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comunidade LGBTQ+

O efeito RuPaul’s Drag Race e a ascensão das Drag Queens

RuPaul’s Drag Race é um reality show estadunidense apresentado pela drag queen RuPaul. Desde 2009 na televisão, a cada edição um grupo de drag queens dos Estados Unidos é selecionado para a disputa. Na competição elas

O sertanejo também é poc

Se você não é um fã de sertanejo, certamente já deve ter ouvido ou conhece algum clássico desse estilo musical. Com o crescimento desse mercado nos últimos anos, surgiram diversas vertentes nesse meio. Do sertanejo universitário

50 anos de Stonewall e as conquistas do movimento LGBTQ+

Nova York, 28 de junho de 1969. Como de costume, durante a madrugada, policiais invadiram o bar Stonewall Inn. Nessa noite, gays, lésbicas, transexuais e drag queens, decidiram não tolerar mais o abuso durante as batidas

O UFN Entrevista desta semana relembra o assassinato de duas transexuais, em um único final de semana de setembro deste ano, em Santa Maria. O programa vai abordar questões relacionadas a igualdade de gênero e direitos sociais. Para falar sobre esses assuntos, a RádioWeb UFN recebe a ativista social Marquita Quevedo, nesta quarta-feira, dia 4 de dezembro, a partir das 15h. Você pode acompanhar o Programa pelo link disponível no site da Instituição ou pelo Facebook da RádioWeb UFN. As reprises são veiculadas pelo link  nas sextas (21h30), sábados (16h30), domingos (18h) e segundas-feiras (21h). O UFN Entrevista tem produção e apresentação do acadêmico de Jornalismo Gianmarco de Vargas.

RuPaul’s Drag Race é um reality show estadunidense apresentado pela drag queen RuPaul. Desde 2009 na televisão, a cada edição um grupo de drag queens dos Estados Unidos é selecionado para a disputa. Na competição elas são submetidas a provas que testam desde suas habilidades com maquiagem e figurino, até o talento com a dança, atuação e canto. A vencedora recebe um prêmio em dinheiro e o título de “America’s Next Drag Superstar”. Desde a sua estreia, há 10 anos, RuPaul já elegeu 16 artistas que receberam a tão sonhada coroa do universo drag.

O programa já exibiu 11 temporadas regulares, além do RuPaul’s Drag Race All Stars, spin-off que dá uma segunda chance as ex-competidoras e teve a sua 5ª temporada gravada recentemente. A proposta de Drag Race se tornou um sucesso nos EUA e fora dele. Efeito disso é a ascensão da cultura drag, chegando em lugares nunca antes ocupados. Historicamente marginalizadas, hoje as drag queens conquistam cada vez mais espaço na mídia e versões do reality show despontam em outros países.

A responsável pelo programa, RuPaul, além de apresentadora, é modelo, cantora, compositora, atriz e escritora. A drag queen pode ser considerada umas das grandes responsáveis em popularizar a arte do tranformismo no mundo contemporâneo. Desde sua primeira aparição como modelo, ela já protagonizou grandes campanhas publicitárias, lançou livros, linhas de maquiagem, perfumes e até barra chocolate. Também foi a primeira drag a ter um programa na televisão, o The RuPaul Show, transmitido pela VH1 entre 1996 e 1998.

Em 2009, depois de uma pausa de mais de 10 anos como apresentadora, RuPaul volta a televisão. Com o reality show RuPaul’s Drag Race, ela leva aos telespectadores a arte drag, proporcionando um novo olhar para a cultura pop LGBTQ+. O programa também promoveu debates sobre questões de gênero, política, família e outros aspectos que perpassam a comunidade queer.

O sucesso do reality foi imediato nos Estados Unidos, alcançando altos índices de audiência. Nos últimos anos o programa ganhou algumas versões fora do país. A primeira foi em 2015, o The Swicht Drag Race, no Chile, que já contabiliza com duas edições. Em 2018 foi a vez da Tailândia com o Drag Race Thailand, que finalizou a segunda temporada esse ano. Em outubro, estreia a primeira temporada do Reino Unido, o RuPaul’s Drag Race UK, que será apresentado por RuPaul. Além desses países, o Canadá e a Austrália já confirmaram as suas versões, sem datas de estreias definidas..

Esses números retratam o quanto RuPaul expandiu a cultura drag queen nos últimos anos. Nas redes sociais, grandes fanbases são formadas. As drag queens, campeãs ou não de suas edições, são tratadas como verdadeiras celebridades. No Instagram, por exemplo, cerca de 25 ex-competidoras já ultrapassaram o número de 1 milhão de seguidores. Em 2018, o programa ganhou o Emmy de melhor programa de reality, uma das maiores premiações da televisão mundial.

No Brasil, a difusão de Drag Race pela internet, provocou um novo olhar para essa arte. Efeito disso são as inúmeras drag queens que despontaram na internet, televisão e na música após o sucesso do programa no país. Pabllo Vittar é um exemplo desse fenômeno. A drag contou em entrevista que se montou pela primeira vez após assistir o reality. O sucesso de Pabllo no país, desencadeou um novo nicho musical, o Drag Music. Gloria Groove, Aretuza Lovi e Lia Clark também são algumas drag queens cantoras que surgiram a partir desse efeito.

RuPaul’s Drag Race impactou e modificou a forma de enxergar essas artistas. Se hoje o Brasil é um dos maiores consumidores da arte drag, RuPaul é uma das grandes responsáveis por esse feito. O sucesso de Pabllo e de outras drag queens na música, por exemplo, é um reflexo da ascensão da cultura drag. A influência do reality pode até ser vista como um processo de globalização nesse meio. A partir do programa, a arte foi ressignificada, servindo como uma referência para a expressão de habilidades e comportamento. Drag queens “nascem” a partir de RuPaul’s Drag Race.

Esse efeito da ascensão drag no Brasil, pode ser visto em Santa Maria também. Ao fazer uma busca nas redes sociais, encontrei cerca de 50 perfis de drag queens que atuam por aqui. Comparado às grandes cidades e levando em conta o contexto de um município interiorano, Santa Maria pode ser considerada um reduto drag. Há alguns anos atrás, esse número era bem reduzido.

A celebração da arte drag queen no mundo, está apenas começando, na medida em que a cada dia o reality ganha novos fãs. RuPaul’s Drag Race já está há 10 anos nos Estados Unidos, e só agora ganhou versões em outros países. O programa serviu como um espaço para consolidar a arte drag por lá, expandindo para outros lugares aos poucos. Hoje a cultura drag alcançou prestígio inimaginável há algum tempo, para um comunidade que sempre foi marginalizada.

RuPaul’s Drag Race, assim como Pabllo Vittar aqui no Brasil, são símbolos da conquista e da visibilidade da cultura LGBTQ+ na mídia. Esse processo de consolidação da arte drag ainda é recente, mas desponta como a legitimação de um movimento. Ser drag queen está além da maquiagem e das roupas, mas é um ato político e de resistência frente a uma sociedade conservadora e heteronormativa.

Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN, pós-graduando em Estudos de Gênero na UFSM e militante do movimento LGBTQ+. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação.

“‘Vamô assumir o nosso amor rural, sai desse armário e vem pro meu curral” .(Foto: Divulgação/Instagram).

Se você não é um fã de sertanejo, certamente já deve ter ouvido ou conhece algum clássico desse estilo musical. Com o crescimento desse mercado nos últimos anos, surgiram diversas vertentes nesse meio. Do sertanejo universitário ao feminejo, os cantores e cantoras desse estilo dominam as paradas musicais do país. Mas você já ouviu falar do Pocnejo? A expressão desse novo estilo foi lançada pelo cantor Gabeu, há pouco mais de um mês, com a música “Amor rural”, escrita por ele e seu namorado, Well Bruno. Fugindo dos padrões heteronormativos do sertanejo, o artista de 21 anos canta sobre o amor não assumido entre dois homens.

Mas o que é o Pocnejo? A referência vem do termo “poc”, usado na comunidade LGBTQ+ para denominar gays. Muito mais que isso, o pocnejo lançado por Gabriel Felizardo, nome de batismo do cantor, surge para romper com o machismo na cultura da música sertaneja. O cantor lança uma nova perspectiva sobre abordagem dos relacionamentos nas canções desse estilo que é composto, em grande parte, por homens heterossexuais. Afinal, LGBTQ+ também sofrem por amor!

 A  música de Gabeu se assemelha muito ao sertanejo raiz cantado pelo seu pai, o Solimões, da dupla Rio Negro & Solimões. Com mais de 750 mil visualizações, o videoclipe de “Amor Rural”  foi lançado há dois meses no YouTube. Com direito a brincos e unhas pintadas, Gabeu rompe com a estética masculina, quebrando padrões heteronormativos da música sertaneja. Além disso, o cantor proporciona um novo olhar sobre o amores homoafetivos: a dificuldades de dois homens viverem um amor no campo. Confere aí!

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A música sertaneja teve início na década de 1910 e trazia em suas letras a vida difícil no campo. Conhecida como música caipira, esse sertanejo raiz que explorava o cotidiano difícil de quem morava no interior, passou por diversas transições, mas sem nunca perder a sua essência. De lá pra cá, já tivemos o sertanejo romântico, com a influência do country; o sertanejo universitário, com elemento mais pop’s; e o feminejo, com a grande e forte presença das mulheres nesse estilo.

Com o passar do tempo, o sertanejo renovou a sua linguagem, mas ainda assim carrega em suas letras frases machista e homofóbicas. O pocnejo surge como uma possibilidade de expandir a discussão sobre as problemáticas que permeiam o sertanejo e, para além disso, discutir temas da comunidade LGBTQ+ e as dificuldades de quem vive no interior.

Gabeu e o pai Solimões. (Foto: Instagram)

Acompanho o trabalho do Gabeu há algum tempo nas redes sociais, antes mesmo de “Amor Rural”. Por e-mail, ele me respondeu algumas perguntas:

Deivid: O sertanejo também é um espaço para as poc?

Gabeu: O sertanejo é um meio predominantemente hétero e masculino, e isso faz com que a gente não gere uma identificação com as figuras do sertanejo e com as narrativas apresentadas, sabe? Só agora que estamos vendo mulheres com uma força bem grande no dentro desse meio. Existe também uma ideia de que o homem deve ser bruto, rústico e sistemático que não dialoga com a vivência de pessoas LGBTQ+. Mas eu acredito que apresentando outros tipos de narrativas, outras histórias dentro da música sertaneja, ela possa sim ser um espaço para nós pocs.

D: Como você percebe a recepção do pocnejo? O mercado do sertanejo está aberto a essa nova proposta, já que esse é um meio heteronormativo?

G: Então, eu mesmo nunca esperei que o mercado sertanejo fosse se abrir para essa proposta, e não aconteceu de fato. Tudo bem que esse ainda é o meu primeiro trabalho, primeira música, vamos ver como as coisas se desenrolam ao longo da minha carreira. Mas eu também não tenho essa pretensão de adentrar esse mercado, a minha proposta é justamente dialogar com um público que não se enxerga no sertanejo tradicional, não acho que o meu público seja o mesmo, por exemplo, do meu pai. Acho que o negócio é fazer sertanejo fora do meio sertanejo, pra conseguir atingir outras pessoas.

D: Qual a sua visão em relação a músicas sertanejas (antigas e atuais) que trazem em suas letras temáticas machistas e homofóbicas?

 G: Eu acho que existem tantas possibilidades pra um compositor, tantos caminhos a percorrer na criação de uma música, que eu realmente não vejo o porquê de se usar o preconceito pra isso, ainda mais hoje que existe a informação sabe? Antigamente não existia todas essas discussões a respeito de sexualidade e gênero, mas hoje elas estão aí, por isso eu acho muito mais grave uma música ser preconceituosa hoje do que há 50 anos atrás.

D: A falta de cantores e cantoras assumidamente LGBTQ+ no sertanejo é um fator para o distanciamento entre a comunidade LGBTQ+ e o estilo musical? Por quê?

 G: Com certeza, como eu disse anteriormente, nós LGBTQ+ não nos enxergamos nas figuras do sertanejo, nos grandes nomes de duplas (que eu adoro inclusive), não gera identificação. Pensando nisso eu comecei a me questionar se a comunidade não gosta de sertanejo simplesmente porque não gosta mesmo, por causa do ritmo, dos timbres, ou se o buraco era mais em baixo, e é. Essa ausência de cantores e cantoras assumidos, que falam sobre sexualidade e gênero dentro do sertanejo faz com que muitos de nós pensemos coisas do tipo “não é pra mim“, “sertanejo é coisa de hétero“, “gay não ouve sertanejo”, entre outros. Eu percebo que com esse boom das mulheres no sertanejo o público LGBTQ+ cresceu, porque é comum também que a gente se identifique mais com essas mulheres que passam uma imagem de mulher forte e independente.

D: Com um trecho da sua música, lhe pergunto: por quanto tempo mais vamos amar no escuro?

 G: Eu queria dizer que por pouco tempo, mas nós temos muitos passos para dar ainda, muitas coisas pra conquistar, tanto no âmbito pessoal quanto no político. No pessoal porque cada um tem as suas questões internas, cada um tem uma família diferente, vive em um contexto diferente e almeja coisas diferentes. No político, porque eu acredito que não só no sertanejo, não só na música, não só nas artes, nós precisamos de representatividade LGBTQ+ em todos os lugares, inclusive dentro da política, pra que nós tenhamos pessoas que realmente entendam todas as nossas questões e pra que precisemos cada vez menos amar no escuro.

Antes mesmo de Gabeu, em fevereiro deste ano, a drag queen Reddy Allor lançou música “Tira o Olho”. Com uma proposta que se assemelha ao sertanejo universitário, a artista denominou o som como dragnejo. Assim como Gabeu, Reddy abre espaço para a comunidade LGBTQ+ no meio sertanejo. Esse sertanejo queer surge com a extrema necessidade de, mais uma vez, rompermos com as dicotomias de gênero e explorarmos os diferentes campos das artes.

Seja o pocnejo ou o dragnejo, o importante é ocuparmos esses espaços. A cultura LGBTQ+ está muito atrelada ao pop e as grandes divas e, por diversas vezes, esquecemos que existem LGBTQ+ em outros lugares e vivendo diferentes realidades. Precisamos apoiar essas novas vozes e através delas resistirmos. Os heterossexuais também precisam ouvir sobre amores LGBTQ+. Vamos cantar o nosso amor rural, urbano ou em qualquer lugar.

 

 

Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação. É militante do movimento LGBTQ+, aborda questões pertinentes sobre essa temática em seus textos.

 

A fachada do bar Stonewall na década de 1960. O bar ainda está em atividade no mesmo lugar nos EUA e foi tombado como patrimônio nacional.

Nova York, 28 de junho de 1969. Como de costume, durante a madrugada, policiais invadiram o bar Stonewall Inn. Nessa noite, gays, lésbicas, transexuais e drag queens, decidiram não tolerar mais o abuso durante as batidas policiais, que eram rotina à época. Na década de 1960 a homossexualidade era considerada doença e o sexo homossexual era ilegal no Estados Unidos. Os LGBT+ viviam escondidos em bares clandestinos. O grito em Stonewall deu início à luta pelos direitos de uma comunidade que, até então, era reprimida e presa sem razão.

Diante da forte represália naquela noite, a partir de uma reação inesperada, os policiais foram acuados pelos frequentadores do bar. Durante vários dias de confronto e violência, carros foram incendiados e muitas pessoas agredidas. O ato recebeu o apoio da população da cidade, que se uniu para defender uma comunidade que era obrigada a viver escondida, marcando uma virada do movimento LGBT+ nos Estados Unidos e no mundo. Um ano após a data, cerca de 10 mil pessoas se reuniram em uma marcha e deram início às passeatas em favor dos direitos LGBT+.

No Brasil, o movimento LGBT+ se estabelece no início da década de 1970, quando alguns grupos começaram a se mobilizar. Entre eles o SOMOS e o Jornal Lampião da Esquina, este último, um importante veículo de comunicação que facilitou a articulação dos movimentos sociais em meio à ditadura. Mesmo com um grupo estabelecido, muitos LGBT+ foram perseguidos e presos durante o governo militar. Conhecida como uma prática de “higienização”, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, estima-se que a polícia prendeu 1,5 mil pessoas somente na cidade de São Paulo. Além disso, policiais torturaram e espancaram sobretudo as travestis. 

 Com o fim da ditadura na década de 1980, o movimento LGBT+ se enfraquece com a chegada da AIDS. Essa fase é marcada pelos inúmeros casos da doença, que foram diretamente relacionadas com o comportamento sexual de homossexuais, sendo apelida de “câncer gay” ou “peste gay”. A partir de uma desmoralização pública, o movimento que prezava pela liberdade sexual é posto em xeque, então é necessária uma reestruturação da comunidade LGBT+, que se voltou para a luta no combate à AIDS. Sendo assim, outros grupos se estabeleceram, como o Grupo Gay da Bahia, a mais antiga associação em atividade na luta pelos direitos homossexuais.

 No fim da década de 1980, junto do combate a AIDS, o movimento LGBT+ começa a crescer. Mas é nos 1990 que começamos a ocupar espaços. Já no início da década, no mês de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doença. Com o reconhecimento, os grupos de militância começam a se estabelecer de forma plural e em constante ascensão. Nessa década também começam a se organizar as primeiras paradas do orgulho LGBT+. Hoje, o Brasil tem a maior parada LGBT+ do mundo, reunindo milhões de pessoas na cidade de São Paulo. Em 2019, cerca de três milhões de pessoas estiveram presentes na Avenida Paulista, segundo a organização.

A primeira marcha a favor do direitos LGBT+ em 1970, um ano após a revolta de Stonewall.

Nossas conquistas

Nos últimos anos, a comunidade LGBT+ garantiu muitos direitos, entre eles o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011. Essa ação concedeu aos parceiros direitos e deveres semelhantes ao casamento, como à adoção. Já em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamentos homoafetivos.

No que confere aos direitos da população transexual, desde 2008, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamentos hormonais e realiza procedimentos cirúrgicos, incluindo a chamada de “redesignação sexual” para mulheres trans. Nesta semana, o mesmo procedimento foi autorizado pelo Ministério da Saúde aos homens trans. O SUS também reconhece a utilização do nome social em seus formulários desde 2009. Em 2011, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), também passou a utilizar o nome social em suas provas. Já em 2018, todos os servidores públicos transexuais passaram a ter seu nome social reconhecido.

Em 2018, o STF reconheceu que transgêneros podem alterar o nome e o gênero no registro civil, mesmo sem a realização da cirurgia de redesignação sexual para comprovar sua identidade. Antes disso, a alteração só era feita diante da comprovação via atestados médicos. Com a medida, transexuais podem se dirigir aos cartórios para solicitar a mudança apenas por autodeclaração. Mesmo com alguns avanços para a população trans, a transexualidade ainda não saiu da lista de doenças da OMS. Apesar de não ser mais considerada uma doença mental, passou a ser considerada uma “incongruência de gênero”.

A conquista mais recente da população LGBT+ no Brasil foi a criminalização da LGBTfobia. No dia 13 deste mês, o STF aprovou a ação que pune crimes de ódio contra a população LGBT+, equiparando as penas por ofensas às previstas na lei contra racismo. Uma das pautas mais antigas e necessárias da comunidade foi aprovada por oito do 11 ministros.

Os parágrafos acima retratam um pouco do que é a luta dos LGBT+ desde a revolta de Stonewall. Em 50 anos de história, o movimento passou por diversas fases que nos permitiram refletir a força da comunidade que, mesmo com dificuldade, continua na luta em busca de igualdade, respeito e liberdade. Muitos direitos foram conquistados, mas ainda é pouco frente à violência que a comunidade LGBT+ está submetida diariamente. 

Imagem do confronto entre policiais e frequentadores do bar.

Nesses 50 anos, devemos muito da nossa luta à Stonewall. Aquele 28 de julho foi um grito de basta frente às atrocidades que a comunidade LGBT+ vivia. Mas ainda não descansamos. Vivemos no país que mais mata LGBT+ no mundo. O país que mais consome filme adulto com travestis e transexuais, também é o que mais extermina. Que histórias como a de Dandara dos Santos não se repitam.

E mesmo diante que um governo abertamente LGBTfóbico, conquistamos a criminalização da LGBTfobia. Esse é só um sinal de que o movimento LGBT+ resiste e ninguém tomba . Se há 50 anos lutamos para garantir nossos direitos, hoje a nossa luta é para não perdê-los.

 

Deivid Pazatto é jornalista egresso da UFN. Foi repórter da Agência Central Sul e monitor do Laboratório de Produção Audiovisual (Laproa) durante a graduação. É militante do movimento LGBTQ+, aborda questões pertinentes sobre essa temática em seus textos.