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Triciclo

Ciência pelos ares

O que o sistema de fechamento das portas de um ônibus e o sistema de preenchimento de uma garrafa de refrigerante tem em comum? Ambos utilizam o ar comprimido, transformando-o em força. Essa técnica se configura

O que o sistema de fechamento das portas de um ônibus e o sistema de preenchimento de uma garrafa de refrigerante tem em comum? Ambos utilizam o ar comprimido, transformando-o em força. Essa técnica se configura como uma das mais antigas formas de transmissão de energia do mundo e, nos últimos anos, tem sido aperfeiçoada, ganhando destaque nos diversos setores industriais.

Carro movido a ar. Fotos: Victor Mostajo
Carro movido a ar tem potencial para chegar até uma velocidade de 20 km/h. Fotos: Victor Mostajo

Com rodas, freio, pedal, correia de bicicleta, estrutura de aço e 36 garrafas PET, em cada uma delas, o ar é comprimido a uma pressão cinco vezes maior que a de um pneu comum de carro. O experimento percorre distâncias de cerca de 500 metros, a 10 km/h.

O projeto orientado pelo professor Sérgio Pavani, do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism) desenvolveu um triciclo que explora mais uma propriedade do ar: um veículo que dispensa propulsão humana, fazendo uso de energia limpa para se mover.

Por meio de um sistema mecânico (compressor), o ar da atmosfera tem a energia aumentada e fica armazenado nas garrafas PET, que, em analogia aos carros comuns, seriam os tanques de combustível. Cada garrafa é abastecida com dois litros de ar, que aos poucos é liberado e aciona um sistema que movimenta os pedais. A direção é uma barra vertical, assim como a dos primeiros automóveis.

Apesar de já existirem projetos semelhantes de veículos que funcionam com energia limpa, o professor Sérgio Pavani – que leciona as aulas de pneumática – explica que, até então, nenhum utilizou garrafas PET. A novidade serve para reforçar a importância da reciclagem: “Podemos aproveitar muitas coisas, de diversas maneiras e a partir disso criar resultados possíveis e positivos.”.

Triciclo deve ir ainda mais longe

A ideia é seguir aperfeiçoando o protótipo e fazê-lo ir mais longe. “A questão não é fazer tudo certo, mas sim, aprender com os erros. A partir do que já temos, vamos fazer cálculos maiores e buscar melhorar. O projeto se tornou um grande incentivo à ciência”, ressalta Pavani.

Professor Sérgio Pavani e o protótipo em teste.
Professor Sérgio Pavani e o protótipo em teste.

O professor explica que o próximo passo é fazer com que o triciclo percorra toda a Avenida Roraima, até a Reitoria. Para isso, adaptações deverão ser feitas: as garrafas de dois litros terão de ser substituídas pelas de 3,3 litros, e a estrutura de aço, por alumínio. O sistema de “abastecimento” das garrafas – que atualmente utiliza energia elétrica – também começa a ser repensado. Futuramente, pretende-se substituir por placas solares, tornando o veículo totalmente sustentável.

Panavi finaliza dizendo que há uma necessidade urgente de mudança na maneira que as industrias tratam seus funcionários, afinal são usadas em maioria maquinas elétricas, que por sua vez tem maior possibilidade de atentar contra a vida do usuário. “Elas poderiam muito bem ser substituídas por outras ferramentas que utilizem a energia pneumática, uma energia que é mais barata, pratica, segura e que não lança nenhum tipo de poluição”

A descoberta do ar

Somente na segunda metade do século XIX é que o ar comprimido adquiriu importância industrial. Porém, sua utilização é anterior a Da Vinci que em diversos inventos dominou e usou o ar.

A história demonstra que há mais de 2.000 anos os técnicos da época construíam máquinas pneumáticas, produzindo energia pneumática por meio de um pistão. Como instrumento de trabalho utilizavam um cilindro de madeira dotado de êmbolo. Esses instrumentos eram utilizados para a fundição de ferro, prata, chumbo e outro tipos de ferros.

O ar pode ser comprimido através de bombas, compressores e outros aparelhos, para inúmeras finalidades. O uso mais comum é encontrado nos pneus. No posto de gasolina ou no borracheiro, uma bomba elétrica chamada compressor enche um bujão de ar que solta o ar comprimido para dentro do pneu. Depois de um tempo, o compressor volta a carregar o bujão de ar. O ar comprimido serve para manter um carro em movimento. Faz com que o pneu absorva os buracos e segura o carro nas curvas, mantendo a maciez do veículo e o conforto dos passageiros.

Por Jewison Cabral e Victor Mosttajo. Reportagem desenvolvida na disciplina de Jornalismo Especializado II