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Observatório da Mídia

O silêncio da mídia

A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no

Que país é este?

“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em

Observatório da mídia CS-02A prisão de Eduardo Cunha foi, sem dúvida, um grande marco da política. Um político que representa e defende os interesses da elite e dos fundamentalistas religiosos, preso,é um símbolo de que há, sim, justiça no Brasil. Será?!

É quase unanimidade entre os brasileiros, a satisfação em vê-lo atrás das grades. Mas por que a mídia não abordou a prisão de Cunha da mesma maneira como cobriu a condução coercitiva de Lula ou os outros escândalos do mesmo porte da Lava Jato? Alhures a Lava Jato, Cunha e Lula, foram descobertos outros dois grandes esquemas de corrupção e a mídia abafou. Por quê? Qual o motivo da Zelotes e do Panamá Papers não serem capa de jornal ou manchete na TV? Será que a indignação seletiva da Petrobrás em julgar, a qualquer preço, o PT, cegou o oligopólio da comunicação brasileira?

A parcialidade clara da justiça brasileira começa quando um indiciado em crimes como: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, entre outros crimes, conduz um processo de impeachment a uma presidenta que nunca teve seu nome incluso sequer em B.O de assalto. A não ser, claro, nos anos de chumbo da ditadura. Antes que alguém venha criticar o meu texto, recomendo estudar história e assistir a pelo menos dois filmes: “Batismo de sangue” e “O ano em que meus pais saíram em férias”. Talvez esses dois filmes, aliados a uma aula do que foi a ditadura, possam fazê-los enxergar melhor.

Voltando a falar sobre a parcialidade midiática brasileira, é nítida a discrepância de cobertura da grande mídia sobre os fatos acima mencionados. Se a Zelotes, maior escândalo de sonegação de impostos deste país, não é divulgada, há algo por trás. Segundo as investigações, há indícios de que uma das maiores afiliadas da Rede Globo está envolvida neste esquema, assim como proprietários de um dos maiores jornais diários e online do Brasil.

Já o Panamá Papers, maior caso de sonegação fiscal do mundo, não é divulgado pela mídia porque tem empresários, celebridades, jogadores de futebol, partidos políticos e até presidentes e chefes de Estados na lista de pessoas que lavaram dinheiro. Para quem não sabe, O Panama Papers é um trabalho de investigação jornalística internacional que compreende 107 organizações de mídia, que apuram o vazamento de 11 milhões de documentos. As informações foram vazadas de forma anônima para o jornal Süddeutsche Zeitung, de forma anônima. O veículo alemão compartilhou as informações com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que apura lavagem de dinheiro praticada por grandes empresários e políticos do mundo inteiro a partir de esquema de sonegação com o escritório de advocacia panamenha Mossack Fonseca e clientes. Dentre os clientes brasileiros na lista, aparecem Eduardo Cunha e sete partidos políticos brasileiros: PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB e PTB.

Um escândalo deste porte, que envolve líderes mundiais como Vladimir Putin, presidente da Rússia, Maurício Macri, presidente da Argentina, foi praticamente esquecido pela mídia brasileira, que preferiu cobrir de forma parcial a Lava Jato, dando voz a uma parcela de pessoas, por interesses políticos e econômicos. A seletividade midiática na Lava Jato aconteceu desde o começo do processo, lá em 2014. Em março deste ano, foi divulgada uma lista, com pelo menos 200 deputados que receberam dinheiro de empresa indiciada na Lava Jato nas campanhas de 2014. A lista foi divulgada apenas em alguns sites e em uma emissora aberta, a Record. As demais fizeram vista grossa à lista.

A partir das explanações, mesmo que superficiais sobre as coberturas jornalísticas, é possível entender um pouco das agendas e a separação de assuntos de interesse público e de interesse do público. Os meios de comunicação se pautam a fim de nortear discussões de seus interesses. Pincelam e, às vezes, omitem fatos para que a opinião pública seja direcionada. Após a primeira votação do impeachment, em abril deste ano, o agendamento ficou mais claro ainda, quando as matérias que envolviam a Lava Jato perderam espaço para outras que destoavam do assunto política.

É preciso problematizar dentro da academia e das empresas de comunicação, a função do social dos profissionais de comunicação e dos veículos de mídia como formadores de opinião. Os meios de comunicação detêm o poder de informar, mas não podem usar esse poder a fim de elencar quais notícias a população deve ou não ter acesso. Embora haja filtros de notícias, eles não podem ser feitos a partir de interesses econômicos e ideológicos. Se assim for, a democracia, a liberdade e a sociedade estarão em risco como um todo. A história prova e comprova que a mídia exerceu e exerce função primordial nas mudanças sociais e na conjuntura mundial.

Pedro Correa é estudante  no curso de Jornalismo na Unifra.
Pedro Correa é estudante no curso de Jornalismo na Unifra.

Observatório da mídia CS-02

O papel do jornalista é buscar e tornar públicas informações que são de importância e de interesse para a sociedade. O jornalismo tem o compromisso com a verdade, e sabemos que a verdade é relativa, principalmente quando se trata de assuntos políticos. Segundo o Relatório da Violência Contra os Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil , só no ano de 2015, foram registrados 137 casos de violência. Em 2014 foram três assassinatos de jornalistas no Brasil. Já em 2015 houve duas mortes, sendo uma de jornalista estrangeiro. No mesmo ano, radialistas, comunicadores populares e blogueiros foram vítimas de nove casos de homicídio.

Ainda segundo o Relatório, na maioria dos casos, desde 2013, a violência partiu de policiais militares devido às manifestações de rua. Como foi possível acompanhar em 2013 e 2014, durante as principais manifestações políticas pelo país, tanto manifestantes quanto jornalistas foram agredidos pela PM. Por serem facilmente identificáveis, os repórteres cinematográficos e fotográficos são as maiores vítimas. E são justamente eles que tem o poder, tem as armas, capazes de identificar os responsáveis pelas injustiças do momento e divulgá-las.

Em 2013 o país estava em 10ª posição no ranking de países mais perigosos para o trabalho de jornalista segundo pesquisa do Committee to Protect Journalists (Comitê de Proteção aos Jornalistas). Nos dados de 2015 o país aparece empatado com o Iraque em terceiro lugar.

Não é fácil sentir-se seguro para trabalhar em um país tão corrupto como o Brasil, que quase todo dia é descoberto algum “podre” de políticos. O medo de ter uma morte encomendada também é real. Além de outras questões, a insegurança também prejudica a liberdade de imprensa. É uma questão óbvia, o jornalista sente medo, acredita que não vale a pena, então não vai atrás de apurar ou publicar uma matéria que possa causar algum perigo para ele ou sua família. Por ser a região que mais concentrou manifestações, o Sudeste também representa a região do país com maior registro de agressões, sendo 55,81% em 2014 e 41,6% em 2015.

É necessário tomar medidas que amparem o jornalista, para que ele possa realizar seu trabalho e desempenhar seu papel social com segurança, sem ser prejudicado e sem correr riscos. E para que a sociedade também não seja prejudicada, deixando de ser informada sobre a realidade do país, pois de prejudicial já basta a manipulação de informações.

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Arcéli Ramos, acadêmica do quarto semestre de Jornalismo da Unifra, santa-mariense, apaixonada por Jornalismo Literário. Texto originalmente produzido para a cadeira de Legislação e Ética em Jornalismo

Observatório da mídia CS-02“Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação”. Os versos compostos por Renato Russo em 1987 continuam atuais quase 30 anos depois. Neste ano, em especial, vivemos intensamente, no cenário político, cada trecho desta música do Legião Urbana.

Nem todas as favelas são as mesmas. Muitas foram ‘pacificadas’ e se tornaram atrativos turísticos no Rio de Janeiro. Mas nem tudo são flores. A criminalidade, antes coordenada por narcotraficantes, também pode ser praticada por quem deveria assegurar o bem-estar nas  Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Basta lembrar de Amarildo, que, só por ser negro e pobre, foi morto e ‘desovado’ por policiais. O caso ocorreu em 2013 e se tornou símbolo da violência policias nas UPPs.

O que falar do Senado? O ‘irmão mais velho’ da Câmara dos Deputados. Não basta ter o nome na Lava Jato ou no Panama Papers. É preciso ser hipócrita, negar os próprios atos, esconder a sujeira debaixo do tapete, para julgar e condenar os da presidente Dilma Rousseff. Ela foi a segunda a sofrer impeachment. Ao contrário de Collor, cujas evidências do esquema de corrupção eram nítidas, Dilma caiu por ter praticado ‘pedaladas fiscais’, que, aliás, foram autorizadas pelo próprio Senado.

Ninguém respeita a constituição, com ‘c’ minúsculo mesmo, pois como já satirizava a TV Pirata, em 1989, ela só serve pela sua forma – densa e pesada – não pelo seu conteúdo – as leis. E o que dizer do título de eleitor? Não houve respeito algum com os mais de 54 milhões de eleitores de Dilma desde o resultado das majoritárias em 2014. Como a vlogueira Gleice Duarte postou, a forma retangular do título de eleitor facilita a maquiagem. E o conteúdo, que deveria ser uma espécie de ‘passe da cidadania’, está longe de valer algo.

O Partido da Imprensa Golpista (PIG), como muito bem cunhou o jornalista Paulo Henrique Amorim, teve papel decisivo no agendamento da crise e do impeachment. Um exemplo bem simples: quando falamos em ‘pedalada fiscal’ quem não lembra da presidente andando de bicicleta sorridente? Repetida à exaustão, assim como a caminhada matinal de Collor no entorno da Casa da Dinda.

As diferenças entre 1991 e 2016 não são apenas dos denunciados e dos tipos de denúncias, mas também da credibilidade da imprensa e do ecossistema midiático. Hoje, felizmente, temos atores sociais com visibilidade suficiente para denunciar os equívocos da Veja, da Globo, da Folha, do Estadão, da Isto É, de Zero Hora e de tantos outros representantes dos PIGs. Apesar do desgaste da credibilidade – vide “o povo não é bobo, fora Rede Globo”, “Falha de S. Paulo” e “Veja e suas Vejices” -, a influência dos porta-vozes dos barões das mídias e de seus interesses continua existindo. Se não fosse essa influência, não teríamos tantos haters, alguns deles tão ou mais boçais que o Olavo de Carvalho ou o Reinaldo Azevedo. Nesta semana, por exemplo, foi lamentável presenciar a mobilização dos internautas a partir da provocação de Azevedo para o #boicoteaquarius – referência à equipe do filme brasileiro que protestou em Cannes contra o impeachment de Dilma. Na minha humilde opinião, o ponto mais nefasto desta mobilização foi ver gente apoiando o fim da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, da cultura como um todo e a vazão a preconceitos contra qualquer tipo de artista.

Esse é o ‘futuro’! Esse é o (des)governo Temer, que elimina a cultura, deixa as mulheres, os negros, os indígenas, os homossexuais e todos os demais de lado. Somente quem tem espaço é a velha oligarquia, envolvida, vejam só, na Lava Jato.

Falando em ‘futuro da nação’, para coroar este momento, o que vocês acharam da escolha da nova marca do Brasil feita pelo Michelzinho? É de um cuidado tão grande que tem apenas 22 estrelas, o mesmo desenho usado durante os anos de chumbo. Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantis não existem para Temer.

Que país é este? Que país é este? Desculpa, querido leitor, mas tive a vontade de escrever o mesmo que gritei durante o show do Legião Urbana, aqui em Santa Maria, em dezembro do ano passado.Mauricio

 

Maurício Dias é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (2011). Atualmente é  professor assistente no Centro Universitário Franciscano e jornalista na UFSM.