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Santa Maria, RS, Brazil

Museu Treze de Maio

Lançamento de campanha para restaurar o prédio do Museu Treze de Maio

  Diretores e colaboradores do Museu Treze de Maio convidam para o evento de lançamento da campanha de arrecadação de fundos para a reforma do prédio que está interditado desde 2014, devido a infiltrações que comprometem a sua estrutura.  Entre as formas

Museu Treze de Maio promove inclusão e resgate étnico

Criado em 1903 como clube, o Treze de Maio surgiu para proporcionar lazer para a população negra. Seu auge foi entre as décadas de 1950 a 1970. Porém, em 1990 encerrou suas atividades, reabrindo somente 11

O sexto episódio da temporada Arte Coletivo traz memória, História, identidade e resistência. O “Treze”, como é conhecido o Museu Comunitário Treze de Maio – MTM, foi um antigo Clube Social Negro, criado em 1903. Quase um século depois foi tombado como patrimônio histórico municipal pela sua importância no desenvolvimento da cidade de Santa Maria. Hoje é local de oficinas de dança afro, capoeira, percussão, samba e encontros da juventude negra.

Beatriz Ardenghi entrevistando João Heitor Macedo. Imagem: Neli Mombelli

O convidado do Provoc[A]rte é João Heitor Macedo, arqueólogo e gestor cultural que atua como diretor do Museu Treze de Maio, local que é um dos mantenedores da cultura negra no centro do Rio Grande do Sul. 

O Provoc[A]rte vai ao ar nesta terça-feira (13), às 19h, com reprise às 22h, na UFN TV, pelo canal 15 da NET, e reprisa no sábado, às 19h, e no domingo, às 19h30min. E também pode ser visto na TV Câmara, canal aberto 18.2, na sexta-feira, às 19h30, e no domingo, a partir das 20h.

João Heitor Macedo atua como diretor do Museu Treze de Maio. Imagem: Neli Mombelli

O programa é produzido pelo Lab Seis, laboratório de produção audiovisual dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN). A equipe é formada por Beatriz Ardenghi e Petrius Dias no roteiro e apresentação, João Pedro Ribas na produção e na divulgação nas redes sociais, Gabriel Valcanover na edição, com suporte dos técnicos Alexsandro Pedrollo na gravação e Jonathan de Souza na finalização, e coordenação e direção da professora Neli Mombelli.

Texto: Petrius Dias

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Reconhecido internacionalmente, o Museu Treze de Maio está com sua estrutura comprometida e interditado desde 2014. Foto: Manuela Fantinel

  Diretores e colaboradores do Museu Treze de Maio convidam para o evento de lançamento da campanha de arrecadação de fundos para a reforma do prédio que está interditado desde 2014, devido a infiltrações que comprometem a sua estrutura.  Entre as formas de ajudar o Museu  que serão divulgadas no evento, está uma campanha de financiamento coletivo, o crowdfunding. Na ocasião, como parte da campanha, será lançado também o vídeo documentário “Mobiliza Treze” produzido por uma equipe de estudantes do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, dentro da disciplina de Projeto de Extensão em Comunicação Comunitária II. O documentário contém relatos de diretores, ex-diretores, dinamizadores, colaboradores e pessoas que frequentavam o Treze. Ele é baseado nesses relatos, que trazem com força o quanto é urgente sua reforma e a reabertura. Reconhecido internacionalmente, o Museu ganhou o prêmio “Museum Prize Winner 2014”13, pela Fundação Manneby e Museu Horizon, na cidade de Gotemburgo, na Suécia, em 2014, pela sua história e resgate da cultura negra no Brasil.

O lançamento será às 20hs desta quinta-feira, 24, no auditório da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV – Edifício João Fontoura Borges), localizado na esquina da Rua Venâncio Aires, esquina com a Avenida Rio Branco.

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Fachada do prédio do museu Treze de Maio. Foto: Diego Garlet. Lab. Fotografia e Memória

Criado em 1903 como clube, o Treze de Maio surgiu para proporcionar lazer para a população negra. Seu auge foi entre as décadas de 1950 a 1970. Porém, em 1990 encerrou suas atividades, reabrindo somente 11 anos depois como museu.

Um projeto realizado por João Heitor Silva Macedo e Giane Escobar – quando eram alunos do curso de especialização de Museologia do Centro Universitário Franciscano – tinha a proposta de tornar o prédio em que funcionava o clube, que se encontrava em mau estado, um espaço para o resgate da história Afro.

A execução do projeto teve a participação do Movimento Negro de Santa Maria. Uma das pessoas que fazia parte deste grupo era Andressa Messias, hoje bailarina e coordenadora da companhia de dança afro Euwa Dandaras. Andressa relembra como foi o processo de reforma do edifício que se localiza na Rua Silva Jardim. “O prédio estava há anos abandonado. Com verbas de projetos aprovados pelo Museu, foram feitas reformas para estruturar o lugar que não tinha condições de ser ocupado”, conta. A companhia de dança da qual a bailarina participa, é uma das oficinas oferecidas pelo museu.

Andressa ainda ressalta a importância das oficinas: “A Euwa Dandaras tem o objetivo de resgatar a autoestima de meninas negras e reconhecimento da cultura afro. As oficinas são destinas à população carente, de periferias, na sua maioria negros”.

Além da Cia de dança, há grupos de hip hop, samba e coral. Uma delas é a oficina de capoeira Barra Vento. O professor Tiago Bello e o mestre do grupo, Sandro Rogério Militão, contam como se desenvolveu a oficina no museu. “Sempre houve contato entre a diretoria do Treze de Maio e o grupo de capoeira”, revela Militão.

Conforme Militão e Bello, a oficina de capoeira existe há 13 anos e a proposta é fazer um resgaste étnico e reunir os jovens negros da região. O mestre ainda revela que o museu Treze de Maio é o segundo espaço de debate, discussão e restauração da cultura afro no país. Ainda afirmam que há um projeto do museu para a construção de pequenos núcleos em algumas regiões da cidade.

Desde o ano passado o museu se encontra fechado por enfrentar dificuldades financeiras, já que está interditado por apresentar a estrutura em más condições. “Os custos para a reforma do telhado, projeto de engenheiros, laudos do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) são altos”, conta Macedo.

Com isso, as oficinas tiveram de mudar de endereço provisoriamente.  De acordo com Millena Lima, bailarina do Euwa Dandaras, os ensaios de dança já ocorreram em diversos locais. “Já dançamos em uma quadra de escola de samba, ensaiamos em lugares públicos, como as quadras do Itaimbé, e por fim estávamos ensaiando em um espaço alugado na rua Rio Branco”, relata.

Millena conheceu o museu por meio de um convite de uma professora da escola em que estudava e na qual fazia parte de um projeto de dança. Para ela, o Treze de Maio é importante para o desenvolvimento dos jovens, além de ser gratuito para a realização das oficinas. “Ele ressalta a autoestima de cada um que compõe aquele espaço, já que a grande massa é negra. Além disso, dá direções a esses alunos, faz com que eles descubram seus potenciais e se valorizem, e a partir disso, possam buscar por seus ideais, se aperfeiçoar e ingressar em cursos superiores e técnicos para mudar as histórias de seus antepassados”, conclui.

Os grupos Barra Vento e Euwa Dandaras estão em atividade na Avenida Rio Branco, 135, no Hotel Samara. As aulas de capoeira acontecem nas segundas, quartas e sextas-feiras, das 20h30 às 22h.

Para o Treze de Maio reabrir, o custo necessário, inicialmente, é de 40 mil reis, de acordo com Militão. Há mais de quatro anos a prefeitura assumiu o prédio e é responsável pelo pagamento das contas de água e luz.

João Heitor e Andressa Messias revelam que a expectativa quanto ao futuro do Treze de Maio é de que o ele seja reformado e reaberto. “A expectativa é que o Treze de Maio possa expandir a relação com a comunidade, por meio das escolas e oficinas, e atingir um universo muito maior de pessoas, principalmente da periferia”, pontua Silva.

Em 2006, alunos do Centro Universitário Franciscano produziram o documentário Pérola Negra – em que a história do Treze de Maio é contada por quem frequentou o clube e pelos administradores do museu.

Em comemoração aos seus 110 anos de existência, o Museu Treze de Maio, com o apoio do Boteco do Rosário, realizará o 1º Festival Municipal de Artes Negras (FESMAN), de 9 a 11 de maio, visando resgatar o processo histórico e cultural do povo afrodescendente.

No dia 9, quinta-feira, a partir das 20h, acontece o Pré FESMAN no Boteco do Rosário, com atrações da Cia do Samba, coordenada por Nega Karen, Rapper Magrão, Manoel Luthiery da dança Afro Tribal e Anderson do Cavaco e amigos.

Leonardo Retamoso Palma, proprietário do Boteco do Rosário, relata que “o festival tem enfoque na divulgação da história afro, mas abrange atrações de todos os tipos e gostos”. Ele ainda ressalta que na quinta-feira será cobrada entrada de 6 reais, cuja renda será posteriormente revertida para pagamento das despesas do evento.

Já nos dias 10 e 11, o festival se dá no próprio Museu, onde ocorrerão apresentações musicais, intervenções poéticas, peças de teatro, culinária com Carmen Lúcia, roda de capoeira e de samba e show de hip-hop com Mc Magrão, com entrada franca a todos os públicos.

O projeto tem como Coordenador Geral, Vilnes Gonçalves Flores Júnior (Nei D’Ogum), que também coordena o Núcleo de Ação Cultural Educativa do Museu Treze de Maio – NACE. Para ele, o festival “é um momento de recordar o passado, de dar importância ao nosso povo. O Museu é um lugar nosso, portanto a comemoração tem tudo a ver conosco”.

Mais informações podem ser obtidas na página do Museu  ou no blog.