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Santa Maria, RS, Brazil

Representatividade

Os Sete Magníficos e a representatividade feminina na mídia

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere,

A representatividade das minorias na mídia nacional

A representatividade midiática é o ato de representar comunidades e grupos por meio de veículos de comunicação de grande alcance, como o cinema, a televisão, o rádio e os jornais. A mídia tem a tarefa importante de

Relações de gênero são tema de debate na UFN

Você já parou para pensar em quantas vezes a mídia violou direta e indiretamente a sua vida? Vive-se numa era de revolução, de quebra de padrões estéticos, mas ao mesmo tempo a evolução dos direitos humanos

Foto: Reprodução / Metrópoles \ Mulheres governantes de sete países têm enfrentado à Covid-19 com sucesso

Durante a segunda quinzena de abril, diversos veículos da mídia brasileira abordaram um aspecto peculiar do enfrentamento da pandemia da Covid-19 em alguns países do mundo. “Os Sete Magníficos”, como foram classificados pelo jornal italiano Corriere, são países liderados por mulheres, a Alemanha, governada pela chanceler Angela Merkel, Taiwan, com a presidente Tsai Ing-wen, Islândia, com a primeira-ministra Katrín Jakobsdóttir, Finlândia, com Sanna Marin, Noruega, com Erna Solberg, Dinamarca, com Mette Frederiksen, e Nova Zelândia, com Jacinda Ardern. As matérias abordam aspectos geopolíticos que refletem em âmbitos culturais, de saúde e econômicos.

Os veículos escolhidos pela reportagem variam entre jornais independentes, tradicionais, grandes corporações e mídia alternativa. São eles BBC, Forbes, Catraca Livre, Metrópoles, CNN Brasil e Mídia Ninja.

Mas por que este tema?

A reportagem se perguntou por que o tema foi levantado e foi atrás da opinião de especialistas.

Marcia Veiga, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro da ONG Themis, de assessoria e estudos de gênero, explica que o fenômeno não é mera coincidência e que, embora não seja o motivo por completo, o gênero das líderes tem a ver com o sucesso do enfrentamento à pandemia:

“Ao estudar gênero, é possível compreender o que esses fatos trazidos à tona sinalizam”.

Elas serem do sexo feminino, por fatores culturais, facilita com que tenham um olhar mais aproximado da população, não sempre, mas na maioria dos casos, de acordo com a especialista.

“Todas as sociedades têm convenções sociais, entre elas, a expectativa de que meninas e mulheres serão mais frágeis e que a elas caberão os cuidados. Entre ocidentais, tudo que é considerado masculino são elementos mais valorizados e que sensibilidade é algo “menor” e menos importante”, diz Marcia.

A pesquisadora esclarece que estas líderes focam em ações de cuidado e prevenção, valorizando o ser humano e tratando áreas como saúde e educação como tão importantes quanto a economia:

“Enquanto Brasil e Estados Unidos declaram “guerra ao vírus”, as mulheres são pacifistas”.

Um caso que chamou atenção da especialista foi a abordagem trazida pela BBC acerca de atitudes da primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern. Antes da páscoa, ela realizou um discurso voltado às crianças, em mídia nacional, para acalmar os pequenos com relação à data, garantindo que “o coelho da páscoa faz parte dos serviços essenciais”.

“Traços femininos fundamentais em um governante, como o diálogo e o interesse pela opinião de todos, são comuns para elas. Após ouvirem a população, através de atitudes horizontais como esta, só então elas agem”, afirma a pesquisadora.

Sobretudo, coloca o ser humano como prioridade e centro da preocupação. Assim, os cidadãos se sentem participantes. Isso mostra a necessidade de colaboração de todos num período de crise, ainda conforme a especialista.

“Valorizar a diversidade, mantendo o cuidado e a horizontalidade de discursos é o caminho”, conclui Marcia.

Para ela, o jornalismo tratar destes assuntos é cumprir o papel primário da profissão, de encontrar fatos e trazê-los à tona, nada mais do que retratando a realidade:

“Não havia como não perceber a existência deste fato. Além disso, hoje, há mais mulheres jovens e informadas nas redações e em chefias dos veículos jornalísticos. Então, o entendimento de que isso significa algo relevante é mais comum. Talvez a mídia não aprofunde os temas, ainda tendo muito o que avançar, mas, ao menos, publicam”.

A professora de psicologia Graziela Miolo, explica que as mulheres já crescem se adaptando à cultura machista já imposta e implantada na sociedade:

“Elas enfrentam dificuldades para se legitimar em posições habituais aos homens e precisam conquistar os espaços onde desejam estar. Qualquer lugar fora do lar não é para elas, principalmente na liderança e ainda mais fortemente no campo da política. Por isso, são mais inventivas e preparadas para demandas inusitadas”.

A reinvenção das mulheres faz parte de uma constituição psíquica, histórica, política e social, segundo a Graziela. Por isso, esta criatividade com a qual a mulher cresce a auxilia a se adaptar e encontrar recursos e saídas para grandes e inesperados problemas, como uma pandemia, desenvolvendo habilidades para conquistar seu lugar no espaço público, de ser e estar no mundo.

“As mulheres têm habilidades psíquicas que tornam esta administração mais fácil por terem mais recursos criativos para lidarem com as crises”, diz a professora.

Para ela, este momento é de sair do padrão tido como o certo e criar novas formas de governar e enfrentar conflitos, característica do feminino:

“A mídia aborda a questão do gênero de forma massificada, sem questões mais específicas, trazendo “as mulheres”, ao invés de “a mulher”, não dando conta de observá-la. Ainda observamos o discurso que prevalece a posição do homem, mas não é difícil de se compreender, em função de estar dentro de uma cultura embasada em uma linguagem que prioriza um discurso machista, que é estrutural”.

Por: Gabriele Bordin
Texto produzido na disciplina de Jornalismo Internacional, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Orientação: Profª Carla Torres

Arquivo ACS

A representatividade midiática é o ato de representar comunidades e grupos por meio de veículos de comunicação de grande alcance, como o cinema, a televisão, o rádio e os jornais. A mídia tem a tarefa importante de representar minorias, dando voz e força para aqueles que lutam contra preconceitos e estereótipos construídos ao longo do tempo.

Um exemplo de representatividade na mídia é um filme ter grande parte do seu elenco negro e ocupando  papéis importantes para trama. A representatividade existe na mídia nacional e está caminhando para melhorar, mas é ainda muito mal distribuída, e os grupos que realmente necessitam dela, muitas vezes, acabam não sendo representados da forma que deveriam. Na verdade, muitos acabam  sendo humilhados ou estereotipados pelo próprio complexo midiático, contribuindo ainda mais para uma cultura que exclui minorias pelo preconceito. Umas das formas incorretas de representar o negro, por exemplo, é generalizar ou usar termos em uma matéria que indicam que o “bandido” só é bandido, porque é negro. Ou mesmo insinuar que os demais da mesma etnia também o são.

Acontece muito de jornalistas darem voz a fontes com discursos que incitam o ódio, também uma forma de representar o outro de forma negativa. O uso incorreto resulta em propagações de preconceitos e padrões de comportamentos que muitas vezes são tóxicos para as pessoas. Outro exemplo de representatividade distorcida é o fato de colocar uma mulher em uma posição frágil e delicada, na qual ela sempre precisa de um homem para dar o próximo passo. A propagação desse padrão nas grandes mídias tem um efeito negativo na sociedade, onde meninas crescem achando que esse é o jeito de agir, que elas não precisam pensar por elas mesmas porque o homem vai fazer todo trabalho,ou seja, é a representatividade negativa que acaba estimulando uma cultura machista de comportamento feminino. E quem ousar a agir de forma contrária, acaba sofrendo julgamentos.

A representatividade também possui o poder de fazer o bem e realmente mudar a vida de uma pessoa, pois se ver na mídia e se sentir verdadeiramente representado causa um efeito de motivação de sonhos que já até estavam desacreditados. Os meios mais eficazes para distribuir a representatividade de forma justa e que beneficiasse a todos seria diversificar todas as produções que alcançam o grande público, principalmente com séries e filmes. Hoje em dia ainda há exemplos de filmes e séries com protagonistas negros, LGBT+ ou mulheres fortes, e mesmo eles sendo poucos já fazem uma grande diferença em uma sociedade que se nega a abrir os olhos para as diferenças.

Uma produção cinematográfica nacional que é exemplo de representatividade das mulheres é a série “A Coisa Mais Linda”, que retrata claramente o machismo e o sofrimento de mulheres na década de 50. Além do fato da produção contar com três protagonistas mulheres e uma delas ser negra, o enredo mostra as dificuldades das mulheres em serem donas de si mesmo e de suas decisões. Elas não podiam sequer assinar um financiamento, porque precisava da presença masculina, e isso é bastante chocante. Na época, era naturalizado o abandono do esposo para com a companheira, mas era “feio” ser mulher separada.  Um ponto em que a representatividade foi negativa,é o fato da figura da mulher negra ser representada através de uma pobre doméstica. Porque a negra não pode ser a mulher bem-sucedida?

As representações são constitutivas de cultura, sentido e conhecimento sobre nós mesmos e também as pessoas à nossa volta. Muito mais do que simplesmente refletir a realidade dessas representações nas mídias como filme, televisão, blogs, ou jornalismo impresso, elas criam realidades e normalizam visões de mundo específicas. Vale ressaltar que no Brasil, através de uma percepção particular, os veículos – principalmente Rede Globo de Televisão, quando dá visibilidade às minorias ou dão ênfase a discursos humanitários, acabam sendo confundidos com posicionamento ideológico. Mas isso é discussão para um outro artigo.

Andriele Hoffmann, acadêmica de Jornalismo da UFN

Um romance. Em três partes. Escrito por uma dama. Foi com essa assinatura que Jane Austen publicou Orgulho e Preconceito na Inglaterra, no século XIX. Nessa época, os pseudônimos e as assinaturas anônimas deveriam ser adotados pelas escritoras que publicavam livros. Porém, não somente na Europa essa prática era comum. O primeiro romance abolicionista da literatura brasileira foi escrito por uma mulher. Maria Firmina dos Reis identificava-se como uma maranhense, e publicou Úrsula em 1859. O romance recebeu uma segunda edição, com o nome da autora, apenas em 1975. 

Livros escritos por mulheres. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

“As mulheres entram na literatura com nomes masculinos para depois se revelarem. A sociedade não enxergava com bons olhos, pensava que eram mulheres muito avançadas, e, na verdade, eram!”, comenta Haydée Hostin Lima, poeta. Apesar da resistência e da presença das mulheres no ramo literário diminuir a adoção de pseudônimos e assinaturas anônimas, hoje ainda é possível perceber resquícios dessa prática. “Muitas mulheres assinam com pseudônimos masculinos para obterem mais aprovação do público e editoras. Ou seja, não é tão fácil ser mulher e fazer literatura, porque é como se não quisessem nos ouvir, mas a nossa voz é forte e poderosa”, relata Luciana Minuzzi, produtora editorial. 

Um exemplo é a autora de Harry Potter, Joanne Rowling, que foi orientada a identificar-se como J.K. para evitar que sua saga fosse restringida apenas a meninas. “Não há uma literatura própria deste ou daquele. Penso que uma das coisas que nos mostrou isso foi Harry Potter, pois meninos e meninas leram e se identificaram”, conta Nikelen Witter, escritora.

O espaço da mulher na literatura 

A identificação das autoras com seus respectivos nomes é apenas uma das formas de resistência das mulheres na literatura. A busca por espaço e voz em um ambiente predominantemente masculino ainda encontra diversos obstáculos. 

Segundo dados da Universidade de Brasília (UNB), mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras foram escritos por homens. A pesquisa compreende o período de 1965 a 2014 e foi realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea. Além disso, cerca de 90% dos livros publicados foram escritos por pessoas brancas. Outros dados que o levantamento apurou foram acerca do protagonismo das personagens, que são na maioria homens, brancos e heterossexuais. 

As mulheres ainda não são maioria também nos espaços dedicados à literatura. No Brasil, apenas oito mulheres compõem a Academia Brasileira de Letras. Até os anos 70, uma prerrogativa do estatuto da academia impedia que mulheres fossem aceitas, pois exigia membros apenas do sexo masculino. Duas escritoras, Amélia Beviláqua e Dinah Silveira Queiroz foram rejeitadas com base nesse artigo. 

Rachel de Queiroz, primeira integrante da Academia Brasileira de Letras. Foto: Acervo Instituto Moreira Salles

A primeira mulher aceita foi Rachel de Queiroz, em 1977, precedida por Dinah Silveira de Queiroz, em 1980; Lygia Fagundes Telles, em 1985; Nélida Piñon, em 1989; Zélia Gattai, em 2001; Ana Maria Machado, em 2013; Cleonice Berardinelli, em 2009; e, por fim, Rosiska Darcy, em 2013. 

Do mesmo modo, nas premiações as mulheres são ofuscadas. O Prêmio Nobel de Literatura, existente desde 1901, contemplou apenas quatorze mulheres. A última premiada, em 2013, foi a escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, autora de A guerra não tem rosto de mulher, Vozes de Tchernóbil, O fim do homem soviético, entre outros livros. 

Diante do espaço reduzido das mulheres na literatura, em 2014, a escritora e ilustradora britânica Joanna Walsh criou a hashtag #readwomen2014. A iniciativa tinha o objetivo de fomentar a leitura de livros escritos por mulheres e tornou-se um movimento global. No Brasil, a ideia de Joanna foi adaptada para uma versão presencial em livrarias e espaços culturais. Assim, surgiu um dos maiores clubes de leitura do país, o Leia Mulheres, que visa a leitura de obras escritas por mulheres, das clássicas às contemporâneas. 

Escritoras santa-marienses: quantas você já leu? 

Em Santa Maria, mulheres escritoras estão conquistando cada vez mais espaço no universo literário. Luciana Minuzzi considera que para as mulheres, ocupar um espaço na literatura é um ato político. “Acredito que tenham mulheres escrevendo nos mais diversos ramos da literatura. Vemos desde as formas mais tradicionais de publicação até nos slams de poesia na rua. Nos eventos literários, também vejo muitas mulheres na organização e no público. Ou seja, estamos aí e estamos criando”, expõe a escritora.

Luciana, que já publicou contos com temática de terror e suspense em antologias, ressalta ainda que  é preciso incentivar que mais mulheres escrevam. Contudo, entende que ainda é um processo complicado: “para que escrevam, precisam de tempo e é algo que muitas mulheres não têm em razão das jornadas triplas de trabalho”. 

Escritora, historiada e professora Nikelen Witter. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

A ficção científica e o fantástico fazem parte da escrita de Nikelen Witter, autora de três romances: Territórios Invisíveis, Guanabara Real e a Alcova da Morte, e Viajantes do Abismo. A professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) acredita que o maior papel da mulher na literatura hoje “é romper com filtros que contam a história da literatura, que marcam o que é cânone, e os que dizem que o leitor homem não vai se identificar com uma protagonista mulher”. 

A historiadora, que tem como inspiração Ursula Le Guin, Octavia Butler e Margaret Atwood, reforça que é necessário incentivar a escrita das mulheres. Segundo ela, “historicamente, as mulheres sempre leram mais. Penso que é um momento para se apoderar desse espaço. Não estou dizendo que as mulheres escreviam menos, pelo contrário, as mulheres sempre escreveram muito, mas nós nunca chegamos ao cânone porque temos uma tradição de apagar, silenciar e esquecer as mulheres”. 

A literatura produzida por Tania Lopes é diversificada e envolve livros infantis, romances, contos e crônicas gaúchas. A escritora e artista plástica conta que desde criança escrevia pequenos versos. Natural de Itaqui, publicou o primeiro livro quando se mudou para Santa Maria. Integrante da Academia Santa-Mariense de Letras, acredita que existe uma representação forte das mulheres escritoras na cidade, tanto na universidade, quanto na parte criativa, de romances. 

Escritora e artista plástica Tania Lopes. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

Tania, que foi patronesse da Feira do Livro de Santa Maria em 2004, relata que sempre escreveu em conjunto com homens: “Fui convidada a escrever um livro sobre os dez mandamentos, no qual era a única mulher. O livro era coletivo, um começava e passava para o outro. Quando recebi, os protagonistas, até então, eram advogado e professor de universidade. Pensei que estava muito elitista, então coloquei uma faxineira de protagonista”. 

Além disso, a artista plástica revela que o papel da mulher é essencial na literatura. “Ninguém escreve isenta de alguma coisa que viveu. Então, é necessário que as mulheres escrevam. A mulher cria, sofre, ama, desama, porque não colocar essas realidades na literatura?”, questiona a escritora. 

A poeta Haydée Hostin Lima é representante da Academia Santa Mariense de Letras e da Casa do Poeta. Autora de quatro livros, Coração Guepardo, O Telhado de Vidro, Tatuagem, Birds e diversas antologias, em 2015 foi patronesse da Feira do Livro de Santa Maria. Sobre as entidades, Haydée relata que ambas realizam encontros mensais (Academia) e semanais (Casa do Poeta). Enquanto todo o anos a Academia organiza o livro Prosa em Verso, na Casa do Poeta é estruturado o Elas por Elas, livro exclusivo com poesias das mulheres que fazem parte da Casa.

Livros de Tania Lopes. Foto: Denzel Valiente/LABFEM

Outras perspectivas sendo lidas em conjunto 

Aliando a prática da leitura e a representatividade da mulher na literatura, Monalisa Dias e Débora Leitão criaram o clube de leitura Bem Ditas. A diversidade de autoras, temas e estilos literários permeia a política de escolha dos livros do clube, que promove encontros desde 2017, no terceiro sábado do mês, no Salu’s Casa e Café. Até o momento, foram lidas 29 escritoras. Os encontros são organizados pelo grupo no Facebook (Bem Ditas – Clube de Leitura) e são abertos ao público que tem interesse. 

29º encontro do Bem Ditas sobre o livro Mamãe & Eu & Mamãe, de Maya Angelou. Foto: Bem Ditas Clube de Leitura.

Monalisa acredita que o papel da mulher na literatura é trazer outras perspectivas. “Tivemos durante tantos anos uma história que é contatada por homens brancos e europeus. Penso que mulheres de diferentes lugares do mundo têm contado suas histórias a partir de outros pontos de vista. Então, é importante que tenhamos outras escritas e outras histórias contadas, e que as mulheres consigam espaço na sociedade para escrever, publicar e serem lidas”, esclarece a antropóloga. 

A pesquisadora e professora da UFSM ainda relata que o principal benefício do clube é conseguir incluir um tempo de leitura de literatura na rotina e conhecer mulheres que escrevem de diversos lugares do mundo. “O clube é uma motivação, porque é muito bacana você ler um livro e querer falar sobre ele, e chegar em um lugar e encontrar vinte, trinta pessoas que leram, e trocar uma ideia. As pessoas podem conhecer mais mulheres e verem toda a potencialidade que a gente tem para escrever. E também criar mais um espaço de sociabilidade em Santa Maria”, alegra-se Monalisa. 

Se você tem interesse em ler mais livros escritos por mulheres pode começar pela  Coleção Folha Mulheres na Literatura. Renomadas escritoras compõem a coleção, como Clarice Lispector, Lya Luft, Mary Shelly, entre outras do Brasil e do mundo. Também pode acessar a Livraria Africanidades, especializada em literatura afro-brasileira, e encontrar títulos de Alice Walker, Angela Davis, Bell Hooks, entre outras. 

Texto produzido na disciplina de Jornalismo III, no 2º semestre de 2019, e supervisionado pela professora Glaíse Palma.

Participantes da segunda edição do evento Desconstruindo: vamos falar de gente! Crédito: Larissa Bilo/ LABFEM

Você já parou para pensar em quantas vezes a mídia violou direta e indiretamente a sua vida? Vive-se numa era de revolução, de quebra de padrões estéticos, mas ao mesmo tempo a evolução dos direitos humanos e da sociedade em respeitar diferentes pontos de vista, parece  distante.  Por isso é  tão importante reforçar a fala sobre gênero e expor – como uma forma de apoio- as dificuldades enfrentadas e superadas diariamente.

Na tarde de hoje, 19 de junho, o curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana (UFN) promoveu a segunda edição do evento ”Desconstruindo: vamos falar de gente!”, com um bate papo sobre gênero. As ministrantes da disciplina optativa Cláudia Souto e Pauline Neutzling, ressaltam a importância de discutir gênero na Publicidade e a importância de trazer a diversidade para o evento.

A disciplina Publicidade e Gênero criada como optativa, justamente para atender essas temáticas atuais e discutir ”como a publicidade se apropria de padrões estéticos e qual é o papel da comunicação de um modo geral?” questiona a professora Cláudia Souto.

Convidados para a roda de conversa. Crédito: Larissa Bilo/LABFEM

Em uma roda de conversa super descontraída, Nathália Barchet, 20 anos, estudante de ciência sociais, fomenta a importância de eventos como esse, para falar de representatividade, auto-estima e gordofobia.  Já aluna de jornalismo Lara Cornellio, 25 anos, falou que esse evento é muito importante para cursos de comunicação, ”querendo ou não a mídia é responsável por boa parte do pensamento das pessoas, é um evento produzido pelo curso da Publicidade e Propaganda, ou seja, as propagandas são responsáveis pelo que elas impõem”, relatou Lara, que foi responsável por falar sobre negritude na mídia, o papel dos negros em novelas, séries que tem pouca representatividade. A aluna Eveline Gruspan, falou sobre suas experiências de vida com nanismo, como a mídia mostra o nanismo, ”pra mim é tudo muito tranquilo, a minha vida é normal, entçao eu relatei como é a minha rotina, com coisas que me fazem bem ou mal”, disse a estudante.

As Drags Queen Micka Valga, Loretta e Electra ressaltam a importância desse espaço para poder explicar para as pessoas sobre o seu trabalho e sobre o como a vida delas é,  mas principalmente a visibilidade dentro de uma Universidade,  protagonizando outros locais de fala. Após um coffe break, as meninas fizeram uma apresentação com a sua performance cheias de atitude, estilos e cores.

Membros da Parada no Viaduto Evandro Behr.
Foto: Eduardo Biscayno de Prá

O Coletivo Voe organizou a 3ª Parada Alternativa do Orgulho LGBT em Santa Maria no dia 19 de novembro. A praça Saldanha Marinho foi o local de concentração dos participantes, que seguiram a rua do Acampamento, em seguida desceram a Avenida Presidente Vargas até o Largo da Locomotiva. Segundo a organização, mais de 3 mil pessoas participaram da parada.

A parada é construída com arrecadações obtidas pelo Voe, formado por estudantes, pesquisadores e ativistas. Há três anos o coletivo atua com pessoas jurídicas e físicas como apoiadores que organizam um evento diferente da parada LGBT da região centro, considerada, por eles, com viés político-partidário.

Ao ser questionado sobre os benefícios que a marcha traz para o meio LGBT, Henrique Hamester, integrante do Coletivo, ressalta: “Como em todo o mundo, as paradas LGBTs têm o intuito de trazer a visibilidade ao movimento. A sua parte política, reivindicações no meio político e social, assim como demostrar a cultura LGBT. Acredito que estes são os três pilares. Nos mostrar e dizer o que somos e o que fazemos, além de um momento de celebração onde podemos ser nós mesmos”.

A terceira edição foi maior que as anteriores, com um número maior de frequentadores e de atrações. Teve eventos diferentes, como a presença de DJs mulheres, apresentações de música e de dança, mostra fotográfica e tributo dedicado ao ativista Nei D’Ogum, importante militante da resistência popular.

A divulgação também foi mais intensa que as anteriores. O destaque foi o evento no Facebook, que chegou a ter 5 mil inscritos.