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Santa Maria, RS, Brazil

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Envelhecer com qualidade de vida é possível

A preocupação com o envelhecimento da população está ganhando importância nos países em desenvolvimento. No Brasil, o crescimento da população idosa é relevante, com aproximadamente 20 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60

O mundo está ficando de cabelos brancos

Se tornar velho é um processo que traz novidades. Por mais óbvio que possa parecer esse raciocínio, confesso que, particularmente, apenas me dei conta disso há pouco tempo. De alguma forma, sempre enxerguei meus avós ocupando este

Envelhecer é natural, mas quem cuida do idoso?

Envelhecer é um processo comum a todos. Com o passar dos anos, esse processo vai ficando cada vez mais evidente pelo aumento exponencial de idosos acima de 60 anos vivendo no Brasil. Segundo dados do Instituto

Harmonização facial: tendências e cuidados

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Envelhecimento da população brasileira é crescente

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Imagem de Pramit Marattha/Pixabay

A preocupação com o envelhecimento da população está ganhando importância nos países em desenvolvimento. No Brasil, o crescimento da população idosa é relevante, com aproximadamente 20 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2025, esse índice poderá chegar a 32 milhões, quando o país passará a ocupar o 6º lugar no mundo em número de idosos. E, em 2050, estima-se que o número de idosos será maior ou igual ao de crianças e jovens de 0 a 15 anos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira aumentou nos primeiros 40 anos do Século XX,  alcançando, nas décadas de 1950 e 1960, uma taxa de crescimento em torno de 3%. Até o final dos anos 1970, a estrutura etária da população brasileira era, sobretudo, jovem. A partir do ano 2000, constatou-se a diminuição do número de nascimentos e a redução número de crianças e adolescentes. A população começara a envelhecer.

A vida do idoso em Santa Maria

Segundo dados do IBGE 2010, a população idosa do município de Santa Maria corresponde a 13,8% da população. Isso mostra que a cidade está passando por uma grande mudança de faixa etária, com o crescimento relevante da população idosa.

Ainda de acordo com o IBGE, a cada ano aumenta o número de pessoas com mais de 60 anos de idade e uma das características da faixa etária de envelhecimento é o crescimento do sexo feminino na população idosa da cidade.

Confira na tabela abaixo a distribuição de homens e mulheres idosos por idade em Santa Maria.

Fonte: IBGE

E, devido ao crescimento da população idosa, a Câmara Municipal aprovou a Lei Orgânica que está destinada a proporcionar suporte financeiro na implantação, manutenção e desenvolvimento de programas e ações dirigidas aos idosos. Estão entre ela os seguintes direitos:

  • Obrigatoriedade da reserva de 5% das vagas dos estacionamentos privados no Município de Santa Maria para idosos.

Essa lei ela favorece o idoso, e  os condutores ficam isentos do pagamento do estacionamento em ruas regulamentadas por meio do sistema de parquímetro. Para os efeitos desta lei, a pessoa deve ter idade igual ou superior a 60 anos, deve estar como condutor ou passageiro do veículo e deve apresentar a Carteira de Identidade ou outro documento expedido por órgão público, com foto.

A senhora Suzete Maria Sangoi, de  68 anos que utiliza o carro como transporte para passeio, acredita que a lei ela funciona, só que  na cidade não existem muitas vagas para realizar  o estacionamento e, com isso, a utilização da lei só faz sentido quando se consegue colocar o carro próximo de onde se pretende ir. “ A lei ela funciona sim, o parquímetro não é cobrado. O problema é que as pessoas não tem educação e acabam utilizando a vaga para os idosos, e isso acaba nos prejudicando. A prefeitura e os órgãos responsáveis deveriam cuidar mais sobre esses atos”, comentou Suzete.

  • Os pacientes idosos podem agendar por telefone as suas consultas nas unidades de saúde.

Segundo a lei, o agendamento somente será possível nas unidades de saúde onde o paciente já estiver cadastrado e, para receber o atendimento, o paciente deve apresentar a sua carteira de identidade na ocasião da consulta. Em caso de internação ou em observação, os hospitais da rede privada são obrigados a informar aos idosos sobre o direito de manterem acompanhante.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Santa Maria, o atendimento relativo à saúde da população idosa ocorre na Rede de Atenção à Saúde (RAS) nos três níveis de atenção. Os três níveis de atenção classificam como: nível primário,  secundário e terciário. é classificado como nível primário as Unidades Básicas de Saúde e os Postos de Saúde. O secundário estão as Clínicas e Unidades de Pronto Atendimento. O terceiro e último nível estão os Hospitais de grande porte. E, conforme Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) a população, inclusive os idosos, estão em território adstrito atendidos por uma estratégia de saúde da família (ESF), que no município possui cobertura de 28% da população e atendido por Unidade Básica de Saúde (UBS) 20%.

O município também conta com Rede de Urgência e Emergência com Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Pronto Atendimento (PA), Hospital Casa de Saúde. Além de serviços ambulatoriais como Policlínicas, Centro de Especialidades Odontológicas, Centro de Diagnóstico Rosário e Casa Treze de Maio, entre outros serviços decorrentes de parcerias com instituições de ensino. E, além disso, o estabelecimento de mecanismos que favorece a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais. Nesse sentido, está em fase de elaboração um material educativo sobre envelhecimento para ser distribuído nos próximos meses, tendo como foco os idosos do município.Também é ofertada Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa para os idosos residentes em território adstrito das Estratégias de Saúde da Família.

No entanto, na saúde, a lei não parece ser um conto de fadas como está escrito nos parágrafos. A senhora Maria de França Almeida, 61 anos, reclamou da falta de atenção que o idoso recebe no atendimento médico nos postos de saúde de Santa Maria, principalmente, no bairro onde mora. Ela relatou que os médicos não buscam um atendimento adequado e as recepções não trazem segurança e conforto nos atendimentos para as pessoas de maior idade.  “ No postinho do meu bairro (Itararé) os médicos não atendem como antigamente. Hoje eles só nos “passam receita”, não dão a devida atenção ao paciente”, afirmou Maria.

  • Transporte coletivo gratuito para pessoas com idade igual ou superior a 65 anos nos limites do Município de Santa Maria.

No primeiro ano desta lei, em 2012, foram disponibilizados quatro passagens interdistritais ao mês; no segundo ano (2013), foram disponibilizados oito passagens e, em 2014, o transporte coletivo interdistrital foi liberado gratuitamente para os idosos cadastrados ao sistema municipal de transporte coletivo.

  • Para os idosos o pagamento de meia-entrada referente ao valor efetivamente cobrado para ingresso em casas de diversão, de espetáculos teatrais, musicais circenses, em casas de exibição cinematográfica, estádios e similares na área do esporte, cultura e lazer do Município de Santa Maria.

Tais direitos são abordados na Atenção Básica, através das Conferências Municipais da Pessoa Idosa e através de realização de eventos voltados para a população, como por exemplo o Dia Mundial e Municipal do Idoso que aconteceu em 1º de outubro de 2019.

Fonte: DPPI

Crime contra o idoso

Apesar da existência de leis favoráveis que garantam a proteção para a população idosa, as  dificuldades em assegurar os seus direitos persistem. Diante deste cenário de violência, os idosos sofrem maus tratos sendo o principal agressor, muitas vezes, um membro familiar e, não raro, indivíduos que dependem deles financeiramente ou aqueles que são remunerados para prestarem serviços assistenciais.

Segundo o comissário de polícia José Henrique Hartmann, o combate aos maus tratos ou para outros crimes é feito pela Polícia Civil através da instauração do inquérito policial específico que apura o crime. Conforme o comissário, outro crime que vem crescendo é o estelionato caracterizado pelo abuso da confiança do idoso, principalmente por pessoas próximas, como os próprios filhos. Segundo ele, tais pessoas acabam explorando a ingenuidade do idoso, induzindo-o a acreditar que o ente querido jamais agirá de má intenção. Em geral, a prática desses crimes acaba sendo através de transferência de aposentadorias, realização de empréstimos e a realizações de compras sem o consentimento ou de uma forma enganosa com o idoso.

Portanto, em um país como o Brasil onde ser idoso é frequentemente perigoso, os dados mostram que a sociedade não está apta para lidar com o crescimento e as demandas da população idosa, mesmo existindo leis que asseguram a prevenção da violência.

A proteção ao idoso

A proteção à vida e à saúde do idoso está previsto em lei.  Tais direitos estão determinados na legislação do Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, e entrou em vigor somente no ano seguinte, no dia 1º de janeiro de 2004.  A partir disso, o estatuto do idoso garante os direitos para pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, abordando questões familiares, de saúde, de discriminação e violência contra o idoso.

A legislação prevê o dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público em assegurar tais direitos ao idoso. Dessa maneira, torna-se uma prioridade social, conforme o art. 3º da Lei 10.741/2003, a efetivação do: direito à vida, direito à saúde, direito à alimentação, direito à educação, direito à cultura, direito ao esporte, direito ao lazer, direito ao trabalho, direito à cidadania, direito à liberdade, direito à dignidade, direito ao respeito, direito à convivência familiar e comunitária, direito à transporte e direito à habitação.  Estão entre outros,  os seguintes direitos:

  1.  o atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população;
  2. a preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas;
  3. a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
  4. a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações;
  5. a priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;
  6. a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos.
  7. o estabelecimento de mecanismos que favorece a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento.
  8. a garantia de acesso à rede de serviços de saúde, como o SUS, por exemplo e de assistência social locais.
  9. a prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.

Lazer na terceira idade contribui para melhorar a rotina dos idosos

Presidente da Associação Cabelos de Prata Plínio Urbanetto. Foto: Giulimar Machado

Localizado embaixo do viaduto da rua Silva Jardim que suporta as movimentações e os barulhos de carros e motos, a Associação Recreativa Cabelos de Prata tem a sua sede instalada. O nome “Cabelos de Prata” ganha mais sentido quando se descobre que essa associação recebe homens e mulheres com os tradicionais cabelos brancos, em busca de amizade, diversão e de uma nova forma de viver, num momento da existência em que as pessoas começam a enxergar o idoso como uma pessoa de movimentos lentos.

Logo na entrada da Associação, uma grande surpresa: a primeira imagem que chama a atenção é uma máquina de escrever. Logo ela, nos dias de hoje. Sim, Plínio Urbanetto, presidente dos Cabelos de Prata,  utiliza a máquina que foi criada em 1843 para realização dos cadastros dos associados e para a utilização da carteirinha que  assegura ao idoso ganhar 40% de desconto para passagens de ônibus para viagem.

Além disso, a Associação proporciona um motivo a mais para se divertir – em todos os domingos é realizado baile da terceira idade. Nesse evento, os integrantes da Associação se reúnem para realizar a festa que começa à tarde e termina antes de anoitecer. A cada ano é escolhida a rainha do baile e esse privilégio dá a ela a um lugar no hall da fama da Associação, com uma bela fotografia pendurada na parede.

Com muitas histórias, a sede consegue reunir diversas pessoas que querem fazer algo diferente, como atividades de canto, dança, teatro e muito outras ações que fazem o corpo ganhar um novo ânimo, uma nova forma de viver sem aborrecimento e preocupações.

Nesse pensamento de ter uma vida diferente e com muito mais glamour está ” a mulher mais doce da sede”, como é apresentada a senhora Diotildes da Rosa Alves, com seus incríveis 91 anos de muita história.

Dona Diotildes, ou  “senhora Doçura”, como os amigos da Associação a chamam, vive uma rotina de muita alegria e paz quando se reúne com os pares para conversar, realizar atividades e fazer a tradicional oficina de tricô. Com as mãos atentas e com bastante agilidade, o movimentar das agulhas e das linhas vão ganhando forma. Mas a autonomia dela vai além. Para chegar até a Associação,  Dona Diotildes percorre, sozinha, um trajeto bem longo, que pode durar até uma hora, a depender do trânsito. Não importa se faz sol, chuva ou frio. Todas as terças feiras, ela sai da sua residência localizada na Tancredo Neves, pega um ônibus até o centro e, com passos lentos mas atentos, vai caminhando até a Associação Cabelos de Prata.

Os 91 anos não parecem fazer muito diferença para ela. Caminhar em uma cidade que apresenta muitos obstáculos, pessoas com pressa para fazer suas atividades diárias não incomodam Dona Diotildes que, sempre a passos lentos e atentos, realiza o que mais gosta: encontrar os amigos, bater aquele papo e, principalmente, mostrar para o mundo que ainda vive.  Como de costume, o telefone sempre toca para saber onde ela está, se está bem e o que anda fazendo. São os cuidados  que a filha tem com ela e, em nenhum momento, deixa a mãe “sozinha”, sem saber aonde ela anda e, principalmente, com quem anda. “Ás vezes até reclamo. Ela não me deixa quieta, quer saber sempre aonde vou, com quem estou. Esses dias ela me ligou, e eu falei que não ia atender mais porque estava namorando”, comentou com um sorrisão no rosto.

Uma associação pró-ativa

A Associação Assistencial Recreativa Cabelos de Prata tem o objetivo de tirar o idoso de dentro de casa por meio de atividades que estimulem a sua participação na sociedade e na convivência com novas pessoas. A diretoria desenvolve ações com a intenção de ocupar a mente e fazer com que o cérebro não fique cansado. Para tanto, realizam reuniões, atividades físicas, artesanato, almoços e os tradicionais bailes da terceira idade.

O presidente da Associação Plínio Urbanetto comentou que o grupo recebe ajuda gratuita duas vezes na semana de um advogado para retirada de dúvidas e questões sobre aposentadorias dos idosos cadastrados na entidade. Além disso, o grupo proporciona, nas quartas-feiras, atividades de artesanato e, principalmente, o tradicional baile da terceira idade que é realizado nos domingos.

Dia de festa Junina na Associação Cabelos de Prata. Foto: Arquivo Associação

O idoso que faz parte da Associação Cabelos de Prata pode adquirir a “Carteira de Viagem para Aposentados”,  documento que garante ao aposentado desconto de 40% para compra de passagem. Para poder adquirir o documento o idoso precisa ter idade igual ou superior a 65 anos, ter renda de até 3 salários mínimos, além dos documentos tradicionais como identidade e CPF.

“A associação é um lugar para o idoso realizar atividade, poder fazer amizades, se movimentar e, principalmente, poder ocupar a mente com coisas boas”, comentou o presidente Plínio.

A Associação Recreativa Cabelos de Prata não recebe nenhum recurso financeiro da Prefeitura de Santa Maria. O município só cede o espaço, mas os recursos financeiros e atividades são financiadas pelos próprios associados para as manutenções que precisam ser realizadas na sede.

O idoso que tem interesse em participar das atividades cedidas pela Associação pode comparecer na Rua Silva Jardim, 2307, no período da tarde nas terças, quartas e quintas feiras, no horário das 14 horas às 16 horas.

Loja especializada

 Uma das reclamações entre as senhoras de mais idade é a dificuldade em encontrar roupas adequadas à sua faixa etária como, por exemplo, peças íntimas.  Além de não encontrarem modelos do seu agrado, também tem dificuldades de encontrar preços acessíveis. Uma das opções são lojas populares, onde existe pouca variedade e qualidade. 

Gerente da loja, Mara Machado. Foto: Juliana Faria

Em Santa Maria há poucas lojas especializadas em atender um público diferenciado como o idoso ou, ainda, aquele que usa um tamanho superior a 50.  Entre elas está a Sibrama, tradicional loja especializada em roupas para senhores e senhoras. Com 63 anos de atuação no ramo, a loja oferece uma variedade de peças, mas se volta para um público de maior poder aquisitivo. A gerente Mara Machado diz que “o estabelecimento vende desde cuecão, anágua, combinação, calças de cintura alta, pijamas. Nosso perfil de clientes são senhoras aposentadas acima de 50 até 100 anos. Tenho clientes de 101 e 102 anos que ainda vem aqui”, afirma.

Segundo ela, “a maior parte delas vem sozinhas, de táxi ou de ônibus. Às vezes os filhos as deixam aqui. O poder aquisitivo é classe média alta, mas a loja costuma fazer duas liquidações fortes por ano, uma no inverno, outra no verão. No aniversário da loja recebemos todos com chá, café e bolo o dia todo”, diz.

 Diz ainda que fora as datas de dia das mães, dia da mulher também comemorado, a loja ainda mantém o tradicional crediário por conta dessas clientes, cujos celulares são só para ligações e  mexer em aplicativos é algo impensável. “Além disso, a loja investe em novas clientes, quarentonas, que já tem o aplicativo. Então, a gente mantém essas clientes e atende aquelas novas que têm grupos de amigos que viajam para o Europa. Elas vêm comprar maiôs, roupas para ir às termas e curtir as águas. Já fizemos muitos desfiles com elas, desfilando inclusive”, conta a gerente.

A loja possui uma vendedora de 76 anos, ainda na ativa, Vilma Rossi. “Ela manda aqui na loja e é uma figura que não podemos ficar sem. Ela conhece toda a história da loja e sabe o gosto das clientes. A nossa clientela da terceira idade só cresce nos dias de hoje”, explica Mara.

A alternativa para quem não tem acesso às lojas especializadas é recorrer às tradicionais costureiras. Muitas senhoras ainda recorrem à elas para os modelos preferenciais, ou ainda, fazem as próprias roupas marcando o seu estilo. A vestimenta tem a ver com a identidade. Não importa a idade. Cada um se manifesta em sua singularidade.

Por Giulimar Lourenço Machado, Rafael Finger e Juliana Farias. Matéria produzida na disciplina de Jornalismo Humanitário.

 

 

Casal de idosos moradores do Lar Vovó Leopoldina – São Pedro do Sul. Foto: Adri Junges

Envelhecer é uma dádiva. Ou, pelo menos, deveria ser. Alcançar a velhice é privilégio de muitos, mas o desafio nos dias atuais é se tornar idoso mantendo a qualidade de vida. Esta tarefa fica ainda mais difícil quando se vive em um país onde não se planeja, – ou até mesmo ignora -, políticas públicas para melhorar e facilitar a vida das pessoas com idade superior a sessenta anos. O Brasil, que até então era considerado um país jovem, hoje enfrenta dificuldades para lidar com as situações que acometem a população de velhos que vem crescendo de forma acelerada nos últimos anos.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) fornecidos pelo IBGE, a população idosa no Brasil em 2012 estava em 25,4 milhões. Já em 2017, superou a marca de 30,2 milhões. No período entre 2012 e 2017, o número de idosos teve um crescimento em todos os estados, visto que o Rio Grande do Sul teve uma suba mais expressiva em comparação aos demais, em que 18,6% das pessoas são idosos. A projeção do IBGE para 2042 é que a população brasileira atinja 232,5 milhões de habitantes, sendo 57 milhões de idosos (24,5%), resultado do aumento da expectativa de vida nacional.

O que São Pedro do Sul faz pela população idosa?

Entre as responsabilidades dos órgãos públicos, está a necessidade de preservar a saúde e a qualidade de vida dos idosos, além de promover o acolhimento e a integração. O estado e os municípios, através de políticas públicas, devem garantir um envelhecimento saudável e digno à população. Todavia, na prática, as leis que asseguram os direitos dos idosos são falhas, resultando na precariedade de projetos governamentais que priorizam condições de vida dignas para a população que envelhece.

São Pedro do Sul – região centro do estado -, de acordo com o último censo demográfico (2010) realizado pelo IBGE, possui uma população de 16,3 mil pessoas. Desse total, mais de três mil ultrapassa a faixa etária dos 60 anos. Conforme dados da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal, o município atende hoje 53 idosos em estado de vulnerabilidade social e 70 pessoas na mesma situação, porém, com 60 anos incompletos. Os casos englobam, geralmente,  abandono, violência e maus tratos. 

Existem alguns recursos disponibilizados pela Prefeitura Municipal por meio da Secretaria de Assistência Social, e que servem de auxílio para atendimento aos idosos na cidade e interior. Entre eles, o CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), unidade pública que conta com a colaboração de profissionais da saúde como terapeutas, psicólogos e assistentes sociais para suprir as necessidades de idosos e da comunidade em geral. Unido ao CRAS, atua também o CRAS Volante formado por grupos de convivência que  percorre o interior do município semanalmente, realizando atividades de integração e acolhimento. Os grupos de convivência promovidos pelo CRAS visam o fortalecimento de vínculos entre os idosos, em que se busca autonomia na realização atividades. Depois do fortalecimento do grupo, a ideia é que os idosos sigam realizando os encontros sem o auxilio de profissionais. Oficinas de costura, palestras e ginástica laboral são algumas das atividades realizadas, e têm como principal objetivo a inclusão e a aproximação da equipe com a realidade dos idosos. Entre janeiro e julho de 2019, 98 idosos participaram dos grupos de convivência.

A assistente social da Prefeitura de São Pedro do Sul, Ticiane Alves Moreira explica que as atividades com os grupos e as visitas realizadas pelo setor de forma contínua visam melhorar a qualidade de vida dos idosos, em que é possível estabelecer vínculos e compreender aquela realidade. “As idosas, por exemplo, nem sempre são empoderadas o suficiente para revelar que estão sofrendo violência dentro da própria casa e com esse contato semanal é possível identificar’’, finaliza a profissional.

Quando o assunto é investimento do dinheiro público em favor da população, os resultados nem sempre são satisfatórios. Em São Pedro do Sul, existe um grande problema que impossibilita mais investimentos na área: o município não recebe verbas estaduais e federais para este fim devido ao Conselho Municipal do Idoso estar inativo. Com as atividades canceladas desde 2017, o órgão deveria estar em sintonia com as políticas nacionais e estaduais, se adequando às leis e promovendo políticas dirigidas ao idoso. É via Ministério Público que acontecem as denúncias e os atendimentos para casos vulneráveis, em que o primeiro passo é averiguar a real situação do idoso e entrar em contato com familiares. Caso a família não se responsabilize, o idoso é acolhido em instituições próximas, que são duas: Lar Vovó Leopoldina e a Clínica Geriátrica, ambas particulares. O custo de permanência varia de um salário mínimo até 3 mil reais. A Prefeitura Municipal, ao institucionalizar um idoso, fornece apenas remédios e fraldas, caso a aposentadoria não seja suficiente.

”Me sinto feliz aqui porque vivemos entre amigos, somos bem tratados. A gente brinca e inventa umas brincadeiras novas, porque é como dizem, quando a gente fica velho volta a ser criança”, diz Petronilla Noschang moradora do Lar, 97 anos. Foto: Adri Junges

Acolhimento e empatia resultam em qualidade de vida

Obter qualidade de vida durante a velhice significa preservar a auto-estima, a saúde emocional, física e mental, além de cultivar as interações sociais e familiares de forma saudável. A psicóloga Michele Rezende, de São Pedro do Sul, explica que a inserção do  velho no ambiente em que ele vive a fim de cultivar relações sociais se torna um complemento importante para o processo de valorização do idoso. “Neste contexto, o acolhimento, a empatia, o acesso à saúde, ao esporte, lazer, o incentivo a independência, o resguardo da cidadania e contínua inserção social são elementos relevantes para o envelhecimento saudável e de qualidade’’, explica a profissional.

A sociedade atual tem evoluído em ritmo acelerado. Porém, no Brasil, pouco se prioriza espaços de convivência e integração para que o idoso acompanhe este processo. O avanço das tecnologias, as rotinas atarefadas e a falta de tempo e interesse das pessoas acaba despertando nos idosos o sentimento de solidão, acompanhado, muitas vezes, de um adoecimento psíquico. Conforme a psicóloga e professora universitária Luciane Smeha, a sociedade ainda tem muito a evoluir em termos de valorização do idoso e os espaços de acolhimento são importantes, pois propiciam momentos de confraternização e trocas de experiências onde ele é visto e ouvido. “Ali os idosos convivem com outras pessoas, contam suas histórias de vida e, muitas vezes, recebem a atenção que ainda é precária em casa’’, finaliza Luciane.

Principalmente por se encontrarem em uma fase sensível e vulnerável da vida, necessitam de um abraço, uma visita ou uma brincadeira para aliviar o peso da idade. Às vezes, só o que eles precisam é que alguém dê uma pausa em sua rotina tumultuada para ouvir suas histórias antigas. “Sempre ouço as histórias e os ensinamentos dos velhos. Eles têm muito a ensinar, e nós a aprender. Não me importo de ouvir várias vezes a mesma, porque idoso não tem histórias novas, tudo é velho assim como eles. Mas cabe a gente ter a empatia de sentar, ouvir e fazê-los se sentirem importantes’’, explica Neisa Maria Mariano, 63 anos, que realiza atividades voluntárias há mais de dois anos no Lar Vovó Leopoldina. Pelo menos uma vez por mês, ela promove a auto-estima de homens e mulheres através de cortes de cabelo e manicure, além de proporcionar momentos de diversão com canto e dança. A velhice não precisa ser dura. Promover o bem e a sociabilidade dos idosos é fazer pelas atuais e pelas próximas gerações.

Por Andriele Hofmann da Cruz. Matéria produzida na disciplina de Jornalismo Humanitário.

Quanto mais adiamos pensar na velhice, mais perto dela ficamos sem nos preparar (Imagem: Getty Images)

Se tornar velho é um processo que traz novidades. Por mais óbvio que possa parecer esse raciocínio, confesso que, particularmente, apenas me dei conta disso há pouco tempo. De alguma forma, sempre enxerguei meus avós ocupando este espaço: o de avós e de pessoas idosas. Recentemente, após tentar argumentar mais uma vez com meu avô sobre algumas mudanças que seriam necessárias na rotina dele, ouvi um desabafo. Somente ali percebi que eu estava tentando impor algo sem levar em consideração que, para ele, aquilo não era tão simples e natural quanto eu, millennium apressada e ansiosa, pensava ser. 

Para meu avô, assim como para outras pessoas que chegam à terceira idade, envelhecer carrega complexidades. Ocupação de um novo espaço, aceitação, crises, dúvidas, reconhecimento também fazem parte desse processo. Há alguns anos, chegar a velhice era um privilégio; hoje é uma realidade desafiadora. Diferentes recortes sociais, econômicos, culturais e de saúde cobram das esferas familiar e pública ações de atenção a essa faixa etária. Como vamos viver a velhice dos nossos pais, tios, avós? Como vamos viver a nossa velhice?  O mundo está ficando de cabelos brancos e o que vamos fazer em relação a isso?

A realidade evidencia que a pirâmide etária do mundo passa por uma inversão. Conforme projeções divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo dobrará o número de pessoas com 60 anos ou mais até 2030. A entidade afirma que a população idosa é a que apresenta um crescimento mais rápido entre todos ou demais grupos, correspondendo a um avanço de 3% ao ano. Esse aumento no número de pessoas na terceira idade está ligado a dois principais fatores: a queda no número de natalidade e o progresso da medicina.

No que diz respeito ao primeiro aspecto, há uma relação de proporcionalidade entre o aumento da porção de idosos e a redução da taxa de natalidade, pois enquanto o número de crianças diminui, a população segue em desenvolvimento e envelhecendo. Esse encolhimento do índice de nascimento é fruto de uma mudança de estilo de vida da população mundial ao longo das últimas décadas. 

A saída das famílias do campo para a cidade impactou a rotina e o modelo das famílias tradicionais. Urbanização da população, aumento no número de ingresso nas áreas trabalhistas fora do lar, expansão do mercado, maiores jornadas de trabalho e a conquista do espaço da mulher nos negócios diminuiu a disponibilidade de tempo para o cuidado com os filhos. A prioridade das gerações atuais se volta mais para o desenvolvimento pessoal e profissional, os paradigmas em relação à constituição de família mudaram. Além disso, a evolução dos métodos contraceptivos permitiu organização e planejamento para a chegada de uma criança.[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Há alguns anos a ONU já promove ações que visam discutir e pensar estratégias para uma melhoria na qualidade de vida da população idosa. Em 1982 foi realizada a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, na Áustria, que gerou o Plano de Ação para o Envelhecimento. O documento foi composto por 66 recomendações para os países membros da organização, com o objetivo de proporcionar o bem estar da terceira idade. [/dropshadowbox]

Ainda em relação a métodos e medicamentos, o segundo fator de destaque para o aumento significativo no número de idosos é a evolução da farmacologia e dos avanços tecnológicos na área da saúde. A velhice traz com ela alterações das funcionalidades, sendo comum nessa faixa etária doenças crônicas múltiplas, mas que encontra nas novas descobertas na ciência e com a o desenvolvimento de novas tecnologias ferramentas para o controle das doenças e prolongamento da vida. Contudo, a promoção de serviços básicos de saúde ainda não supre a demanda crescente. A população que inspira maior atenção ainda enfrenta escassez ou restrição de recursos.

As problemáticas enfrentadas ligadas ao acesso a serviços e medicamentos estão dentro de uma questão maior, a relação teoria e prática. Há alguns anos a ONU já promove ações que visam discutir e pensar estratégias para uma melhoria na qualidade de vida da população idosa. Em 1982 foi realizada a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, na Áustria, que gerou o Plano de Ação para o Envelhecimento. O documento foi composto por 66 recomendações para os países membros da organização, com o objetivo de proporcionar o bem estar da terceira idade. 

Em 2002, a II Assembleia Mundial Sobre o Envelhecimento foi realizada na Espanha. O segundo encontro atualizou o Plano de Ação para o Envelhecimento, exigindo não apenas dos chefes de Estado, mas da sociedade em geral, o comprometimento com a readequação à realidade demográfica e com investimento na implementação de políticas para o envelhecimento.

No Brasil, programas foram desenvolvidos a fim de criar normas e garantir direitos sociais para a terceira idade, entre eles a Política Nacional do Idoso, de 1994 – criada a partir das recomendações da ONU -, e o Estatuto do Idoso, em 2003. Os documentos são importantes ferramentas para a aplicação de estratégias nos âmbitos econômico, social e cultural. Contudo, é possível observar que o país ainda não trata com prioridade essa questão. As diretrizes assinadas não demonstram tanta efetividade frente a uma realidade cada vez mais emergente.

[dropshadowbox align=”none” effect=”lifted-both” width=”auto” height=”” background_color=”#ffffff” border_width=”1″ border_color=”#dddddd” ]Conforme dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o disque 100 recebeu mais de 37 mil denúncias no ano passado. Isso significa que o número de casos de violência contra idosos é ainda maior, levando em consideração que há casos não denunciados. Negligência, violência psicológica, abuso financeiro e violência física são os tipos de agressões mais comuns.[/dropshadowbox]

Sem um suporte de qualidade do Estado, os idosos também enfrentam a falta de preparo familiar com a velhice. A nossa sociedade, como já dito anteriormente, não pensa e discute sobre o envelhecer. No dia a dia, a convivência com familiares idosos indica que falta uma educação voltada a compreender esse processo tão natural. Em casos, infelizmente, não tão raros, a violência se faz presente nos lares dessa população. Conforme dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o disque 100 recebeu mais de 37 mil denúncias no ano passado. Isso significa que o número de casos de violência contra idosos é ainda maior, levando em consideração que há casos não denunciados. 

Negligência, violência psicológica, abuso financeiro e violência física são os tipos de agressões mais comuns. Mais da metade das ocorrências tem os filhos como culpados, correspondendo a 52,9%, sendo a casa o principal cenário das violações, com 78,35%.  Ainda que o documento divulgado pelo MMFDH não apresente as motivações dos casos, sem dúvidas é possível apontar a falta de humanidade e sensibilidade perante a esse grupo. Imersos em uma rotina que exige números, tempo, produção, compreender o envelhecimento se mostra fora de pauta. 

Envelhecer é uma ação natural. As alterações causadas pelo tempo indicam que estamos vivos, que o ciclo da vida transcorre normalmente. Ficar velho é um processo orgânico que atinge todos os indivíduos, mas que como tantos outros, evitamos dialogar e refletir. A ideia de ficar velho ronda nossos pensamentos quase de forma temerosa. Para começar, o termo “velho” carrega uma conotação negativa. A palavra é associada àquilo que não possui mais utilidade, que está ultrapassado. Ninguém quer um equipamento velho, uma roupa velha, um produto velho. Portanto, “ficar velho” ganhou um tom preocupante. Não estamos preparados para envelhecer, tampouco lidar com o envelhecimento de nossos familiares e pessoas próximas.

 

Paola Saldanha é egressa do curso de Jornalismo da UFN. Acredita em uma narrativa com protagonismo de diferentes vozes e espaços, uma leitura plural de vidas plurais

Envelhecer é um processo comum a todos. Com o passar dos anos, esse processo vai ficando cada vez mais evidente pelo aumento exponencial de idosos acima de 60 anos vivendo no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estástiticas (IBGE), o país, visto como uma nação jovem há anos, está se tornando velho. Só entre 2012 e 2017 houve um aumento desta população em 19,4%, o que significa um salto de cerca de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas idosas vivendo no país.

O mesmo IBGE especifica que hoje o número de idosos é o equivalente a uma entre 10 pessoas, e de um a cada dois jovens abaixo dos oito anos de idade. O Instituto também expõe que o número de idosos ultrapassará o de jovens no país até 2039, passando a ser o equivalente a um idoso entre quatro pessoas no país.

O aumento é recorrente. Nos últimos 60 anos, o Brasil passou de um total de 4,3% da população total, para 14%, o que traz um alarme econômico e, principalmente, para a assistência social do país, responsável por fazer o acolhimento e cuidar dessa parte da população.

O impacto do aumento é sentido, principalmente, pelos idosos desamparados pelas famílias, pois mesmo com os albergues, lares e asilos lotados, a demanda por vagas é cada vez maior, o que deixa sem alternativa este setor da população.

Nos albergues, no mesmo período levantado pelo IBGE, de 2012 a 2017, a população aumentou em 33%, correspondendo a um crescimento de 45,8 mil para 60,8 mil pessoas, sem contar com os alojamentos privados, o que passa da casa das 100 mil pessoas.

Pirâmide Etária do Brasil – 2017. Fonte IBGE

Os lares, asilos ou clínicas geriátricas são responsáveis por abrigar idosos, uma vez que as famílias não têm condições de os manterem em casa, seja por limitações de horários, por não terem o interesse em cuidar, ou por vários outros motivos e situações de impedimento. Esses ambientes em que os idosos ficam, por vezes, recebem visitas de seus filhos, sobrinhos entre outros parentes ou responsáveis. Mas não são todos, por esse motivo os cuidadores e voluntários tornam-se as suas familias. Algumas clínicas são consideradas temporárias e, também, uma “creche” onde os idosos passam o período da manhã e tarde, retornando à noite para as suas residências.

Casas para idosos em Santa Maria

Familiares recorrem a clínicas especializadas em cuidar de familiares idosos. Foto: arquivo ACS

Na cidade de Santa Maria, os asilos públicos que abrigam idosos cadastrados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social são três: o Lar das Vovozinhas, que abriga apenas idosas do sexo feminino, o Lar Vila Itagiba, que abriga apenas homens, e o Abrigo Espírita Oscar Pithan que abriga ambos os sexos. Já no setor privado, o número de asilos é bem superior. Cerca de 15 clínicas e asilos geriátricos fazem o atendimento e promovem o alojamento para pessoas idosas na cidade.

Clínicas e casas de geriatria

Lares em Santa Maria. Fonte: Emily Costa

 

Abrigo Lar das Vovozinhas

Fundado pelo Diácono Constantino Cardióli em 16 de outubro de 1946, a Associação Amparo e Providência Lar das Vovózinhas é uma instituição de assistência e acolhimento a idosas da cidade de Santa Maria e região. Atualmente o Lar é considerado o maior do país, e conta com equipe multiprofissional para atender mais de 190 idosas.

Em Santa Maria, a entidade já conta com cerca de sete enfermeiras, dois médicos e 34 técnicos de enfermagem, assim como o pessoal da higienização, da alimentação e da manutenção, totalizando 98 funcionários.

No Lar também há atuação do trabalho voluntário que auxilia na parte geral, na limpeza e na horta, inclusive em eventos da instituição. Saul Fin, responsável pelo Lar das Vovózinhas diz que o trabalho voluntário é sempre bem vindo. “ Nós temos uma vez por mês um evento festivo aqui, da venda do galeto e do risoto, sempre aos domingos. Aí nós temos uma equipe de 20 voluntários que ajudam a assar, a preparar e entregar o galeto. A equipe da casa ajuda, mas não faria sem o auxílio voluntário”, argumenta.

Saul afirma que a instituição recebe as idosas a partir dos 60 anos. Ele relata que há casos de idosas que até tem familiares fora da instituição, porém, preferem ficar ali do que conviver com os familiares em casa, devido ao tratamento de saúde, alimentação, medicamento e higienização que recebem no Lar.

Saul Fin, responsável pelo Lar das Vovozinhas. Foto: Tiago Teixeira

Ele afirma que há vários motivos pelo qual pessoas idosas são internadas no Lar. “As pessoas idosas vêm para cá ser acolhidas porque a família não tem como cuidar, não tem como dar a assistência que elas têm aqui. Enquanto isso, tem avós que vieram através do Ministério Público, pois são pessoas que estavam em situação de vulnerabilidade e foram acolhidas aqui no Lar”, revela Fin.

    O trabalho voluntário é fundamental na instituição, além de ser gratificante, e quem o exerce, também se sente útil. A voluntária Mirian Guarienti desabafa ao dizer que quando chega no Lar, sua perspectiva muda. “Comecei por que queria fazer alguma coisa por alguém. Foi um momento da minha vida em que resolvi ter essa atitude e, então, procurei o Lar. Estou aqui há dois anos e gosto de trabalhar no voluntariado. A gente se sente realizado e feliz por se doar para as idosas”, afirma. A voluntária ainda evidencia a importância da troca de atenção, carinho e afeto.

Nádia Maria Dias de Ávila, bancária na Caixa Federal é voluntária há três anos no Lar. Ela atua junto à equipe do artesanato, usado como terapia e, ainda, na venda de parte das produções no brechó da instituição. Não há um projeto somente para a venda dos artesanatos. Nádia diz que as idosas têm suas particularidades. Algumas fizeram artesanato a vida toda e não querem mais trabalhar com isto, muitas não têm condições de produzir e outras gostam de fazer. “Não se pode propor uma atividade única para todas. Uma faz um tapete, outra faz pinturas em caixas de isopor… enfim, elas recebem uma atenção individual aqui. Às vezes, os óculos não estão bons ou elas têm dores nas mãos”, conta a bancária.

O trabalho com o artesanato é desenvolvido em um espaço preparado para as atividades. Os materiais arrecadados são doados por farmácias, bem como os isopores para serem pintados, além de outros. Nádia ainda relata já ter tido experiências como voluntária, porém com crianças. Para ela cada lugar cria expectativas diferentes, assim como as vovós que a surpreenderam e mostram o contraponto entre a infância e a velhice.

Artesanato produzido pelas idosas. Foto: Tiago Teixeira

Aparecida Pagliari Colvero, mora no Lar há três anos, por conta de uma cirurgia de ponte de safena e sua filha não teve condições de prestar os devidos cuidados em casa. Aparecida necessitava de muita ajuda. Chegou na instituição sem andar e falar, e foi se recuperando aos poucos. Para a idosa, o Lar é a sua segunda casa e sempre recebe a visita de sua filha. “ Eu me sinto bem, é minha casa também”.

Como o Lar das Vovozinhas, várias outras casas, clínicas e instituições são de extrema importância para essas pessoas. Elas necessitam de atenção nessa fase da vida, quando muitas delas ficam em situação de vulnerabilidade e requerem cuidados com a saúde física e mental.

Dessa forma, considerando que pessoas idosas podem ser atingidas por situações de abandono na família. O descaso não se restringe apenas aos abrigos, mas também pela falta de cuidados no contexto familiar.

Os voluntários e funcionários necessitam ter paciência e amor para doar, pois os idosos precisam de muita atenção na reta final das suas vidas. Com a bagagem adquirida ao longo das suas caminhadas, as emoções ficam afloradas pela percepção de que a morte está próxima. Assim, é preciso que ocorram trocas entre os voluntários e funcionários com os idosos, para proporcionar experiências e aprender com seus conselhos e vivências.

Por Emily Costa, Fernando Cezar, Mariana Tabarelli e Tiago Teixeira
Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Humanitário, ministrada pela professora Rosana Zucolo

A palestra sobre harmonização facial: papada, preenchimento e fios de sustentação, da VI Jornada Interdisciplinar em Saúde, ministrada pelo professor Aroldo Alves Júnior, lotou o salão azul, na Universidade Franciscana, na tarde desta quinta-feira, 23 de agosto.   Especializado em ortopedia facial e professor de tratamentos redutores da papada, Aroldo falou sobre as novidades do mercado de trabalho no segmento da harmonização facial.

Júnior  salientou a importância do contato com o paciente e o conhecimento sobre seu histórico clínico antes de um procedimento estético. Ele alertou sobre os perigos de realizar estes processos com profissionais desconhecidos, que prometem resultados milagrosos. “Alguns processos inovadores no rosto ainda devem ser melhor estudados, pois não sabemos ao certo como o corpo vai reagir no futuro, devido a perda de massa corpórea e ao envelhecimento da pele”.

O palestrante também falou sobre a redução da gordura localizada no rosto, conhecida como “papada”. Este procedimento é muito procurado pelos Ele abordou as novas técnicas e materiais para melhores resultados nos procedimentos estéticos. Júnior, apresentou, durante a palestra alguns casos já realizados em sua clínica e deu dicas aos estudantes de produtos e tratamentos para cada caso específico.

“É importante entender as causas do procedimento, conhecer o paciente e então escolher o melhor tipo de tratamento a ser realizado, e ainda, conhecer as contra indicações”, lembrou o professor. 

Os fatores que contribuem para retardar o envelhecimento foram destaque na palestra da pesquisadora em farmacologia, Quéli Lenz, na quarta-feira,22, durante a VI Jornada Interdisciplinar de Saúde que acontece na UFN. A palestra sobre modulação hormonal e o processo de envelhecimento  apresentou gráficos da pirâmide populacional brasileira, que mostram a diminuição da base e a ampliação da parte superior. Segundo Lenz, esses dados demonstram a queda da taxa de natalidade e o aumento da qualidade e da expectativa de vida da população.

A previsão é de que em 2040 a pirâmide brasileira esteja igual a do Japão e outros países desenvolvidos. “De uma forma ou de outra, todos vamos envelhecer. Agora, a pergunta é: por que demoramos mais tempo para envelhecer? Duas coisas são marcantes, a medicina avançada e o aumento da expectativa de vida”, conclui Lenz.

Pesquisadora Quéli Lens falou sobre o envelhecimento da população. Foto: Thais Trindade