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Perfil

Personagens da Feira do Livro: Richard Chagas

A Feira, que ocorre há 49 anos na cidade de Santa Maria, tem a colaboração de diversas pessoas para que seja realizada. Colaboradores com diversos perfis, contaremos as histórias de alguns participantes das Feira sobre seus

A face de Maria Eva

Ao se olhar no espelho, o que vê? Muitos reclamam de alguma imperfeição no nariz, uma ruga ou espinha indesejada. E se na verdade o que o que enxergasse no reflexo não fossem apenas problemas estéticos,

Naiôn atua como repórter da Rádio Gaúcha. Imagem: Arquivo pessoal.

Dando continuidade à série de matérias do Celeiro de Talentos, trazemos o perfil do jornalista Naiôn Curcino. O egresso já estava ligado ao jornalismo desde a infância. Seu pai trabalhava com a comunicação desde muito cedo, tendo passado até mesmo por rádios e alguns jornais. Entretanto, foi apenas ao final do ensino médio que ele decidiu seguir este ramo, em parte devido ao esporte. “Acho que como 99% da gurizada, as mulheres tem crescido nessa área, mas principalmente os homens entram no curso de comunicação com o sonho de trabalhar com o jornalismo esportivo”, afirma.

Foi com cerca de 15 anos que ele começou a trabalhar com reportagens esportivas no jornal da família. Posteriormente, passou a assumir outras editorias como política, economia e saúde. Após um tempo, ele também começou a trabalhar com a diagramação. Naiôn alega que “isso foi muito importante para o meu crescimento como profissional e também me abriu muitas portas. Muito da grande mídia do estado quando tinha alguma pauta importante no município de Restinga Seca, me demandavam com informação, fontes e fotos”.

Ainda que morasse em Restinga Seca e se deslocasse diariamente até Santa Maria para acompanhar as aulas, sempre houve um aproveitamento do conhecimento adquirido. Mesmo que a distância não lhe tivesse permitido participar dos laboratórios do curso, suas faltas nas aulas eram muito raras.

Ao fim do curso, surgiu a chance de participar do projeto da RBS chamado Visita à Redação. Era feito uma prova onde, dependendo do desempenho, era possível ingressar em um estágio não remunerado de três meses em um dos veículos de comunicação disponíveis em Santa Maria. “Eu nunca tive muita experiência na TV. Quando eu tive a oportunidade de escolher, minha primeira opção foi a TV”, segundo o jornalista. Durante este período, Naiôn visitava semanalmente a RBS TV para acompanhar a rotina produtiva e fazer gravações testes de reportagens. Após esta experiência, houve um convite para estágio no Diário de Santa Maria: “a partir disso, em 2014, eu vim embora para Santa Maria para conseguir conciliar o estágio com a reta final da faculdade e os dois últimos semestres”.

Com estas portas abertas, Naiôn foi chamado para continuar no Diário logo após se formar. Tendo atuado profissionalmente pela empresa desde o início de 2015 até 2019, ele naturalmente passou por diversas editorias, tendo até assumido o cargo de editor do esporte. Ao final de 2019, ele migrou para a Rádio Gaúcha, onde trabalha até o momento.

“As pessoas costumam entrar no curso com uma ideia de editoria em mente. No mercado de trabalho, principalmente nos primeiros meses após o ingresso, é necessário ter a capacidade de passar por todos os assuntos. Hoje todas as editorias são muito interligadas. Futebol conversa com segurança, que conversa com política…”, afirma o jornalista. Entre outras características importantes atualmente para atuar no campo, ele ressalta que “é necessário ser multimídia. Ainda que se tenha mais conforto com um veículo de comunicação, tu vai ser frequentemente chamado para fazer trabalhos tanto na TV, quanto na rádio e no impresso”.

A dona da Livraria Space Gospel, Andreia Batista, participa desde 2019 divulgando o trabalho evangélico: “é muito pouco divulgado, eu vim pra Feira com esse intuito de mostrar que ainda existe uma livraria evangélica na cidade e o público tem buscado”. Ela nos conta que o livro que mais sai em sua banca é a Bíblia, mas que outros livros também de cunho religioso têm sido muito vendidos. “A Feira é importante, tem várias livrarias que dizem ser da cidade e eu não conheço, na Feira temos a oportunidade de ver quantas livrarias tem na nossa cidade e não sabemos. Aqui as pessoas têm a oportunidade de escolher uma variedade de livros”, argumentou ela. A comerciante fala que adquiriu o hábito da leitura há 16 anos: “Gosto da parte evangélica, não só da Bíblia mas também dos autores, as outras leituras também, cada um acaba encontrando o seu lugar e respeita seu lugar. Acho importante saber respeitar”. 

Andreia Batista é proprietária da Livraria Space Gospel. Imagem: Luiza Silveira

Já Lorenzo Brezolin participa da Feira desde 2015. Ele trabalha na banca da Cesma, onde vende livros dos mais variados tipos, desde literatura estrangeira a botânica. Para ele é muito importante o incentivo à leitura em uma era digital. Ele também ressalta que: “ é importante para a cidade, ainda mais que trás alguns autores de fora, ter  a oportunidade de ver eles pessoalmente“. Brezolin conta que lê muitos livros desde pequeno pois “meus pais são professores, eu cresci no meio dos livros”.

Lorenzo Brizolin é vendedor da Cesma. Imagem: Luiza Silveira

Colaboração: Luiza Silveira

A Feira, que ocorre há 49 anos na cidade de Santa Maria, tem a colaboração de diversas pessoas para que seja realizada. Colaboradores com diversos perfis, contaremos as histórias de alguns participantes das Feira sobre seus gostos por leitura e que tipo de obras suas bancas oferecem. 

Richard Chagas é vendedor do Instituto Quindim. Imagem: Luiza Silveira

Richard Chagas, estudante de Artes Visuais da UFSM, atende na banca do Instituto Quindim e, na percepção dele, o livro é o primeiro museu da criança: “Adquiri o hábito da leitura pois trabalho com o Projeto Mala de Leitura onde vamos às escolas e levamos a leitura até a comunidade. Não fazemos uma hora do conto, para contar histórias não precisamos de livros, incentivamos  as crianças a lerem. Na banca eu leio em média 10  livros por dia, pois são livros rápidos de serem lidos”. 

Quando questionado sobre a importância da Feira, ele nos conta que “é importante na cultura da cidade, aqui estamos no foco das crianças para desenvolvimento delas quanto a leitura. Na Feira tem livros variados, somos o estado que mais lê, mas ao mesmo tempo não tem muitos leitores, quem lê, lê muito”, concluiu ele.

Colaboração: Luiza Silveira

Ao se olhar no espelho, o que vê? Muitos reclamam de alguma imperfeição no nariz, uma ruga ou espinha indesejada. E se na verdade o que o que enxergasse no reflexo não fossem apenas problemas estéticos, mas, na verdade, algo diferente daquilo que você é? Muitas pessoas não se identificam com o sexo que nasce. Maria Eva Bevilaqua Rizzatti, aluna de Design de Moda é uma delas.

Ela é a definição completa da frase de Simone Du Beauvoir: não se nasce mulher, torna-se mulher. Seu desenvolvimento não foi apenas de uma personalidade, como é o caso da maior parte das mulheres. Teve que moldar seu corpo de nascença. Todos passamos por fases em diferentes momentos da vida. Sua transformação ocorreu aos poucos, naturalmente. Aos 12 anos começou a tomar hormônios escondido da família, aos 18, usar roupas femininas. “Passei por várias situações que as mulheres cis também passam”. Teve vergonha quando os seios começaram a crescer e marcar a camiseta. Para ela, o plot de virada do filme que é sua vida não se resume apenas à transformação. “Hoje também está sendo uma fase para mim”.

Após atingir a maioridade, para alcançar seus objetivos, seguiu um caminho maior: decidiu sair de casa e realizar as cirurgias plásticas que completariam sua metamorfose. Adotou o nome composto Maria Eduarda. Depois de um tempo, trocou o segundo por Eva, de origem hebraica e que significa viver. Levou dois anos para conseguir obter os documentos com o nome definitivo. “Já consegui trocar quase tudo. Só falta a carteira de motorista”.

A família sempre a apoiou. Pai, mãe e irmão. Ela conta que sempre se identificou como mulher. “Passei por mudanças, mutilei o meu corpo, para me tornar uma mulher. Mas, desde criança, sempre tive pensamentos de mulher”. O genitor é de quem mais é próxima. Falam-se todos os dias, nem que seja por telefone. Ele afirma que na infância não identificava o lado feminino da filha. “Na adolescência, percebi que ela gostava de usar cabelos longos e roupas femininas. Foi a partir daí que comecei a aceitá-la como uma mulher”. Os parentes próximos sempre a incentivaram a estudar.

Sendo a única acadêmica trans no curso de Design de Moda, uma das poucas na instituição, expressa tristeza ao saber que não são todas que dispõem do mesmo privilégio. “Procuro aproveitar ao máximo. Sempre tento me enfiar onde os outros não imaginam encontrar uma trans. Aos poucos vamos indo. Quero mostrar que não somos o estereótipo marginalizado, que o senso comum tem”. Passou por situações de preconceito no mundo acadêmico. Teve que falar com os Direitos Humanos sobre uma professora que se recusava a tratá-la pelo feminino. “No final, deu tudo certo. Isso aconteceu no primeiro semestre”. Querida pelos colegas, está sempre rodeada de amigos, num clima de alegria e descontração.

Sobre o futuro? Explica que pensa em seguir os estudos, especializar-se e abrir a própria marca. Contudo, não planeja um futuro distante, prefere viver uma fase de cada vez, aproveitar os momentos da vida pois, no ar que respira, sente o prazer de ser o que é, de estar onde está. Agora, só falta o diploma.

Texto produzido no primeiro semestre de 2018, para a disciplina de Jornalismo II, sob a orientação do professor Carlos Alberto Badke.