era menos violenta.

Selvino conta que onde hoje é a avenida Assis Brasil, antigamente era onde o trem passava. “O trem subia a avenida Assis Brasil e subia a serra”, complementa. O trem que saia de Santa Maria percorria os trilhos até a cidade de Itararé, em São Paulo – de onde originou o nome do bairro.

Apesar dos moradores reconhecerem que as paisagens culturais do Itararé são únicas, a saudade de um tempo que não volta ainda bate à porta. “A gente sente muita falta dos trens de passageiros. A gente viajava nos trens. Viajava com meus tios, com minha vó, ia para Porto Alegre de trem, trem Húngaro, de Minuano. A gente viveu de perto toda essa realidade”, finaliza dona Véra.

*Música “Santa Maria”, de Beto Pires