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Especial

Feira Do Livro: há 50 anos contando histórias

Há 50 anos, a Feira ocorre na Praça Saldanha Marinho. Iniciada em 1973, jovens escritores tiveram a oportunidade de lançar sua obra e o evento passou pelo desafio de se manter viva durante a pandemia.  Jovens

Os mais de 70 anos de sofrimento argentino

Durante a primeira metade do século XX, a Argentina era uma das maiores potências econômicas do mundo. Foi ao fim da Segunda Guerra Mundial que a economia do país sofreu uma derrocada fatal. Até hoje, o

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Feira do Livro e seus quase 50 anos de história

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Começa a 49º Feira do Livro

Nesta sexta-feira, dia 29 de abril, foi o primeiro dia da 49º Feira do Livro que volta com força total depois de 2 anos de pandemia. A Patronesse da edição é a escritora, professora, pesquisadora e

Há 50 anos, a Feira ocorre na Praça Saldanha Marinho. Iniciada em 1973, jovens escritores tiveram a oportunidade de lançar sua obra e o evento passou pelo desafio de se manter viva durante a pandemia. 

Jovens Escritores

Algo importante para o evento é que, a cada nova edição, surgem novos jovens escritores. Como, por exemplo, em 2022, quando o (hoje) acadêmico de Jornalismo João Lucas Oliveira lançou o livro Cada vez mais eu. O autor conta que a produção só foi possível devido ao incentivo de várias pessoas na escrita do livro. Ele acredita na iniciativa de novos escritores, porém crê também na experiência de vida: “De nada adianta ser o mais novo a lançar um livro, se você ainda não tem conhecimento suficiente para transparecer”

Oliveira acredita no legado de fazer o bem por meio de instrumentos que auxiliem a cuidar da saúde mental. Ele ainda ressalta que o leitor que adquirir o livro estará auxiliando no reflorestamento: ” A cada livro adquirido, uma muda de árvore de reflorestamento é plantada, como forma de repor o papel utilizado na impressão, e também de ajudar no combate ao desmatamento e contribuir no reflorestamento”

Lançamento Do Livro Cada vez mais eu
Capa do livro Cada Vez Mais Eu.

O livro de João Lucas pode ser adquirido através da Amazon ou WhatsApp.

O Recomeço Pós Pandêmico

Durante o ano de 2020 o mundo viu – se diante uma pandemia global, onde ficamos praticamente sem contato presencial por um tempo. Por isso, naquele ano a Feira do Livro ocorreu de forma híbrida pela primeira vez, na sua 47ª edição. Já em 2021 o evento voltou às suas origens,  sendo realizada de modo 100 % presencial. Segundo Télcio Brezolin, presidente da Câmara do Livro de Santa Maria e: “Foram momentos de reencontrar pessoas num ambiente cheio de energia, desprovido de algoritmos, tão importante neste hiato da história da humanidade”.(depoimento dado à assessoria de imprensa da Feira de 2021)

Feira de 2023

Em 2023 a Feira Do Livro ocorre na Praça Saldanha Marinho de 28 de abril à 13 de maio. As inscrições para os escritores que querem lançar livros estão abertas até o dia 15/04, por meio de formulário . Mais informações podem ser adquiridas pelo e-mail feiradolivrosm73@gmail.com e no Instagram @feiradolivrosm.

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Vivência e resistência de pessoas trans em Santa Maria

Relatos de mulheres e homens trans a partir de suas narrativas.

Marquita segurando a bandeira trans, símbolo que representa a comunidade transgênero. Foto: Heloisa Helena.

“Eu digo que a gente foi uma geração muito resistente porque viemos de um estigma de preconceito muito grande em cima da nossa população, por causa de uma doença. Nós sobrevivemos a tudo aquilo e estamos aqui”

Era outono do ano de 1967 quando veio ao mundo um menino, julgado por seu sexo biológico. Aos 17 anos começou o processo de se reconhecer como uma pessoa trans, termo que era pouco utilizado naquela época, pois usavam a palavra travesti como definição. Assim surge Marquita Quevedo, no ano de 1985, em plena pandemia de HIV/AIDS no Brasil, em um ambiente cheio de preconceito contra a população LGBTQIA+ e desinformação sobre a doença.

Ela relata a discriminação que sofreu nos anos 1980 por conta da epidemia, era agredida, xingada e expulsa de bares. “Era muito real na nossa cidade, em pleno Calçadão tinha uns espaços que quando a gente passava ouvia gritos ‘olha a AIDS’, ‘vocês estão matando a população’.” Porém, esse não foi o primeiro preconceito em sua trajetória.

Somente há quatro anos o Ministério dos Direitos Humanos retirou a transexualidade da lista de doenças ou distúrbios mentais. Em agosto de 2018, a Organização Mundial da Saúde publicou a 11ª edição do CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que deixou de incluir o chamado “transtorno de identidade sexual” ou “transtorno de identidade de gênero”. Desde 1952 a população trans era considerada portadora de distúrbios mentais, reforçando o estereótipo de que eram doentes.

Aos 15 anos, Cilene deu o grito de liberdade. Se reconheceu como mulher, feminina e delicada. Na infância foi apelidada de “sorriso”, o sorriso largo estava quase sempre presente em sua trajetória. Mas, aos 11 anos, seu sorriso desmanchou ao ser abusada na escola. Após ser descoberta, através de uma carta contendo uma declaração de amor para um colega de sala de aula em um colégio apenas de meninos, Cilene foi encaminhada ao psicólogo.

“Na sala dele eu tirava toda a minha roupa e ele tocava nas minhas partes íntimas. Na segunda sessão foi piorando, embora eu sentia dor, na época eu imaginava que fazia parte do tratamento. Na terceira sessão, eu parei de ir e acredito que ele iria concluir o ato.”

E nessa travessia perigosa que é a vida, Cilene começou sua caminhada em busca de ser quem realmente desejava. “Eu tenho muitos motivos para ser uma pessoa revoltada e agressiva, porque só a gente sabe o que carregamos nessa vivência toda”.

Cilene menciona uma das suas principais marcas de resistência:

Cilene Rossi trabalha como assessora parlamentar no Legislativo de Santa Maria gerando representatividade para o público trans em espaços políticos. Foto: Vitória Gonçalves.
Cilene Rossi trabalha como assessora parlamentar no Legislativo de Santa Maria gerando representatividade para o público trans em espaços políticos. Foto: Vitória Gonçalves.

É sobre o caminho difícil que Cilene fala. É sobre um caminho de perdas e abandonos. De pedras e espinhos. De preconceito e discriminação. De luta e resistência. Mesmo diante de todos os desafios, Cilene não se recolheu em si mesma. E procurando compreender o que havia nela que tanto incomodava os outros, foi construindo para si a história de sua vida.

Viver no país que mais mata travestis e transexuais é um ato de resistência. O Brasil lidera o ranking mundial de mortes por transfobia, de acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU). Os dados são alarmantes. Segundo o dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no país, sem contabilizar os demais atos de violência física e moral. 140 vidas, 140 histórias interrompidas. A idade média das vítimas foi de 29 anos. “Nossa maior vingança será envelhecer. Qualquer travesti que passe dos 35 anos estará se vingando desse CIS-tema” – Keila Simpson Presidenta da Antra.

Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.

Gráfico produzido a partir dos dados do dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgado em 2021. Produzido por Vitória Gonçalves.
Gráfico produzido a partir dos dados do dossiê anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgado em 2021. Produzido por Vitória Gonçalves.

No começo do século 21 surgiram entidades nacionais como a Articulação Nacional de Travestis, Transexuais e Transgêneros (Antra), a Rede Trans e o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades, com o propósito de falar sobre questões relacionadas a população tras e gerar visibilidade. Entretanto, descobrir-se neste cenário ainda possui dificuldades.

“Eu sou uma mulher trans, mas é nítido que a maioria nem me considera mulher”. Descobrir-se diferente. Reconhecer-se. Autoproclamar-se. Assumir-se enquanto mulher trans exigiu de Davina Kurkowski todo um processo de negociação, consigo mesma e com o mundo externo. “Pelo fato de eu ser transsexual, a maioria dos homens acham que eu sou alvo de sexo fácil. Já fui assediada várias vezes em Santa Maria, na rua, indo para o cursinho, quando estava trabalhando. Era algo que acontecia quase todos os dias.”

Davina relata como as pessoas reagem de forma preconceituosa ao vê-la na rua:

Sem contar com qualquer respaldo social, mulheres como Davina estão desprotegidas e se tornam extremamente vulneráveis a múltiplas formas de assédio e ataque, sendo radicalmente privadas de direitos. Neste momento, a jovem se depara com a bruta realidade de uma mulher trans na sociedade. O desconforto em utilizar o banheiro feminino do shopping, olhares que transmitem medo, nojo e ódio acompanham Davina no seu cotidiano.

“Escutei vários comentários, uma vez me chamaram de traveco. No começo da transição eu não me sentia confortável para usar vestido e saia em público mas, pela primeira vez, devido ao verão e ao calor, coloquei um vestido. Estava voltando do shopping com duas amigas, eu me sentia ótima e  quando estávamos passando pelo calçadão, aquele homem que está sempre cantando música gospel e gritando com as pessoas começou a gritar olhando pra mim ‘porque vocês adoram o diabo’.”

Quando se fala em homens trans há pouco levantamento aprofundado no país sobre a população masculina, o reconhecimento das identidades de gênero desses sujeitos, a invisibilidade social e política enfrentada por eles, bem como as várias formas de violência que os atingem diariamente.

“Eu posso não ter passado nenhum confronto físico, nem moral, mas é bem humilhante e degradante não ter acesso a um direito básico. É de certa forma violento na vivência”. Cauã de Bairros tem apenas 21 anos, mas já possui uma grande bagagem de experiências e vivências. Aos 17 anos deu adeus ao gênero feminino, rótulo que foi imposto a ele ao nascer, mas que nunca o pertenceu. O direito básico a que o jovem se refere é ser reconhecido pelo nome social na documentação.

 

Cauã atualmente cursa música na UFSM e faz parte da equipe da Casa Verônica Foto Cauã - Arquivo pessoal.
Cauã atualmente cursa música na UFSM e faz parte da equipe da Casa Verônica Foto Cauã - Arquivo pessoal.

No ano de 2019 ele era calouro, no curso de licenciatura em Teatro na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e ainda não tinha modificado o nome na certidão de nascimento e RG. “Na época ainda não tinha uma política facilitada para o nome social. A maior burocracia era o nome, porque as pessoas olhavam o nome social e achavam que era enfeite. Pra mim isso foi o pior, questão do nome na carteira do Restaurante Universitário (RU), portal do aluno, matrícula e carteira de ônibus”.

O jovem conseguiu fazer a retificação do nome por conta de uma lei  (Provimento n° 73 de 2018) instaurada no ano de 2018, que facilitou o processo ao retirar a obrigatoriedade do requerimento de laudos médicos para alteração. Atualmente, para mudar basta a autodeterminação da pessoa interessada em modificar o nome. “Pensa que desagradável ter que pedir para um médico olhar teu corpo e atestar aquilo, para você poder ter acesso ao nome básico. É só teu nome”. Felizmente Cauã não precisou passar pela consulta médica graças a alteração da lei.

Alguns direitos e o acesso a eles tem evoluído ao longo dos anos, mas o preconceito persiste intrínseco na sociedade como mencionado nos relatos de quem convive diariamente com essa realidade.

O desafio no mercado de trabalho

A realidade das pessoas trans em busca da sua independência financeira

“A falta de oportunidade e de inclusão me fez trabalhar na noite. Eu não vou dizer que todas estão na noite por necessidade, mas 95% sim […] Hoje o público trans tem muitas oportunidades, por conta de quem esteve na linha de frente batalhando pelo público LGBT.” 

A noite muitas vezes não tem regra, não tem leis, não tem descanso. Mas não para Cilene, que optou por ter disciplina nos 15 anos que viveu a rotina do trabalho na prostituição. Conheceu todas as drogas na noite – ou quase todas. Mas se considera abençoada de não ter se viciado em nenhuma delas.

“Esses 15 anos para mim era um trabalho. Do qual, eu tinha horário para chegar na rua e horário para ir embora, e final de semana eu não trabalhava. O corpo precisa descansar e a alma também. Porque você sobrecarrega”

Ao falar sobre as marcas que a compõem, sobre as experiências que vivenciou, sobre a sua vida, a sua história, a sua luta, Cilene relatou as agressões, os assédios e a conquista pelo território. No mundo da prostituição, toda esquina é conquistada, assim como os clientes.

“Muitas vezes a gente apanha mas a gente revida para apanhar com dignidade. Tu não aceitou quieta, tu lutou também. Perdeu, infelizmente perdeu. Mas no mundo da noite, tu só conquista seu espaço assim, apanhando e voltando, apanhando e voltando, uma hora desistem e te permitem ficar”

De acordo com Cilene, o mundo da noite envolve muitos gritos e xingamentos. E o desejo de estar em cima de um salto alto, muitas vezes se torna um pesadelo. Há noites em que não é escolhida e noites em que o corpo implora por descanso. Quando jovem, sempre contribuiu em casa, apesar das tentações de um mundo perverso, seu objetivo sempre foi o mesmo.

“Eu nunca joguei meu dinheiro fora, sempre ajudei meus sobrinhos. Geralmente a mulher trans que trabalha na noite, elas estão vulneráveis ao álcool e a droga, uma coisa leva a outra.”

Depois de vivenciar muitos mundos, conhecer seus próprios abismos e reencontrar-se consigo mesma diversas vezes nesse caminho, uma oportunidade de emprego surgiu na Estação Rodoviária de Santa Maria contribuindo com a sua construção.

“Eu se pudesse aparecer de forma mais feminina, ótimo. Mas não é privilégio de muitas. Cilene Rossi foi toda uma construção. Antigamente as condições eram precárias, algumas já tinham sorte de nascer bonitas, conseguir clientes à noite. Chamávamos na rua de “bater portinhas”. Atualmente, Cilene tem 51 anos e exerce a profissão de assessora parlamentar da vereadora Marina Callegaro (PT). Com seu trabalho, auxiliou 23 mulheres trans a fazerem a troca do nome social. Considera esse passo como um empoderamento para que pessoas como ela se reconheçam como cidadãs e como desejam ser reconhecidas.

Definitivamente, a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho ainda é um desafio. Mas, como conta Marquita, a área da beleza era uma alternativa para pessoas trans trabalharem, pois o local se mostrava parcialmente receptivo a essa população.“Eu digo que a minha profissão era ser cabeleireira.  Até alguns anos atrás era a profissão onde a gente se encontrava e não tinha preconceito, a gente era aceita no meio do salão”, relembra. Atualmente, Marquita trabalha com a produção cultural de eventos em Santa Maria.

Tentar se colocar no mercado de trabalho sendo uma pessoa trans pode resultar em cicatrizes profundas e desgastes emocionais. No final de 2019, logo antes da pandemia do coronavírus, Cauã estava procurando emprego, mas não havia resultados. Nas experiências para conquistar algumas vagas, houve muitos questionamentos desnecessários e nem um pouco profissionais dos colegas da empresa.

“Fiz o teste de uma semana em uma sorveteria. A moça que estava me treinando começou a me perguntar por que eu tinha cabelo comprido, se eu era gay, se eu ‘dava’, coisas bem íntimas que não tem nada a ver com o espaço de trabalho e, por causa do meu cabelo comprido, ela achou que eu era gay e ela tinha essa permissão.”

Davina também se deparou com dificuldades ao buscar por empregos. Antes da transição, ela conseguiu uma oportunidade de estágio, mas quando terminou o ensino médio, o estágio foi cancelado. De acordo com a jovem, após trocar seu nome social e começar a fazer currículo como Davina, as entrevistas de emprego nunca mais surgiram. Até o momento, seu único trabalho depois da transição foi como babá e como modelo.

Essa realidade reflete a dificuldade desse público ao tentar ingressar no mercado de trabalho. Muitas vezes não avançam sequer nos processos seletivos e não são contratados apenas por serem quem são.

As adversidades no dia a dia de pessoas trans

O impacto do preconceito na vida da comunidade T

“O momento que sofri o primeiro preconceito foi dentro da família e aí tive que me tornar forte”

Como acontece com a grande maioria das mulheres e homens trans, Marquita não teve apoio da família. A exclusão familiar ocorreu quando tinha apenas 14 anos, foi expulsa de casa e mudou de cidade para morar com um tio, após dois anos retornou para Santa Maria apenas com a roupa do corpo. Sem lugar para morar e família para acolhê-la, dormiu nas ruas da cidade e foi amparada pelos iguais a ela.

Marquita comenta como era o preconceito na década de 80:

Na trajetória de Davina, seu pai se tornou um dos primeiros desafios preconceituosos que ela enfrentaria. Na busca por tentar encontrar uma explicação para os seus sentimentos, resolveu assumir-se, a princípio, como um homem homossexual para a família, iniciando um processo de negociação entre a sua identidade e a aceitação dos outros. Após Davina e sua mãe saírem de casa na pandemia da covid-19, a jovem começou a refletir e descobriu que haveria uma (des)construção em sua vida. No final de 2020, Davina nasceu e a relação com o pai ficou em pedaços.

Cauã, por sua vez, teve o apoio da mãe desde o começo da transição, tanto emocional quanto financeiro. Por mais que fosse difícil, ela estava sempre presente para apoiá-lo. Porém, por parte do pai houve, no início, uma certa rejeição e dificuldade durante o primeiro ano de transição. Seus avós paternos optaram por cortar relações e nunca mais falaram com o neto. Alguns familiares mais próximos de Cauã se mantiveram em sua vida, pessoas que ele chama de parceria.

“Infelizmente grande parte das mulheres trans encontram o preconceito dentro da família. Muitas são expulsas de casa, pela própria mãe ou pelo pai, geralmente pelo pai. Tem mães que também não aceitam, porque esperavam um homem que casasse e tivesse filhos. Mas também tem muitas mães que abraçaram a causa junto aos filhos, eu acho isso lindo” – Cilene

Cilene costuma dizer que foi abençoada por ter sido acolhida pela família, apesar de ter sido uma construção. Foi criada em um meio onde predominava o amor e o respeito. O pai era militar, no começo foi difícil a aceitação e compreensão, mas com a convivência ele a aceitou, embora não a chamasse de Cilene. “Ele nunca me chamou pelo nome social, e eu não esperaria isso de um homem de 80 anos”. Cilene sempre colocou a família em primeiro lugar e amou-os de forma incondicional. Infelizmente, seus pais já faleceram, mas ela recorda carinhosamente dos dois e segue a vida pregando os ensinamentos de amor e respeito que ambos a ensinaram.

Passabilidade: a influência da aparência na vida de pessoas trans

Cilene fala sobre sua história com muita leveza e humor, assim como compartilha a sua vida de uma forma muito sincera, aberta e acolhedora. Apesar de ser designada ao gênero masculino ao nascer, sempre lutou pela existência da mulher que vivia dentro de si, sem perder o humor, a graça e a alegria.

De acordo com a revista Veja, aproximadamente 70% das mulheres trans se submetem a cirurgia de redesignação sexual e apenas 35% dos homens trans procuram pela cirurgia genital. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), as filas de acesso para a redesignação sexual superam os dez anos de espera, atualmente.

Mas apesar do índice ultrapassar a metade da população trans feminina, algumas mulheres optam por não realizá-la e se consideram satisfeitas com seu corpo. Este é o caso da Cilene, embora a aparência feminina, o cabelo longo, os seios fartos, a maquiagem, façam parte da sua personalidade. Cilene nunca cogitou realizar a cirurgia de redesignação sexual.

“Estou satisfeita com meu corpo, não pretendo me mutilar, nunca tive a idéia de cirurgia. Respeito aquelas que não aceitam o órgão, mas eu me aceito perfeitamente”.

Apesar da cirurgia ser considerada uma afirmação de gênero pela revista Veja, a mudança na forma de se vestir, de se comportar ou até mesmo de se montar, passou a ser a principal necessidade de mulheres que se descobriram trans, logo, quanto mais feminina, mais mulher aos olhos da sociedade.

Cilene participou, em 2019, da Parada do Orgulho LGBT Alternativa organizada pelo Coletivo Voe apresentando uma de suas performances - Foto: Vitória Gonçalves.
Cilene participou, em 2019, da Parada do Orgulho LGBT Alternativa organizada pelo Coletivo Voe apresentando uma de suas performances - Foto: Vitória Gonçalves.

No “processo da Marquita”, como ela mesma chama, começou a se montar, passar maquiagem e usar roupas femininas. Em suas próprias palavras, essa construção vem muito da heteronormatividade. “Tem que ter peito, tem que ter cabelo comprido, tem que ter uma passabilidade para poder estar inserida na sociedade e no mercado de trabalho. Independente da aparência estética que se tem, a identidade de gênero é uma coisa e a aparência é outra coisa. Em uma sociedade que julga as pessoas pelo órgão genital, isso tem de ser repensado.”

Atualmente, Marquita é uma ativista da causa LGBTQIA+ e coordenadora do ONG Igualdade - Foto: Vitória Gonçalves.
Atualmente, Marquita é uma ativista da causa LGBTQIA+ e coordenadora do ONG Igualdade - Foto: Vitória Gonçalves.

“É um processo de auto-aceitação, olhar o seu corpo e se aceitar, isso tem uma pressão muito grande. Afeta a autoestima e saúde mental da nossa população. A saúde mental é muito debilitada, por todo esse processo da pressão, da transfobia e lgbtfobia.” – Marquita

Assim como Marquita e Cilene, apesar de terem vivido as experiências em épocas diferentes, Davina também sentiu uma pressão estética ao se assumir como mulher trans. “[…] no começo eu sentia muita pressão estética, de me parecer com uma mulher cis. Sentia essa necessidade de vestir coisas femininas e me esforçar ao máximo para ter essa aparência delicada […]”.

Davina considerava seu corpo fora do padrão e vivenciou um período difícil e delicado, onde foi necessário uma constante luta por reconhecimento e aceitação. A jovem sentia muita disforia pelo próprio corpo, se sentia desconfortável com sua altura, seus ombros largos e suas mãos grossas. O verão era um incômodo, suas veias das mãos ficavam nítidas, mais um motivo para despertar a sua frustração.

Foi complicado, no começo foi bem difícil. Eu sentia mesmo essa pressão, mas não sei se a pressão vinha das pessoas ou eu me pressionava, acredito que eu mesma. Agora eu sei que não precisa, eu aceito meu corpo, sinto falta de alguma coisa as vezes, me incomoda bastante ter pelo no rosto, odeio ter pelo no rosto, é o que mais me incomoda na verdade.”

Davina em um dos seus trabalhos como modelo no desfile do curso de moda da UFN - Foto: Arquivo Pessoal.
Davina em um dos seus trabalhos como modelo no desfile do curso de moda da UFN - Foto: Arquivo Pessoal.

Quando Davina iniciou a transição, ela tinha como prioridade fazer terapia hormonal, mas agora não vê mais necessidade de tomar hormônio, pois gosta bastante do seu corpo. Porém, pretende avaliar na terapia com uma psicóloga e decidir se realmente quer ou não começar o processo de hormonização.

A pressão estética não atinge só as mulheres trans, mas os homens trans também se deparam com essa realidade, e foi uma das questões para Cauã. Em 2019, quando retificou o nome, sua aparência era diferente, tinha os cabelos compridos, ele gostava, mas muitas pessoas não gostavam. Frustrado com os questionamentos sobre seu cabelo, cortou. “Certamente, teve uma pressão pra deixar essa aparência. Os endócrinos diziam para eu fazer academia pra ficar mais musculoso. Mas eu sempre caminhei ou fiz algum tipo de esporte, então aquilo não era questão de saúde, eles estavam falando sobre aparência física. Isso é cobrado, para todas as pessoas trans é cobrado, para mulheres trans com certeza é pior”.

Em 2018, ele começou a fazer o tratamento da hormonização em Porto Alegre, sua cidade natal, no sistema privado, já que em Santa Maria ainda não existiam os ambulatórios pelo SUS que hoje auxiliam a população trans no processo de transição.

“Agora que tenho cabelo curto, barba e voz, eu tenho acesso a um respeito que nunca tive na vida. Nem antes e nem durante a transição. As pessoas parecem que me ouvem mais, é surreal”

Cauã compartilha as vantagens de se parecer com uma pessoa cis:

Entre o amor e a dor

Amar sempre foi algo complexo. Às vezes o amor não correspondido pode definir como uma pessoa vai ser daquele momento em diante. Assim como o amor muda um ser humano, a rejeição muda mais ainda. Cilene relata a sua realidade como mulher trans no mundo de relações afetivas e a dificuldade em encontrar o reconhecimento e aceitação que tanto anseia.

“Às vezes a pessoa tá com vergonha de estar do teu lado por ser quem tu é. O coração é um ponto muito fraco nosso. A gente está sempre procurando um amor, mesmo sabendo que aquele amor não vai ser correspondido e isso te frustra muito.Eu vivi quatro anos com um homem e sofri muito quando ele me deixou. Ele me trocou por uma mulher cis. Ele não estava errado, eu que estava errada de me entregar inteira”

Iniciativas de apoio à comunidade trans em Santa Maria

A importância da assistência à saúde física e mental

Utilizo o Sistema Único de Saúde (SUS), é um direito e acredito que devemos fortalecer o SUS”

Durante a transição, Marquita não teve apoio psicológico. Hoje em dia ela faz tratamento porque foi diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. Em Santa Maria, recentemente, dois ambulatórios para o público trans foram instaurados na cidade para dar auxílio a essa população: o Ambulatório Transcender e o Ambulatório Trans do Hospital Casa de Saúde.

“É muito importante esses espaços de saúde que a gente tem hoje, os ambulatórios trans, porque a saúde é fundamental e para nossa população mais ainda. Porque a nossa população não acessa a saúde facilmente, é importante ter acesso a esses locais”

O Ambulatório Trans do Hospital Casa de Saúde, inaugurado em 2022, oferece atendimento médico a pessoas que buscam iniciar ou prosseguir com a transição de gênero. O local especializado conta com atendimento clínico, psicológico, psiquiátrico e endócrino via SUS. O foco do ambulatório é dar atendimento clínico e psicossocial a pessoas que queiram fazer a transição com tratamento hormonal. Além de Santa Maria, o espaço atende também as 33 cidades da Região Central.

O Laboratório Transcender atendeu cerca de 65 pessoas trans em um ano de atendimento - Divulgação Prefeitura de Santa Maria Crédito: Marcelo Oliveira/PMSM.
O Laboratório Transcender atendeu cerca de 65 pessoas trans em um ano de atendimento - Divulgação Prefeitura de Santa Maria Crédito: Marcelo Oliveira/PMSM.

Destinado apenas aos residentes de Santa Maria, o Ambulatório Transcender nasceu em 2020 como um laboratório destinado à população T, mas ampliou os atendimentos a toda a população LGBTQIA+. O laboratório funciona junto à Policlínica de Saúde Mental, localizado na Rua dos Andradas, número 1.397. Os serviços oferecidos são: apoio psicológico, médico clínico e odontológico. Já os pacientes que desejam fazer a hormonização são encaminhados à Casa de Saúde. Em um ano de atendimento do ambulatório, 65 homens e mulheres trans e travestis foram acolhidos. É necessário reforçar que o atendimento é gratuito, via SUS e não é necessário agendar consulta ou ter encaminhamento de um posto de saúde, tudo para facilitar o acesso da população ao atendimento.

O ambulatório realiza uma busca ativa principalmente a pessoas Trans, Travestis e Transgêneros, para oferecer assistência. “A população T já tem historicamente uma dificuldade de acesso às Unidades Básicas de Saúde e, hoje, estamos fazendo um movimento de captação dessa população. No início, nós achamos que seria mais fácil eles aparecerem, mas não foi isso que aconteceu. A solução que encontramos é fazer visita domiciliar, vamos até as Unidades Básicas e conversamos com as agentes de saúde, elas já tem mais ou menos um mapa daquele território e das pessoas que têm interesse. A partir disso, a enfermeira vai até a casa, explica como funciona e oferece os serviços que disponibilizamos”, relata o psicólogo e coordenador do ambulatório Transcender, César Bridi, sobre a necessidade da busca ativa.

Bridi reforça que o atendimento é gratuito, público e acessível para todos e todas - Foto: Vitória Gonçalves.
Bridi reforça que o atendimento é gratuito, público e acessível para todos e todas - Foto: Vitória Gonçalves.

O Transcender também abre espaço para as pessoas que querem falar sobre questões de identidade. Ele tem grupos de afirmação de gênero para adultos – maiores de 18 anos – e grupos para adolescentes, dando oportunidade de se descobrir e se entender. Além do atendimento em grupo, dispõe de atendimento individual e para família, como conta Bridi: “Quando uma pessoa transiciona ou descobre sua orientação sexual, todos que estão no entorno precisam lidar com isso. A gente acolhe, explica, orienta os familiares e, caso necessário, encaminhamos para a psiquiatria da policlínica. Nós pensamos que, quando a pessoa vem pra cá, ela precisa se sentir protegida e acolhida.”

Outro espaço que acolhe vítimas de violência de gênero e tem como foco o público LGBTQIA+ e feminino é a Casa Verônica. O projeto é ligado ao Observatório de Direitos Humanos (ODH) e Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O local recebeu o nome Casa Verônica para homenagear e manter viva a luta e ativismo de Verônica Oliveira, conhecida como Mãe Loira. Ativista trans e referência na militância LGBTQIA+ na cidade, Verônica foi violentamente assassinada no ano de 2019 a facadas.

A Casa Verônica pretende promover rodas de conversa, eventos e oficinas, focalizadas na saúde mental e física do público alvo, assim como promover a inclusão de nome social, para fomentar políticas públicas voltadas para essas questões. Cauã, atualmente, faz parte da equipe e expõe a importância de existir um espaço como esse, devido a alta demanda: “É um projeto que poucas universidades têm até agora. Mas não é porque esses projetos são raros e escassos que há pouca demanda, a demanda é grande. As pessoas têm sede e fome de reconhecimento, de diálogo e de troca”.

Logo da Casa Verônica. Ilustração: Noam Wurzel/ Casa Verônica.

Logo da Casa Verônica

Ilustração: Noam Wurzel / Casa Verônica.

Os atendimentos ainda não começaram, pois a Casa Verônica está trabalhando na contratação dos profissionais, processo que envolve trâmites administrativos. Mas a Casa oferece orientações sobre os serviços disponíveis na universidade e na cidade e, conforme o caso, realiza encaminhamentos para a rede.

Durante a primeira metade do século XX, a Argentina era uma das maiores potências econômicas do mundo. Foi ao fim da Segunda Guerra Mundial que a economia do país sofreu uma derrocada fatal. Até hoje, o povo sofre as consequências da má gestão governamental. Devido à inflação, os preços atuais dos produtos argentinos se apresentam muito caros para a população e muito atrativos para os estrangeiros.

No ano seguinte à guerra, mais especificamente em quatro de junho de 1946, o militar Juan Domingo Perón foi eleito democraticamente como presidente da Argentina, acompanhado de sua esposa Evita Perón. Com a ascensão do Peronismo, os cargos públicos começaram a aumentar descontroladamente. Além disto, a primeira-dama exerceu sua influência como cônjuge do presidente e, por meio do dinheiro público que provinha das indústrias diversificadas que havia no território argentino, começou a oferecer apoio financeiro aos países europeus que precisavam pagar dívidas. Perón permaneceu no poder até o ano de 1955 e voltou ao governo entre 1973 e 1974, quando foi substituído por sua segunda mulher, Isabelita Perón, que foi deposta pela milícia no início da ditadura civil-militar em 1976.

O impacto dessas ações, que se mostraram extremamente prejudiciais ao povo, pode ser visto até hoje no território argentino. Mesmo com sua grande produção pecuária, que sempre proporcionou carnes de ótima qualidade, sua produtividade agrícola, que lhe torna uma das maiores produtoras e exportadoras de cereais do mundo, e com uma larga presença de petróleo e gás no país, a Argentina hoje apresenta uma dívida externa fora de controle. A dívida do Banco Central do país subiu cerca de US$ 36 bilhões (R$ 187 bilhões) na gestão de Alberto Fernández. Este valor representa cerca de 80% do crédito do Fundo Monetário Internacional direcionado à Argentina.

A Argentina, hoje, quase não possui mais resquícios dos seus tempos de ouro. Em dezembro de 2021, se tornou viral o vídeo de cidadãos argentinos da província de Santiago del Estero que, após um acidente envolvendo um trem e um caminhão que transportava vacas, mataram os animais e saquearam a carne. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos, mais de 36% da população argentina vivia abaixo da linha da pobreza no primeiro semestre de 2022.

Historicamente, os salários argentinos apresentam maior poder aquisitivo quando comparados com o salário brasileiro. Entretanto, após pesquisas de analistas do Banco Central da Argentina, o país pode fechar o ano com inflação anual superior a 100%. Tentando conter essa inflação, o ministro da economia, Sergio Massa, anunciou nas últimas semanas que o governo está preparando um plano econômico de congelamento de preços. Já é o 9º congelamento realizado pelo governo argentino nos últimos nove anos.

Os mercados sofrem com a escassez de produtos básicos. Imagem: Nelson Bofill

Em Paso de Los Libres, região que faz fronteira com Uruguaiana, o comércio se mantém de pé, mas a infraestrutura maltratada da cidade e a grande diferença de preços das mercadorias em relação ao Brasil lembram aos visitantes que a crise continua. Ao atravessar a ponte e ingressar na Argentina, é possível fazer o câmbio do real para pesos. Atualmente, em alguns lugares, o peso argentino custa R$0,02.

O principal motivo que justifica essa sobrevivência dos negócios em Libres é a possibilidade de poder manter um comércio exterior. É natural as cidades fronteiriças apresentarem melhor desempenho devido ao grande fluxo de imigrantes que as visitam. A maioria dos produtos argentinos atualmente apresentam custos muito atrativos para os brasileiros que visitam o país. Tendo como exemplo o arroz, produzido em grande quantidade em território argentino e brasileiro, nos supermercados locais o preço médio de 10kg é em torno de R$35, enquanto no país vizinho, é possível comprar a mesma quantidade por R$24.

A compra de certos produtos no território argentino são limitadas. Imagem: Nelson Bofill

Mas mesmo as cidades fronteiriças se preocupam com a escassez de alimentos que vem assolando o país. Com o intuito de amenizar os efeitos da crise, alguns supermercados estão restringindo o limite de compra de certos produtos como farinha, açúcar e azeites. Em relação à carne produzida na Argentina, que sempre teve uma qualidade acima da média, o preço médio do quilo de costela é cerca de $ 1.230 (R$ 24,60), enquanto, no Brasil, a mesma quantidade pode ser comprada pagando cerca de R$ 29,20.

Apesar dos aparelhos tecnológicos possuírem um valor parecido em ambos os países, na Argentina a compra parcelada se mostra extremamente prejudicial ao consumidor devido à alta inflação. Um modelo de televisão, que custa $ 125.999 (R$ 2.519,98) à vista, pode ser parcelado em 30 vezes de $ 8.396,57 (R$ 167,93), custando, ao final do pagamento, $ 251.897,10(R$ 5.037,94).

A crise, atualmente, já não é mais novidade para o povo argentino, a situação foi até mesmo eternizada na música local. No ano de 1978, o cantor de tango argentino, Cacho Castaña, escreveu a música Septiembre del ’88, que só viria a ser lançada em 1988. A canção é apresentada como se fosse a leitura de uma carta direcionada à um amigo que reside na Itália. O artista comenta nos primeiros versos sobre a crise que assola a Argentina, citando as mentiras políticas, falsas promessas governamentais e impactos da época da ditadura civil-militar. Ao final da música, o cantor expressa a esperança que ainda existe no povo argentino de voltar a ser um grande país.

Em 2010, durante um concerto, o artista disse que a música parecia ter sido escrita naquele ano, pois mesmo mantendo a esperança, a crise ainda assolava o povo. O músico faleceu em 2019 sem ser capaz de concretizar seu sonho. Entretanto, seu desejo de ver seu país ser grande novamente representa a esperança eterna do povo argentino.

Desde a detecção do primeiro caso de infecção pelo coronavírus no fim de 2019, foram registrados 518 milhões de pessoas que tiveram Covid-19 e mais de 6,25 milhões de mortes no mundo. No Brasil, são 30,5 milhões de infectados e quase 664 mil óbitos até o dia 10 de maio. Mas em outra perspectiva, 60,2% da população global está vacinada e no Brasil esse percentual é de 77,9%, sendo sua maior concentração de vacinados nos estados de São Paulo e Piauí.

Homenagem às vítimas da Covid-19 em frente a Esplanada dos Ministérios em 18 de outubro de 2021.  Imagem : EVARISTO SA / AFP

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou como pandemia o adoecimento pelo vírus Sars-Cov-2. Na prática, o termo pandemia se refere ao momento em que uma doença já está espalhada por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas. Na época, segundo a OMS, o mundo registrava 118 mil casos e 4.291 mortes.

Mas, de fato, o mundo registrou seu primeiro caso de Covid no dia 17 de novembro de 2019, quando um homem de 55 anos foi detectado com a doença na província de Hubei, próximo de Wuhan, foco do primeiro surto. Desde então a pandemia se agravou muito no mundo, chegando ao Brasil no dia 26 de fevereiro de 2020 no estado de São Paulo, onde um homem de 61 anos com histórico de viagem para a Itália foi identificado com esta enfermidade. No dia 10 de março chegou ao Rio Grande do Sul onde um homem, de 60 anos, residente em Campo Bom, que teve histórico de viagem para Milão foi localizado com sintomas. Já em Santa Maria o primeiro caso surgiu em 22 de março, com um homem de 32 anos que viajou para Joinville(SC)  e quando voltou fez um teste sendo comprovada a infecção.

Foi a partir daí que vimos o caos se formando, milhares de infecções, causando superlotação em hospitais. Com as superlotações, os profissionais da saúde tiveram que manter seu foco no combate à pandemia. Diagnósticos de doenças como o câncer diminuíram por conta do receio de ir em consultas médicas, além de pessoas que apresentaram sinais de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto  mas que adiaram a busca por ajuda ou simplesmente não procuraram socorro.

Um dos momentos mais preocupantes da pandemia foi o estoque de oxigênio em Manaus se esgotando e o sistema de saúde colapsado, com dezenas de mortes por asfixia de pacientes com Covid-19. Funerárias passaram a aderir a sepultamentos à noite por conta do número de enterros muito acima do habitual. A prefeitura de Manaus chegou a adotar um sistema de enterros em camadas, ou seja, enterrar caixões um por cima do outro, em valas mais profundas. À época, a justificativa era a necessidade de atender à demanda, que cresceu durante a pandemia.

O isolamento

O mundo parou com o isolamento instaurado, as formas de trabalhos e relacionamentos tiveram que se adequar aos novos tempos, o home office foi estabelecido em muitos casos. Com a recomendação da quarentena as pessoas começaram a consumir muitas notícias, por conta da necessidade de  se manterem informadas. A infodemia, como foi chamada, trouxe uma exposição excessiva de informações tanto verdadeiras quanto falsas. A sobrecarga de informações fez com que a qualidade de vida das pessoas fosse abalada, pois há mais processamento de dados do que daríamos conta de modo saudável. Com esse aumento de informações as fake news, ou notícias falsas, vieram com tudo, como afirmações de que as máscaras não tinham eficácia e de que as vacinas não funcionavam.

A chegada das vacinas

Após uma triagem com voluntários, a vacina de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca começou a ser testada em profissionais da saúde de São Paulo no dia 20 de junho de 2020. Na ocasião, a vacina era uma das 141 registradas na Organização Mundial da Saúde (OMS) e uma das 13 que tinham conseguido alcançar a terceira fase de testes. Mais tarde, em dezembro, ela seria a primeira a ter os resultados da fase 3 publicados em uma revista científica. Além disso, a vacina de Oxford também foi uma das primeiras a ter um contrato de compra fechado pelo governo brasileiro.

As vacinas eram um sonho que todos aguardavam que se concretizasse, porém somente no dia 8 de dezembro de 2020 Margaret Keenan, de 90 anos, , foi vacinada contra esta doença na cidade de Londres no Reino Unido, e tornou-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19 fora de um ensaio clínico.

Margaret Keenan, prestes a completar 91 anos, é a primeira vacinada contra Covid-19 no início da imunização no Reino Unido. Imagem: Reuters

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 17 de janeiro de 2021, para uso emergencial, as duas primeiras vacinas contra o coronavírus no Brasil. Foram compradas 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, produzida em parceria pela Universidade de Oxford com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e 6 milhões da Corona Vac, produzida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Minutos depois da aprovação, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, tornou-se a primeira brasileira a ser vacinada, em São Paulo. O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apresentaram no 22 de Fevereiro as primeiras vacinas contra a covid-19 totalmente produzidas em solo nacional. De forma simbólica, os imunizantes da AstraZeneca foram fabricados na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

A enfermeira Mônica Calazans, 54, recebe a vacina contra o coronavírus. Imagem: Reuters/Amanda Perobelli

A primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul foi uma técnica de enfermagem que atua no Centro de Atendimento Intensivo (CTI) no Hospital de Clínicas (HCPA), em Porto Alegre. A vacinação ocorreu às 23h do dia 18 de janeiro. A primeira pessoa a ser vacinada em Santa Maria foi a enfermeira Mônica Oliveira Galimberti, de 56 anos, que atua na saúde há mais de 30 anos. Desde então são cerca de 60,2% da população global já vacinada, no Brasil esse percentual é de 77,9%, já o Rio Grande do Sul tem cerca de 87,3% dos habitantes vacinados e 88% da comunidade santa-mariense vacinada.

Variantes

Após mutações, uma nova variante do coronavírus se tornou comum no Reino Unido. Governos mundo todo fecharam as fronteiras para o país tentando evitar a propagação do vírus mutado. Essa nova versão recebeu o nome de linhagem B.1.1.7. e já teria sofrido pelo menos 23 mutações. A principal delas mudou a forma do espinho do novo coronavírus, que é a proteína que o vírus usa para abrir a célula. A agência inglesa de saúde tinha identificado a variante em setembro e notificou a OMS. O diretor de emergências da organização, Michael Ryan, afirmou no dia 21 de dezembro 2021 que a nova variante do coronavírus não estava “fora de controle”, mas que os bloqueios adotados por diferentes países eram “prudentes”.

Desobrigação do uso de máscara

A queda de casos de covid possibilitou órgãos de saúde do país optarem pela desobrigação do uso da proteção. O Projeto de Lei 5412/20, aprovado no dia 1 de abril, findou a obrigatoriedade do uso de máscaras,  ficando dispensado o uso e fornecimento de máscaras cirúrgicas ou de tecido em estados ou municípios que deixaram de exigir a utilização da proteção em ambientes fechados. No dia 6 de abril Santa Maria aderiu a lei tornando facultativo o uso da máscara em ambientes fechados.

Segundo dados da última segunda-feira, dia 9 de maio, o quadro da cidade de Santa Maria é bastante favorável e esperançoso. Há apenas dois adultos confirmados com Covid e um suspeito em leitos de UTI , um paciente em UTI pediátrica, e mais 20 adultos  hospitalizados em leitos normais. Totalizando 24 pessoas hospitalizadas na cidade.

A 49ª Feira do Livro de Santa Maria, aberta desde o  dia 29 de abril, está com extensa programação cultural e artística reunindo personalidades da área e população santa-mariense. Lançamento de livros, peças de teatrais, debates de temáticas contemporâneas estão ocorrendo diariamente e movimentando o universo intelectual da cidade. O evento, que é uma tradição na cidade, teve seu início no ano de 1973, tendo como idealizadores a primeira turma de Jornalismo de Universidade Federal de Santa Maria.

Feira do Livro de Santa Maria. Imagem: Luiza Silveira

O jornalista Luiz Recenna, que participou na fundação da Feira, conta que “foi fácil entrar na campanha da Feira. Além disso tínhamos contatos com Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, o que ajudou muito. Estávamos sem livrarias em Santa Maria. Um espaço a preencher e ganhar pessoas.  Veio muito romance da época, no meio livros de história e política. Deu certo a receita, vendemos quase tudo”. Quando nos fala sobre as adversidades  da época ele não deixa de citar a ditadura militar. Em meio a um momento turbulento da história do país, jovens inovadores conseguiram montar um dos maiores eventos da cidade: “vendemos livros para o povo ler e pensar, essas são alegrias inesquecíveis”. O aprendizado que ele teve com esse evento foi de muita importância para sua vida pessoal e profissional: “com as leituras só crescemos e com as pessoas que foram a praça só melhoramos nossos rumos, no jornalismo e na vida.”.

A jornalista Pricila Barreto, que também colaborou na época, nos conta como foi participar deste movimento: “Éramos jovens com sede de cultura e disposição para criar um novo ambiente que motivasse a cidade a valorizar cada vez mais a leitura. Inspirados na maravilhosa Feira do Livro de Porto Alegre – acontecimento que anualmente nos levava à capital – nos perguntávamos: por que não também em Santa Maria?A partir daí, um grande grupo de alunos das primeiras turmas do curso de Comunicação Social da UFSM, e onde me incluo com alegria, arregaçamos as mangas e fomos à luta! As ‘forças vivas da cidade’ (como falávamos naquela época) nos apoiaram e conseguimos! Os livros disseram ‘presente’ pela primeira vez nesse belo encontro na Praça Saldanha Marinho! A maior alegria é a Feira existir até hoje e ser um dos principais eventos culturais da minha cidade!”.

Atualmente, os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Franciscana atuam com alunos e professores. Para Thaís de Almeida, estudante de Publicidade e Propaganda: “É uma experiência única, aprendizado todos os dias. Minha vida acadêmica muda por conta da visão que tenho sobre como é projetar algo, como é estar na produção, realmente estando por trás das câmeras”.

Thaís de Almeida é estudante de Publicidade da UFN. Imagem: Luiza Silveira

O acadêmico de Jornalismo Ian Lopes relata que “é muito interessante colocar em prática a profissão logo no início do curso dessa forma. No início fiquei nervoso para ir lá, fiquei dois dias pensando direto no que ia falar, o que ia perguntar, o que ia fazer. Mas quando cheguei lá, depois da primeira entrevista, é muito bom o exercício da profissão, é muito reconfortante voltar para casa e pensar que entrevistou uma pessoa ou que fez “tal” coisa”.
Para ele, fazer parte do processo de cobertura jornalística tráz um impacto de saber que está trabalhando com o que realmente gosta. Ian conta que quando entrou no curso não tinha certeza se gostava, mas acabou se apaixonando pela profissão. Referente ao aprendizado adquirido durante o trabalho o estudante destaca:”O professor Bebeto é excelente, me ensina não só a parte do rádio, como também a escrita, porque ele corrige e produz textos, escrevemos na hora, tiramos fotos do evento, matérias variadas, orientações sobre como produzir a pauta, como promover o evento da maneira que a assessoria de comunicação quer. É muito bom participar”.

Ian Lopes cursa Jornalismo na UFN. Imagem: Luiza Silveira

Colaboração : Luiza Silveira

Turma do Pé Quente apresentou a Opereta Pé de Pilão no Theatro Treze de Maio.

A 49° Feira do Livro de Santa Maria iniciou suas atividades na última sexta-feira, 29, na praça Saldanha Marinho. A edição deste ano conta com diversos estandes de livros e revistas, apresentações musicais, teatrais, entre outras atividades.

Na noite de ontem, 03, um musical regado a histórias lúdicas despertou a magia e a imaginação de quem compareceu ao Theatro Treze de Maio para acompanhar o grupo Turma do Pé Quente. Eles contaram e cantaram a peça Opereta Pé de Pilão.

O grupo conta com quatro atores-músicos em seu elenco, Ian Ramil, Carina Levitan, Guilherme Ceron e Cláudio Levitan, que interpretaram suas canções ao vivo. A obra apresentada possui o texto todo em rimas, de autoria de Mário Quintana. No palco, além de suas apresentações, também havia a presença de bonecos e um telão com imagens ao fundo que contribuíam para o entendimento da história.

Cláudio Levitan é autor da Opereta Pé de Pilão.

Cláudio Levitan conta sobre o início. “Começamos a trabalhar montando a música, a qual foi criada em cima da obra clássica da literatura infantil brasileira que é o poema de Mário Quintana, muito bem elaborado por ele, guardada durante 30 anos em uma gaveta, sendo publicado apenas em 1975”, destaca. Já Ian Ramil afirma que se apresentar na Feira do Livro de Santa Maria “é muito especial e se sente lisonjeado”.

O enredo da história apresentada gira em torno de Matias, um menino que virou pato pelo feitiço de uma fada mascarada e sua avó perde o encanto de nunca envelhecer. Os dois não se reconhecem mais, e no meio da busca por ela, o menino encontra o cavalo-polícia, o macaco retratista, Nossa Senhora, o passarinho, incansável com sua máquina fotográfica, e outros personagens.

O escritor Mário Quintana, quando construiu o conto, combinou elementos da cultura popular, como a religiosidade em torno de bruxas, a tradição religiosa cristã através da figura de Nossa Senhora, e trabalhou muito com a imaginação.

O servidor público federal Gustavo Lima, que assistiu com sua filha Pietra Lima, avalia a peça positivamente. “É diferente do que estamos acostumado a ver, pois ela traduziu um poema em uma canção bem musical, que ficou bem lúdica, e que mexeu bastante com a imaginação, tanto minha quanto da minha filha, que gosta muito de teatro e, aliás, faz teatro na escola onde estuda”, relata.

A Feira do Livro encerra suas atividades no dia 14 de maio. Seu horário de funcionamento é das 13h às 19h de domingo a sexta e no sábado das 10h às 19h.

Confira mais fotos da apresentação:

Texto produzido por Joedison da Silva Dornelles. Fotos de Pablo Garcia Milani. Produzido na disciplina de Linguagem das Mídias, durante o primeiro semestre de 2022, sob coordenação da professora Glaíse Bohrer Palma.

O escritor, jornalista, editor e tradutor Eduardo Bueno, mais conhecido como Peninha, esteve na Feira do Livro de Santa Maria na segunda-feira, autografando suas obras e conversando com o público.

Eduardo Bueno participou da Feira do Livro na segunda-feira. Imagem: Felipe Perosa

Com seu modo irreverente, Peninha falou especialmente sobre a História do Brasil e seu  último livro “Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes”. O livro, que tem o formato de dicionário, traz ilustrações que ajudam a explicar o bicentenário da independência.“Utilizei a ilustração pois eu acredito em uma história pop. É fundamental conhecermos nosso passado, pois, como já diz o ditado, um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-lo”. Bueno respondeu questionamentos de quem estava presente, comentou sobre a direita no Brasil dizer que ele é de esquerda, além de acusá-lo de comunista, e as pessoas da esquerda dizerem que ele é de direita, com o bom humor que lhe é peculiar. Ao final, aplaudido de pé, gritou um Fora Bolsonaro que foi ecoado pelo público.

O autor tem mais de 30 livros publicados e com a coleção Brasilis, que reúne A viagem do descobrimento, Náufragos, traficantes e degredados, Capitães do Brasil e A coroa, a cruz e a espada, tornou-se o primeiro autor brasileiro a emplacar simultaneamente quatro títulos entre os cinco primeiros nas listas dos mais vendidos dos principais jornais e revistas do país. Já editou mais de 200 títulos, tendo colaborado com algumas das principais editoras brasileiras.

Para quem quiser acompanhar Eduardo Bueno pelas redes, ele mantém um Podcast e um canal no Youtube, ambos denominados Buenas Ideias.

A Feira do Livro de Santa Maria segue até dia 14 de maio, na Praça Saldanha Marinho. Para assistir ao Livro Livre, que ocorre todos os dias às 19h no Theatro Treze de Maio, é só pegar o ingresso gratuito na recepção do Theatro.

Nesta sexta-feira, dia 29 de abril, foi o primeiro dia da 49º Feira do Livro que volta com força total depois de 2 anos de pandemia. A Patronesse da edição é a escritora, professora, pesquisadora e ativista Nikelen Witter, e os homenageados são a professora e escritora Maria Esther Gomes de Souza e o médico e compositor nativista Mario Eleú da Silva que é homenageado póstumo.

Maria Esther possui deficiência auditiva e é educadora especial e lançou 2 livros nessa sexta-feira na Feira do Livro, Uma história de mãos brilhantes e Minivoleibol para Surdos que escreveu junto com Jeferson de Oliveira Miranda. O primeiro livro conta a história de Daniel, um rapaz surdo, e demonstra a importância da inclusão de jovens surdos e deficientes auditivos na educação desde jovens. Sobre isso a professora comentou que a sociedade precisa dar mais passos em direção a sensibilidade e abrir mais espaços para que histórias de mãos brilhantes como as de Daniel sejam contadas.

Também ocorre neste fim de semana o projeto Troca Livros, organizado pela Biblioteca Pública Henrique Bastide. O objetivo do projeto é promover a troca de livros em bom estado, com foco em livros literários. Outra atração foi o espetáculo 2 Lunáticos, que teve duas apresentações, de manhã e de tarde, no Teatro Treze de Maio, e recebeu um grande número de pessoas, em especial crianças que se contagiaram com a alegria dos artistas. A 49º Feira do Livro vai de 29 de abril até 14 de maio.

O prazo para que todos os brasileiros que tenham 16 anos ou mais façam o seu titulo do eleitor ou regularizem o documento termina dia 04 de maio. O titulo pode ser tirado de forma remota através do site do TSE pelo sistema do Titulo Net ou presencialmente nos cartórios eleitorais. No Rio Grande do Sul cerca de 2,2% da população ainda não regularizou o mesmo. A transferência do local de voto e a solicitação do uso do nome social de pessoas transexuais e travestis também podem ser solicitadas através do site do Tribunal Superior Eleitoral.

O aumento do número de jovens a partir dos 16 anos que já fez a solicitação do registro é bastante significativo. As campanhas realizadas por pessoas famosas fez com que hovesse maior engajamento da juventude na causa pois pessoas dessa faixa etária não são obrigadas a votar. O TRE do Rio Grande do Sul registrou o aumento de 86,7% em um mês no número de adolescentes de 16 anos que fizeram o título de eleitor no Estado. Entre os de 17 anos, o acréscimo foi de 35,7% no período.

 Conforme justificou Giselle Garcia, estudante 2°ano do ensino médio, que tem  16 anos, “tirar o título  é importante para assumir o compromisso e não deixar na mão dos outros o que queremos para o futuro do país e o nosso.  Penso que seria hipócrita falar de política e não fazer nada para mudar. Acredito que  votando temos o poder de tentar fazer um futuro melhor”. Quando questionada sobre o aumento de jovens que fizeram o titulo de eleitor ela acredita que alguns fatores podem ter colaborado: ” Pode ser tanto por insatisfação com o governo atual, quanto por influência da mídia e do mundo em que vivemos, muitos se sentem pressionados a votar, pelos amigos e pela família”. Para ela, essa eleição vai ser muito debatida, uma vez que diversos jovens tiraram seus títulos e estão mobizilizados para este evento. 

Já para Marina Pacheco de 17 anos, que está no primeiro semestre de Letras Inglês da UFSM, o sentimento é de engajamento com os destinos do País. Ela define sua participação como jovem na política de essencial e desabafa uma frustração dizendo: “eu esperava que mais do que nunca a juventude estivesse interessada em tirar o título de eleitor e tentar de alguma forma modificar o que estamos passando, mas é decepcionante ver que as taxas de jovens menores de idade que podem votar são as menores desde 2010”.

O primeiro turno da votação será realizado em 2 de outubro, primeiro domingo do mêsJá o segundo turno, nos estados e nacionalmente, caso preciso, ocorrerão em 30 de outubro, o último domingo.

A tradicional Feira do Livro de Santa Maria chega a sua 49ª edição de 29 de abril a  14 de maio. Depois de dois anos ocorrendo de modo híbrido, a Feira deste ano será totalmente presencial. São cerca de 40 livreiros e mais de cem lançamentos de livros, sendo que boa parte de escritores locais.

A programação conta com apresentações de peças de teatro, shows musicais e cinema, além dos tradicionais estandes de livros. A patronesse desta edição é a professora, escritora, pesquisadora e ativista Nikelen Witter; e a professora homenageada, Maria Esther Gomes de Souza. Já o escritor homenageado (póstumo), é o médico e compositor Mário Eleú da Silva. No dia 7 de maio haverá a Noite da Patronesse: #LeiaMulheres, com a professora Nikelen acompanhada de Monalisa Dias e o Clube de Leituras Bem-ditas.

A abertura ocorre na sexta às 18h, no Theatro Treze de Maio, com uma homenagem à professora Maria Esther Gomes de Souza. Ela tem seis livros publicados e realiza trabalho de leitura inclusiva e se destaca no trabalho com alunos surdos na Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser.

Veja a programação completa na página da Feira do Livro.