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Manifestantes se reúnem em ato contra Bolsonaro

Ocorreu neste sábado, 22, na Praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, a manifestação “Ele Não! Ato em Defesa dos Nossos Direitos”. O ato foi organizado pelo Coletivo Marias EmLuta e contou com a colaboração

A crise ética na política partidária brasileira

Os governos executivo e legislativo, em todas as suas esferas – municipal, estadual e federal – vêm acarretando certa repulsa da sociedade. Os protestos de Junho de 2013, também chamados de Jornadas de Junho, marcaram o início

Ocorreu neste sábado, 22, na Praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, a manifestação “Ele Não! Ato em Defesa dos Nossos Direitos”. O ato foi organizado pelo Coletivo Marias EmLuta e contou com a colaboração do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Coletivo Voe. Segundo a organização, o protesto teve como principal objetivo lutar pelos direitos democráticos e humanos e mostrar oposição ao presidenciável Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL).

Manifestante se reúnem na Praça Saldanha Marinho em ato pró democracia. Foto: Denzel Valiente

A reunião do público teve início por volta das 14h com a confecção de cartazes com a escrita “Ele Não” e distribuição de adesivos e panfletos do candidato do PT, Fernando Haddad. Os manifestantes se mantiveram no local por aproximadamente três horas, por volta das 17h30, foi orientado pela organização a se reunirem em grupos e se espalharem pela cidade, conversando com pessoas nas ruas, lojas e casa. A intenção da ação foi mostrar à população as propostas de governo de Haddad e debater os motivos, pelos quais, Bolsonaro representa ameaça à democracia, aos trabalhadores, às mulheres, aos LGBTs, aos negros, aos indígenas e aos pobres, segundo os manifestantes.

“Em toda minha vida, eu tive uma educação, em que, eu fui instruída dentro de casa e na escola, a não apoiar o fascismo, não apoiar o racismo e nem a homofobia” A declaração dada pela estudante Nathália Rieder, 19 anos, em meio aos gritos de “Ele Não” e “Fascistas não passarão”, representa o momento de tensão social e política que se estende pelo país durante o segundo turno das eleições. Vale ressaltar que a manifestação ocorreu em diversas cidades do Brasil durante o final de semana, e buscou repetir a adesão pública do “Ele Não” de 29 de setembro, que reuniu milhares de pessoas no Brasil e no Mundo. Em Santa Maria, não houve contagem de participantes pelos organizadores.

Produzido para as disciplinas de Jornalismo I e Jornalismo Digital I sob a orientação dos professores Sione Gomes e Maurício Dias

Os governos executivo e legislativo, em todas as suas esferas – municipal, estadual e federal – vêm acarretando certa repulsa da sociedade. Os protestos de Junho de 2013, também chamados de Jornadas de Junho, marcaram o início de uma onda de manifestações em todo o Brasil contra as instâncias de poder. No início deste ano, a presidente Dilma Rousseff (PT) assumiu seu segundo mandato num clima bastante desfavorável e recebendo, já desde o resultado das eleições em 2014, manifestações contrárias. Além da rejeição à Dilma, constata-se um sentimento de ‘antipetismo’.

No âmbito estadual, os gaúchos mais uma vez optaram por eleger um governador de uma corrente político-ideológica oposta à anterior, endossando o antipetismo. No entanto, após seus primeiros atos à frente do Piratini, José Ivo Sartori (PMDB) também recebeu críticas e foi pressionado pelo funcionalismo estadual, por meio de paralisações e manifestações que exigem o pagamento integral dos salários e cumprimento das metas de campanha – o que corrobora para a tese de que a crise política não envolve apenas PT, mas também outras siglas.

Maccari fala sobre a crise ética entre os partidos brasileiros (foto: Viviane Campos/Laboratório de Fotografia e Memória)
Maccari fala sobre a crise ética entre os partidos brasileiros (Foto: Viviane Campos/Laboratório de Fotografia e Memória)

A reprovação que vemos na televisão contra o governo Dilma, para o professor de História do Centro Universitário Franciscano, Alexandre Maccari, depende muito da região onde são feitas as pesquisas, e do meio de comunicação que as divulgam. “Essa insatisfação com o governo Dilma é bastante controversa, pois depende muito da região em que pesquisas de opinião são feitas. O que a mídia oferece é um elemento a mais para que se questione a posição do governo e suas ações políticas”, comenta
O professor também acredita que a polarização político-partidária existente no país são os extremos da direita. E mídias como Globo e Abril sustentam esse ódio à esquerda e aos partidos ditos socialistas.
“Podemos ter uma breve explicação deste “ódio”. Há um elemento político: o “antipetismo”. Isso se fomenta há anos e cada vez mais, com o período em que o PT está na presidência, cria-se uma imagem cada vez mais destrutiva do partido (que estabelece alianças políticas prejudiciais a suas ideias originárias”, ressalta o professor.
Há um elemento ideológico: esquerda x direita. É uma luta entre direitas, mas no discurso o que sempre se recupera é a ideia de que o comunismo ainda é um “perigo real e imediato”. Mas isso é discurso, segundo Maccari.

O ódio à presidente Dilma também, visivelmente, é causado pelo seu gênero, por ser uma mulher que está no poder As diversas piadas e ofensas a ela sempre englobam machismo e a cultura patriarcal em que vivemos. Estamos em um período de lutas, mas as críticas políticas sempre carregam ofensas ao fato dela ser uma mulher representando. “A verve patriarcal e machista é muito forte nesta sociedade e no discurso que acaba aparecendo em muitos momentos”, nota o professor. A sociedade brasileira de forma geral é conservadora, como se verifica nos representantes eleitos que estão no congresso e no senado, visto os projetos de lei do presidente da câmara, Eduardo Cunha, que restringe o direito das mulheres vítimas de estupro. Para Maccari, o governo tenta se equilibrar entre a crise política e a crise econômica que afeta o país. Mas o principal problema que conduz e que leva muito disso em consideração é a crise ética que os partidos políticos atravessam. “Não se pensa no Brasil, se pensa no poder e formas de tomá-lo ou de mantê-lo. E isso é, ao meu ver, muito mais sério que crises políticas e econômicas que são, em geral, administráveis e contornáveis”, visualiza.

A opinião política dos jovens

Matheus condena a falta de investimento na educação e as circunstâncias do sistema carcerário (foto: Cassiane Carvalho)
Matheus condena a falta de investimento na educação e as circunstâncias do sistema carcerário (foto: Cassiane Carvalho)

De sete estudantes que participaram de uma enquete, cinco concordam com as políticas sociais do governo, como o Bolsa Família e programas sociais.
Para Nathalie Minuzi, 26, estudante de Design do Centro Universitário Franciscano, o governo da Dilma foi o que mais deu oportunidades para as pessoas de baixa renda. A possibilidade de ascensão da classe média baixa se deu graças às políticas públicas, segundo Nathalie.
Também estudando do Centro Universitário, Mariana Machado, 21, afirma que não estaria cursando a faculdade de arquitetura se não fosse pelos programas e bolsas do governo. “Ao longo desses 12 anos tivemos coisas boas que vieram do PT, adquirimos mais poder aquisitivo e liberdade, se comparado a antes desse período”, comenta Mariana.
Carlos Klein, 19, afirma que a crise não o afeta diretamente, então ele aprova algumas medidas do governo, apesar do período de recessão que estamos vivendo. Para Carlos, Dilma trouxe inclusão social e oportunidades de empregos.
Os escândalos de corrupção envolvendo pessoas do Partido dos Trabalhadores fez Leandro Aguiar reprovar o governo nesse sentido. Mas ele enxerga a crise como global, vê que a culpa não é exclusivamente de um governo ou de um partido. “Sou a favor das políticas sociais do governo com a finalidade de crescimento da população, esses programas tiraram uma parte das pessoas, que viviam sob miséria, da fome”, afirma o estudante de direito.
Para o estudante de História, Matheus Lauer, 19, temos que visualizar que a situação atual do país (a crise) não é culpa da presidente, foi uma bola de neve que se acumulou com o tempo, e é algo global. “Os programas sociais do governo são fundamentais para nossa ascensão enquanto nação. É importante olhar para quem não provém de bons recursos financeiros para que essas pessoas cresçam junto com a população que detém de capital”, ressalta Matheus.
Para o futuro historiador, os protestos e ódio contra o governo vêm de pessoas alienadas em relação às informações políticas, elas não buscam o conteúdo em fontes confiáveis e sérias, mas sim na grande mídia massiva que têm outros interesses.

Frozza acredita que a diminuição dos programas sociais foi para corrigir excessos do governo (foto: Cassiane Carvalho)
Frozza acredita que a diminuição dos programas sociais foi para corrigir excessos do governo (foto: Cassiane Carvalho)

Já para o economista Matheus Frozza, as manifestações estão ocorrendo graças ao acesso maior à educação, logo, as pessoas têm um conhecimento codificado, ensinado, embasado, nas salas de aula. “A perda do ProUni, Minha Casa Minha Vida, crédito financeiro, esses programas, faz a população ir às ruas pedir de volta esses benefícios que o governo garantiu. Dilma está tentando corrigir algo que o partido fez, corrigir os excessos que cometeram ao longo desses anos”, percebe.
A crise, segundo Frozza, é externa, mundial. Basta olhar para a economia chinesa, europeia e norte americana, não é algo acontecendo só no país, somente por causa do PT.
Se o processo de impeachment seguir e Dilma for retirada do poder a crise brasileira se estende até 2017, sem previsão para estabilidade. Mas se a presidente continuar governando a previsão é para a recuperação econômica vir a partir de março do ano que vem, afirma Frozza.