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O reflexo do Covid-19 nos investimentos: Taxas e Poupança

Em janeiro deste ano, quando o Coronavírus recém começava a ganhar espaço nos noticiários e nas medidas governamentais, nem os mais pessimistas acreditavam que os impactos econômicos (e claro, na saúde da população) tomariam tais proporções.

Neste período de pandemia, todos os acontecimentos relacionados ao vírus mexem com os ânimos do mercado. Por isso, esta série de reportagens tem como objetivo realizar um compilado de informações de como a Covid-19 impactou a economia no Brasil até agora, com foco voltado para os investimentos. 

Divida em cinco partes, neste primeiro texto, o foco são as Taxas Selic, DI e Referencial. Também é abordada aqui a caderneta de poupança, investimento preferido dos brasileiros. Falaremos sobre como a queda nas taxas de referência deixou os investimentos em renda fixa com rentabilidade ainda menor. Mesmo assim, ela ficou acima da inflação, proporcionando rendimentos reais. 

Vale destacar que esta matéria tem cunho informativo, não configurando recomendação de compra ou venda. O conteúdo aqui apresentado foi finalizado até o dia 04 de maio de 2020, e atualizado posteriormente em virtude da reunião mais recente do Copom, no dia 06 do mesmo mês. Também é importante destacar que rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro.

 

Taxas: Selic – DI – Referencial

Nos investimentos de renda fixa, a remuneração é previamente definida, tornando possível que o investidor saiba exatamente quanto irá receber com a aplicação. Dentre os indicadores de referência para esses investimentos, estão a Taxa Selic, Taxa DI (também conhecida como CDI) e Taxa Referencial.

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, sendo o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. A sigla vem de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que é o programa em que os títulos do Tesouro Nacional são negociados pelas instituições financeiras. Com isso, o Banco Central tem controle na emissão, compra e venda desses títulos.

A Taxa Selic é dividida em duas: A Selic Meta é a que estamos acostumados a ver nos noticiários. Ela é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e influencia todas as taxas de juros do Brasil, como as cobradas em empréstimos e financiamentos e os rendimentos em aplicações financeiras.

Já a Selic Over é a que de fato vemos no mercado. É praticada quando um banco empresta dinheiro para outro, usando como garantia os títulos públicos. Ela é calculada diariamente considerando a média ponderada dessas transações. Como os bancos têm liberdade para negociar as taxas entre si, a Selic Meta serve também como parâmetro para a Over. Historicamente, a diferença entre as duas é em torno de 0,10 ponto percentual, sendo a taxa Meta a maior.

A mudança na Taxa Selic influencia diretamente o comportamento da economia em geral. Como ela é referência para outras taxas, a redução na Selic possibilita fazer um empréstimo ou comprar a prazo com juros menores, ou seja, o crédito fica mais acessível para a população. Assim, o dinheiro circula mais e estimula o consumo, o que – por outro lado – faz a inflação subir. Investimentos atrelados à Selic (e ao DI como veremos abaixo) passam a render menos. Quando a Taxa Selic sobe, o efeito é o oposto. Juros de empréstimos e crédito ficam mais altos e os rendimentos de aplicações atrelados também sobem, tornando mais vantajoso fazer um investimento. Logo, o consumo é desestimulado e a inflação é controlada.

Na tentativa de conter o impacto causado pelo Coronavírus, o Copom anunciou, em 18 de março, a redução da Selic para 3,75%. Na reunião mais recente, em 06 de maio, o Copom fez um mais um corte, desta vez acima do esperado pelo mercado. Assim, a Taxa Selic atual é de 3% ao anoConforme o Boletim Focus, que relata as expectativas do mercado, a previsão é que a Selic termine o ano de 2020 no patamar de 2,50% ao ano.

 

A Taxa DI, abreviação de Depósito Interbancário, caminha muito próxima à Selic. Como os bancos não podem terminar o dia no negativo, acabam recorrendo ao mercado interbancário para realizar empréstimos de curtíssimos prazos. Para essa transação, é emitido um Certificado de Depósito Interbancário, ou simplesmente CDI, como a taxa também é conhecida. A média das taxas de juros desses empréstimos é que determina a taxa DI (ou CDI). O que a difere das transações da Selic Over, é que neste caso não há títulos públicos como garantia. Atualmente a Taxa DI é de 2,90% ao ano.

Outra taxa que influencia, ou melhor, influenciava investimentos é a Taxa Referencial. A TR foi criada em 1991, com o principal objetivo de controlar a hiperinflação, porém, ela está zerada desde setembro de 2017.

 

Poupança: O investimento preferido dos brasileiros

Mesmo perdendo para a inflação em certos períodos, causando rendimentos reais negativos, a poupança ainda é a aplicação financeira preferida dos brasileiros. Em 2019, a caderneta liderou com 65% entre as modalidades de investimento, conforme levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

A poupança vinha de uma queda de 65% na captação líquida de 2019 em comparação a 2018, quando foram depositados R$ 13,23 bilhões e R$ 38,26 bilhões, respectivamente, a mais do que os saques. O ano passado também foi inferior a 2017, que teve um saldo de R$ 17,1 bilhões.

Com a pandemia de Coronavírus, a captação bateu recorde no mês de março, superando os saques em R$ 12,17 bilhões. Para fins de comparação, no ano de 2019, o mês de março registrou uma captação líquida – diferença entre depósitos e saques – de R$ 1,85 bilhão. 

Para entendermos quanto rende a caderneta, é importante destacar que ela possui duas regras de cálculo. Na chamada poupança antiga, que vale para depósitos feitos até 03 de maio de 2012, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial, atualmente zerada como vimos acima. Totalizando assim, 6,17% ao ano.

Na nova poupança, a rentabilidade acompanha a Taxa Selic. Quando ela está superior a 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais a TR (6,17% ao ano). Porém, quando a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento é de 70% da taxa básica. Com a taxa básica de juros no patamar atual, de 3%, a poupança está rendendo cerca de 2,10% ao ano.

 

* Texto de Pablo Milani para a disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, durante o 1º semestre de 2020. Orientação: Profª Carla Torres.

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Em janeiro deste ano, quando o Coronavírus recém começava a ganhar espaço nos noticiários e nas medidas governamentais, nem os mais pessimistas acreditavam que os impactos econômicos (e claro, na saúde da população) tomariam tais proporções.

Neste período de pandemia, todos os acontecimentos relacionados ao vírus mexem com os ânimos do mercado. Por isso, esta série de reportagens tem como objetivo realizar um compilado de informações de como a Covid-19 impactou a economia no Brasil até agora, com foco voltado para os investimentos. 

Divida em cinco partes, neste primeiro texto, o foco são as Taxas Selic, DI e Referencial. Também é abordada aqui a caderneta de poupança, investimento preferido dos brasileiros. Falaremos sobre como a queda nas taxas de referência deixou os investimentos em renda fixa com rentabilidade ainda menor. Mesmo assim, ela ficou acima da inflação, proporcionando rendimentos reais. 

Vale destacar que esta matéria tem cunho informativo, não configurando recomendação de compra ou venda. O conteúdo aqui apresentado foi finalizado até o dia 04 de maio de 2020, e atualizado posteriormente em virtude da reunião mais recente do Copom, no dia 06 do mesmo mês. Também é importante destacar que rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro.

 

Taxas: Selic – DI – Referencial

Nos investimentos de renda fixa, a remuneração é previamente definida, tornando possível que o investidor saiba exatamente quanto irá receber com a aplicação. Dentre os indicadores de referência para esses investimentos, estão a Taxa Selic, Taxa DI (também conhecida como CDI) e Taxa Referencial.

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, sendo o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. A sigla vem de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que é o programa em que os títulos do Tesouro Nacional são negociados pelas instituições financeiras. Com isso, o Banco Central tem controle na emissão, compra e venda desses títulos.

A Taxa Selic é dividida em duas: A Selic Meta é a que estamos acostumados a ver nos noticiários. Ela é definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e influencia todas as taxas de juros do Brasil, como as cobradas em empréstimos e financiamentos e os rendimentos em aplicações financeiras.

Já a Selic Over é a que de fato vemos no mercado. É praticada quando um banco empresta dinheiro para outro, usando como garantia os títulos públicos. Ela é calculada diariamente considerando a média ponderada dessas transações. Como os bancos têm liberdade para negociar as taxas entre si, a Selic Meta serve também como parâmetro para a Over. Historicamente, a diferença entre as duas é em torno de 0,10 ponto percentual, sendo a taxa Meta a maior.

A mudança na Taxa Selic influencia diretamente o comportamento da economia em geral. Como ela é referência para outras taxas, a redução na Selic possibilita fazer um empréstimo ou comprar a prazo com juros menores, ou seja, o crédito fica mais acessível para a população. Assim, o dinheiro circula mais e estimula o consumo, o que – por outro lado – faz a inflação subir. Investimentos atrelados à Selic (e ao DI como veremos abaixo) passam a render menos. Quando a Taxa Selic sobe, o efeito é o oposto. Juros de empréstimos e crédito ficam mais altos e os rendimentos de aplicações atrelados também sobem, tornando mais vantajoso fazer um investimento. Logo, o consumo é desestimulado e a inflação é controlada.

Na tentativa de conter o impacto causado pelo Coronavírus, o Copom anunciou, em 18 de março, a redução da Selic para 3,75%. Na reunião mais recente, em 06 de maio, o Copom fez um mais um corte, desta vez acima do esperado pelo mercado. Assim, a Taxa Selic atual é de 3% ao anoConforme o Boletim Focus, que relata as expectativas do mercado, a previsão é que a Selic termine o ano de 2020 no patamar de 2,50% ao ano.

 

A Taxa DI, abreviação de Depósito Interbancário, caminha muito próxima à Selic. Como os bancos não podem terminar o dia no negativo, acabam recorrendo ao mercado interbancário para realizar empréstimos de curtíssimos prazos. Para essa transação, é emitido um Certificado de Depósito Interbancário, ou simplesmente CDI, como a taxa também é conhecida. A média das taxas de juros desses empréstimos é que determina a taxa DI (ou CDI). O que a difere das transações da Selic Over, é que neste caso não há títulos públicos como garantia. Atualmente a Taxa DI é de 2,90% ao ano.

Outra taxa que influencia, ou melhor, influenciava investimentos é a Taxa Referencial. A TR foi criada em 1991, com o principal objetivo de controlar a hiperinflação, porém, ela está zerada desde setembro de 2017.

 

Poupança: O investimento preferido dos brasileiros

Mesmo perdendo para a inflação em certos períodos, causando rendimentos reais negativos, a poupança ainda é a aplicação financeira preferida dos brasileiros. Em 2019, a caderneta liderou com 65% entre as modalidades de investimento, conforme levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

A poupança vinha de uma queda de 65% na captação líquida de 2019 em comparação a 2018, quando foram depositados R$ 13,23 bilhões e R$ 38,26 bilhões, respectivamente, a mais do que os saques. O ano passado também foi inferior a 2017, que teve um saldo de R$ 17,1 bilhões.

Com a pandemia de Coronavírus, a captação bateu recorde no mês de março, superando os saques em R$ 12,17 bilhões. Para fins de comparação, no ano de 2019, o mês de março registrou uma captação líquida – diferença entre depósitos e saques – de R$ 1,85 bilhão. 

Para entendermos quanto rende a caderneta, é importante destacar que ela possui duas regras de cálculo. Na chamada poupança antiga, que vale para depósitos feitos até 03 de maio de 2012, o rendimento é de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial, atualmente zerada como vimos acima. Totalizando assim, 6,17% ao ano.

Na nova poupança, a rentabilidade acompanha a Taxa Selic. Quando ela está superior a 8,5% ao ano, a poupança rende 0,5% ao mês mais a TR (6,17% ao ano). Porém, quando a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento é de 70% da taxa básica. Com a taxa básica de juros no patamar atual, de 3%, a poupança está rendendo cerca de 2,10% ao ano.

 

* Texto de Pablo Milani para a disciplina de Jornalismo Especializado, do Curso de Jornalismo da Universidade Franciscana, durante o 1º semestre de 2020. Orientação: Profª Carla Torres.