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Santa Maria, RS, Brazil

Patrimônio que resiste aos contratempos

 

 A Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea de Santa Maria, situada na Rua Manoel Ribas, que em 1964 possuía 11.000 associados, hoje conta com apenas 300 integrantes. Ela mantém sua atividade somente no setor administrativo, que contribui no funcionamento da Casa de Saúde.

Através de convênios com a Secretaria Estadual de Saúde, Prefeitura Municipal de Santa Maria e com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Cooperativa disponibiliza empregados para trabalhos dentro do Hospital Casa de Saúde nas áreas de enfermagem, recepção, entre outras funções. “A Cooperativa tem uma grande importância nas atividades dentro da Casa de Saúde”, afirma o encarregado de Departamento de Pessoal, Jair Weber, 43 anos, que trabalha no hospital há quatro anos. Weber explica que os convênios englobam principalmente a área de saúde, dando assistência aos aposentados e funcionários da Cooperativa, bem como também para a população de baixa renda. Muitos aposentados e representantes dos funcionários ligados à Cooperativa realizam reuniões semanais com as entidades conveniadas, para organização e o cumprimento das obrigações trabalhistas.

“Foi um dos fatores principais para o desenvolvimento na cidade”, avalia o aposentado da Viação Férrea, Múcio Nunes, 59 anos. Ele salienta ainda que a Cooperativa auxiliou e ainda continua ajudando na parte econômica e, também, nos setores de assistência social e na formação educacional.

 O Prédio

Segundo o professor de história e Diretor de Patrimônio da Cooperativa, Rodrigo Coelho de Mello, 27 anos, o prédio situado na Rua Manoel Ribas, foi construído em 1932 e, por esse motivo, é considerado um dos mais novos do local. Sua arquitetura foi conservada ao longo dos anos, só havendo modificações na pintura por questão de higienização. Conforme Mello, não está descartada a hipótese de transformar o local em museu histórico.

   O local já foi considerado patrimônio histórico estadual pela Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul e pelo instituto histórico e artístico do estado.

Cooperativa de muitas histórias

 Criada no dia 26 de outubro de 1913, a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea, que já foi vista como a maior da América Latina, por sua contribuição sócio-econômica, traz consigo muitas histórias de conquista e luta.

 No dia 1º de maio 1922, foi inaugurada a escola masculina de artes e ofícios Hugo Taylor. Ela era destinada, principalmente, aos filhos dos ferroviários. Os que vinham de fora estudar na cidade tinham direito de internato na instituição. No colégio, os alunos faziam o curso normal e ainda o profissionalizante para mais tarde ajudar na mão-de-obra da cooperativa.

“O curso técnico profissionalizante contava com os cursos de estofaria, carpintaria, entre outros”, explica Mello. O historiador comenta que em todos os anos até a década de 70, era realizado no mês de dezembro exposições de todos os cursos profissionalizantes. Inclusive os melhores alunos recebiam prêmios como viagens ao exterior ou dinheiro.

Com o sucesso da escola masculina, em 1923, por decisão da Assembléia Geral Extraordinária, foi proposta a idéia de uma escola feminina, mas sua concretização só aconteceu em 1930, com a inauguração de uma casa na Rua Ernesto Becker, denominada hoje como conjunto Habitacional Vila Belga.

 Com o tempo, a escola foi ampliada e funcionava no mesmo sistema que o curso dos meninos, porém elas aprendiam técnicas, como bordado, costura, educação física, moral e religiosa. “O que sei fazer na área de costura, só aprendi devido ao curso de corte e costura”, assume Necy Branco Paz, 67 anos, ex-funcionária da Cooperativa. Ela complementa que a produção no setor de roupas era muito grande e, mesmo assim, não era o bastante para atender todos os pedidos realizados pelos consumidores.

  Logo o colégio, por determinação da Secretaria Estadual de Educação, passou a ter também o magistério. A escola funcionou de 1934 até 1942 e os alunos que se formavam reintegravam trabalhando nas escolas de alfabetização de vários núcleos ferroviários, espalhados por cidades do Rio Grande do Sul. O local tinha fiscalização de um irmão marista, que era destinado pelo departamento de ensino e educação.

Em 1932, foi inaugurada a Casa de Saúde, que atualmente presta assistência tanto para os ferroviários e funcionários da cooperativa, quanto à comunidade santa-mariense. Na época, os funcionários da Cooperativa tinham todo amparo, como o atendimento de emergência até a internação.

Os acompanhantes dos enfermos também eram assistidos, recebendo junto ao paciente a alimentação necessária e benefícios. “O hospital Casa de Saúde era considerado, na época, o mais bem estruturado”, conclui Mello.

Com o golpe de 64, a Cooperativa entrou em decadência, pois o Governo Federal interferiu no processo de crescimento, tanto que no início da intervenção Federal, o local contava com 11.000 associados, mas no término de outubro de 76, restaram apenas 2000 conveniados. Desta forma, a Cooperativa precisou vender seus imóveis, não só em Santa Maria, mas em todo o estado para pagar suas dívidas trabalhistas com ex-funcionários.

A privatização da Rede Ferroviária Federal, em 1996, fez com que a Cooperativa fechasse em 31 de agosto de 1997 o seu último armazém, situado em Santa Maria, fechando um ciclo de histórias e realizações.

Fotos: Núcleo de Fotografia e Memória da Unifra (Mariana Coradini)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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 A Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea de Santa Maria, situada na Rua Manoel Ribas, que em 1964 possuía 11.000 associados, hoje conta com apenas 300 integrantes. Ela mantém sua atividade somente no setor administrativo, que contribui no funcionamento da Casa de Saúde.

Através de convênios com a Secretaria Estadual de Saúde, Prefeitura Municipal de Santa Maria e com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Cooperativa disponibiliza empregados para trabalhos dentro do Hospital Casa de Saúde nas áreas de enfermagem, recepção, entre outras funções. “A Cooperativa tem uma grande importância nas atividades dentro da Casa de Saúde”, afirma o encarregado de Departamento de Pessoal, Jair Weber, 43 anos, que trabalha no hospital há quatro anos. Weber explica que os convênios englobam principalmente a área de saúde, dando assistência aos aposentados e funcionários da Cooperativa, bem como também para a população de baixa renda. Muitos aposentados e representantes dos funcionários ligados à Cooperativa realizam reuniões semanais com as entidades conveniadas, para organização e o cumprimento das obrigações trabalhistas.

“Foi um dos fatores principais para o desenvolvimento na cidade”, avalia o aposentado da Viação Férrea, Múcio Nunes, 59 anos. Ele salienta ainda que a Cooperativa auxiliou e ainda continua ajudando na parte econômica e, também, nos setores de assistência social e na formação educacional.

 O Prédio

Segundo o professor de história e Diretor de Patrimônio da Cooperativa, Rodrigo Coelho de Mello, 27 anos, o prédio situado na Rua Manoel Ribas, foi construído em 1932 e, por esse motivo, é considerado um dos mais novos do local. Sua arquitetura foi conservada ao longo dos anos, só havendo modificações na pintura por questão de higienização. Conforme Mello, não está descartada a hipótese de transformar o local em museu histórico.

   O local já foi considerado patrimônio histórico estadual pela Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul e pelo instituto histórico e artístico do estado.

Cooperativa de muitas histórias

 Criada no dia 26 de outubro de 1913, a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea, que já foi vista como a maior da América Latina, por sua contribuição sócio-econômica, traz consigo muitas histórias de conquista e luta.

 No dia 1º de maio 1922, foi inaugurada a escola masculina de artes e ofícios Hugo Taylor. Ela era destinada, principalmente, aos filhos dos ferroviários. Os que vinham de fora estudar na cidade tinham direito de internato na instituição. No colégio, os alunos faziam o curso normal e ainda o profissionalizante para mais tarde ajudar na mão-de-obra da cooperativa.

“O curso técnico profissionalizante contava com os cursos de estofaria, carpintaria, entre outros”, explica Mello. O historiador comenta que em todos os anos até a década de 70, era realizado no mês de dezembro exposições de todos os cursos profissionalizantes. Inclusive os melhores alunos recebiam prêmios como viagens ao exterior ou dinheiro.

Com o sucesso da escola masculina, em 1923, por decisão da Assembléia Geral Extraordinária, foi proposta a idéia de uma escola feminina, mas sua concretização só aconteceu em 1930, com a inauguração de uma casa na Rua Ernesto Becker, denominada hoje como conjunto Habitacional Vila Belga.

 Com o tempo, a escola foi ampliada e funcionava no mesmo sistema que o curso dos meninos, porém elas aprendiam técnicas, como bordado, costura, educação física, moral e religiosa. “O que sei fazer na área de costura, só aprendi devido ao curso de corte e costura”, assume Necy Branco Paz, 67 anos, ex-funcionária da Cooperativa. Ela complementa que a produção no setor de roupas era muito grande e, mesmo assim, não era o bastante para atender todos os pedidos realizados pelos consumidores.

  Logo o colégio, por determinação da Secretaria Estadual de Educação, passou a ter também o magistério. A escola funcionou de 1934 até 1942 e os alunos que se formavam reintegravam trabalhando nas escolas de alfabetização de vários núcleos ferroviários, espalhados por cidades do Rio Grande do Sul. O local tinha fiscalização de um irmão marista, que era destinado pelo departamento de ensino e educação.

Em 1932, foi inaugurada a Casa de Saúde, que atualmente presta assistência tanto para os ferroviários e funcionários da cooperativa, quanto à comunidade santa-mariense. Na época, os funcionários da Cooperativa tinham todo amparo, como o atendimento de emergência até a internação.

Os acompanhantes dos enfermos também eram assistidos, recebendo junto ao paciente a alimentação necessária e benefícios. “O hospital Casa de Saúde era considerado, na época, o mais bem estruturado”, conclui Mello.

Com o golpe de 64, a Cooperativa entrou em decadência, pois o Governo Federal interferiu no processo de crescimento, tanto que no início da intervenção Federal, o local contava com 11.000 associados, mas no término de outubro de 76, restaram apenas 2000 conveniados. Desta forma, a Cooperativa precisou vender seus imóveis, não só em Santa Maria, mas em todo o estado para pagar suas dívidas trabalhistas com ex-funcionários.

A privatização da Rede Ferroviária Federal, em 1996, fez com que a Cooperativa fechasse em 31 de agosto de 1997 o seu último armazém, situado em Santa Maria, fechando um ciclo de histórias e realizações.

Fotos: Núcleo de Fotografia e Memória da Unifra (Mariana Coradini)