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Vaza Jato

Lava Jato: vazamentos podem ter envolvimento de ex-procurador

Há uma semana, publiquei aqui uma hipótese improvável. Os vazamentos da Lava Jato, no site The Intercept Brasil, poderiam ser obra de alguém que esteve presente nas conversas ou teve acesso a elas, mas estava insatisfeito. Agora, um grupo

A Organização internacional Repórteres sem Fronteiras(RSF)  divulgou o Chamado, publicado hoje, quarta-feira, 31, e assinado pelas principais organizações internacionais e brasileiras de defesa da liberdade de expressão. O documento dá apoio à redação do site de jornalismo investigativo The Intercept Brasil que vem sendo alvo, desde 9 de junho último, do que denominam “uma violenta campanha de intimidação e desestabilização”.

Após o The Intercept  ter publicado uma série de reportagens sobre possíveis irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato, os editores e a redação do site passaram a sofrer ameaças e tentativas de desestabilização. Entre os ataques mais graves e recentes estão as ameaças de prisão contra Glenn Greenwald, fundador e diretor de redação do The Intercept Brasil, proferidas publicamente pelo presidente do país, Jair Bolsonaro, no último sábado, 27 .

A inciativa endossa o movimento da sociedade civil em defesa do trabalho dos jornalistas e da liberdade de imprensa no país. Desde sábado,  após as declarações da presidência da república, acontece uma série de manifestações públicas em diferentes cidades do país, em prol do The Intercept e da democracia.

O chamado também está disponível em inglêsespanhol e francês. Confira a íntegra do Chamado.

31 de julho de 2019

Chamado internacional em defesa da liberdade de imprensa no Brasil em meio aos ataques contra jornalistas do The Intercept

As 26 organizações defensoras da liberdade de imprensa e dos direitos humanos que assinam abaixo repudiam veementemente a onda de ataques e ameaças contra os jornalistas da agência de notícias The Intercept Brasil. Pedimos às autoridades que garantam o estrito respeito da proteção do direito ao sigilo da fonte, assegurado pela Constituição Federal. 

As ameaças e ataques começaram no dia 9 de junho de 2019, após a publicação de uma série de reportagens que apontam aparentes irregularidades ocorridas durante a operação Lava Jato, investigação que revelou um dos maiores escândalos de corrupção na história do país. Na publicação dessas revelações, baseadas em documentos obtidos por uma fonte anônima, o The Intercept Brasil firmou parcerias com diversos grandes veículos da imprensa nacional, como o jornal Folha de São Paulo e a Revista Veja. 

Desde então, os integrantes do The Intercept Brasil, e em particular seu cofundador, Glenn Greenwald, são alvos de inúmeros insultos, denúncias caluniosas e ameaças de morte, alimentados por notícias falsas que têm por objetivo descredibilizar o trabalho jornalístico realizado pela redação. O caso do The Intercept Brasil é simbólico e sintomático das dificuldades encontradas pela imprensa que investiga temas sensíveis no país, onde campanhas de intimidação e perseguição contra jornalistas se tornaram frequentes. 

Nós, que assinamos esse chamado, consideramos que as tentativas de desestabilizar e atingir a credibilidade do The Intercept Brasil e dos veículos parceiros nessas publicações, independente de sua origem, constituem uma grave ameaça para a liberdade de informação. Estas têm por efeito não somente desviar a atenção da opinião pública sobre o conteúdo das revelações, mas reforçam sobretudo o grau de hostilidade do ambiente em que atua a imprensa, em especial os jornalistas investigativos. 

Nós lembramos que o Estado brasileiro tem a obrigação de garantir a proteção dos comunicadores, assim como de investigar as graves ameaças recebidas pelos jornalistas do The Intercept Brasil e por veículos parceiros nessas revelações.

A liberdade de imprensa e de informação são os pilares da democracia, elas transcendem diferenças políticas e devem ser a garantidas e protegidas a todo custo.

Assinam:

Agência Pública de Jornalismo Investigativo
Amnesty International Brazil
Article 19 Brasil
Asociación de la Prensa de Madrid (APM)
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) de São Paulo
Committee to Protect Journalists (CPJ)
Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
Federación de las Asociaciones de Periodistas de España (FAPE)
Freedom House
Freedom of the Press Foundation
Global Editors Network (GEN)
Human Rights Watch
IFEX
Index on Censorship
Instituto Vladimir Herzog
Interamerican Press Association (IAPA/SIP)
International Press Institute
Intervozes
Mediapart
Observatório da Imprensa
PEN International
Reporters sans frontières (RSF)
The Guardian
Witness Brasil

Há uma semana, publiquei aqui uma hipótese improvável. Os vazamentos da Lava Jato, no site The Intercept Brasil, poderiam ser obra de alguém que esteve presente nas conversas ou teve acesso a elas, mas estava insatisfeito.

Agora, um grupo fechado no WhatsApp revela um nome. Diogo Castor de Mattos, paranaense de 32 anos, seria o ex-procurador da República descontente, homem que teria (até onde se sabe) a confiança de Deltan Dallagnol, acesso às importantes informações e aos chats.

Diogo Castor de Mattos ao lado de Deltan Dallagnol em foto publicada no dia 6 de março no Facebook do, então, procurador da Lava Jato. A saída seria por estafa física e mental. Foto: Reprodução/Facebook.

Seus irmãos, os advogados Analice e Rodrigo Castor de Mattos, donos de um escritório, estariam sendo investigados por extorsão, em casos de delações premiadas. Só um dos clientes de seu irmão Rodrigo teria pago 30 milhões de reais à banca. Diogo, por tabela, também estaria sob a lupa.

Em abril, o Conselho Nacional do Ministério Público aceitou pedido do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, para instaurar reclamação disciplinar contra ele. Mas não consta, até agora, algo ilegal que tenha sido comprovado contra o procurador.

“Trata-se de fake news o conteúdo que vem sendo compartilhado por meio de grupos de WhatsApp e publicados em alguns blogs que mencionam a atuação do procurador da República Diogo Castor de Matos como suposto autor de hackeamento de mensagens atribuídas à força-tarefa Lava Jato em Curitiba”, afirma nota da Lava Jato divulgada hoje.

O assunto Diogo Castor Mattos foi tratado de forma isolada em pelo menos nove reportagens e artigos de diversas fontes diferentes, como o ConjurO Estado de S.PauloO GloboFolha de S. PauloDiário do Centro do Mundo, entre outros. Mas o quebra-cabeça tem muitas peças soltas ou que não se encaixam totalmente.

O esquema, que chegaria ao TRF-4, envolveria ainda Maurício Gotardo Gerum, subprocurador e primo dos advogados. Diogo teria pedido afastamento da operação, também em abril deste ano, por “estafa física e mental“. Em nota, a força-tarefa “agradece a Diogo Castor pelos cinco anos em que se dedicou, com excepcional esforço, às investigações da Lava Jato.”

No dia 11 de abril de 2018, no plenário do STF, o ministro Gilmar Mendes chegou a falar em corrupção na Lava Jato, o que fez a força tarefa emitir nota, defendendo o procurador da República.

Ricardo Mendes é jornalista investigativo e consultor internacional. Autorizou que a ACS reproduzisse seus textos publicados originalmente na sua página na plataforma Medium.