Santa Maria, RS (ver mais >>)

Santa Maria, RS, Brazil

A Aids em Santa Maria

Atualmente, no Brasil, 400 mil pessoas são soropositivas ou desenvolveram o vírus HIV. Em Santa Maria, existem quase mil casos. A Aids é uma doença que se manifesta após a infecção no organismo do homem pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, mais conhecido como HIV, sigla que provém do inglês, Human Immunodeficiency Virus.

Para compreender o que é essa doença é necessário entender a diferença estabelecida entre quem é soropositivo e quem tem AIDS. A enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Vânia Durgante, explica que o soropositivo está infectado com HIV e não apresenta nenhum sintoma da enfermidade, ou seja, não tem nenhuma doença oportunista. A pessoa fica doente de AIDS ao apresentar uma série de sinais e sintomas que indicam a deficiência de seu sistema imunológico. Somente o médico pode definir se o paciente está doente ou não.

Dentre as 984 ocorrências registradas pela Vigilância Sanitária de Santa Maria, 623 são de homens, 279 de mulheres e 82 de crianças. A primeira notificação foi de um homem no ano de 1987 e a primeira mulher foi detectada apenas em 1990. Em 1994 foi registrado o primeiro bebê portador de HIV. Ele tinha menos de um ano de idade e foi contaminado através da infecção vertical, ou seja, a AIDS transmitida pela mãe durante a gestação, amamentação ou parto.

Em Santa Maria, quem deseja fazer o exame gratuito de HIV pode procurar o Centro de Tratamento e Assistência (CTA), ele está aberto de segunda a sexta-feira e atende qualquer pessoa. Para fazer o exame não é necessário encaminhamento médico e os interessados podem fazê-lo anonimamente pelo turno da manhã. O teste da sífilis também é oferecido no CTA. Quem tiver qualquer suspeita de outra Doença Sexualmente Transmissível (DST) pode agendar uma consulta com os médicos do Centro nas terças e quartas, a partir das 8h. Pode-se também assistir uma palestra de conscientização sobre o uso do preservativo. “A palestra serve para ajudar os ouvintes a refletir e pensar sobre suas exposições. Tentamos conscientizar as pessoas a fazer uso do preservativo para que elas não se contaminem”, diz a enfermeira responsável pelo Centro, Antônia Silveira Oliveira.

Para fazer o teste, é preciso que a pessoa espere o período de janela imunológica, ou seja, três meses. Esse período corresponde ao tempo que o organismo leva para produzir, depois da infecção, certa quantidade de anticorpos que possam ser detectados pelos exames de sangue específicos. Antônia explica que quando o teste de triagem de uma pessoa dá alguma alteração é preciso colher material do paciente outra vez e fazer um exame confirmatório, realizado apenas em Porto Alegre. O resultado é dado depois de três meses.

Há dois meses, estas pessoas eram encaminhadas ao HUSM, mas agora a Casa Treze de Maio tem condições de cuidar destes pacientes. “Prezamos muito pela qualidade e sigilo profissional, porque ainda existe muito preconceito”, avalia a enfermeira do CTA. O Hospital Universitário continua responsável pelo cuidado com as pessoas de fora de Santa Maria. A socióloga da Vigilância Sanitária, Sônia Viana, diz que alguns moradores de pequenas cidades da região central acabam fazendo o tratamento da AIDS/HIV em Santa Maria por medo do preconceito. Segundo informações do CTA, muitas pessoas que fazem o teste de HIV não vão buscar o resultado e um número representativo desses exames é positivo. “Temos dificuldade de encontrar esses faltosos porque a maioria deles prefere manter o anonimato ao fazer o exame. Para evitar que isso continue acontecendo estamos viabilizando um novo sistema de informatização para colhermos esses dados e irmos atrás desses que evitam buscar o exame”, declarou Antônia.

No HUSM é oferecido um serviço de apoio a quem tem HIV/AIDS com assessoramento técnico de uma enfermeira, uma assistente social, um psicólogo e uma farmacêutica. É um grupo que conta com a participação espontânea de vários portadores da doença, além de amigos e parentes. Nesses encontros, são discutidas questões que envolvem a doença: medicação, alimentação, questões sociais como dificuldade de transporte, desemprego, preconceito e até mesmo questões ligadas à religião.

Este grupo surgiu há quase 20 anos, quando os primeiros casos da doença foram notificados na região. Essas reuniões acontecem todas as terças-feiras, às 14h, na sala de humanização no prédio do HUSM.

As reuniões são importantes para desmistificar a doença, para trocar experiências e também para lidar com o preconceito social. Edson Rodrigues Teixeira tem 34 anos, sabe que é soropositivo há três e diz que esse grupo o ajudou a desmistificar a doença. “A primeira vez que vim aqui fiquei quieto. Primeiro ouvi todo mundo, mas hoje para mim isso não é mais tabu”, afirma Teixeira, lamentando que  o preconceito faz com que muitas pessoas portadoras de HIV/AIDS fiquem com medo de pedir ajuda.

Viver com o vírus
A AIDS representa um recomeço na vida de quem é infectado. O apoio da família e dos amigos é essencial para aqueles que descobrem a condição de portadores da doença. Ao descobrir a doença, há três anos, Luiz Carlos Rodrigues, 49 anos, já estava com toxicoplasmose, uma doença oportunista. “As coisas foram muito rápidas comigo. Talvez tenha sido mais fácil suportar o impacto da doença porque tive o apoio da minha família e amigos. Com eles descobri que a AIDS não é o fim da vida e sim um recomeço”, disse Rodrigues. Ele acredita que faltam políticas públicas para conscientizar o povo a se prevenir. “Essa doença existe há mais de 20 anos e ainda hoje alguns jovens não usam preservativo. Adolescentes aparecem grávidas e infectadas, seus filhos já nascem com a doença e eu me pergunto como essas crianças e adolescentes vivem na sociedade de hoje? Como funciona a cabecinha deles? Eu tive uma infância normal, brincava na chuva, corria pelas ruas, mas e essas crianças? Provavelmente elas não vão ter uma qualidade de vida como eu tive e isso me magoa muito. Quando eu vejo um jovem nessas condições penso: eu tive a idade dele, mas será que ele terá a minha?”, desabafa Rodrigues.

Maria Inês Tasqueto também recebeu o apoio de sua família e amigos. “Todos estão sabendo e ninguém me abandonou. Isso até parece que nos uniu ainda mais, estou muito bem”, falou a dona de casa. Maria Inês, que descobriu que tinha AIDS em fevereiro deste ano, foi infectada pelo seu ex-marido, de quem estava separada há mais de três anos. No início, conta que ficou chocada e nervosa, mas o apoio recebido a ajudou a superar as dificuldades.

O argentino Miguel Ângelo Ávila, de 49 anos, não acreditou quando ouviu de seu médico, em dezembro de 2005, que estava infectado. A notícia desencadeou um processo depressivo com tentativa de suicídio, fazendo com que fosse parar em um albergue. Sua ex-companheira, Inês Ávila, foi buscá-lo e o levou para casa. Ela não se arrepende, mas diz que a situação é difícil. “Ele se queixa de dor nas pernas, tosse porque fuma muito. Alguns parentes meus pensam que ele tem pneumonia ou outra doença oportunista e têm medo de chegar perto”, desabafa Inês. Hoje, Ávila aceita a doença e faz o tratamento. “Foi só descobrir Deus que tudo ficou mais fácil”, destaca o psicólogo.

Além do preconceito, o vírus HIV impõe algumas dificuldades como encontrar emprego. “Hoje, faço bico, pois fiquei um pouco debilitado e não tenho mais o mesmo ritmo para trabalhar como tinha antes”, declara S*, que descobriu que tinha a doença em 1988 e prefere não ser identificado. Quando fez o exame, o entrevistado, já estava esperando o resultado positivo. “A minha doença veio com um kit, eu já estava com sífilis”, revela.

Luciano Fernandei, 33 anos, também esperava o resultado positivo do exame. Ele descobriu que tinha AIDS em 2002 e desde então aderiu ao tratamento. “Estava preparado psicologicamente para receber o exame”, disse Fernandei. Ele conta que preferiu não esconder de ninguém sua condição e que o fato se ser soropositivo não mudou em nada a relação com sua família e amigos. “Quando escondemos nossa condição, estamos no escuro e assim ninguém pode nos ajudar. Se falamos a verdade, nos aceitamos melhor. Dessa forma, aqueles que estão próximos de nós conseguem nos ajudar”, avalia. 

Os estudos sobre a doença avançam. O surgimento de coquetéis de medicamentos foi um progresso significativo, pois eles diminuem os danos causados pelo HIV no organismo e aumentam o tempo de vida da pessoa infectada. A AIDS ainda não tem cura, contudo não é mais sinônimo de morte.

LEIA TAMBÉM

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Adicione o texto do seu título aqui

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.

Atualmente, no Brasil, 400 mil pessoas são soropositivas ou desenvolveram o vírus HIV. Em Santa Maria, existem quase mil casos. A Aids é uma doença que se manifesta após a infecção no organismo do homem pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, mais conhecido como HIV, sigla que provém do inglês, Human Immunodeficiency Virus.

Para compreender o que é essa doença é necessário entender a diferença estabelecida entre quem é soropositivo e quem tem AIDS. A enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), Vânia Durgante, explica que o soropositivo está infectado com HIV e não apresenta nenhum sintoma da enfermidade, ou seja, não tem nenhuma doença oportunista. A pessoa fica doente de AIDS ao apresentar uma série de sinais e sintomas que indicam a deficiência de seu sistema imunológico. Somente o médico pode definir se o paciente está doente ou não.

Dentre as 984 ocorrências registradas pela Vigilância Sanitária de Santa Maria, 623 são de homens, 279 de mulheres e 82 de crianças. A primeira notificação foi de um homem no ano de 1987 e a primeira mulher foi detectada apenas em 1990. Em 1994 foi registrado o primeiro bebê portador de HIV. Ele tinha menos de um ano de idade e foi contaminado através da infecção vertical, ou seja, a AIDS transmitida pela mãe durante a gestação, amamentação ou parto.

Em Santa Maria, quem deseja fazer o exame gratuito de HIV pode procurar o Centro de Tratamento e Assistência (CTA), ele está aberto de segunda a sexta-feira e atende qualquer pessoa. Para fazer o exame não é necessário encaminhamento médico e os interessados podem fazê-lo anonimamente pelo turno da manhã. O teste da sífilis também é oferecido no CTA. Quem tiver qualquer suspeita de outra Doença Sexualmente Transmissível (DST) pode agendar uma consulta com os médicos do Centro nas terças e quartas, a partir das 8h. Pode-se também assistir uma palestra de conscientização sobre o uso do preservativo. “A palestra serve para ajudar os ouvintes a refletir e pensar sobre suas exposições. Tentamos conscientizar as pessoas a fazer uso do preservativo para que elas não se contaminem”, diz a enfermeira responsável pelo Centro, Antônia Silveira Oliveira.

Para fazer o teste, é preciso que a pessoa espere o período de janela imunológica, ou seja, três meses. Esse período corresponde ao tempo que o organismo leva para produzir, depois da infecção, certa quantidade de anticorpos que possam ser detectados pelos exames de sangue específicos. Antônia explica que quando o teste de triagem de uma pessoa dá alguma alteração é preciso colher material do paciente outra vez e fazer um exame confirmatório, realizado apenas em Porto Alegre. O resultado é dado depois de três meses.

Há dois meses, estas pessoas eram encaminhadas ao HUSM, mas agora a Casa Treze de Maio tem condições de cuidar destes pacientes. “Prezamos muito pela qualidade e sigilo profissional, porque ainda existe muito preconceito”, avalia a enfermeira do CTA. O Hospital Universitário continua responsável pelo cuidado com as pessoas de fora de Santa Maria. A socióloga da Vigilância Sanitária, Sônia Viana, diz que alguns moradores de pequenas cidades da região central acabam fazendo o tratamento da AIDS/HIV em Santa Maria por medo do preconceito. Segundo informações do CTA, muitas pessoas que fazem o teste de HIV não vão buscar o resultado e um número representativo desses exames é positivo. “Temos dificuldade de encontrar esses faltosos porque a maioria deles prefere manter o anonimato ao fazer o exame. Para evitar que isso continue acontecendo estamos viabilizando um novo sistema de informatização para colhermos esses dados e irmos atrás desses que evitam buscar o exame”, declarou Antônia.

No HUSM é oferecido um serviço de apoio a quem tem HIV/AIDS com assessoramento técnico de uma enfermeira, uma assistente social, um psicólogo e uma farmacêutica. É um grupo que conta com a participação espontânea de vários portadores da doença, além de amigos e parentes. Nesses encontros, são discutidas questões que envolvem a doença: medicação, alimentação, questões sociais como dificuldade de transporte, desemprego, preconceito e até mesmo questões ligadas à religião.

Este grupo surgiu há quase 20 anos, quando os primeiros casos da doença foram notificados na região. Essas reuniões acontecem todas as terças-feiras, às 14h, na sala de humanização no prédio do HUSM.

As reuniões são importantes para desmistificar a doença, para trocar experiências e também para lidar com o preconceito social. Edson Rodrigues Teixeira tem 34 anos, sabe que é soropositivo há três e diz que esse grupo o ajudou a desmistificar a doença. “A primeira vez que vim aqui fiquei quieto. Primeiro ouvi todo mundo, mas hoje para mim isso não é mais tabu”, afirma Teixeira, lamentando que  o preconceito faz com que muitas pessoas portadoras de HIV/AIDS fiquem com medo de pedir ajuda.

Viver com o vírus
A AIDS representa um recomeço na vida de quem é infectado. O apoio da família e dos amigos é essencial para aqueles que descobrem a condição de portadores da doença. Ao descobrir a doença, há três anos, Luiz Carlos Rodrigues, 49 anos, já estava com toxicoplasmose, uma doença oportunista. “As coisas foram muito rápidas comigo. Talvez tenha sido mais fácil suportar o impacto da doença porque tive o apoio da minha família e amigos. Com eles descobri que a AIDS não é o fim da vida e sim um recomeço”, disse Rodrigues. Ele acredita que faltam políticas públicas para conscientizar o povo a se prevenir. “Essa doença existe há mais de 20 anos e ainda hoje alguns jovens não usam preservativo. Adolescentes aparecem grávidas e infectadas, seus filhos já nascem com a doença e eu me pergunto como essas crianças e adolescentes vivem na sociedade de hoje? Como funciona a cabecinha deles? Eu tive uma infância normal, brincava na chuva, corria pelas ruas, mas e essas crianças? Provavelmente elas não vão ter uma qualidade de vida como eu tive e isso me magoa muito. Quando eu vejo um jovem nessas condições penso: eu tive a idade dele, mas será que ele terá a minha?”, desabafa Rodrigues.

Maria Inês Tasqueto também recebeu o apoio de sua família e amigos. “Todos estão sabendo e ninguém me abandonou. Isso até parece que nos uniu ainda mais, estou muito bem”, falou a dona de casa. Maria Inês, que descobriu que tinha AIDS em fevereiro deste ano, foi infectada pelo seu ex-marido, de quem estava separada há mais de três anos. No início, conta que ficou chocada e nervosa, mas o apoio recebido a ajudou a superar as dificuldades.

O argentino Miguel Ângelo Ávila, de 49 anos, não acreditou quando ouviu de seu médico, em dezembro de 2005, que estava infectado. A notícia desencadeou um processo depressivo com tentativa de suicídio, fazendo com que fosse parar em um albergue. Sua ex-companheira, Inês Ávila, foi buscá-lo e o levou para casa. Ela não se arrepende, mas diz que a situação é difícil. “Ele se queixa de dor nas pernas, tosse porque fuma muito. Alguns parentes meus pensam que ele tem pneumonia ou outra doença oportunista e têm medo de chegar perto”, desabafa Inês. Hoje, Ávila aceita a doença e faz o tratamento. “Foi só descobrir Deus que tudo ficou mais fácil”, destaca o psicólogo.

Além do preconceito, o vírus HIV impõe algumas dificuldades como encontrar emprego. “Hoje, faço bico, pois fiquei um pouco debilitado e não tenho mais o mesmo ritmo para trabalhar como tinha antes”, declara S*, que descobriu que tinha a doença em 1988 e prefere não ser identificado. Quando fez o exame, o entrevistado, já estava esperando o resultado positivo. “A minha doença veio com um kit, eu já estava com sífilis”, revela.

Luciano Fernandei, 33 anos, também esperava o resultado positivo do exame. Ele descobriu que tinha AIDS em 2002 e desde então aderiu ao tratamento. “Estava preparado psicologicamente para receber o exame”, disse Fernandei. Ele conta que preferiu não esconder de ninguém sua condição e que o fato se ser soropositivo não mudou em nada a relação com sua família e amigos. “Quando escondemos nossa condição, estamos no escuro e assim ninguém pode nos ajudar. Se falamos a verdade, nos aceitamos melhor. Dessa forma, aqueles que estão próximos de nós conseguem nos ajudar”, avalia. 

Os estudos sobre a doença avançam. O surgimento de coquetéis de medicamentos foi um progresso significativo, pois eles diminuem os danos causados pelo HIV no organismo e aumentam o tempo de vida da pessoa infectada. A AIDS ainda não tem cura, contudo não é mais sinônimo de morte.