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Um olhar sensível para a cultura de Santa Maria

A egressa Paola Saldanha iniciou o curso de Jornalismo por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), em 2015,  na Universidade Franciscana. Ela conta que durante a infância sempre teve diversas influências do jornalismo ao seu

Projeto Uniartes revela talentos da comunidade franciscana

O projeto Uniartes é um programa cultural promovido pela Universidade Franciscana (UFN), que oportuniza que acadêmicos, egressos, funcionários e professores da instituição exponham dentro da universidade as suas manifestações artísticas. A programação do evento sempre conta

A egressa Paola Saldanha iniciou o curso de Jornalismo por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), em 2015,  na Universidade Franciscana. Ela conta que durante a infância sempre teve diversas influências do jornalismo ao seu redor. “Quando estava entre meus 10 e 12 anos, apresentava com um amigo o Jornal Muito Importante. Nele, falávamos sobre o que acontecia na rua e entrevistávamos nossos avós”, relata a jornalista. Por conta de seus avós, ela percebeu seu encanto por ouvir, conhecer pessoas e contar suas histórias. “Passava horas ouvindo sobre os causos de meus avós, muitas vezes, repetidos. Ouvia com atenção sempre que narravam suas histórias. Sentia prazer em escutá-las”, complementa. 

Por acreditar que um olhar sensível para o outro e a abordagem de assuntos de interesse humano são importantes pilares na prática do jornalismo como atividade carregada de responsabilidade social, Paola escolheu o tema: Humanização do relato da construção da narrativa jornalística: Uma análise de reportagem de Eliane Brum sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte para apresentar no seu Trabalho Final de Graduação (TFG). “Sempre admirei as produções que valorizam o humano e suas histórias e, consequentemente, admiro também o trabalho desenvolvido pela jornalista Eliane Brum”, explica a egressa. O processo de pesquisa utilizado por ela foi de imersão no tema e nas produções analisadas. Sete reportagens foram selecionadas para os estudos, em diferentes aspectos. Após meses de leituras, releituras, conversas e escrita, Paola afirma: “O TFG me faz refletir ainda mais sobre nosso papel e responsabilidade”.

A egressa apresentou seu TFG em 2018, e teve como banca os professores Bebeto Badke e Sione Gomes e a jornalista Pâmela Rubin Matge. Foto: Arquivo pessoal.

Durante o curso, a jornalista fez parte da Agência Central Sul (ACS), como repórter, em diferentes editorias entre os anos de 2015 e 2018. Após a conclusão do curso, Paola ainda escreveu durante o ano de 2019, “era uma coluna mensal na ACS sobre as diferentes perspectivas de ser e estar na sociedade”, completa ela. Em 2018, ao lado de Deivid Pazatto, ela apresentou o Janela Audiovisual, programa que foi transmitido na TV Câmara e TV aberta digital. A produção, que reunia diversas produções audiovisuais realizadas no curso de Jornalismo da UFN, teve coordenação da professora Neli Mombelli e foi uma realização do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa).

Hoje Paola é co-idealizadora da Maria Cult, projeto de jornalismo cultural e agenda de Santa Maria, que busca fortalecer e valorizar a criação independente, diversa, acessível e popular da cidade. A jornalista conta que a iniciativa para o projeto partiu de Deivid Pazatto, seu amigo e colega de faculdade. “Nós conversávamos, ainda no período de curso, sobre a escassez de espaços para artistas e produções locais. Logo após a formatura, iniciamos o planejamento do projeto. Apresentamos a Maria Cult em janeiro de 2020, com a proposta de um veículo independente de produção de conteúdo cultural de Santa Maria. Nascida na cidade cultura, marcada por diferentes histórias e costumes, nós visamos à coletividade e à resistência, com protagonismo de múltiplas vozes e manifestações “, explica.

Paola em produção para o curso de jornalismo da UFN. Foto: Deivid Pazzato.

Paola começou a trocar ideias sobre a Maria Cult com seu amigo Gabriel Tondolo após se conhecerem de uma maneira um tanto quanto inusitada. “Parece uma história clichê, mas eu estava em uma cafeteria de Santa Maria, tomando um expresso e acidentalmente tropecei e derrubei uma porção de café no colo da Paola. No mesmo instante, eu comecei a juntar guardanapos para limpar ela enquanto pedia desculpas. Acabei por sentar ao lado dela e começamos a conversar. Depois desse evento, a gente trocou contato e começamos a conversar diariamente. Conforme foi passando o tempo, ela começou a compartilhar detalhes da Maria Cult e eu fui acompanhando cada vez mais o projeto e participando como um ‘palpiteiro’, dando minha opinião sobre algumas decisões da Maria”, conta Tondolo. Após esse acontecimento, já se passaram quatro anos que ele acompanha o crescimento do projeto e a trajetória da egressa como jornalista. “Todos os perrengues que ela tem passado em conciliar a vida pessoal e profissional com o projeto, rodando Santa Maria em busca de patrocinadores e parcerias. É surpreendente ver o quanto o projeto entrega e saber que é feito por duas pessoas. A primeira edição do prêmio Maria Cult resume tudo o que falei, uma premiação de tal patamar, reunindo o melhor da cultura e sendo organizada em menos de um ano pela Paola e o Deivid. Isso é um marco na carreira jornalística de ambos, com tão pouco, fazer um evento que entregou tanto e mexeu com toda Santa Maria”, concluiu, orgulhosamente, o amigo.

Apaixonada pela cultura, ela relata que hoje entende que já se inclinava para este nicho, “ao pensá-la como conjunto de comportamentos, tradições, arte, religião, moda, entre outras expressões de um grupo”. “Sempre busquei abordar diferentes perspectivas e olhares em produções plurais”, completa ela. A jornalista ainda destaca que: “Ser ouvinte carrega grande importância e responsabilidade, pois ao compartilhar suas memórias, experiências íntimas, as pessoas demonstram o quanto se sentem à vontade e seguras em partilhar parte de suas vidas”. 

Perfil produzido no 1º semestre de 2023, na disciplina de Narrativa Jornalística, sob orientação da professora Sione Gomes.

UNIARTES no hall do prédio 15 do conjunto III da UFN. (Foto: Emanuely Guterres)

O projeto Uniartes é um programa cultural promovido pela Universidade Franciscana (UFN), que oportuniza que acadêmicos, egressos, funcionários e professores da instituição exponham dentro da universidade as suas manifestações artísticas.
A programação do evento sempre conta com atrações musicais, gastronomia e exposições e comercialização de artes manuais. Além disso, já houve momentos de espiritualidade com a pastoral universitária, brechós, contação de histórias, oficinas, varal de poesias, coral e apresentação de dança, entre outros. As apresentações musicais são de estudantes dos mais diversos cursos, de áreas e cursos como Direito, Comunicação, Saúde e Filosofia. As atrações sempre são diversificadas a fim de dar oportunidade a novos participantes, conforme Laíse Chaves, integrante da comissão organizadora do Uniartes.
O público é uma média de pessoas de dentro e fora da instituição. A integrante da comissão organizadora do Uniartes elucida que o foco principal da comissão organizadora é trazer pessoas de fora para que elas conheçam a universidade. Ela fala que tem sido feito um trabalho para trazer principalmente a comunidade do bairro Rosário, onde a instituição está inserida, mas pessoas de todas as localidades estão convidadas. Ao mesmo tempo, percebe-se que o o público principal é da UFN.

Como começou
O Uniartes nasceu em 2018, com três edições no mesmo ano. A quarta edição, em 2019, aconteceu em 13 de abril.
Laíse conta que se percebeu a necessidade de um movimento cultural na instituição em meados de 2017. Com o objetivo de sanar esta lacuna, foi planejado um ambiente colaborativo, com participação da comunidade acadêmica. Um questionário aberto, que visava a descobrir os talentos da instituição entre professores, alunos da graduação e pós-graduação, técnico-administrativos passou a ser aplicado. “Nos surpreendemos com o retorno porque não imaginávamos que havia tantos talentos na universidade. As habilidades apresentadas foram muito diversas, como pessoas que fazem bolo, costuram, cantam, dançam, e até mesmo mágico e cabeleireiro”, relata Laíse.
No primeiro mês de lançamento desta pesquisa foram obtidas mais de 400 respostas, o que foi muito impactante para a instituição, conforme Laíse. O próximo passo foi capitalizar estes talentos para a instituição, quando se resolveu criar um programa para uni-los. Criada uma estrutura para poder mostrar esses talentos franciscanos, surgiu o Uniartes.
A primeira e a segunda edições tiveram 100 e 150 pessoas de público, respectivamente. A última edição, de 2018, teve 500 visitantes, crescimento exponencial. A primeira edição de 2019 teve 30 pessoas como público, Laíse explica que, por ser a primeira do ano, há dúvida por parte da comunidade sobre o sucesso do evento.
A organização sempre tenta trazer talentos diferentes em cada edição, segundo integrante da comissão organizadora do Uniartes. Camila Hoffmann, é egressa do curso de pedagogia da UFN e faz pós-graduação na instituição. Ela conta que, no ano passado, quando trabalhava na comissão universitária, fez parte da organização do Uniartes. “Trabalhei no processo de sonhar e gestar o projeto e estou adorando ver ele agora, já em sua quarta edição”, fala Camila.

 

Espaço de convivência convida a bate-papo. Foto: Gabriele Bordin

 Potencialidades reveladas

Laíse explica que se pretende mostrar que a universidade não é feita só de seus cursos, algo que muitas vezes parece fechado, e sim que as pessoas que têm talentos ou até um hobbie que pode se tornar uma segunda fonte de renda. “Quem sabe a gente não vai descobrir aqui alguém que tem um talento e pode o atrelar à sua especialidade de curso?”, cogita.
O Uniartes também tem como propósito, unir talentos. “Tenho visto situações como de alguém que toca violão e tem um colega que canta, e que nem imaginava, ou a pessoa tem um colega que faz embalagens, e a outra faz um tipo de artesanato, a que faz o artesanato pode comprar a embalagem e unir esforços…”, exemplifica a integrante da comissão organizadora do Uniartes.
Laíse conta que há dificuldade para, depois de enviado o formulário para a organização, os cadastrados aceitarem o convite de participar do Uniartes. “Temos 500 pessoas cadastradas, mas na hora de fazerem parte do projeto, elas dizem ficam receosos por acharem que o produto delas não é legal ou que é um talento só delas e que não querem expor a outros. Isso nos mostra que ainda estamos em um processo de amadurecimento, tanto da instituição quanto dessas pessoas que se inscreveram, porque na verdade eles não esperavam que este espaço seria aberto. Eu imagino que as pessoas devem ter feito sua inscrição pensando que era só para uma ação quantitativa e, por vezes, se surpreendem quando recebem um retorno as chamando para vir participar. Então precisamos fazer um trabalho de formiguinha para encontrar pessoas que aceitem o desafio, mas somos insistentes, entendemos que este é um espaço importante. Conversamos e, às vezes, precisamos dizer para as pessoas que o trabalho delas é muito bacana e que isso que ela faz para ela, também pode ser interessante para outros. Temos vários exemplos de pessoas que vieram participar do evento, às vezes até mesmo não acreditando muito no seu potencial, e a gente conseguiu mostrar algo diferente disso. É uma questão de valorização, a instituição valorizando as pessoas que estão aqui e os colegas valorizando uns aos outros. É um trabalho meticuloso, mas é muito gratificante quando vemos um retorno positivo. Hoje trabalhamos dizendo para as pessoas que elas podem se inscrever e virem expor. A nossa única regra para isso é que elas tenham algum vínculo com a instituição. Se faz algo diferente e quer mostrar, venha, esse é o ambiente!”, declara Laíse em tom de chamada.

Foto: Gabriela Bordin

A última edição da programação cultural contou com sete expositores. Pela segunda vez, o casal Lia Margot Viero, 62 anos, funcionária da UFN e José Antonio Dias, 67, aposentado, participou do Uniartes. Eles são parceiros na oficina Viero há mais de cinco anos, propriedade dos dois e da irmã de Lia, que mora em Porto Alegre. Cada um deles trabalha com um tipo de artesanato. Lia trabalha com artefatos como lembranças de aniversário e batizados; José, com esculturas em gesso.
“Faço pinturas em gesso com diferentes técnicas. A maioria é arte sacra com pintura barroca. Nas técnicas, uso jogo de sobreposição de cores e clássico de envelhecimento com tinta betume. Hoje, está na moda a aplicação de pérolas, cobertura de renda, apliques em dourado e decoupagem com guardanapo”, detalha José sobre seu trabalho.
Lia conta que ele, aposentado, e ela, aposentada de um turno de trabalho, procuraram opções de atividades que fossem agradáveis e dessem prazer. “A cada atividade que fazemos, vamos aperfeiçoando nossas técnicas e melhorando, e estamos gostando muito”, alegra-se Lia. Ela ainda acrescenta: “O Uniartes é um espaço muito interessante para divulgação dos trabalhos de quem faz parte da instituição, até porque, aqui dentro, nos enxergam apenas como funcionários. Muitas pessoas tomaram conhecimento que eu e o meu marido trabalhamos com isso há pouco tempo, a não ser os colegas mais próximos, de mesmo setor, mas não dentro do contexto da comunidade. Acredito que isso faz parte dessa visão e contexto de universidade”.
As edições do Uniartes têm conseguido abraçar a todos que têm interesse em participar, mas as inscrições devem ser feitas com antecedência pois a estrutura do evento é previamente agendada e é feita pré-divulgação que procura divulgar cada um dos expositores de forma isolada com o objetivo de valorizar a cada um.

Próximas edições

Há mais três edições programadas para 2019, em 15 de junho e 10 de agosto. O programa cultural é organizado pela equipe da Coordenadoria de Relacionamento da UFN, Pastoral Universitária e professor Alberto Badke.

Para participar:
Como: preencher o formulário disponível na página do Uniartes
Onde: no site da Universidade Franciscana (http://www.ufn.edu.br/site/cultura/uniartes)
Quando: as inscrições estão sempre abertas. Para participar da edição vigente, é necessário se inscrever até duas semanas antes
Quanto: gratuito
Quem: podem se inscrever todos que têm vínculo com a UFN: aluno (graduação ou pós), professor, funcionário ou egresso