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cortes na educação

Dia de protestos pela educação, apesar das chuvas

Quinta-feira, 30 de abril,  mais um dia de protestos em defesa da educação em todo o país. Em Santa Maria apesar da chuva, estudantes e professores de instituições públicas de ensino  foram às ruas para mostrar

30M:Foto: Mariana Olhaberriet/LABFEM

Quinta-feira, 30 de abril,  mais um dia de protestos em defesa da educação em todo o país. Em Santa Maria apesar da chuva, estudantes e professores de instituições públicas de ensino  foram às ruas para mostrar o descontentamento perante as decisões tomadas pelo novo governo.

O coordenador geral do DCE da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rodrigo Foletto, ressaltou a importância dos atos que estão acontecendo no país, porque a população não está contente com os cortes na educação e a reforma da previdência, e afirma que as pessoas não vão aceitar nenhum direito a menos. “É importante estarmos nos mobilizando para mostrar que não é esse o projeto que a gente quer para o Brasil”, finaliza.

Outro tema levantado foi a importância da pesquisa para novas descobertas que levam melhorias à população e também aos formandos. Segundo a professora de Políticas Públicas da UFSM, Glades Félix, essas pesquisas cobram políticas do Estado que não cumprem seu papel, tanto na área da saúde, quanto na da educação.

Santa Maria, ontem.Foto: Mariana Olhaberriet/LABFEM

Elizete Tomazetti, professora de Filosofia na UFSM, também aponta a importância dos movimentos para mostrar a indignação do povo devido aos cortes em pesquisa e e em manutenção das instituições. “É mostrar que não estamos aceitando essa situação e de alguma forma manifestar”, complementa.

 

 

 

As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão abertas até amanhã, dia 17 de maio. Mesmo que a incerteza seja algo muito presente nas provas de vestibular, esse ano ela ronda mais que vestibulandos e atinge desde os estudantes da pré-escola até mestrandos e doutorandos das universidades públicas do Brasil. O Enem é atualmente a prova que permite o ingresso de alunos ao ensino superior e, no ano passado, teve o menor número de inscritos confirmados desde 2011 – o que já é assustador refletir sobre a redução de 18% do número de participantes, e se torna ainda mais preocupante diante dos cortes de verbas da educação pública no país.

Protesto contra os cortes do governo federal que atinge universidades federais mobilizou milhares de pessoas no centro de Santa Maria ontem. Foto: Julia Trombini

No final de abril, o Ministério da Educação anunciou um corte de 30% nos repasses de verbas destinadas às universidades federais, em razão de um contingenciamento de R$ 5,9 bilhões no orçamento. Essa medida, denominada pelo secretário de Educação Superior como “bloqueio preventivo”, vai ao encontro das decisões do governo Bolsonaro em relação aos professores e a ao projeto denominado Escola sem Partido. Além disso, o presidente já declarou que pretende retirar verbas dos cursos de Filosofia e Sociologia.

Com esse objetivo posto, segundo ele, seria possível focar em áreas que gerem “retorno imediato”, como veterinária, engenharia e medicina, por exemplo. “A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”, aponta o presidente em um segundo tweet.

Em um palco de muitas contradições, a educação não parece ser um assunto que vá para os bastidores. O Ministério da Educação (MEC) também cortou 36% da verba da única escola federal de ensino básico nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e Duque de Caxias. O Colégio Pedro II, fundado em 1837 e que possui cerca de 13 mil alunos, teve um corte de 36,37% do orçamento de custeio previsto para este ano, o que ultrapassa R$ 18,5 milhões, e “terá implicações devastadoras”, segundo os diretores.

Aos se referir às universidades federais como balbúrdia, o Ministro da Educação desencadeou uma série de protestos em diversas cidades do país. Foto: JuliaTrombini

Mobilizar-se e ir para as ruas é o recurso último que a população tem para defender seus direitos e lutar contra retrocessos. Desta vez, a luta é pela educação. Sobretudo pela educação pública de qualidade! Um agente de transformação inegável. Por isso, não esqueçamos que a finalidade da educação é a de construção do ser social. Desde as criações humanas, das descobertas, das reflexões e dos aprendizados às gerações posteriores. Mais do que cortes que se apresentem como redução de gastos e não de investimentos, é provável que isso tudo custe caro em um futuro breve, em um país que diz não caber em seu orçamento algo tão primordial quanto a educação. Um país onde  115 milhões de brasileiros ainda não sabe ler e outros tantos milhões serão privados de estudar e de desenvolver as suas potencialidades. Afinal, diante do talho nas verbas do ensino público, talvez seja necessário um espetáculo de “balbúrdia” em âmbito nacional para que possamos conseguir lutar e garantir nossos direitos.

Julia Trombini é jornalista, escorpiana, egressa da UFN. Fez parte da equipe do LabFem (Laboratório de Fotografia e Memória) como repórter fotográfica. Trabalhou também com diagramação, assessoria de imprensa e produção de conteúdo. Tem interesse em fotografia, audiovisual e temas de resistência política.