Santa Maria, RS (ver mais >>)

Santa Maria, RS, Brazil

mãeefilha

E se minha filha fosse minha mãe?

A vida me deu uma resposta enquanto eu completava 20, 30, 33 anos e minha mãe envelhecia. Inúmeros poderiam ser os argumentos, as definições ou medos, pensava eu, ao ver os dias passar em sua companhia.

“Minha irmã é o meu amuleto da sorte”, diz acadêmica

Entre os oito cursos ofertados para o vestibular de inverno 2018 da Universidade Franciscana, a graduação em medicina é a mais procurada, seguido por Odontologia e Direito – Diurno, com 63 inscritos por vaga. A candidata Elísia

A vida me deu uma resposta enquanto eu completava 20, 30, 33 anos e minha mãe envelhecia. Inúmeros poderiam ser os argumentos, as definições ou medos, pensava eu, ao ver os dias passar em sua companhia. Deixava de ser o frágil Daniel, o menino da casa e, ela, de ser minha super-heroína. Um telefonema, um abraço de “bom dia”, cama arrumada e seu cheiro que ficava esperando eu voltar. Estava indo para o mundo, para as minhas conquistas e, ela? Bem, ela ficava triste ao me ver ir, me acompanhando da janela, buscando explicação do tempo que teimava em querer passar.

Aliás, como não recordar da janela, com grades inacabadas e sem pintura por não ser prioridade. Nunca foi. Seu sonho era de um médico, um doutor na família. Ajudar o próximo era seu maior sonho, um legado a ser seguido. Ficou no sonho. Sorvete era sua maior tentação, a minha também. E por ser pai e mãe, virou a exceção dos dois.  E eu comia quantos quisesse (pudesse). Dona Helena era a regra quando precisava, mas a bagunça quando podia. Que saudades.

Saudade é um sentimento ao contrário. Contraditório, compulsivo e voraz. É algo que não se sente direito por completo. É algo que precisa ser dito com o tempo, a tempo e com tempo.

Precisava ter dito que a amava cada vez que me ensinou a ver a vida sob um novo prisma. Talvez ela nunca teve dúvidas. Mas sabe quando o muito é nada? Precisava. Preciso contar que seu pequeno sempre teve gênio indomável e não iria seguir algo que ela queria. Afinal, era livre para voar. Ele voou. Mas quem disse que não pode ajudar o próximo mesmo não sendo seu doutor? Podia. Poderá. Pode. Será.

Quando ela adoeceu, diga-se, pela primeira e última vez, estive ali. Porém, o tempo, aquele mesmo que era teimoso, mais uma vez teimou. Passou e foi tão rápido quanto seu olhar ao me ver sair daquele quarto de CTI em nosso último encontro.

Dias antes, o último presente. Uma camiseta do Grêmio. Colorada doente, ainda brincou: “vê se deixa minha neta ser vermelha”. Desculpa mãe, não deu. Bola de cristal, previsão ou adivinha… não sei. Sua neta é linda. A cara do seu bebê. Apenas a Lívia é gremista.

Seu primeiro presente, não poderia ser outro, uma camisa gremista. Como você ao dar, sabia? É… foi e ficou linda. Acho que até você viraria gremista. Sabe o gênio forte? É igual? Ela te convenceria.

Se minha mãe fosse minha filha, talvez buscasse repetir tudo que ela me ensinou. Como não posso, deixo ela ocupar o seu lugar. E os amores… hoje ela é quem me ensina, que me guia e mostra para onde seguir. Esse sentimento vem de berço, de casa, de algum lugar, de ti. Obrigado por estar sempre aqui.

Estudante comenta que a irmã é o amuleto da sorte dela. Foto: Lucas Link/LABFEM

Entre os oito cursos ofertados para o vestibular de inverno 2018 da Universidade Franciscana, a graduação em medicina é a mais procurada, seguido por Odontologia e Direito – Diurno, com 63 inscritos por vaga.

A candidata Elísia Ramos, 19 anos, está entre os vestibulandos que veio tentar uma vaga na instituição. Na entrevista, Elísia comentou que é irmã de Arcéli Ramos, formanda do curso de jornalismo da UFN.  Elísia  parou com o curso de biologia na Universidade Federal de Santa Maria para tentar medicina. ” Eu fazia biologia e, desde o primeiro ano do ensino médio, eu tinha certeza que queria esse curso (medicina). Eu fiz por dois anos a Biologia e vi que todas as cadeiras que eu gostava eram aquelas da área da saúde, como anatomia”, relata Elísia.  Aparentemente calma para a prova, a acadêmica contou para a Agência Central Sul de Notícias que a irmã Arcéli, é o seu amuleto da sorte  e que estava, de certa maneira, chateada por ela não poder estar presente nesse dia. “Quando o vestibular foi marcado pela primeira vez , ela não iria poder vir por causa do Intercom Sul, na cidade de Cascavel, no Paraná. Aí quando o vestibular foi transferido, eu disse para ela que ela poderia ir comigo, mas transferiram também o Intercom”, argumentou a vestibulanda.

Junto com Elísia estava a mãe e técnica de enfermagem Sandra Saccol da Silva Ramos, 48 anos, que veio acompanhar a filha. “Eu acho que ela teve muita coragem de largar a faculdade na metade, um curso que ela já estava cursando, para tentar na área da saúde. Eu sei que é muito difícil. A gente lida com vários desafios todos os dias, espero que ela dê conta e  passe”, disse Sandra Ramos.