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Escritora

A outra história de Maria Bonita

Na noite de quinta-feira, 9 de maio, quem esteve no palco do Livro Livre foi a escritora e jornalista Adriana Negreiros. A seu lado, a também jornalista do Diário de Santa Maria, Pâmela Matge. Adriana é 

A lucidez de Eliane Brum

Na noite de hoje, 01 de maio, a jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum foi ouvida por uma plateia atenta que lotou o anfiteatro do hotel Itaimbé. A vinda da jornalista foi planejada para integrar a programação

Pam Gonçalves: de Booktuber a escritora

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=Vf85CytVsVA” title=”25%20FATOS%20SOBRE%20MIM%20|%20Pam%20Gonçalves”] A catarinense Pamela Gonçalves, booktuber e publicitária, é a criadora do canal do You Tube, Pam Gonçalves, que já tem mais de 170 mil inscritos. Na terça-feira, 3 de maio, ela falou sobre

“Só o conhecimento nos leva a quebrar paradigmas”, diz Adriana. Foto: Beatriz Bessow/LABFEM

Na noite de quinta-feira, 9 de maio, quem esteve no palco do Livro Livre foi a escritora e jornalista Adriana Negreiros. A seu lado, a também jornalista do Diário de Santa Maria, Pâmela Matge. Adriana é  paulista de nascença, mas criada no Ceará. A autora do livro Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço,  conta a saga de Maria Gomes de Oliveira, a cangaceira mais famosa da história nordestina.

Adriana explica que cresceu ouvindo sua avó contar histórias sobre os cangaceiros e sobre como vivia com medo, porque eles eram grupos armados que cometiam crimes e violências por onde passavam. O mais conhecido  foi Lampião, marido de Maria Bonita, de quem todos contam as histórias, porém, a escritora revela que surgiu a curiosidade pessoal, histórica e jornalística de como seria o ponto de vista de Maria Bonita, o que logo se tornou sua missão feminista.

A história diz que Maria era casada com um mulherengo impotente que sempre a traía, e que quando ela reclamava disso, ele a agredia. O que a tornava uma mulher transgressora de quem todos falavam, era o fato de que Maria Bonita também traia o marido e falava para quem quisesse ouvir que preferia estar com um homem valentão. Foi quando Lampião chegou na cidade de Maria e foi recebido pelo pai dela. Logo parou nos ouvidos de Lampião que ela queria ir embora com os cangaceiros. Lampião concedeu seu desejo. Segundo a jornalista, Maria Bonita queria fugir da situação ruim em que estava e o único jeito que encontrou foi o de se colocar em outra.

Já no cangaço, Adriana afirma que os homens eram os mais vaidosos. Eles exibiam seus chapéus e bolsas enfeitados do mesmo jeito que exibiam suas mulheres. Quanto mais enfeitada a mulher, mais poderoso era o homem. Como a água era escassa, era guardada para a higiene feminina. Já os homens, depois de estuprarem diversas mulheres e contrair doenças, não se lavavam tanto, pois as doenças eram um símbolo de virilidade.

A escritora também comenta que apesar de Maria Bonita ser vista como feminista hoje em dia, no cangaço não era bem assim. Ela era uma transgressora em relação ao comportamento das mulheres da época, mas não tinha a união com outras mulheres que o feminismo defende. Maria Bonita, diferente das outras que haviam sido sequestradas ainda quando crianças, queria estar lá.

Havia uma regra dentro do cangaço de que se a mulher traísse, ela deveria morrer, independente de se ela fosse estuprada ou não. Adriana conta que a mulher do cangaço mais feia era chamada de Cristina, e que certo dia alguém suspeitou que ela estivesse tendo um caso com o cantor e animador do grupo. Quando perguntada sobre isso, Maria Bonita disse que Cristina devia morrer, mesmo sem provas. Adriana explica que não é plausível que exijam dessas mulheres um ato feminista, pois elas eram vistas como objetos ou acessórios pelos homens, e como criminosas pelos policiais. Elas não sabiam o que era se unir contra alguma coisa.

A jornalista acrescenta sobre a falta de informações sobre as mulheres no cangaço, e que a principal informação encontrada era sobre as pernas de Maria Bonita. Mesmo nas crônicas dos cangaceiros ou pela imprensa da época, as mulheres eram narradas como se estivessem lá atrapalhando o tempo inteiro. As fontes só falavam da história dos homens.

Por fim, Adriana diz que no livro pode escrever como a nordestina que é. Também acredita que entre Lampião e Maria Bonita havia um pouco de amor, pois nos registros fotográficos ele sempre a colocava em destaque, coisa jamais feita por  cangaceiros que enxergavam a mulher como  enfeite. E, apesar de todo o massacre cometido por ele, não há registros de violência em relação a ela.

A escritora afirma que a pesquisa e produção do livro a transformou. Foi entendendo a vivência destas mulheres e estudando sobre filosofia que Adriana pôde afirmar que “feminismo é uma causa urgente e necessária”. Ela, que vem de uma época em que não se falava em feminismo, hoje fica feliz em poder dizer com orgulho que é feminista, e diz acreditar que se Maria Bonita vivesse hoje, possivelmente o seria também.

Veja mais no site da Feira do Livro.

Eliane Brum durante o Livro Livre. Fotos: Thayane Rodrigues/LABFEM

Na noite de hoje, 01 de maio, a jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum foi ouvida por uma plateia atenta que lotou o anfiteatro do hotel Itaimbé. A vinda da jornalista foi planejada para integrar a programação do Livro Livre durante a 46ªFeira do Livro, e agendada inicialmente para o Theatro Treze de Maio. Os ingressos esgotaram no primeiro dia, levando à troca de local capaz de receber um público maior.

Eliane Brum se mostrou à vontade e agradeceu por estar em Santa Maria, segundo ela, uma intenção antiga sempre interrompida por uma agenda de compromissos múltiplos.  Iniciou com o cumprimento que revela o seu lugar de fala: – Mariele presente! Sob aplausos, ressaltou a impunidade que marca o Brasil da atualidade e a necessidade de não esmorecer na luta pela justiça.

Durante o bate-papo mediado pela jornalista Liciane Brun, Eliane Brum se diz uma contadora de histórias e que, ao contrário do que afirma a suposta objetividade jornalística, escreve “com o fígado”,  porque o texto “precisa passar pelas vísceras”.  Ao ser questionada sobre como se treina o olhar jornalístico, Eliane lembrou a famosa frase “notícia é quando o homem morde o cachorro”, de John B. Bogart, revelando que se interessa muito mais pelo cachorro que morde o homem, porque, segundo ela, “não existem vidas comuns, existem olhos domesticados, e, infelizmente, esses olhos são os nossos”.

A escritora relatou que passou 20 anos se preparando para sair das redações, porque queria ter um novo tipo de vida e conhecer seu próprio tempo. Trabalhou durante dois anos com a morte, buscando entendê-la, e passou 115 dias convivendo com uma mulher que tinha um câncer incurável. A frase dita pela mulher que fez Eliane perceber a importância do tempo foi: “quando eu tive tempo, eu descobri que meu tempo tinha acabado”.  Segundo a jornalista, foi nesse momento em que começou a pensar melhor sobre seu tempo, deixou coisas para trás e escreveu seu primeiro romance.

Sem meias palavras, a jornalista e escritora falou de como suas reportagens se voltam para os temas que ela considera fundamentais na vida. Disse nem sempre saber o rumo que as histórias tomarão, mas o fato da escuta atenta determina o lugar aonde chegar. Com a  lucidez que caracteriza os seus textos,  Eliane falou dos processos que a levaram a escrever como condição para existir.  Para ela, escrever é “incendiar com as palavras. Escrever para não matar e para não ser morta”. A jornalista falou da tristeza, da morte como condição da vida e processo de aprendizagem, da desesperança como lugar do existir, da necessidade de resistir e persistir.

“Precisamos voltar a encarnar as palavras”, diz Eliane Brum

Ambientalista, alertou para a responsabilidade coletiva diante das mudanças climáticas.  Ressaltou que não apenas a vida planetária está sendo destruída, mas que a herança deixada às gerações vindouras não será mais a de um planeta difícil, e sim a de um planeta hostil.

Ao se dizer nômade, falou também da sua opção por se instalar em Altamira, no Pará. Para ela, a Amazônia é o centro do mundo e a preservação da floresta é fundamental.

Há muitos anos Eliane Brum vem realizando reportagens sobre as populações ribeirinhas e indígenas assoladas pela exploração desenfreada e pelas fraudes dos grileiros naquela região.  A jornalista narrou o drama de pessoas e famílias que foram sendo alijadas de suas próprias histórias de vida  por grilagem ou pela construção de obras como a da barragem de Belo Monte. Há de lembrar que Eliane Brum sempre fez duras críticas aos governos petistas por ignorarem as realidades locais quando da construção das grandes obras. Hoje, ressaltando que as terras indígenas e ribeirinhas são públicas e asseguradas pela constituição federal –  e onde os moradores tem usufruto e não o direito de posse sobre elas -, a jornalista criticou o governo Bolsonaro pela perversidade com que vem deturpando o sentido das coisas no Brasil.  Ao ser questionada sobre o esvaziamento da palavra no Brasil, ressaltou que a criação do comum começa pela linguagem e o que o atual governo tenta desconstruir é justamente o sentido das palavras que asseguram a concretude do que é comum e público.

Nessa direção, ao referir o seu texto no jornal El País sobre o balanço dos cem dias de Bolsonaro como presidente, Eliane Brum voltou a criticar o novo governo. Segundo ela, se trata de um governo que faz oposição a si mesmo como estratégia de se manter no poder, sequestra o debate nacional, transformando o país todo em refém, e estimula a matança dos mais frágeis. Para ela, isso é a perversão.

Afirmando a paralisia que caracteriza a todos nesse momento do Brasil, e o esvaziamento das instituições que deveriam assegurar a democracia, ela defende que a resistência está na reinvenção do cotidiano, na capacidade de rir, de se reunir, de imaginar o futuro, porque somente a retomada da política é capaz de mudar o país.

Ela conta que as pessoas dizem que ela dá esperança ao povo. “A esperança é super valorizada, é um luxo que a gente não tem”, afirma. Os indígenas que conheceram o fim do mundo deles, ensinaram Eliane que a maior forma de resistência é a alegria, que é importante rir nem que seja por desaforo. “Eles nos destroem nas pequenas coisas, temos que lutar sem deixar nos arrancarem a alegria”, completa ela.

“Um espelho da alma brasileira”, como já foi chamada pelo jornal El País onde é colunista, Eliane fala que sempre buscou escutar as pessoas e duvidar de si mesma, só fazendo uma coluna se ninguém tivesse dito aquilo ou, pelo menos, do mesmo jeito que ela. Depois de 11 anos trabalhando no jornal Zero Hora e outros 10 na revista Época, optou por um projeto independente. Mora entre Altamira e São Paulo, faz palestras, segue fazendo reportagens e prioriza o que considera essencial – o próprio tempo.

Os livros de Eliane Brum estavam disponíveis para aquisição e autógrafos: A menina quebrada (2013),  Meus desacontecimentos, Uma duas (2011), A vida que ninguém vê (2006), O olho da rua (2ª edição 2017).

Colaborou Bibiana Rigão

 

 

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A catarinense Pamela Gonçalves, booktuber e publicitária, é a criadora do canal do You Tube, Pam Gonçalves, que já tem mais de 170 mil inscritos. Na terça-feira, 3 de maio, ela falou sobre seus primeiros lançamentos e a repercussão do seu sucesso para o público reunido em frente ao palco do Livro Livre da Feira do Livro de Santa Maria.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=wvoIw8t9wz8″ title=”TAG:%20FACULDADE%20(Publicidade%20e%20Propaganda)”]

Formada em Publicidade e Propaganda na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e pós-graduanda em Branding e Criação Publicitária, Pamela começou o blog em 2009 com o intuito de fazer resenhas e comentários sobre livros. Com receio  do julgamento do público, no começo ela não divulgava o blog para quem a conhecia. Em 2010, Pam começou a gravar vídeos para o Garota It e os hospedava no You Tube. Os acessos passaram a ser mais numerosos nesta plataforma do que no próprio blog, pois o site de compartilhamento de mídias passou a ter mais visibilidade nesta época.

Em 2012, veio o canal Pam Gonçalves e, em 2014, acabou desistindo do blog. Em 2016, a booktuber é influência para muitas pessoas, mas garante: “morro de medo de falar uma besteira e todo mundo me seguir, cuido muito o que dizer”. A partir da Bienal do Livro de São Paulo, em 2014, Pamela percebeu que exercia um certo poder na opinião dos jovens, quando foi surpreendida por declarações de fãs, seguindo suas dicas de leitura e até para a escolha da profissão. Em seu canal, ela faz tudo sozinha, grava e edita. Também possui um cronograma com assuntos, que procura seguir à risca.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=SDVF0WLLrig” title=”5%20LIVROS%20PARA%20CHORAR%20LITROS”]

Entre os vídeos que mais gosta de fazer, estão as listas de indicações de tipos de livros, filmes e séries, cada um deles possui em média 150 mil visualizações, mas são os que menos grava por requerer mais tempo que os outros.  Sempre existem críticas, mas, no começo, ela notava mais. “As pessoas falavam que livros pra jovens não são literatura, mas, na verdade, são e tem coisas boas. As críticas eram mais no começo, era bem mais doloroso. Eu queria que as pessoas gostassem. Sofri muito no começo, mas nada que me fez desistir” – desabafa a youtuber. O entusiasmo de Pamela não a deixou desistir do canal. No começo, respondia às críticas; hoje, se é construtiva e relevante, ela absorve e aprende. “Mas tem coisas que eu apago ou ignoro e nem dou corda. Às vezes é mais pra chamar atenção. Ignoro gente ignorante” comenta Pamela.

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Vida de Booktuber

Algumas editoras fazem parcerias, enviando livros para booktubers e webcelebridades para divulgação. Mas, para Pam, isso se tornou um problema porque ler por obrigação lembrava os traumas do ensino médio, em que havia as leituras impostas. Por isso, a ideia não deu certo. Mas ela deixa sua caixa postal aberta para que as editoras – ou quem quiser – mandem livros ou sugestões de leitura, e assim permanece a par das novidades. Sobre os gêneros de livros, a booktuber já teve sua fase de fantasia e livros mais adolescentes, mas hoje é eclética. Gosta bastante do gênero jovem-adulto, que aborda o mistério, a aventura e também o romance.

Pamela luta contra o preconceito em relação a qualquer gênero e reforça a importância de autores de literatura jovem-adulta, como Scott Westerfeld, Sarah Dessin e Jennifer Brown, que seguem essa linha de literatura e têm um conteúdo que critica a sociedade e a sua maneira de pensar. Além de adorar as renomadas JK Rowling e Suzanne Collins, que inclusive criou a personagem Katniss, da saga Jogos Vorazes, Pam a usou como exemplo para a construção de sua monografia, com o título A representação do feminino no filme Jogos Vorazes.

Vida de escritora

Fazia um tempo que as editoras incentivavam Pamela a escrever seu primeiro livro, mas ela esperou o momento certo. “Começar a escrever é tranquilo, mas terminar que é difícil” conta a youtuber. Com seu estilo sutil e humorado, ela deseja que seus livros não sejam apenas um entretenimento e, sim, que colaborem para o desenvolvimento dos jovens. Seu primeiro lançamento será um livro de contos inspirados em romances clássicos, junto a outros três autores, Bel Rodrigues, Pedro Pereira e Hugo Francioni, com o título Amor no tempo dos #likes, que tem lançamento pela editora Galera Record.

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=Hmk41sHaR_U” title=”EU%20VOU%20PUBLICAR%20UM%20LIVRO%20″]

Além disso, ela escreveu um livro solo ainda no gênero que mais gosta, juvenil-adulto. “Eu queria falar sobre a minha experiência na faculdade e como esses foram os melhores anos da minha vida” — conta Pam. O que ela notava quando lia livros sobre a entrada na faculdade era sempre a experiência dos estadunidenses. “Quero muito escrever sobre como é a faculdade aqui no Brasil também, pois é muito legal.” Escrever o livro sozinha foi mais introspectivo que o de contos, foi mais difícil por ser um texto maior. Mas a experiência de ter feito o Amor no tempo dos #likes ajudou para que aprimorasse sua escrita. O lançamento ainda não foi agendado, mas Pamela acredita que será na próxima Bienal, no próximo semestre do ano.

Mesmo com os lançamentos literários, Pamela tem o canal como grande parte de sua vida profissional. A publicitária usa a profissão diariamente com a construção de uma marca sólida e divulgação em várias mídias. Para pensar e produzir os vídeos para o canal “eu penso em mim e também no que o público gosta, tento casar o que eu gosto e o que o público pede. A moda não é algo que eu sigo sempre”, define. Pamela Gonçcalves foi uma das primeiras youtubers a falar sobre livros e nunca parou, está no ramo há 7 anos.

 

Booktubers Brasileiros

O termo “booktuber” denomina jovens que comentam e resenham sobre livros no youtube. Surgiu em 2011 com o australiano Bumblesby, que possui também um canal na plataforma.

Agora, os amantes da leitura, que procuravam clubes e reuniões para discutir sobre as histórias, não precisam nem sair de casa, basta se conectar nos canais e se aprofundar no assunto.

Confira alguns canais brasileiros de booktubers:

Perdido nos Livros – Eduardo Cilto – mais de 218 mil inscritos

Tiny Little Things – Tatiana Feltrin –  mais de 177 mil inscritos

Pam Gonçalves  – Pâmela Gonçalves – mais 174 mil inscritos

Minha Estante  – Bruno Miranda – mais de 142 mil inscritos

Serendipity  – Melina Souza – mais de 120 mil inscritos

 

Fernanda Pedroso e Leonardo Bedin

Para a disciplina Jornalismo Especializado I