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Santa Maria, RS, Brazil

Os talentos nem sempre são exportados

  A aparência de tranqüilidade para quem chega à Incubadora Tecnológica de Santa Maria (ITSM), situada no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), engana. A porta está fechada e olhando-se entre os vidros parece que ninguém está ali. Toca-se o interfone e o bolsista Pablo Martins, 23 anos, do 8º semestre de Relações Públicas da UFSM, é quem recebe a equipe de reportagem da Agência Central Sul.

No corredor do prédio (de um andar), a calmaria e o pouco movimento de pessoas alimenta o olhar de curiosidade sobre o que acontece no local. Diz um ditado popular que “a primeira impressão é a que fica”. Entretanto, a idéia não se aplica à ITSM. Pois, a "segunda impressão" mostra que naquele ambiente há trabalho, muito trabalho. No momento, nove empresas fundadas por alunos e ex-alunos da UFSM ocupam as salas disponíveis – são 10 ao todo – na busca de desenvolvimento em tecnologia para levar benefícios à comunidade local e regional. Os projetos estão divididos em regime de Pré-Incubação e Incubação.

Na segunda sala – ou módulo – à esquerda de quem entra na ITSM, fica a RuralGeo.com, empresa administrada pelo acadêmico João Henrique Quoos (foto), do 2º semestre de Geografia, especializada em prestar consultoria rural. “Quando alguém vai precisar fazer uma medição de campo hoje, ele utiliza o GPS (sistema de posicionamento global). Então, a gente dá toda a assessoria de como se usar o GPS, desde a compra até o ensino da transferência de dados para o computador. Depois que a pessoa aprende, esses dados são passados para a gente e resultam em mapas que são enviados ao Incra”, conta João Henrique. Há um ano na Incubadora Tecnológica, o empreendimento está na fase de ‘Pré-Incubação’. Nesta etapa, idéias e projetos originados de pesquisas desenvolvidas na Universidade são transformados em negócios. Os pré-incubados não tiram nota, não pagam impostos e ainda não possuem CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), ou seja, a firma não é constituída formalmente. Os planos de negócios contam com a supervisão de tutores, que dão assessoria de acordo com as áreas em que os projetos estão inseridos.

  Em regime de ‘Incubação’, está a GSI, empresa que trabalha no segmento de implantação de tecnologias de informação com foco no desenvolvimento de soluções para treinamento corporativo à distância. A GSI está na Incubadora Tecnológica desde o início de 2005 e ficou seis meses no processo de pré-incubação – o período pode chegar até um ano. O diretor de projetos, Pavlos Dias (na foto à esquerda), 21 anos, lembra que ele e os cinco sócios já tinham planos do que fazer antes de pensar na Incubadora e esta foi um meio de transformarem suas idéias em negócios. “A gente tem mais alguns anos pra ficar aqui e podemos sair como uma empresa bem estabelecida no mercado sem ter gastado em toda uma infra-estrutura inicial que uma empresa precisa gastar”, afirma Pavlos.

 

Selecionando projetos

Para chegar até a Incubadora e se firmar como uma empresa é preciso que seja elaborado um plano de negócios por alunos ou ex-alunos que tenham vínculo com a Universidade. Feito o plano, deve-se encaminhá-lo para José Airton Brutti, gerente da ITSM, que vai dizer se a idéia é viável ou não. Após o projeto ser validado por Brutti, ele é mandado para uma comissão que é composta por professores do Centro de Tecnologia da UFSM. “Dificilmente são reprovados”, diz o bolsista Pablo Martins.

Desde 1999, quando iniciaram as atividades da Incubadora, seis empresas foram colocadas no mercado de trabalho. Somando as nove que estão na ITSM, um total de 15 planos de negócios viraram empresas. Neste período, apenas uma iniciativa não deu certo. Conforme José Airton Brutti, 80% dos negócios que são constituídos são fechados antes do primeiro ano de vida. Entretanto, ocorre o inverso quando se trata da Incubadora; lá a taxa de mortalidade de empresas cai para 20%. Brutti explica o motivo: “Uma Incubadora é um ambiente protegido”.

Infra-estrutura também é importante

Na ITSM, os empreendedores têm todo um apoio no que se refere à infra-estrutura. Com o pagamento de uma taxa que pode ser de R$60 ou R$120 – conforme o tamanho do módulo – as firmas têm direito a água, luz, internet, serviços de segurança, limpeza e demais acomodações (auditório, sala de negócios e áreas administrativas para apoio e desenvolvimento dos projetos). Mas, a ITSM não sobrevive dessas arrecadações, o orçamento chega a R$160 mil ao ano; o investimento é feito pela UFSM. “A Incubadora é uma grande ajuda para quem está iniciando, pois no início é tudo muito difícil e os investimentos são pequenos ainda mais para quem é estudante. Tu não tem um trabalho fixo, apenas meio expediente pra trabalhar porque se está estudando e não tem grana. Tu tem a vontade de empreender e a necessidade de investir capital que não tem, então aqui é a oportunidade”, esclarece Pavlos Dias, sobre o auxílio que a Incubadora presta para quem quer ter seu negócio.

O Instituto Tecnológico de Santa Maria coloca todas essas ferramentas de trabalho à disposição das empresas. Um dos objetivos da ITSM é incentivar produção tecnológica local para que os conhecimentos gerados na Incubadora sejam utilizados em prol da comunidade. “O objetivo é também reter talentos na região”, afirma Brutti. “A Incubadora foi idealizada para que a pesquisa não ficasse restrita à Universidade, gerando conhecimento para a comunidade”, acrescenta Pablo Martins.

Meta alcançada

Se uma das missões da Incubadora é a colocação de empresas voltadas à produção de tecnologias em prol da cidade e região, a meta está sendo cumprida. Exemplo é a MGR Engenharia Elétrica, que passou pela ITSM. A MGR oferece serviços de instalações elétricas, cabeamento para redes de comunicação envolvendo sistemas de dados, voz, imagem, automação predial e residencial e soluções para redes locais de dados.

“Trabalhei muito mais do que se fosse empregado”, conta Marcelo de Souza Felice, sócio-proprietário. A firma foi uma das pioneiras no projeto que criou a Incubadora. De acordo com Marcelo, na época, dois planos de negócios e uma empresa registrada deram inicio às atividades na ITSM. Em agosto de 1999, a MGR Engenharia Elétrica entrou no processo de pré-incubação, que na época durou dois anos. Depois ficou mais seis meses incubada e, em março de 2002, já estava a serviço da população de Santa Maria.

Quanto aos benefícios que a Incubadora traz, Marcelo acredita que o projeto da ITSM pode tanto segurar os talentos na cidade, como impulsionar a saída dos empresários para fora do Estado. Entretanto, nem tudo é maravilha; Marcelo começava o trabalho cedo na Incubadora e até trocava tempo da aula para estar no empreendimento. “Tem que mergulhar no negócio e saber que o trabalho vai ser prolongado”, finaliza.

                                                                          

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  A aparência de tranqüilidade para quem chega à Incubadora Tecnológica de Santa Maria (ITSM), situada no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), engana. A porta está fechada e olhando-se entre os vidros parece que ninguém está ali. Toca-se o interfone e o bolsista Pablo Martins, 23 anos, do 8º semestre de Relações Públicas da UFSM, é quem recebe a equipe de reportagem da Agência Central Sul.

No corredor do prédio (de um andar), a calmaria e o pouco movimento de pessoas alimenta o olhar de curiosidade sobre o que acontece no local. Diz um ditado popular que “a primeira impressão é a que fica”. Entretanto, a idéia não se aplica à ITSM. Pois, a "segunda impressão" mostra que naquele ambiente há trabalho, muito trabalho. No momento, nove empresas fundadas por alunos e ex-alunos da UFSM ocupam as salas disponíveis – são 10 ao todo – na busca de desenvolvimento em tecnologia para levar benefícios à comunidade local e regional. Os projetos estão divididos em regime de Pré-Incubação e Incubação.

Na segunda sala – ou módulo – à esquerda de quem entra na ITSM, fica a RuralGeo.com, empresa administrada pelo acadêmico João Henrique Quoos (foto), do 2º semestre de Geografia, especializada em prestar consultoria rural. “Quando alguém vai precisar fazer uma medição de campo hoje, ele utiliza o GPS (sistema de posicionamento global). Então, a gente dá toda a assessoria de como se usar o GPS, desde a compra até o ensino da transferência de dados para o computador. Depois que a pessoa aprende, esses dados são passados para a gente e resultam em mapas que são enviados ao Incra”, conta João Henrique. Há um ano na Incubadora Tecnológica, o empreendimento está na fase de ‘Pré-Incubação’. Nesta etapa, idéias e projetos originados de pesquisas desenvolvidas na Universidade são transformados em negócios. Os pré-incubados não tiram nota, não pagam impostos e ainda não possuem CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), ou seja, a firma não é constituída formalmente. Os planos de negócios contam com a supervisão de tutores, que dão assessoria de acordo com as áreas em que os projetos estão inseridos.

  Em regime de ‘Incubação’, está a GSI, empresa que trabalha no segmento de implantação de tecnologias de informação com foco no desenvolvimento de soluções para treinamento corporativo à distância. A GSI está na Incubadora Tecnológica desde o início de 2005 e ficou seis meses no processo de pré-incubação – o período pode chegar até um ano. O diretor de projetos, Pavlos Dias (na foto à esquerda), 21 anos, lembra que ele e os cinco sócios já tinham planos do que fazer antes de pensar na Incubadora e esta foi um meio de transformarem suas idéias em negócios. “A gente tem mais alguns anos pra ficar aqui e podemos sair como uma empresa bem estabelecida no mercado sem ter gastado em toda uma infra-estrutura inicial que uma empresa precisa gastar”, afirma Pavlos.

 

Selecionando projetos

Para chegar até a Incubadora e se firmar como uma empresa é preciso que seja elaborado um plano de negócios por alunos ou ex-alunos que tenham vínculo com a Universidade. Feito o plano, deve-se encaminhá-lo para José Airton Brutti, gerente da ITSM, que vai dizer se a idéia é viável ou não. Após o projeto ser validado por Brutti, ele é mandado para uma comissão que é composta por professores do Centro de Tecnologia da UFSM. “Dificilmente são reprovados”, diz o bolsista Pablo Martins.

Desde 1999, quando iniciaram as atividades da Incubadora, seis empresas foram colocadas no mercado de trabalho. Somando as nove que estão na ITSM, um total de 15 planos de negócios viraram empresas. Neste período, apenas uma iniciativa não deu certo. Conforme José Airton Brutti, 80% dos negócios que são constituídos são fechados antes do primeiro ano de vida. Entretanto, ocorre o inverso quando se trata da Incubadora; lá a taxa de mortalidade de empresas cai para 20%. Brutti explica o motivo: “Uma Incubadora é um ambiente protegido”.

Infra-estrutura também é importante

Na ITSM, os empreendedores têm todo um apoio no que se refere à infra-estrutura. Com o pagamento de uma taxa que pode ser de R$60 ou R$120 – conforme o tamanho do módulo – as firmas têm direito a água, luz, internet, serviços de segurança, limpeza e demais acomodações (auditório, sala de negócios e áreas administrativas para apoio e desenvolvimento dos projetos). Mas, a ITSM não sobrevive dessas arrecadações, o orçamento chega a R$160 mil ao ano; o investimento é feito pela UFSM. “A Incubadora é uma grande ajuda para quem está iniciando, pois no início é tudo muito difícil e os investimentos são pequenos ainda mais para quem é estudante. Tu não tem um trabalho fixo, apenas meio expediente pra trabalhar porque se está estudando e não tem grana. Tu tem a vontade de empreender e a necessidade de investir capital que não tem, então aqui é a oportunidade”, esclarece Pavlos Dias, sobre o auxílio que a Incubadora presta para quem quer ter seu negócio.

O Instituto Tecnológico de Santa Maria coloca todas essas ferramentas de trabalho à disposição das empresas. Um dos objetivos da ITSM é incentivar produção tecnológica local para que os conhecimentos gerados na Incubadora sejam utilizados em prol da comunidade. “O objetivo é também reter talentos na região”, afirma Brutti. “A Incubadora foi idealizada para que a pesquisa não ficasse restrita à Universidade, gerando conhecimento para a comunidade”, acrescenta Pablo Martins.

Meta alcançada

Se uma das missões da Incubadora é a colocação de empresas voltadas à produção de tecnologias em prol da cidade e região, a meta está sendo cumprida. Exemplo é a MGR Engenharia Elétrica, que passou pela ITSM. A MGR oferece serviços de instalações elétricas, cabeamento para redes de comunicação envolvendo sistemas de dados, voz, imagem, automação predial e residencial e soluções para redes locais de dados.

“Trabalhei muito mais do que se fosse empregado”, conta Marcelo de Souza Felice, sócio-proprietário. A firma foi uma das pioneiras no projeto que criou a Incubadora. De acordo com Marcelo, na época, dois planos de negócios e uma empresa registrada deram inicio às atividades na ITSM. Em agosto de 1999, a MGR Engenharia Elétrica entrou no processo de pré-incubação, que na época durou dois anos. Depois ficou mais seis meses incubada e, em março de 2002, já estava a serviço da população de Santa Maria.

Quanto aos benefícios que a Incubadora traz, Marcelo acredita que o projeto da ITSM pode tanto segurar os talentos na cidade, como impulsionar a saída dos empresários para fora do Estado. Entretanto, nem tudo é maravilha; Marcelo começava o trabalho cedo na Incubadora e até trocava tempo da aula para estar no empreendimento. “Tem que mergulhar no negócio e saber que o trabalho vai ser prolongado”, finaliza.