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Haiti

Haitiano presta vestibular da Unifra

O haitiano Gaphene Ilasma prestou vestibular para o curso de filosofia da UNIFRA. Ele mora no Brasil há 1 ano e 6 meses e acredita não ter tido muitas dificuldades na realização da prova, mas temia

Em busca de aceitação, oportunidade e qualidade de vida

Geórgia Fröhlich e Fernando Cezar Eles têm no Brasil a esperança de uma vida tranquila e a oportunidade de boas condições. Eles deixam rotina, costumes, familiares e amigos e trazem consigo muita bagagem de cultura e

Exército convida universitários ao preparo para missão no Haiti

O Exército Brasileiro realiza em Santa Maria a preparação final dos 1.200 militares que vão compor o próximo contingente na missão de paz no Haiti. Os estudantes do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) podem contribuir para esse

Gaphene Ilasma fez vestibular para filosofia.Foto: Thayane Rodrigues/LABFEM

O haitiano Gaphene Ilasma prestou vestibular para o curso de filosofia da UNIFRA. Ele mora no Brasil há 1 ano e 6 meses e acredita não ter tido muitas dificuldades na realização da prova, mas temia a redação devido à diferença de idioma.

Lá, o ingresso nas universidades acontece de modo um pouco diferente. Em algumas universidades particulares o ingresso acontece a partir da nota no ensino fundamental e médio, e a pessoa precisa ter condições financeiras para se manter no curso. Já nas universidades públicas acontece por meio de concurso vestibular.

Gaphene estudou um ano de filosofia em seu país de origem, ao mesmo tempo em que ingressou na vida religiosa. Mas foi a partir de um convênio  entre Brasil e Haiti que ele veio para o país estudar filosofia e aliar este conhecimento ao  conhecimento religioso. Morou em Manaus e, hoje, reside em Santa Maria onde trabalha na biblioteca do Centro Universitário Franciscano, que também participa do mesmo convênio.

O estrangeiro relata que o povo brasileiro é muito acolhedor e que ele tinha certo receio em relação ao contato, pois poderia ser mal interpretado. Para o futuro, ele almeja retornar ao Haiti, mas não tem pretensões enquanto ao trabalho lá, mas pretende focar no trabalho em pastorais.

Por Lara Cornelio

13407633_1117227075006885_311724104_nGeórgia Fröhlich e Fernando Cezar

Eles têm no Brasil a esperança de uma vida tranquila e a oportunidade de boas condições. Eles deixam rotina, costumes, familiares e amigos e trazem consigo muita bagagem de cultura e força de vontade. Buscam um lugar para sobreviver, um lugar para colaborar e ser feliz. Buscam um lugar de crescimento, que possam ser respeitados e acolhidos.

De acordo com o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil possui atualmente cerca de 9 mil refugiados reconhecidos, de 79 nacionalidades distintas. Os principais grupos são compostos por nacionais da Síria (2.298), Angola (1.420), Colômbia (1.100), República Democrática do Congo (968) e Palestina (376).

A incerteza do futuro e o medo com a realidade dos seus países fez com que o mundo atual vivesse em um cenário de imigração muito peculiar. Alguns são movidos pela necessidade de escapar da miséria; outros estão fugindo da violência e perseguição. Com jornadas perigosas estima-se, segundo a Anistia Internacional, que pelo menos 23 mil pessoas tenham perdido suas vidas tentando chegar à Europa desde 2000 entre crianças, adultos e idosos.

Além dos que cessam a sua peregrinação quando as fronteiras fecham-se na sua frente, há os que chegam ao seu destino, mas contam com a violação de seus direitos descobrindo que a segurança não está ao seu alcance.

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O haitiano Frantzy Fanfan atua na Biblioteca do Centro Universitário Franciscano (Foto: Fernando Cezar)

O haitiano Frantzy Fanfan, 30 anos, está em Santa Maria desde 2014 e planeja ficar até dezembro de 2017 para concluir seus estudos. Membro da congregação dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul, buscou no Brasil a oportunidade de realizar a faculdade de Filosofia em seu pós-noviciado – tempo dedicado à renovação dos votos e ao estudo de filosofia e teologia.

Fanfan trabalha na Biblioteca do Centro Universitário Franciscano (Unifra) no período da manhã e estuda na instituição à tarde. Fluente em francês e créole (línguas oficiais de seu país), além de inglês e português, conta que pretende utilizar os aprendizados para ajudar a população haitiana.

“O povo daqui tem a capacidade de ser muito acolhedor. Os brasileiros que eu conheci vivem em uma realidade de hospitalidade total. Não é uma hospitalidade obrigada por leis. A gente percebe que o povo acolhe com o coração, tem sensibilidade”, diz o haitiano.

Frantzy mora em uma casa de formação de freis de Santa Maria e, apesar das dificuldades com a nova cultura, está muito feliz com os amigos, os estudos e o trabalho. “A crise econômica é mundial. O Brasil está com problemas, mas existem muitas coisas boas aqui”, salienta o frei que planeja, no seu retorno, ajudar os irmãos haitianos, seja no hospital ou na escola para poder dar apoio a Porto Príncipe – cidade arrasada pelo terremoto em 2010.

Com os olhos cheios de esperança e dedicação completa a missão de frei, Frantzy Fanfan tem uma rotina intensa, conciliando o trabalho, o estágio, a faculdade e os compromissos como pós-noviciado. Planeja voltar ao Brasil para visitar e afirma que nunca vai esquecer os aprendizados que teve aqui. “No início foi um pouco complicada a adaptação com a língua e a cultura, mas para quem tem vontade, nada é difícil. Se a gente correr atrás tudo fica razoável, nós podemos tudo”, comenta.

Uma lição de força de vontade e esperança. Uma cultura diferente que tem muito a acrescentar aos brasileiros, mas, as boas histórias que Frantzy Fanfan vai levar do Brasil não acontecem em todos os casos de imigração. Racismo e xenofobia  – aversão a pessoas ou coisas estrangeiras – são atos corriqueiros no país, que atingem os imigrantes diariamente.

“A violência contra imigrante não é um fato isolado. Precisamos compreender toda a dinâmica de extrema vulnerabilidade e fragilidade do imigrante nesse processo e saber que a migração é um direito de todos, não é um delito”, afirma a professora Giuliana Redin, da Universidade Federal de Santa Maria.

  

Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional

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Migraidh auxilia refugiados (Foto: Georgia Fröhlich)

O Migraidh é um grupo de pesquisa e extensão, um projeto institucional que envolve professores, alunos e voluntários. A associação surgiu em 2013 por iniciativa da professora do Departamento de Direito da UFSM, Giuliana Redin. O grupo busca, através de pesquisas, compreender a realidade migratória para prestar assessoria aos refugiados. “Nós temos uma responsabilidade com o que pesquisamos. Nós estamos aqui em uma luta por direitos. Estamos aqui por uma ideia de coletividade e por isso nos sentimos tão bem em colaborar”, diz Luís Augusto Minchola, acadêmico da UFSM.

Coordenado pela professora Giuliana, o Migraidh apoia no processo de documentação e age diretamente com a adaptação dos imigrantes – em especial os senegaleses. Os alunos lideram os encontros semanais, que auxiliam no aprendizado da língua portuguesa, facilitando o processo de comunicação dos refugiados. “As aulas de português são uma resposta minha para a sociedade. Eu sinto que estou devolvendo o que recebo por estudar em uma universidade pública”, destaca Alessandra de Almeida, acadêmica da UFSM.

Souberou Diene é um dos senegaleses que participam das aulas semanais no Migraidh. Em busca de vida melhor, ele deixou família e amigos para conseguir ajudá-los com o dinheiro que recebe no trabalho aqui. “Eu deixei a minha vida lá no Senegal por uma vida melhor. Estou conseguindo ajudar. Todos os meses mando dinheiro para o meu pai, a minha mãe, a minha esposa e a minha filha. Ser imigrante é muito difícil, porque ficar longe da família é muito ruim”, diz Souberou.

O senegalês está em Santa Maria há pouco mais de um ano e pretende voltar para o Senegal em 2017. Nesse período Souberou trabalhou como servente de obra e mora junto com outros 5 senegaleses que conheceu aqui. Souberou diz que a ajuda do Migraidh é fundamental, e foi assim desde a chegada no Brasil. “Eu gosto das pessoas de Santa Maria, muitas delas ajudam. As pessoas do Migraidh entendem as dificuldades que a gente passa.”

Entre sorrisos simpáticos e fluência na língua portuguesa, Souberou sente-se feliz em Santa Maria. “Vou levar daqui conhecimento. Quando eu voltar para o Senegal tenho que fazer algo muito importante para o meu país com tudo que aprendi aqui”, comenta.

Os envolvidos com o Migraidh sabem que ainda há muito a ser feito, mas ao verem a diferença que fazem na vida de cada senegalês sentem-se úteis e no caminho certo. “Santa Maria deveria comemorar a chegada de pessoas de outras partes do mundo, elas tem muito a contribuir com a nossa formação cultural e educacional”, declara Amanda da Cruz, acadêmica da UFSM.

“É muito tocante quando um imigrante nos mostra fotos de familiares que ficaram lá. Como a foto da filha de um deles que já está fazendo um ano e ele ainda não a conheceu”, relata Giuliana, que lamenta a falta de programas voltados à questão migratória em Santa Maria. “A ideia é que sejam implementadas questões institucionais no município e que essas pessoas tenham a oportunidade de estudar e viver em boas condições”, comenta.

“A migração não é um problema de segurança e não pode ser considerada como um”, afirma a professora Giuliana.

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), todos os imigrantes devem usufruir, pelo menos, dos mesmos direitos e da mesma assistência básica que qualquer outro estrangeiro residindo legalmente no país. Incluindo assim, direitos fundamentais que são inerentes a todos os indivíduos. Os refugiados gozam dos direitos civis básicos, incluindo a liberdade de pensamento, a liberdade de deslocamento e a não sujeição à tortura e a tratamentos degradantes.

De igual modo, os direitos econômicos e sociais que se aplicam aos refugiados são os mesmos que se aplicam a outros indivíduos. Todos devem ter acesso à assistência médica. Os adultos devem ter direito a trabalhar e nenhuma criança deve ser privada de escolaridade.

Com direitos assegurados em qualquer parte do mundo os imigrantes refugiados teriam condições de recomeçar suas histórias, com qualidade de vida e dignidade. Poderiam assim, juntar-se novamente a suas famílias, seja retornando ao seu país de origem ou os agregando à nova cultura. Uma troca de experiências e vivências poderia ser responsável pelo crescimento de ambas as partes e fazer da ‘multiculturalidadeum impulso para o desenvolvimento social e econômico.

Contudo, casos como o de Alan Kurdi, menino refugiado sírio de três anos cujo afogamento na Turquia virou símbolo da crise migratória continuam acontecendo. A tentativa de chegar a outro país para escapar de guerras, perseguições e pobreza é um caminho árduo, desafiador e incerto. Famílias são separadas, torturadas, ignoradas. A busca pela vida segue seus dias com olhos que veem esperança, com entusiasmo que procura oportunidade e com sonhos de quem quer apenas cumprir seus deveres e garantir seus direitos.

A aceitação dos brasileiros cai quando o assunto é acolher refugiados na própria casa

Segundo pesquisa realizada pela ONG Anistia Internacional, a receptividade do público a refugiados foi medida em 27 países, e o Brasil ficou em 18º lugar no ranking elaborado pela consultoria GlobeScan.

Gráfico

O chamado Refugees Welcome Index (Índice de Receptividade a Refugiados, em tradução livre) listou os países em uma escala de 0 a 100, onde 0 significa que todos os entrevistados recusariam a entrada de refugiados e 100, a aceitação desses imigrantes no próprio bairro ou casa.

O índice do Brasil foi 49, à frente apenas de Argentina (48), África do Sul (44), Nigéria (41), Turquia (39), Quênia (38), Polônia (36), Tailândia (33), Indonésia (32) e Rússia (18).

Os países mais receptivos ao acolhimento de refugiados entre os 27 pesquisados foram China (índice 85), Alemanha (84) e Reino Unido (83).

Globalmente, uma pessoa em cada 10 abrigaria refugiados na própria casa. O número chega a 46% na China, 29% no Reino Unido e 20% na Grécia, mas cai para 1% na Rússia e na Indonésia. 17% do total de entrevistados disseram que recusaria a entrada de refugiados em seus países.

O Exército Brasileiro realiza em Santa Maria a preparação final dos 1.200 militares que vão compor o próximo contingente na missão de paz no Haiti. Os estudantes do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) podem contribuir para esse esforço participando dos exercícios que vão encerrar os treinamentos da tropa: o Exercício Básico de Operações de Paz (EBOP) e o Exercício Avançado de Operações de Paz (EAOP), entre 20 e 30 de outubro.

Os exercícios serão promovidos pelo Batalhão de Infantaria de Força de Paz do 21º Contingente Brasileiro (BRABAT 21) e pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB). O EBOP e o EAOP vão simular para os soldados brasileiros situações que eles devem vivenciar no Haiti. Os estudantes vão desempenhar papéis como autoridades, diplomatas, governadores, presidentes, jornalistas, vítimas e participantes de protestos, entre outras funções.

Além da oportunidade de contribuir para a missão de levar a paz ao Haiti, os estudantes receberão certificado de 20 horas de atividade extracurricular. É interessante ter conhecimento de uma segunda língua (francês, inglês e espanhol), mas todos estão convidados a participar. Além disso, o Exército dará apoio de transporte e alimentação aos estudantes, de acordo com a necessidade das atividades.

Inscrições pelo e-mail g10brabat21@gmail.com  com o assunto “Inscrição de estudante”.

No corpo do e-mail, enviar as seguintes informações: nome, identidade, curso, semestre, disponibilidade para participar do EBOP em 20 a 24 de outubro ( sim ou não); disponibilidade para participar do EAOP de 27 a 30 de outubro ( sim ou não), turno com maior disponibilidade ( manhã e/ou tarde), fala outro idioma? Qual?, telefone e email.

Mais informações:

http://www.minustah.org/

http://www.ccopab.eb.mil.br/index.php/pt/ensino/cursos-e-estagios/exercicio-avancado-de-operacoes-de-paz

Por Caroline Cechin, jornalista, Assessoria de Comunicação da Unifra